domingo, 19 de abril de 2009

O que é uma organização revolucionária e porque militar em uma?

Depois da eleição de Lula, surgiu um fenômeno muito forte no movimento: muitos ativistas passaram a exigir que os partidos ficassem de fora dos atos, a bater no peito pra falar que são "independentes" e que queriam militar "só no movimento". Tudo isso está ligado ao descrédito no qual caíram os partidos da esquerda, todos eles adaptados ao sistema, que só fazem eleições parlamentares ou sindicais. Esse é um fenômeno mundial. A melhor demonstração disso é o "movimento antiglobalização". Essas posições se desenvolvem mais facilmente no campo fértil do antileninismo mundial aberto a partir do fim da URSS através da contra-revolução, que desacreditou o socialismo para as massas de todo o planeta. Esta atitude pode ser comparada à de uma pessoa que é traída e, por causa disso, resolve parar de fazer sexo.

Mas, o movimento serve pra quê?

O grande erro deste tipo de concepção é achar que o movimento pode responder a todos os problemas da luta de classes. Tanto o movimento sindical quanto o estudantil e o popular se organizam em torno de pequenas lutas, por salário, moradia, verbas para a educação, terra etc etc. A consciência e a organização neles são imediatistas, ou seja, eles se organizam para conquistar estas pequenas demandas. Uma pessoa que só milite nisso, mais cedo ou mais tarde, vai acabar orientando toda a sua atividade política para estes temas limitados. A consciência vem "de fora" ?

Lênin, em O que Fazer?, polemizou contra a idéia de que a experiência imediata pode levar os movimentos até posições revolucionárias. Ele disse que esta idéia é mecanicista, ou seja, a prática levaria diretamente à consciência. Qualquer pessoa que esteja no movimento real sabe que não é assim.

Na verdade, para os trabalhadores chegarem a uma consciência revolucionária, é preciso sistematizar uma quantidade de experiências do movimento (as mais avançadas), de várias décadas e em todos os países. Isso não pode ser feito pelo movimento. Tem que ser feito por alguma forma de organização exterior às lutas imediatas. Ou seja, por uma organização com o objetivo específico de lutar pela revolução.

Precisamos de uma organização para a luta política contra o poder do Estado!

Militar em uma organização revolucionária não é uma tarefa a mais no movimento. São duas coisas relacionadas, mas diferentes. O papel de uma organização se divide em três grandes tarefas:

* Organizar as lutas dos movimentos, para generalizá-las e levá-las à vitória. Por isso, ele deve intervir dentro do movimento, disputando a sua política com os pelegos, legalistas, reformistas e oportunistas de todos os tipos.
* Politizar os trabalhadores, ou seja, "explicar pacientemente" sobre o papel do Estado, dos regimes e dos governos. Se for possível, mobilizar os trabalhadores contra eles.
* Elaborar uma teoria e um programa, ou seja, usar a experiência da história do movimento dos trabalhadores para formular uma compreensão do capitalismo que possa orientar a luta contra ele.

A essas tarefas, que Engels chamou de luta econômica, política e teórica, se junta outra, que é a de desenvolver uma organização capaz de cumpri-las. Ou seja, recrutar militantes, ter finanças para garantir as atividades, ter um jornal, livros e um site para levar sua política para os trabalhadores, criar uma estrutura clandestina para fazer a luta ilegal contra o regime..... Afinal, o programa não flutua no ar, ele precisa de uma organização para aplicá-lo.

Estratégia é o programa em movimento!

Para aplicar o seu programa, ou seja, seus objetivos políticos, uma organização revolucionária precisa de uma estratégia. Isso significa quais os setores ela deve priorizar, qual deve ser sua linha, quais tarefas ela coloca em primeiro lugar no movimento. Para cada tipo de estratégia, existe um tipo de organização revolucionária.

Por exemplo, muitos anarquistas defendem que precisamos construir uma organização de massas. Isso significa não lutar por uma organização revolucionária, porque as massas só passam a sustentar posições revolucionárias durante uma revolução. Montar uma organização de massas (ou seja, com critérios frouxos, em que basta concordar com o programa para ser militante) numa situação não-revolucionária é submetê-la à consciência reformista da maioria da classe. Foi o que aconteceu com a CNT na guerra civil espanhola, e o que acontece com a maioria das organizações anarquistas hoje, como a Resistência Popular.

Em situações não-revolucionárias, os comunistas devem criar organizações de quadros. Ou seja, de militantes disciplinados e capazes de elaborar a política da organização de igual para igual. Uma organização de massas numa situação assim seria autoritária, porque o desnível da formação política criaria uma "ditadura" dos mais experientes.

A princípio, os comunistas devem criar partidos revolucionários. Esses partidos não têm nada a ver com os partidos reformistas, como o PSOL, ou centristas (que "balançam" entre posições reformistas e revolucionárias), como o PSTU. A estratégia de um Partido Revolucionário privilegia a luta direta, e não a disputa de aparatos. O Partido Revolucionário não deve se importar com a legalidade ou não das suas posições.

Entretanto, em situações extremamente reacionárias, como o mundo de hoje, depois do fim contra-revolucionário da URSS, os revolucionários são uma minoria extremamente pequena. A sua tarefa, então, não é montar imediatamente partidos, e sim grupos de propaganda para, a longo prazo, construir o partido. A maior diferença entre o grupo de propaganda e o partido é que o grupo de propaganda não tem como função principal mobilizar as massas, e sim atrair setores (grupos ou indivíduos) da vanguarda militante para o seu programa, com o objetivo de criar o partido.

Trotsky disse que "em momentos de reação, o movimento regride a formas já superadas de socialismo utópico, e as organizações que mantém as posições revolucionárias passam a ser vistas como seitas". A nossa tarefa é dura. O C.C.I é um grupo de propaganda que tenta, nessa etapa reacionária manter e atualizar o programa marxista revolucionário de Marx, Engels, Lênin, Trotsky e Rosa Luxemburgo. A nossa maior vitória será contribuir para a construção do Partido Revolucionário dos Trabalhadores como seção brasileira de uma Quarta Internacional reconstruída.

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