QUEM SOMOS NÓS

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Somos uma organização marxista revolucionária. Procuramos intervir nas lutas de classes com um programa anticapitalista, com o objetivo de criar o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, a seção brasileira de uma nova Internacional Revolucionária. Só com um partido revolucionário, composto em sua maioria por mulheres e negros, é possível lutar pelo governo direto dos trabalhadores, como forma de abrir caminho até o socialismo.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Philippe Buonarroti (1761-1837)




Você sabe quem criou a palavra comunismo?

Philippe Buonarroti era italiano, nasceu em 1761 em Pisa. Quando começou a revolução francesa, ele foi para a Córsega, onde se integrou ao Clube dos Jacobinos (a ala democrata radical da revolução) e conheceu a família Bonaparte.

Em 1793, depois de ter sido expulso da Córsega e de ter voltado por um tempo para a Itália, em foi a Paris, onde organizou os italianos que estavam participando da revolução.

De 1793 a 1794, os jacobinos estiveram no poder durante o período conhecido como Terror, quando reprimiram com violência extrema não só os contrarrevolucionários como outros setores da própria revolução, e tomado as medidas democráticas mais avançadas, por exemplo a luta contra os privilégios da Igreja Católica, o congelamento dos preços dos alimentos e a abolição da escravidão.

Em 1794, eles são derrubados pela ala mais moderada. Esse período é conhecido como a Reação Termidoriana, porque começou no mês do Termidor do novo calendário criado pelos revolucionários em 1792. O governo do Diretório, formado por cinco membros, que assumiu o poder, foi catastrófico para o povo. Eles cancelaram o tabelamento dos preços que existiu durante o Terror, o que criou uma inflação galopante.

Nessa época, Philippe conheceu Gracchus Babeuf (o nome verdadeiro era François-Noël, mas ele adotou o nome de Gracchus em memória do Tribuno do Povo da época de Roma). Os dois, junto com Sylvain Maréchal, formaram a Sociedade dos Iguais, que foi a primeira corrente da revolução francesa a defender abertamente o fim da propriedade privada. Segundo o Manifesto dos Iguais, escrito por Maréchal:


A lei agrária, ou a divisão da terra, foi aspiração momentânea de alguns soldados sem princípios, de algumas populações incitadas pelo seu instinto mais do que pela razão. Nós temos algo de mais sublime e de mais equitativo: o bem comum, ou a comunidade de bens! Nós reclamamos, nós queremos desfrutar coletivamente dos frutos da terra: esses frutos pertencem a todos.
Declaramos que, posteriormente, não poderemos permitir que a imensa maioria dos homens trabalhe e esteja ao serviço e ao mando de uma pequena minoria.
Há muito tempo já que menos de um milhão de indivíduos tem vindo a dispor de quanto pertence a mais de vinte milhões de semelhantes seus, de homens que são em tudo iguais a eles.
Devemos pôr termo a este grande escândalo, que os nossos netos não quererão acreditar possa ter existido! Devemos fazer desaparecer, finalmente, essas odiosas distinções de classes entre ricos e pobres, entre grandes e pequenos, entre senhores e servos, entre governantes e governados.


A Sociedade dos Iguais começou uma conspiração para derrubar o Diretório, mas foram descobertos. Babeuf foi executado, Maréchal foi absolvido e Philippe foi deportado para a Itália. Ele continuou a conspirar, o que faria pelo resto da sua vida, mas dentro da carbonária, uma sociedade secreta semelhante à maçonaria onde se organizavam, na época, os setores democráticos radicais. Na França, em 1799, Napoleão Bonaparte dá um golpe de Estado que derruba o Diretório, encerrando o período da revolução. Em 1804, ele restaura a monarquia, se proclamando imperador.

Como uma das tarefas de um revolucionário é sistematizar a experiência das lutas de classes, em 1828, Buonarroti escreveu a História da Conspiração pela Igualdade, dita de Babeuf. Esse livro vai ser o elo com a nova geração de revolucionários franceses.

Em 1830, houve uma tentativa de revolução republicana para derrubar a monarquia, restaurada depois da revolução. Uma das organizações que participaram foi a Sociedade dos Direitos do Homem, que era organizada como uma sociedade secreta. Ela foi dissolvida em 1834, mas o seu criador, Armand Barbès, tentou criar outras sociedades secretas.

Nesse processo, ele conheceu August Blanqui, que depois seria conhecido como O Encarcerado (ele passou metade da vida preso). A concepção política do Blanqui (blanquismo) era a de que um pequeno grupo pode provocar uma revolução popular através de uma ação armada de vanguarda. Na Sociedade dos Amigos do Povo, eles dois conheceram Philippe Buonarroti. Para divulgar o livro de Buonarroti, eles organizaram os Banquetes Comunistas, onde pela primeira vez se surgiu essa palavra.

Quem também participava dos banquetes comunistas eram os militantes da Liga dos Proscritos, uma organização formada em 1834 por operários alemães, sob a direção de Wilhelm Weitling. Pouco tempo depois, a Liga dos Proscritos mudou o nome para Liga dos Justos e participou junto com a nova sociedade secreta de Barbès e Blanqui, a Sociedade das Estações (o nome era assim porque os diferentes setores da organização tinham os nomes dos meses), numa tentativa de insurreição em 1839.

Em 1847, a Liga dos Justos se fundiu com o grupo inglês Comitê Comunista de Correspondência, de Engels e Marx. O manifesto na nova organização,  Liga dos Comunistas, é o Manifesto Comunista.

Mas Philippe Buonarroti, o elo entre a revolução francesa e o movimento comunista, não chegou a ver esses acontecimentos, tendo morrido em 1837.

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sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Notas sobre o imperialismo (jan/2015)


Contribuição individual do companheiro Rio


“1. A atual discussão começou sobre a caracterização da Grécia, mas logo evoluiu pra um debate sobre o imperialismo. Como essa é uma das duas grandes diferenças que eu tenho com o CLQI (a outra é sobre questão da mulher, e pode ser que haja diferenças sobre a questão negra), vou aproveitar aqui pra defender melhor a minha posição e criticar a do CLQI.

2. Antes, vou explicar a minha linha sobre a Grécia:

- a Grécia é um país imperialista de segunda linha (indústria naval e capital financeiro, que explora os Bálcãs e o Chipre), comparável a Portugal.
- A saída da UE seria uma solução nacionalista a serviço da burguesia.
- A eleição da Syriza não foi o resultado de uma situação pré-revolucionária. Portanto, a pressão principal não vai ser das massas querendo ultrapassar os limites do governo, e sim da Troika para derrotar o governo e mostrar que a austeridade é inevitável
- Por isso, o eixo da política deve ser a defesa da frente popular contra a Troika, sempre mantendo uma política de exigências e denúncias. Para aproximar e organizar a base da Syriza, se deve chamar a formar comitês de base, como Trotsky defendeu na frente popular francesa. Uma linha de ataque frontal ao governo só seria válida se ele passasse a implementar os planos de austeridade.
- é possível que a frente popular consiga algumas vitórias, o que será positivo, porque vai quebrar o mito de que é impossível vencer a austeridade
- a linha sectária do KKE, de escolher a Syriza como alvo principal, é comparável à do PSTU no Brasil, com o agravante de que a Syriza é reformista. Ou seja, é stalinismo do terceiro período.

3. Do ponto de vista da teoria, existem dois níveis. Um é o do capital social, ou seja, de todos os capitais. O outro é o nível da relação entre os diferentes capitais, ligados aos Estados. A Rosa analisou o primeiro nível, o Lênin o segundo. O problema é que o segundo nível depende do primeiro, ou seja, pra entender a relação entre os Estados, é preciso entender o estágio atual do capitalismo como um todo. O próprio imperialismo só existe por, a partir de determinada época, o desenvolvimento desigual do capitalismo (que sempre existiu) passou a englobar continentes inteiros.

Por que eu tô falando isso?

Porque existe uma visão no movimento que iguala dependência política e ser uma semicolônia. Um país pode ser dependente de um imperialismo mais forte, e ainda assim ser imperialista. Ou pode oprimir outra nação e ainda assim ser semicolonial. O imperialismo é o estágio superior do capitalismo, o que vai definir se um país é imperialista ou não é se ele chegou ao nível monopolista do capitalismo.

4. Até nos clássicos existe muita confusão sobre isso. Eu vou citar três exemplos:
- No Imperialismo, o Lênin diz que Portugal era um país dependente, apesar do grande império colonial africano.
- No mesmo livro, ele diz que a Argentina não é semicolonial (o Gerry deve lembrar que o Grant usou essa citação pra não defender a Argentina na Guerra das Malvinas)
- Trotsky considerava a Sérvia imperialista, porque ela dominava a Bósnia e a Croácia.

Os setores oportunistas usaram essas indefinições para defender a "independência nacional" de seus países imperialistas. Por exemplo, o PC canadense defendendo que a tarefa principal era lutar pela "soberania nacional" contra os EUA. Ou os lambertistas, que dizem que todos os problemas sociais da Europa serão resolvidos rompendo com a UE.

5. Bem, então já dá pra entender melhor a minha posição. Vou resumir aqui pra ficar mais claro (sem me aprofundar na relação entre os níveis etc., que não caberia aqui):

- O critério para definir se um país é imperialista é econômico, é o nível de desenvolvimento do capitalismo, ou seja, país avançado, que tem capital monopolista e financeiro próprio, é país imperialista.
- o Lênin já falava em outros graus intermediários entre colônia, semicolônia e país imperialista. No mundo de hoje, eu diria, que a cadeia imperialista é: EUA - imperialismo europeu (que tem interesses parcialmente contraditórios com as burguesias alemã, francesa e inglesa), imperialismos de segunda linha (por questões geográficas, os imperialismos russo e chinês são imperialismos de segunda linha que cumprem o papel de potências regionais), subimperialismos (Brasil, África do Sul, Índia etc., países dependentes mas associados ao imperialismo), países capitalistas dependentes (= industrializados), semicolônias e colônias.
O objetivo não é falar de TODOS os países, por exemplo eu não falei de casos bizarros como Mônaco, Vaticano, Groenlândia etc.
- Existe uma integração econômica muito maior que na época do Lênin. Isso é a base material da UE, e significa que as formas mais violentas de conflitos interimperialistas estão excluídas, como as guerras mundiais.

6. Depois disso, vou criticar a posição do CLQI, colocada principalmente no documento do German sobre o Núcleo Russo-Chinês

Eu considero a linha dos companheiros um erro estratégico desastroso, porque significa o alinhamento a longo prazo com países imperialistas de segunda linha contra os EUA e a UE.

Os companheiros devem saber das minhas divergências sobre a Ucrânia, onde eu defendo a dupla derrota (contra o governo de direita pró-UE com componentes fascistas, e as "repúblicas democráticas" fantoches da Rússia, também com componentes fascistas), justamente por essa diferença de análise.

7. A outra crítica que eu faço aos companheiros do CLQI é sobre a questão das resistências anti-imperialistas, que não está diretamente ligada a essa análise econômica. Eu sou contra o critério objetivista dos companheiros, que consideram que qualquer setor que se enfrente com os países imperialistas é anti-imperialista.

Como consequência da destruição contrarrevolucionária da URSS, houve um florescimento de setores que acreditam numa utopia pequeno-burguesa regressiva de "volta atrás no tempo" e rejeitam a sociedade capitalista em bloco. É o caso do fundamentalismo. Eu não considero que seja possível formar uma frente única anti-imperialista com eles, somente com setores nacionalistas de esquerda ou socialistas no sentido amplo da palavra.

Essa diferença apareceu no caso Charlie Hebdo, em que eu fui contra a posição do CLQI, porque entendo que o atentado representava a imposição de uma concepção medieval de punir a blasfêmia.


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sábado, 1 de outubro de 2016

BORA FALAR SOBRE ELEIÇÃO?

A eleição chegou e é bom dizer algumas coisas.
Vamos começar pelo começo. Uma certa mulher uma vez disse que se votar fizesse diferença, seria ilegal. E cara... ela tava certa.
Para pra pensar na vida que tu leva, cheia de problema, coisa que tu nunca vai poder fazer porque é caro ou porque não tem tempo... A merda é que a gente passa por isso pra só um punhado de gente viver na vida mansa. Se fosse pra ter a vida que a gente merece, e aqui não tô nem falando de luxo não; só paz e sossego, liberdade pra viajar, passar tempo com os amigos e amigas, família, ser artista pra quem quiser; esse punhadinho de gente ia ter que perder a mordomia. Pra não perder a sombra e água fresca, essa galera criou esse tal do Estado, deu arma pra um monte de gente disposta a proteger eles e começou a contar um monte de mentiras. Uma dessas mentiras é que o perigo tá sempre do teu lado. O dono da empresa é um amor de pessoa, mas o teu colega de trabalho é que quer te passar pra trás. Um monte de bandido rico solto, mas é pobre que é malandro e não presta. Teu aluguel aumenta todo ano, mas é o morador de rua que vai te roubar se tu der mole. Te dizem o que fazer, o que comer, o número de horas que você tem que trabalhar, mas todo mundo é livre na maravilhosa democracia que a gente vive. Aí a gente vai e perde tempo pensando mal de quem tá tão ou mais fudido que a gente, e esquece que tem malandro andando de helicóptero e comendo em Paris enquanto tu come no PF na correria porque só tem 1h ou menos de almoço.
Você acha que essa galera ia deixar tu votar se fosse pra mudar alguma coisa dessa zona? Claro que não. Só deixa porque não importa tanto quem vai ganhar as eleições. Eles têm tudo sobre controle. Então essa hipocrisia de “votar certo e votar errado” não cola. As mudanças importantes mesmo, pras pessoas, acontecem bem longe das urnas. Por isso é bom dizer que não importa muito quem vai estar tomando conta do Estado. Ele vai continuar servindo só pra humilhar, matar, roubar, enganar, continuar dizendo o que a gente tem que fazer, como a gente tem que se sentir, e ainda tentando fazer a gente acreditar que a gente pensa ou faz isso ou aquilo porque é o melhor ou é livre pra querer isso. O fato da gente poder votar em qual grupo de desgraçados vai seguir moendo a nossa carne não quer dizer que o Estado é nosso. Se o Estado fosse nosso, a gente tinha muito mais voz de decisão do que votar de anos em anos. Mas esse Estado não é nosso. É uma mentira, uma piada. Não merece nada senão nosso mais profundo ódio. E seu único caminho é ser destruído até que não sobre nada.
Uma campanha eleitoral só vale a pena se usar tempo e recursos pra denunciar essa situação pras pessoas. Ao invés de tentar eleger gente pra fazer parte do estado, vale muito mais a pena se preparar pra lutar junto contra ele. Isso é o mais importante a se fazer, não só nas eleições, mas sempre que der.
A segunda coisa que vale a pena dizer então é que se quiser evitar aporrinhação, amanhã a gente vai ser obrigado a ir votar. Então já que é pra fazer, é melhor pelo menos escolher uma dessas candidaturas que denuncie essa situação. Só que muita gente acaba denunciando isso só pra conseguir voto. Pra tentar diferenciar a gente tem que tentar lembrar da sopa de letrinha de partidos brasileiros e lembrar se os candidatos são de algum partido que só quer enriquecer ou manter as coisas do jeito que estão. Na real, é sempre bom lembrar que por mais que algum candidato seja bonzinho, ele sempre vai obedecer as linhas centrais do partido que ele é.
Por isso, tentando levar essas coisas em consideração, coloco aqui minha declaração de voto no PSOL; que deixa muito a desejar na denúncia do Estado, mas pelo menos coloca o problema do porquê uns tem muito e outros muito pouco e tenta se propor a resolver isso. Escolher o PSOL é o que dá pra fazer dentro das opções que tem na urna.
PRA VEREADORA: Carolina Cacau, 50.567!!
https://www.facebook.com/CarolinaCacauED/?ref=ts&fref=ts
PRA PREFEITO: Marcelo Freixo, 50!
https://www.facebook.com/MarceloFreixoPsol/?fref=ts
Vote nos candidatos que apoiam as lutas do povo contra o Estado e por mais igualdade social. Mas a política não acaba nas urnas. O que vale a pena é não deixar de ficar puto e de se juntar pra lutar contra os ataques do Estado contra os trabalhadores e trabalhadoras.

*Contribuição individual sobre as eleições municipais do RIo de Janeiro de 2016.
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quinta-feira, 14 de julho de 2016

Anatomia da Microsseita (Hal Draper)


Contribuição individual sobre as questões envolvidas na crise e dissolução do Coletivo Lênin

Tradução de Rodrigo Silva


Anatomia da Microsseita (1973)

Documento não publicado circulado privadamente em 1973

O subtítulo original era: Uma Posição do Comitê Socialista Independente. Não era uma organização, e sim uma agência de formação e edição.

Na sua forma original, a primeira página tinha uma longa nota de rodapé explicando o uso do termo “seita” no artigo. É melhor apresentá-la aqui, como uma introdução ao ensaio:


Introdução

Existe um problema terminológico. “Seita” é geralmente usada como xingamento para um grupo de que alguém não gosta. “Movimento” geralmente é usado para descrever algo que não existe de forma organizada, por exemplo, quando “movimento socialista americano” é usado como abreviação para os elementos socialistas dispersos que geralmente nem se “movem”. Nós usaremos esses termos com significados mais precisos. Uma seita se apresenta como a materialização do movimento socialista, mesmo que seja uma organização com fronteiras estabelecidas mais ou menos rigidamente através do seu programa político, e não em relação às lutas sociais. Em contraste, um partido operário não é simplesmente uma organização eleitoral e sim, participe ou não das eleições, uma organização que realmente é o braço político de setores decisivos da classe trabalhadora, que reflete (ou refrata)a classe operária em movimento como ela é. Um “movimento socialista” resume as manifestações de massa de uma classe operária socialista em vários campos. Não só o político, geralmente em torno de um partido socialista de massas. Para o objetivo atual, a distinção importante é entre a forma de organização sectária e uma forma de organização comum em outros países mas que ainda não existe nesse país atrasado.

Essa abordagem é básica para o artigo, porque ele lida essencialmente com a seguinte questão: existe uma alternativa ao modo de organização sectário que domina toda a história do socialismo americano, no passado e no presente?

H.D.


Sobre o caminho para um movimento socialista americano

Já que existem socialistas nos EUA, mas não existe movimento socialista, é compreensível que os socialistas digam “vamos formar um movimento socialista”. Todas as considerações levam a esse passo óbvio, e não existem argumentos contrários, apenas um. É o fato – fato histórico 0 de que ninguém pode decidir “fazer” uma revolução. Qualquer coisa que for formada pela vontade se tornará uma seita junto a outras seitas, mesmo se for um tipo melhor de seita que acredita que não tem que ser sectária.

Vamos deixar claro que não temos a resposta para a pergunta de um milhão, ou seja, uma fórmula ou esquema que, se for seguido, vai infalivelmente produzir um partido ou movimento. Nós todos vamos ter que tatear por algum tempo. Mas temos concepções sobre a direção em que tatear, e sobre os critérios para decidir que acontecimentos causam esperança ou preocupação.


1. O caminho à frente

Um movimento socialista vai se tornar possível nesse país, como aconteceu em outros, conforme as suas bases amadurecerem por causa das condições sociopolíticas. Entretanto, se ele não pode ser criado simplesmente através de um esforço da vontade, também é historicamente verdade que não se trata simplesmente de geração espontânea. Quando as bases de um movimento socialista amadurecerem, será difícil ele existir, a não ser que o movimento nascente se cristalize com a ajuda de elementos socialistas ativos. Cada movimento socialista foi o resultado da fusão entre espontaneidade e direção, de elementos desenvolvidos naturalmente e de organização consciente.

Isso significa que, para nós, socialistas americanos hoje que buscam construir um verdadeiro movimento socialista, existe um curso de ação que podemos tomar para avançar para esse objetivo e aproximar-nos dele, que vai fertilizar o chão em que ele vai surgir, que vai facilitar que os seus elementos amadureçam. A alternativa à criação por fiat não é esperar passivamente que ele surja sem a intervenção das mãos humanas.

Segue-se disso que o curso adotado agora pelos socialistas americanos também pode ter o efeito oposto: de apagar as predisposições para um movimento verdadeiro; de esterilizar o chão em que as sementes do movimento podem germinar, de dificultar que os trabalhadores encontrem o caminho para um movimento socialista em construção.

Infelizmente, é esse segundo curso o que hoje é dominante entre as seitas, grupelhos e microsseitas do que passa hoje por ser o socialismo americano. A forma sectária do grupamento socialista americano hoje é um obstáculo no caminho; as noções sectárias dominantes neste grupamento constituem um veneno que pode imobilizar a abortar um movimento socialista, mesmo se ele começar.


2. Fragmentação

O socialismo americano hoje chegou num novo ponto baixo em termos de fragmentação sectária. Existem mais seitas rodando nesse momento do que todas as que já existiram em todos os períodos anteriores desse país juntos. E os fragmentos ainda estão rachando, até o nível submicroscópico. Politicamente, o padrão caiu do nível de ópera cômica para o de história em quadrinhos. Enquanto as seitas esotéricas (geralmente rachas trotskistas) dos anos 1930 tendiam a um tipo de supersofisticação no marxismo e futilidade na prática, existe um monte de grupelhos hoje (geralmente castristas-maoístas) caracterizados por amnésia em relação à tradição marxista, ignorância da experiência socialista e primitivismo extremo. O caminho para um movimento socialista americano certamente está sob os escombros, ou em torno dos pedaços pútridos dessa selva fétida de seitas.

Com certeza, reconhecemos que existem seitas e seitas: ainda temos entre nós algumas seitas e grupelhos do tipo “clássico”, ou seja, geralmente fúteis e fossilizadas, diferentes da nova safra de seitas neostalinistas (maoístas-castristas etc) que representam um perigo mais certo para qualquer desenvolvimento saudável do movimento operário. É característico das últimas que elas não querem um movimento de classe – não por causa de alguma concepção de organização, mas por causa das suas concepções políticas básicas. Assim como o seu “socialismo” é o domínio de um despotismo estatal sobre uma economia coletivizada burocraticamente, o seu caminho organizativo para o poder é a formação de uma elite de Líderes Máximos prontos para estabelecer o seu próprio domínio, num momento propício, de um levante elementar do povo. (Isso só é novo no sentido de ser uma regurgitação, em novas formas, do tipo mais antigo de movimento de esquerda, os círculos putschistas-jacobinos que predominavam antes da ascensão do marxismo).

Se essas seitas neostalinistas se “orientam” para a classe trabalhadora – ou para o lumpesinato, ou os negros, ou o “terceiro mundo” etc – é somente no sentido em que os homens numa comitiva se orientam para um rebanho de cavalos. Eles tornam claro que o conteúdo histórico do “maoísmo”, em suas diferentes variedades, é a concepção de uma revolução burocrática pelo alto feita por um bando de líderes autointitulados cavalgando e freando um movimento de classe; para tal fim, a classe mais apropriada é a que tem o mínimo de capacidade de iniciativa e autoorganização, como o campesinato. Esses elementos são – alguns por razão de classe, inimigos do socialismo democrático revolucionário.

Então, esses elementos também precisam da forma sectária de organização. Para eles, a seita não é uma infeliz necessidade devida à ausência de um movimento real: é o seu movimento. O tamanho minúsculo pode nem ser mesmo um problema: Fidel não “fez” a revolução só com um punhado de bons homens jovens?[1*] Quantos comissários são necessários para a Grande Marcha? Na verdade, isso é parte da dinâmica por trás da proliferação atual das seitas, já que elas não se inibem com o preconceito de que um “partido” precisa ter base.

3. A seita clássica

Quanto às seitas “clássicas” ainda operando: atualmente, elas se dividem mais ou menos entre as que vêm da tradição sectária trotskista e as que exemplificam o padrão socialdemocrata. (É certo que existe uma gradação dos grupelhos trotskistas, de um lado, até o tipo neostalinista, particularmente a seita grande chamada SWP [“Partido Socialista dos Trabalhadores], cuja política se moveu rapidamente desde a morte de Trotsky na direção da stalinização).

O que caracteriza a seita clássica foi melhor definido pelo próprio Marx: ela contrapõe o seu critério sectário de pontos programáticos ao movimento real dos trabalhadores na luta de classes, que pode não estar à altura das suas demandas elevadas. O critério de apoio (“point d’honneur,” nas palavras de Marx) é a conformidade com os shibboleths da seita – quaisquer que sejam, incluindo pontos programáticos em si mesmos bons. A abordagem apontada por Marx era diferente: sem minimamente abandonar ou esconder o próprio programa, o verdadeiro marxista olha para as linhas de luta calculadas para mover setores de classe decisivos – em movimento contra os poderes estabelecidos do sistema (o Estado, a burguesia e seus agentes, incluindo os seus lugar-tenentes dentro do movimento operário). E, para Marx, é essa realidade de colisão social (de classe) que vai trabalhar para elevar a consciência de classe até o nível do programa do movimento socialista.

Mover um setor de classe em ação contra os poderes estabelecidos só um passo é mais importante que “mil programas”, como Marx e Engels costumavam afirmar, e não faz sentido denunciá-los por rebaixarem o programa. Para a mente sectária, a abordagem deles é completamente incompreensível. Por mais de um século vimos os dois critérios, e a diferença é tão gritante hoje como sempre foi. O teste mais importante sempre foi a relação entre os autoproclamados marxistas e a classe trabalhadora organizada no nível econômico elementar, ou seja, o movimento sindical. (O teste é ainda mais decisivo nos Estados Unidos onde, infelizmente, o movimento sindical é o único movimento de classe dos trabalhadores existente).


4. Seitas e Sindicatos

O socialista de seita [2*] sempre sentiu uma dor na alma diante de um movimento sindical que rejeita o socialismo; e a predominância da vida sectária na história do socialismo foi acompanhada pela predominância de uma hostilidade ultraesquerdista ao sindicalismo como tal.

Marx e Engels constituíram a primeira escola socialista a ter a posição de apoiar o sindicalismo como tal (mesmo que criticassem algumas políticas, líderes etc, é claro). E, depois da sua época, a história socialista se divide principalmente entre os socialdemocratas que apoiaram o sindicalismo reformista precisamente porque eles mesmos eram reformistas, em vez de marxistas, e socialistas revolucionários autoproclamados que encontraram argumentos "revolucionários" para voltar à velha merda de antissindicalismo socialista – acrescentando retórica marxista para disfarçar a sua abordagem sectária. Muitos poucos assim chamados ou autoproclamados marxistas entenderam a essência da abordagem de Marx sobre o socialismo proletário: a estratégia básica para construir um movimento socialista consiste em fundir dois movimentos - o movimento de classe por esse ou aquele passo que coloca um setor decisivo da classe em colisão com os poderes estabelecidos do Estado e da burguesia, uma colisão em qualquer escala que for; e o trabalho de permear  esse movimento de classe com propaganda educativa pela revolução social, que integra os dois.

Se isso foi verdade nos melhores dias do movimento marxista, em maior ou menor extensão, assumiu formas grotescas no passado recente da esquerda americana, ou seja, durante os anos 1960, quando o impulso radical estava vindo temporariamente de setores não-operários (estudantes e alguns negros não enraizados na vida operária, por exemplo). [3*] A Nova Esquerda estudantil geralmente engolia a imagem da classe operária criada pela lavagem cerebral sociológica da academia: “Big Labor” junto com o Big Business etc, identificação do sindicalismo com George Meany ou Hoffa, igualação implícita do movimento sindical com a sua burocracia, dos trabalhadores organizados como uma “classe média” ipso facto e parte do Establishment, e o resto do lixo ideológico dos moinhos mentais antioperários do verdadeiro Establishment.

Mesmo entre esses elementos da Nova Esquerda – os melhores – que se orientaram ao trabalho nas fábricas e plantas industriais (“ir ao povo”), a concepção dominante era de que os sindicatos como tais tinham que ser substituídos por formações mais “radicais” por local de trabalho que, de alguma forma, estariam fora da estrutura sindical sem serem sindicatos paralelos. Essas concepções ou ficavam no reino da fantasia, tornando impossível que os que acreditavam nelas se integrassem ao movimento real como sindicalistas, ou (pior) eram concretizadas destrutivamente em alguns lugares, prejudicando os trabalhadores e desacreditando os radicais. Em lugar nenhum o impulso da Nova Esquerda para as fábricas gerou um movimento de militantes mais ou menos bem enraizados no movimento sindical que pudesse realmente ser uma oposição à burocracia: essa é a sua condenação.

A abordagem sectária sobre o movimento de classe se mostrou de várias formas que precisam ser ilustradas. Aqui estão duas. 

Item 1. O estudante radical, com o coração cheio de simpatia pelos pobres trabalhadores, vê a luta dos trabalhadores agrícolas como uma que claramente merece o seu apoio. Tipicamente, ele não “vai ao povo” indo trabalhar nos campos como os outros trabalhadores; por que os seus talentos especiais deveriam ser enterrados com uma enxada? Ele vai trabalhar “para o sindicato”, ou seja, como o que o sindicato chama de estudante voluntário. Impressionado pelo seu próprio autosacrifício por um lado, pelo outro ele acha que o sindicato nem chega perto do seu ideal de como deveria ser a luta de classes. Logo, ele reclama que os estudantes voluntários “não tem voz” na política, ou seja, ele exige que os poderes de decisão sejam parcialmente tirados das mãos dos sindicalizados e vão para os visitantes de outras classes que resolveram doar o seu tempo. Ou, achando que a vida interna e a democracia do sindicato estão longe de ser satisfatórias, ele pode decidir que o sindicato não merece mesmo o seu apoio. Ele vai conceder a sua presença somente para lutas de classes com certificado de pureza que acontecem em outro plano planetário.

Item 2. O movimento sindical se atrasou muito em fazer oposição à guerra do Vietnã, como todos sabem, enquanto o sentimento antiguerra crescia nas universidades. Nos círculos estudantis, a pedra de toque programática da oposição completa à guerra veio a ser a palavra de ordem de retirada unilateral das tropas, que era muito bem justificada. Mas, finalmente, começaram a se desenvolver aqui e ali focos de oposição antiguerra no movimento sindical. Finalmente, uma parte dos dirigentes sindicais mais progressistas e conscientes socialmente tomaram coragem e fundaram a Assembleia Trabalhista pela Paz, debaixo de denúncias violentas da burocracia de Meany. Esses começos eram tímidos em muitos aspectos e, entre outras hesitações, declaravam oposição à guerra sem usar a palavra de ordem de retirada unilateral das tropas. Não conhecemos exemplo mais flagrante de mentalidade de seita do que a atitude de desprezo tomada pela Nova Esquerda diante desse começo de uma oposição antiguerra no movimento operário. Mesmo na área da Baía de São Francisco, que tinha a regional mais militante e aberta da Assembleia Trabalhista pela Paz, e onde os líderes do grupo, senão o grupo inteiro, falavam abertamente em retirada unilateral, nenhum um só militante da Nova Esquerda se convenceu a corromper a sua alma tendo alguma coisa a ver com um grupo tão atrasado, que nem mesmo defendia o programa de retirada unilateral. O fato de que esse movimento representava os primeiros passos de um setor importante dos sindicatos se movendo em colisão com os poderes estabelecidos – esse fato não significava nada para os sectários. A única consideração que eles entendiam era o seu shibboleth salvador da alma, que eles contrapunham ao início real do movimento de classe.


5. O atoleiro em que estamos

Esse é o caminho da seita. Como sair desse beco sem saída? Existem duas noções que tentam remediar os males do sectarismo ampliando a seita. A intenção é boa, o remédio não funciona.

Uma é a proposta de abolir o sectarismo através do chamado pela unidade de todas as seitas. Isso também pode ser apresentado como um caminho para formar um “movimento” socialista. É uma ilusão piedosa. Na prática, isso significa ou uma série de negociações de unidade entre algumas seitas (uma perda de tempo coletiva), ou mesmo a unificação de duas (uma gota d'água no oceano). Mas a unificação real de todas as seitas é impossível, porque todos os shibboleths programáticos em que as seitas se baseiam são incompatíveis politicamente. O produto da unificação de seitas não é nada mais do que uma seita um pouco maior, enquanto não surgirem as condições para um verdadeiro movimento socialista. A ideia de de uma seita “inclusiva” é uma superstição.

Programas políticos incompatíveis podem permanecer juntos, pelo menos por um período histórico, dentro do quadro de um partido/movimento; porque o cimento que unifica uma formação assim é o seu próprio papel na luta de classes, o fato de que ele é a classe em movimento; o que mantém tendências políticas antagônicas no lugar é a pressão dos inimigos de classe por fora. Enquanto essa não for a situação real no movimento, nada mais pode ocupar o seu lugar, incluindo exortações contra o “sectarismo”.

A segunda proposta quer chegar ao mesmo resultado por um caminho diferente, a saber, lançando uma seita cujo ponto programático distintivo seja voluntariamente deixar de lado pontos programáticos distintivos. Isso será conseguido limitando o programa a alguma base mínima socialista (ou radical) com que “todo mundo” pode concordar, ou seja, uma declaração socialista abstrata. Se uma ala esquerda quiser empurrar o grupo para uma posição revolucionária, como “Nenhum apoio aos Democratas”, o mínimo explode; na prática, portanto, o programa deve ser reformista. O Partido Socialista tentou ser esse tipo de seita a maior parte do tempo desde que deixou de ser um movimento de massas; e mais recentemente, o Novo Movimento Americano tentou concretizar esse objetivo de uma forma ainda incerta.

Algumas vezes o objetivo é derivado por reminiscência do período histórico diferente (antes de 1917), quando o Partido Socialista era um cadinho de diferentes pontos de vista políticos que ainda não se entendia conscientemente que eram basicamente antagônicos e cujas consequências ainda não tinham sido entendidas. Mas não temos simplesmente como aprovar uma moção para voltar à era de Debs.

Enquanto a vida de uma organização (seja ou não rotulada como “partido”) for baseada realmente nas suas ideias políticas distintivas, em vez das lutas sociais reais em que ela estiver envolvida, não será possível suprimir o conflito de programas que exigem diferentes ações para apoiar diferentes forças. A questão chave se torna a conquista de uma base de massas, que não é simplesmente um problema numérico, e sim uma questão de representação de classe. Tendo uma base de massas na luta social, o partido não tem necessariamente que suprimir o desenvolvimento do conflito político, já que a força centrífuga dos desacordos políticos é contrabalançada pela pressão centrípeta da luta de classes. Sem uma base de massas, uma seita que se chama um partido não pode suprimir o efeito divisivo de diferenças fundamentais sobre (por exemplo) apoiar ou se opor aos partidos capitalistas no país, na forma dos Democratas liberais, ou apoiar ou se opor às manobras do mundo “comunista”.


6. E então?

Se o caminho das seitas é um beco sem saída, o que fazer então?

O caminho das seitas sempre foi um beco sem saída; ainda assim, movimentos socialistas vieram à existência.

Nunca houve um único caso de uma seita que se transformou, ou deu origem a um movimento socialista genuíno - pelo único processo que as seitas conhecem, o processo de acreção. A mentalidade de seita normalmente vê a estrada à frente como uma em que a seita (a própria seita) vai crescer e crescer, porque tem o Programa Político Correto, até que se torne um grande seita, em seguida, uma seita ainda maior, eventualmente, um pequeno partido de massas, então maior etc, até que se torne grande e massivo suficiente para impor-se como o partido da classe operária de fato. Mas, em duzentos anos de história socialista, isso nunca realmente aconteceu, apesar das inúmeras tentativas.

Isso não é prova de que nunca vai acontecer no futuro imprevisível. Mas é uma prova de que deve haver algum outro caminho para a formação de um movimento socialista genuíno que não é o caminho das seitas.

Esse caminho tem sido quase totalmente esquecido na “sectarização” geral dos círculos socialistas em nosso período. A menor familiaridade com visão do que é preciso para construir um movimento socialista segundo Marx é o suficiente para lembrar que Marx foi violentamente e incondicionalmente hostil a qualquer coisa parecida com uma seita. Não só ele nunca tentou organizar uma seita marxista, mas ele desprezou positivamente aqueles que o fizeram.

É menos facilmente entendido que Lênin nunca quis formar uma seita e nunca o fez, e que o partido bolchevique não era o resultado de uma formação de seita que cresceu por acreção. Quando Lênin saiu do exílio em 1900 e foi para o exterior começar a luta para permear os círculos socialistas existentes com as idéias do marxismo revolucionário, ele nunca pensou em criar um grupelho ideológica dele, uma seita, embora os socialistas russos no exílio já estivessem divididos em seitas (que já estavam rachando etc).

O que Lênin ajudou a lançar foi um centro político marxista de uma forma não-sectária, sob a forma de um periódico dirigido por um conselho editorial, Iskra.

O centro político se educava no marxismo revolucionário completo. Ao mesmo tempo, o partido / movimento que ele queria criar um partido socialista amplo, em que o centro revolucionário marxista constituiria uma tendência, esperando ser, eventualmente, dominante. Ambos os lados da imagem condiciom um ao outro: "Antes que possamos nos unir, a fim de que possamos nos unir, é preciso, antes de tudo, com firmeza, delimitar as linhas de demarcação entre os vários grupos [tendências] definitivamente", escreveu Lênin no lançamento da Iskra . Mas as linhas de demarcação não eram feitas ao longo das linhas de seita, com barreiras organizacionais limitando-as: este foi o caminho das seitas que ele não seguiu.

Iskra não era apenas uma empresa "literária": este é um mal-entendido. Um trabalhador na Rússia tornava-se um “iskrista” na medida em que ele concordasse com os pontos de vista políticos do centro político; e, como um "iskrista" ele mesmo se tornava um centro político para espalhar ainda mais os pontos de vista nos círculos populares em que trabalhou, em sua fábrica, na sua aldeia, em seu círculo socialista. Uma das visões espalhadas por este centro político era de que o partido / movimento a ser construído deve ser uma amplo. Lênin nunca desistiu dessa concepção de como construir um movimento socialista em qualquer momento antes da Revolução de Outubro. Foi com base nesta concepção de que o partido leninista realmente evoluiu.

Não propomos ou o movimento russo ou curso de Lênin como o modelo para a América na década de 1970. O significado do caso é diferente. Por outro lado, muitas das seitas acreditam que estão seguindo os passos de Lênin na construção de uma seita rígida com base em um programa de shibboleth. Eles estão errados, porque a sua crença é apenas a internalização do que tem sido dito sobre a natureza da "leninismo" pela indústria antibolchevique do establishment americano. Por outro lado, o caso do caminho de Lênin para um partido revolucionário é importante porque ele aplicou-o de forma única. Sua característica única foi ser sério e inflexível sobre a manutenção de um centro político marxista revolucionário como instrumento de permear todo o movimento com as suas ideias, e insistindo que as maiorias assim adquiridas fossem reconhecido por todo o movimento. Foi a direita que rachou.

Nós mantemos que a alternativa ao caminho das seitas, que é sugerida pelos sucessos e fracassos da história socialista é também sugerida pela generalização a partir de modelo da Iskra de Lênin, bem como de uma dúzia de outros casos de construção de movimentos socialistas reais em vários contextos e circunstâncias .


7. O centro político

O que fazer para preparar o terreno para a formação eventual de um movimento/partido socialista nos EUA, ou seja, uma formação socialista de massas que seja a expressão política da classe trabalhadora em colisão com os poderes estabelecidos da sociedade capitalista?

Primeiro, temos que nos dirigir ao socialista que se pergunta se ele ou ela deveria e poderia fazer outra coisa além de entrar na seita da sua preferência e desperdiçar as suas energias nas vicissitudes da vida sectária:

Você tem a oportunidade de fazer um empreendimento de dois lados ligado às suas circunstâncias. Sugerimos a seguinte dupla ligação para você, em que os dois lados são necessários para a coisa fazer sentido.

(1) A sua contribuição básica para a formação eventual de um movimento socialista é que você desenvolva um círculo socialista ao seu redor, onde você estiver agora. Estamos pensando, em primeiro lugar, no seu papel no lugar de trabalho (fábrica, escritório, escola, o que for).

Começando pelo começo: o que o movimento operário americano precisa antes de tudo é da cristalização de uma oposição militante organizada nos sindicatos, porque eles são o movimento de classe existente dos trabalhadores, e o único do tipo.

Seria um grave erro sectário pensar nisso como uma oposição "radical" ou socialista, mesmo que, inevitavelmente, era vai ser formada principalmente por radicais e socialistas de vários tipos, e também inevitavelmente levaria os seus militantes a pensarem em termos radicais e socialistas. O que é necessário é uma ampla ala progressiva do movimento operário. Em termos marxistas, a definição adequada disso é uma ala que defenda o sindicalismo classista contra o sindicalismo de colaboração de classes, seja ou não autodefinido na linguagem de luta de classes. Do ponto de vista do trabalhador, existe uma profunda necessidade de fazer uma luta sindical militante sem "se misturar" com socialismo e comunistas. Do ponto de vista do socialista, a organização de uma oposição militante à direção sindical cria uma escola elementar de socialismo classista. Uma das suas consequências, por exemplo, seria a politização do movimento sindical: a sua entrada em ação política independente que, por sua vez, depende de romper o vínculo com a política do Partido Democrata.

Esse movimento de oposição deve ser uma oposição leal. Isso significa: leal aos interesses do sindicalismo, no mesmo grau em que luta contra o patrão e o burocrata, cujo poder não é no interesse do sindicalismo. É necessário proclamar isso hoje - colocar isso na bandeira, por assim dizer - porque os radicais de seitas tiveram muito sucesso em se desacreditarem diante dos sindicalistas conscientes, confundindo "sindicalismo radical" com ataques relâmpago de uma seita para criar situações no chão de fábrica com uma demonstração de "militância", mesmo que os interesses dos trabalhadores sejam prejudicados, ou que o trabalho sindical seja destruído, desde que um ou dois militantes sejam recrutados para a seita. Os sectários que trabalham nos sindicatos e fábricas subordinando os interesses dos trabalhadores às suas aventuras de autoconstrução de seitas e coisas do tipo são inimigos da classe operária e do marxismo, não são simplesmente "radicais desorientados" que tem que ser aconselhados por editoriais marxistizantes. Eles não são aliados "aventureiristas" do nosso campo na luta de classes; eles são sabotadores que nem sempre podem ser diferenciados de provocadores da polícia. Qualquer movimento de oposição militante nos sindicatos que faça alianças com tais elementos vai merecer o seu destino.

Se você estiver em contato regular com algumas pessoas - no local de trabalho ou outra situação "de massa" - que você está tentando influenciar numa direção socialista, então você está fazendo alguma coisa. O que o futuro movimento socialista precisa é uma rede de círculos socialistas informais - ou formais se você quiser - que tenha uma relação integral com as lutas reais que as pessoas estão avançando. [4*]

O mesmo vale para o movimento negro, o movimento das mulheres, o movimento estudantil etc.

Você pode estar acostumado com a crença de que só membros de seitas estão interessados nesse tipo de trabalho. Não é verdade. Existem casos inumeráveis em que essas células de militância surgiram no local de trabalho, escritório ou escola, em torno de pessoas que nem mesmo são socialistas, ou que não sabem que são.

O que é verdade é que a militância numa seita muitas vezes tem sido o estímulo para desempenhar esse papel, através de pressão de grupo e orientação, e que a seita faz o serviço de fornecer materiais de leitura e estudo etc, para a atividade do círculo. Isso mostra o lado positivo do trabalho das seitas, que não podemos negar. O que significa que os esforços dos socialistas nesse sentido precisam de um centro político de algum tipo, que possa ser procurado para ajudar com literatura, conselhos e ajuda. Além disso, rapidamente surge a necessidade dos esforços individuais e de círculo se interligarem.

(2) Mas o papel do centro político não precisa ser desempenhado por uma seita

Historicamente, esse trabalho foi feita, na maioria das vezes e com mais sucesso, por jornais ou outras publicações de centros políticos socialistas, organizados simplesmente como um conselho editorial ou editora (a Iskra foi somente um entre dezenas de exemplos de como isso foi feito no surgimento de movimentos socialistas em todo o mundo). Também historicamente, os centros políticos desse tipo frequentemente assumiram funções organizativas conforme a sua influência se espalhava, a organização sendo o produto ou subproduto do trabalho dos seus agentes e representantes (os agentes da Iskra eram os braços organizativos do primeiro centro leninista). O espírito da coisa seria totalmente perdido se essas iniciativas fossem consideradas meramente literárias, no sentido burguês comum. Existe uma linha contínua que esses centros políticos aplicavam, da sua função como produtores de "literatura" até o seu papel como centros de estímulo de organização, de uma forma ou outra. 

Centros políticos assim estão operando hoje no país, junto com as seitas que se proliferam, e geralmente muito efetivamente. naturalmente, são centros políticos com posições políticas amplamente divergentes, a maioria delas desagradáveis para o nosso ponto de vista e umas para as outras. Nós os mencionamos não para celebrar o seu trabalho, e sim para exibir alternativas ao caminho sectário.

The Guardian e a  Monthly Review de Sweezy têm funcionado mais ou menos como centros políticos que emergiram de uma tendência neostalinista de um tipo ou de outro. (Na verdade, o Guardian está agora envolvido com um grupo de seitas neostalinistas que falam em formar um "partido" maoísta através da sua unificação). No lado da direita socialdemocrata, a clique de literatos ao redor da Dissent funciona como o único centro político dessa tendência que existe fora dos escritórios de  George Meany.

Esses exemplos se diferenciam no quanto de atenção eles dão, ou deram em outros períodos, à função de se relacionarem com os seus leitores (seguidores) no campo. Para os nossos objetivos atuais, queremos apenas enfatizar que um centro político não precisa ser uma seita. Mais ainda: um centro político pode começar uma relação com os seus seguidores que não seja engessada pelas exigências rígidas da vida organizativa, suas votações de vida ou morte, lutas fracionais, rachas, disputas internas e rituais internos de imitação de um micro "partido de massa" em miniatura.

Do ponto de vista do indivíduo socialista que quer "fazer alguma coisa", resumiríamos nossa sugestão assim:

(1) Cristalize um círculo de companheiros ao seu redor onde você estiver, nas suas atividades na arena da luta social ligada à sua situação. Você é o menor centro político que existe.

(2) Faça contato com um centro político que faça sentido do seu ponto de vista, para ajuda em literatura, conselhos, ligações externas e trabalho como qualquer coisa que você ache útil. Mas não existe razão para não se relacionar com mais de um centro político, se isso estiver de acordo com a sua visão política. Tal centro político pode até ser uma seita mas, se você não entrar nela, ela vai se relacionar com você como um centro político entre outros. Este relacionamento é frouxo: se, por um lado, você não tem direito a votar na decisão dos negócios dele, também é verdade que ele não pode lhe dizer o que fazer, exercendo sua "disciplina" de seita acima do seu julgamento. Você não cria uma barreira organizativa entre você como aderente de uma seita e outra pessoa, que é de outra seita ou de nenhuma. No seu trabalho, você usa a literatura que quiser, da fonte que quiser. Você vai usar o seu dinheiro não para aumentar os fundos da seita, e sim para financiar o seu próprio trabalho. Se esse caminho for o suficiente destruir o sistema das seitas, seria uma boa coisa paraas futuras possibilidades de um movimento socialista americano.

Existe uma chance melhor de um verdadeiro movimento socialista surgir a partir desse complexo frouxo de relações do que da forma fossilizada das seitas. Não estamos sob a impressão de que um número muito grande de indivíduos vai começar amanhã a seguir o curso descrito acima. Até agora, o nosso interesse foi ilustrar a forma em que os movimentos socialistas surgiram em outros lugares - a única forma, de uma maneira ampla. Nós esboçamos o tipo de desenvolvimento que fornece uma alternativa ao modo de organização sectário que está derrubando o socialismo americano.

Muito provavelmente, o que quer que acontecer nesse país acontecerá um pouco diferente - como é o normal. Se o florescimento de círculos socialistas não está acontecendo em massa, também é verdade que não existe outra direção visível para a emergência de um movimento socialista de massas na esquina. Tudo o que pode ser feito é se orientar na direção em que os esforços não vão ser desperdiçados, independente do resultado. A única coisa de que temos certeza é que o caminho das seitas é um beco sem saída.

O Comitê Socialista Independente em si mesmo é um esforço para criar um centro político para a nossa corrente no marxismo revolucionário:a visão de que os trabalhadores de todos os países constituem a base de classe de um Terceiro Campo que deve combater e destruir tanto o sistema capitalista como o coletivismo burocrático "comunista" para estabelecer a democracia revolucionária de um mundo socialista. Começa como um conselho editorial para a produção de livros e folhetos (não um periódico, ainda), incorporando essa visão de mundo. Dessa forma, estamos exemplificando o nosso próprio conselho.

Outubro de 1973


Notas

1*. A resposta, claro, é: não, a revolução cubana criou Castro, e não o contrário. Mas essa já é outra história.

2*. Nós usamos esse termo esquisito em vez de "sectário", que usualmente é entendido como alguém que defende determinadas políticas. É preciso um termo  para quem se baseia numa organização sectária, qualquer que seja a política da seita.

3*. Para uma apreciação mais positiva sobre as forças e fraquezas na Nova Esquerda, veja a coleção The New Left of the Sixties,editada por M. Friedman (Independent Socialist Press, 1972).

4*. Em vez da proliferação de grupos de tipo sectário, gostaríamos de ver a proliferação de clubes abertos socialistas, círculos de discussão, fóruns, e agregações frouxas e despretensiosas semelhantes, formadas em torno de situações de local de trabalho por pessoas engajadas em um trabalho comum. Elas estariam entre os núcleos ao  redor dos quais um verdadeiro movimento socialista poderia se cristalizar, dadas as condições favoráveis. Reconhecemos livremente que não existem condições favoráveis agora, especialmente porque os sectários estariam prontos para esmagar desenvolvimentos promissores assim com o seu abraço letal.


Nota sobre o texto

1. Esse artigo foi escrito originalmente quando o jornal trimestral New Politics estava planejando organizar um simpósio sobre a questão de como reconstruir um movimento socialista nos EUA. Os editores de New Politics escolheram não incluir essa peça no simpósio. Depois (1973) eu revisei um pouco o texto, e ele circulou privadamente.

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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Contra o golpe e contra o ajuste! (Nota de conjuntura da Frente Resistência)



Segue abaixo nota de conjuntura da Frente Resistência, à qual o blog Espaço Marxista é associado, publicada em 18/ 01/ 16. Aqui, o link original.

Contra o golpe e contra o ajuste! (Nota de conjuntura da Frente Resistência)

O golpismo contra o governo Dilma tem perdido força. As contradições entre os setores da oposição de direita -tendo como exemplos o cerco ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (investigado por corrupção e alvo do conselho de ética da Casa) e as decisões do STF contra seu atabalhoado rito do processo de impeachment, o papel de "bombeiro" que o vice Michel Temer tem adotado, bem como a "suavização" no discurso das grandes empresas de mídia- enfraquecem a possibilidade de "golpe branco" (isto é, golpe travestido de legalidade).

Porém, o refluxo do movimento golpista parece ser apenas temporário. Tais setores tem feito esforços enormes para incluir, cedo ou tarde, Lula como réu nas investigações da Lava-Jato, inviabilizando-o para as eleições presidenciais de 2018, bem como se apegam a qualquer elemento ou dado que possa ser usado contra o governo Dilma.

Ao mesmo tempo em que realizam esses ataques institucionais contra o governo, a oposição de direita e os setores reacionários do país, alinhados com o imperialismo mundial, continuam arrancando concessão atrás de concessão de Dilma. Ao invés de se voltar para as bases populares e os movimentos de massa, para combater a direita, o governo prefere se submeter, de forma pusilânime, aplicando a agenda neoliberal tão ao gosto da burguesia.

Fala-se agora, por exemplo, em uma nova reforma da previdência (inclusive com aumento da idade mínima para aposentadoria), aprofundando as mudanças anti-trabalhador realizadas por Lula no início de seu mandato. A pretexto de um "ajuste" nas contas públicas, o que o governo Dilma tem feito é onerar mais e mais os trabalhadores, de modo que é sobre o povo, e não sobre os burgueses, que tem caído a conta da crise capitalista.

É evidente, todavia, que o governo Dilma tem aplicado tal programa anti-trabalhador de forma lenta. E isso contraria os setores reacionários de direita, que tem pressa na aplicação pura e sem disfarces da agenda neoliberal. Por isso o interesse de derrubar Dilma e emplacar um representante de direita "puro sangue", que não possua a cor -ainda que simbólica- vermelha do PT ou a ligação histórica com a classe operária que o partido possui, mesmo que cada vez mais distante disso.

Se com Dilma é ruim, com alguém à direita de Dilma será pior ainda. É por isso que nós, da Frente Resistência, mantendo nossa oposição de esquerda ao governo, nos posicionamos no campo do ANTI-GOLPISMO, e convocamos à FRENTE ÚNICA de luta, com todo o setor progressista, popular e de esquerda, governista inclusive, para que possamos combater a ofensiva reacionária de direita dos nossos tempos.
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domingo, 27 de dezembro de 2015

Feliz natal, feliz ano novo, mas não serei hipócrita, falarei do ódio! (blog Socialista Livre)


2015, no Brasil, foi o ano do ódio. Ódio cultivado pela classe dominante contra a classe trabalhadora organizada e todos os seus representantes. A classe dominante perdeu as eleições em 2014, através de seu candidato favorito, Aécio Neves, e, por conta disso, passou o ano todo propagando o ódio nas ruas, vestindo-se hipocritamente de verde-amarelo; passou o ano todo vomitando seu ódio nas redes sociais, com os palavrões mais estúpidos que se possa imaginar; passou o ano todo incutindo o ódio através dos articulistas da imprensa burguesa que mentiram muito para insuflar um movimento golpista no Brasil; passou o ano todo cultivando o ódio através de parlamentares reacionários no Congresso Nacional que fizeram todo tipo de jogo sujo para calar os democratas e criar dificuldades econômicas ao país, culminando com um pedido de impeachment infundado, uma peça rasa e caricaturesca de quem quer promover o caos; passou o ano todo espalhando o ódio através de seres bestiais pedindo volta da ditadura militar no país, como se o povo precisasse de respirar fuzis e baionetas de milicos; passou o ano todo incentivando o ódio através de seres alienados que não entendem nada de política, mas querendo ser os donos da moral e do bom costume em conversas de boteco ou em conversas familiares para descarregarem suas frustrações por terem perdido mais uma vez uma eleição.

O discurso do ódio plantado pela classe dominante golpista, generalizando a visão destorcida de que quem luta é ladrão; de que todo trabalhador que faz política é ladrão; de que quem governa o estado para ajudar o povo é ladrão; de que quem defende o socialismo é assassino e ladrão; enfim, para quem é lúcido acerca das manipulações da classe dominante para manter o povo trabalhador semi-escravizado , tudo isso foi mesmo um motivo de náusea, mas também motivo de tomada de consciência de que precisamos coletivamente reagir à altura contra esses propagadores do ódio.

E foi assim, contra o ódio da classe dominante que pede impeachment da presidente eleita democraticamente pelo povo, Dilma Rousseff, que, finalmente, no dia 16 de dezembro de 2015, milhares e milhares de trabalhadores e gente de bem deixaram suas casas e o Whatsapp e o Facebook e foram para as ruas dizer NÃO. NÃO AO ÓDIO. NÃO AOS GOLPISTAS. NÃO AOS FASCISTAS.  NÃO AOS DITADORES. NÃO AOS DEPUTADOS GOLPISTAS. E também NÃO AOS AJUSTES FISCAIS IMPOSTOS PELA LÓGICA DA BURGUESIA QUE SÓ PENALIZA OS POBRES.

O ódio cego matou aquele que, segundo nossa tradição cultural, nasceu no dia 25 de dezembro, data que dá origem às nossas festas natalinas. Ele, Jesus Cristo, foi morto pelo ódio cego da classe dominante de sua época, dizem os pergaminhos, e consta-se que só pregava o amor, a igualdade entre os homens e mulheres, a fraternidade entre todos, a distribuição de renda com os pobres e necessitados, a saúde aos enfermos, a educação aos ignorantes. Em 2015, no Brasil atual, o ódio quer vencer o bom senso, o ódio quer vencer a democracia, o ódio quer vencer a distribuição de renda mesmo que mínima, o ódio quer vencer a possibilidade da escola pública de qualidade, o ódio que vencer a possibilidade da saúde pública de qualidade, o ódio quer vencer a possibilidade de se lutar por uma vida melhor, o ódio quer vencer a possibilidade de dias melhores para a classe trabalhadora.

Enfim, contra esse ódio, é que digo: FELIZ NATAL! FELIZ ANO NOVO! E que, como se prega culturalmente no espírito natalino, renasçamos com mais força em 2016 e, com mais consciência e garra, derrotemos o ódio da classe dos mais abastados, derrotemos os golpistas da classe dominante, derrotemos os espúrios negócios do imperialismo para o Brasil: SEUS CHICOTES DO ÓDIO NÃO GOVERNARÃO! Não precisamos da ditadura da burguesia capitalista e seus agentes do ódio!

Por: Gílber Martins Duarte – Militante SOCIALISTA LIVRE / FRENTE RESISTÊNCIA – Sind-UTE/Uberlândia/MG – Doutor em Análise do Discurso/UFU – Professor da Rede Estadual de Minas Gerais – Membro MEOB – CSP-CONLUTAS – EDITOR DO BLOG www.socialistalivre.wordpress.com

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terça-feira, 20 de outubro de 2015

Nota em solidariedade ao companheiro Mauro Iasi

http://frenteresistencia.blogspot.com.br/2015/10/nota-em-solidariedade-ao-companheiro.html?m=1

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sábado, 10 de outubro de 2015

Surge a Frente Resistência!

A Frente Resistência é uma iniciativa construída coletivamente para atuar nos marcos da emancipação da classe trabalhadora e dos povos oprimidos, do antiimperialismo e do antifascismo.

Não é uma organização nem pretende se constituir em uma. Envolve agrupamentos e militantes individuais de diversas tradições da esquerda, que, mantendo seus próprios programas e visões de mundo, estão dispostos a um trabalho em comum nos marcos apontados.

O Coletivo Lênin se soma à Frente Resistência, junto com os companheiros da Tendência Revolucionária, do Coletivo Socialistas Livres, do blog Espaço Marxista e do Movimento por uma Tendência Marxista-Leninista!

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sábado, 3 de outubro de 2015

Contribua com a campanha financeira da FIST!


Link: http://www.kickante.com.br/campanhas/projeto-de-educacao-e-politizacao-popular

A Frente Internacionalista dos Sem-Teto (FIST) é uma organização social brasileira que contribui, sobretudo, para defender legalmente o direito constitucional das pessoas sem-teto de habitação mas também oferece outros benefícios para as pessoas sem-teto e participa ativamente de protestos no Brasil . Foi criada em 2005 e é baseada nas idéias comunais de apoio mútuo entre diferentes ocupações de edifícios abandonados. A nossa constituição afirma também que a propriedade privada tem que cumprir sua função social, que neste caso significa que edifícios têm de fornecer moradia. Podemos fazer grandes avanços para enfrentar o problema da habitação defendendo nossa constituição.

O nosso projeto de educação irá enfrentar o analfabetismo adulto e infatil, oferecer creche e educação complementar para estudo em tempo integral, oferecendo estudo dirigido, aulas e exercícios extras para elevar os padrões educacionais e permitindo que os pais trabalhem em tempo integral com os filhos tomados conta. Não só isso, mas aulas para aprender uma profissão e cursos para entrar na faculdade pública.

O Brasil tem um registro atroz na educação e está passando por uma terrível crise econômica, os sem teto estão entre as maiores vítimas. Fornecendo estes cursos podemos ajudar os pais a trabalhar sem se preocupar com seus filhos, dar às crianças uma educação de qualidade para o seu futuro, dar opções de trabalho para os desempregados e ajuda a colocar jovens pobres em faculdades públicas.

Nós temos muitos espaços disponíveis para transformar em salas de aula, de imediato temos 3 salas de diferentes tamanhos para este projeto. Nós também têm arrolados cerca de 10 professores para nossas aulas provenientes de escolas públicas e privadas, militantes e até mesmo alguns sem teto. O que precisamos é de mobiliário escolar e material escolar básico.

A nossa estimativa aproximada é:

CUSTOS:

4 Quadros brancos a R$63,85 cada mais o frete de R$80,00 totalizando R$335,40.http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-682019589-quadro-branco-60-x-80-cm-escolas-creches-educacional-novo-_JM200 carteiras escolares a R$ 300,00 cada mais um frete de R$ 50,00 totalizando R$ 60.050.http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-696198820-mesa-cadeiras-carteiras... escolares diversos como pilor para os quadros, cadernos, apagador, etc totalizando R$3.000,00.
O valor total daria R$ 65.000,00 mas com o valor pedido já podemos pelos menos montar uma sala. Nós podemos ser contatados por nossa página no Facebook:https://www.facebook.com/frenteinternacionalista.fist

Ou e-mail:

Fist17@gmail.com
magmenecopuc@hotmail.com

Por favor ajudar e partilhar a nossa campanha. Não se esqueça manter contato com a nossa organização.

Muito obrigado.

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LIBERDADE PARA TOM, PRESO PELO JUDICIÁRIO RACISTA CONTRA AS PERSEGUIÇÕES A FIST! (FIST)


Via FIST



Adeilton Costa Lima, o Tom, trabalhador informal e morador da ocupação Edith Stein da FIST famoso por ter confeccionado o boneco da copa cuja imagem rodou o mundo, foi condenado a 11 anos de prisão, sob a falsa acusação de roubo. Ele está desde o dia 30/09/2014 preso no presídio Patrícia Acioli em São Gonçalo.

O juiz Itabaiana não ouviu nem a única testemunha que acusou Tom em sede policial, quando a pessoa ainda está sob forte emoção. Nem as três testemunhas de defesa, que não eram amigas do condenado, que atestaram que, no dia e hora do crime, Tom encontrava-se numa ocupação da rua Santa Cristina,em Santa Teresa.

A única testemunha de acusação que foi fazer o reconhecimento de Tom em audiência atestou que o mesmo não era um dos criminosos, e mais: disse textualmente que Tom NUNCA ESTEVE NO ESTABELECIMENTO ONDE OCORREU O CRIME. Mesmo diante destas provas, Itabaiana condenou o companheiro. Este juiz, além de tudo, tem um comportamento desrespeitoso para com os advogados estando, inclusive, sendo processado pela moderadíssima OAB em virtude de ter mandado fazer escuta nos telefones dos advogados, revivendo a velha prática da ditadura militar.

Tom é réu primário e foi preso pela primeira vez no período eleitoral, o que é ilegal. A fita de uma câmera de segurança do local do crime, que revela que Tom não participou dos assaltos não foi periciada, porque desapareceu no Fórum, o que é um indício de alguma interferência também ilegal no processo.
O juiz Flavio Itabaiana de Oliveira Nicolau é velho conhecido da FIST por suas atitudes arbitrárias. No afã de condenar, condenar e condenar, cometeu mais uma injustiça gritante com essa sentença. É simplesmente aviltante o comportamento desse senhor contra pobres, negros e lutadores sociais.

A perseguição ao Tom faz parte de uma onda geral de perseguição à FIST e a todos os movimentos sociais. Por lutar contra a especulação imobiliária no Rio de Janeiro, vários moradores de ocupações da FIST já sofreram criminalização de forma parecida com o que aconteceu com o Tom. O próprio advogado da FIST,André de Paula, está respondendo a processo por desacato, por se recusar a aceitar as chicanas judiciais contra o nosso movimento e o povo pobre e de maioria negra.

O Estado brasileiro foi construído em cima da escravidão, e depois da repressão brutal ao povo negro. A justiça, como um dos pilares desse Estado, não é diferente. Os juízes no Brasil têm poderes quase ditatoriais, e podem passar por cima do devido processo legal, como Itabaiana está fazendo. E o sistema penal não oferece nenhum apoio para reabilitar os presos e reintegrá-los na sociedade, e sim serve como escola do crime e depósito para pobres, muitos já com as penas vencidas.

Como parte da nossa luta contra o sistema capitalista, devemos exigir que haja um controle popular maior sobre a justiça, e diminuição do poder dos juízes. E também devemos exigir mudanças radicais no sistema penal, começando com o fim da Polícia Militar, que trata o povo como um inimigo a ser combatido, e medidas para diminuir a superlotação dos presídios.

Assim como a FIST participa da Campanha pela Liberdade de Rafael Braga, pedimos o apoio de todos os movimentos sociais para a campanha pela liberdade do Tom e contra as perseguições à FIST. Precisamos de moções nos sindicatos e movimentos, divulgação do caso, solidariedade material ao Tom e à sua família e apoio nas manifestações que vamos convocar em conjunto com quem apoiar mais esse preso do judiciário racista e antipopular.

Tom está pedindo um ventilador com nota fiscal como doação. Quem puder ajudar terá nossa gratidão.
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