domingo, 19 de abril de 2009

Porque não fomos ao congresso da CONLUTAS (julho/2008)

O Coletivo Comunista formulou a tese que mais apresentava diferenças com o setor que hegemoniza a Conlutas. Naquele documento, polemizamos com as políticas sectárias e reacionárias que ali têm prevalecido. A resposta que obtivemos foi a cesura sumária. Nossa tese foi cassada sob a desculpa de que não estaria assinada por alguma entidade. Na mesma semana em que nos foi dada essa desculpa, foi publicado caderno de teses no qual constava diversos documentos assinados por grupos ou indivíduos e que não eram subscritos por entidade alguma.

Por que motivo somente o Coletivo Comunista foi censurado?

Nossa tese era única a defender a necessidade de se combater o governo Lula solapando as bases de apoio da Frente Popular. Isso, porém, só é possível através de uma grande oposição classista ao governo e que esteja intervindo em todas as centrais. Porém, o sectarismo do PSTU faz com que esse partido não tolere debater a necessidade de intervir inclusive na CUT, cujas plenárias estaduais estão cada vez maiores, mesmo após os três rachas que a Central sofreu. Nem mesmo após as saídas da Conlutas, Intersindical e CTB, a CUT deixou de ser a maior central sindical da América Latina e, quiçá, do mundo. Ignorar essa realidade é um sectarismo que só pode levar seus praticantes à degeneração total. Era esse o debate que o PSTU queria evitar no congresso da Conlutas e, por isso, censurou nossa tese. Um método arbitrário que nunca sofremos na CUT.

Por que não ir ao congresso da Conlutas para denunciar?

Há muito tempo, o Coletivo Comunista discute sobre o papel da Conlutas. Temos observado que o PSTU, hegemonizando a coordenação, faz desse um setor em crescente grau de degeneração. A começar pelo fato de a Conlutas não apresentar reflexo algum da realidade da classe trabalhadora. Basta ver os números. O PSTU, apesar de sua débil inserção na classe, representa mais de 80% da Conlutas. Como isso é possível? Através de uma maioria artificial que, porém, tem um alto preço a ser pago: não refletir a realidade da classe e dos movimentos populares e, conseqüentemente, ter uma política estranha ao nosso meio e ser um pólo de atração para setores e elementos mais atrasados que existem no seio da classe ou, até mesmo, de fora dela.

Assim, não nos surpreende o fato de no congresso, travestis terem sofrido discriminação tão grande a ponto de serem barrados nos alojamentos. Não nos estranha o fato de casais de lésbicas terem sido impedidas de dormir juntas nos alojamentos. Não nos estranha o fato de policiais e sindicatos de policiais terem feito o uso da fala no congresso, assim como não nos surpreende o fato de nossa tese haver sido censurada. São práticas que, não obstante serem repudiadas por várias correntes que ainda compõem na Conlutas, serão cada vez mais presentes em seu interior devido ao perfil do setor que a Conlutas atrai com à linha política do PSTU.

Além disso, não teria sentido ir ao Congresso disputar as suas posições políticas. Como podemos ver na prática, as resoluções (reformistas) aprovadas nos Fóruns da CUT, da UNE e do MST se transformam em campanhas reais e, às vezes, até de massas. Foi o caso das mobilizações pelo veto à Emenda 3, o abaixo-assinado pela redução da jornada de trabalho, os Abris Vermelhos do MST etc.

Na Conlutas isso não ocorre. Devido a sua intervenção precária na classe, os congressos da Conlutas, quando discutem alguma coisa, debatem posições formais que nunca são aplicadas, e que são aprovadas para dar um verniz mais à esquerda ao corporativismo dos sindicatos. Assim, a campanha pelo salário mínimo do DIEESE, contra a homofobia, pela estatização do sistema financeiro etc, apesar de terem sido aprovados nos fóruns da Conlutas, jamais chegaram a sair do papel. A explicação disso não está na menor ou maior disposição militante individual. A explicação é óbvia e só não vê quem não quer: a CUT, a UNE e o MST têm inserção de peso real na classe. A Conlutas não. Por isso, faz muito mais sentido intervir na CUT do que na Conlutas.

Se iludem aqueles que tentam pressionar o PSTU a aplicar as resoluções aprovadas nos fóruns da Conlutas. No congresso da Conlutas havia cerca de 2800 delegados presentes (menor que qualquer congresso da UNE ou da CUT). Mais da METADE deles eram do PSTU. Intervir nesse fórum seria equivalente a ter uma política de "exigências e denúncias" em relação ao PSTU! Política esta que não faz sentido, pois o PSTU não é e está longe de ser um pólo de referência para a classe.

Por isso, consideramos não ser válido o esforço de ir ao congresso denunciar a censura. Visto que já estava prenunciado o grau de degeneração que o congresso iria refletir, preferimos fazer a denúncia apenas na base dos setores onde temos intervenção.

Uma política reacionária, só pode atrair um setor atrasado.

Qualquer militante de vanguarda somente é atraído pela política que o PSTU impõe à conlutas, se tiver acordo em que as greves coorporativas das polícias por melhores condições de “trabalho”devem ser apoiadas incondicionalmente; que o governo Lula é igual ao de FHC, ignorando as ilusões que a Frente Popular despertam em amplos setores da classe e suas contradições com a direita; que, na Venezuela, governo Chávez deve ser derrotado pela reação de direita; que a estrutura do Estado Cubano deve ser desmontada através de um golpe; que o movimento tibetano apoiado e patrocinado pelos EUA deve ser vitorioso e conseguir sua autonomia em relação à China..... Uma lista de posições políticas atrasadas que se fosse totalmente enumerada esgotaria as páginas deste documento.

Em síntese, para se atrair pela política que o PSTU impõe à Conlutas através do trator do bate-crachá estabelecido por maioria artificial, é necessário, no mínimo, ter uma consciência bastante atrasada ou de direita.

É por isso que a Conlutas tem atraído para seu interior, setores homofóbicos e direitosos que, se ainda não se expressam de forma organizada, se expressam em fatos inaceitáveis como os que descrevemos anteriormente. Quando não são de direita, os setores que a Conlutas atrai, são da ultra esquerda, que existem apenas para exigir que o PSTU seja ainda mais sectário e reacionário. Ao mesmo tempo, devido aos seus problemas, a Conlutas repele organizações do movimento de esquerda, como o MTL e o MES. Uma coordenação nesses moldes só pode ir de degeneração a degeneração.

Para se fazer justiça, é preciso dizer que há ainda na Conlutas, algumas correntes sérias, como a LER e outras de menor expressão que representam um pequeno setor sadio que, porém, não tem muito a fazer naquele espaço.

Respeitamos os companheiros que foram pra lá com a intenção de debater com a base do PSTU, mas acreditamos que nos fóruns da Frente Popular existe uma base muito mais classista e consciente que merece ser priorizada e ganha para uma política revolucionária.

Por tudo isso, decidimos não participar do congresso da conlutas.

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