Quem começa a assistir ao filme “Lula, o Filho do Brasil”, de imediato tem motivo para se surpreender. Logo na abertura, quando aparecem os nomes dos patrocinadores, o símbolo da Wolks salta à frente na tela. Como isso é possível? Como pode a Wolks patrocinar um filme sobre o metalúrgico que liderou grandes greves contra ela mesma?
Porém, o próprio filme não demora muito a mostrar que essa aparente contradição, na verdade, não existe.
O Lula do Filme é alguém que transmite uma mensagem muito diferente daquela defendida pelos peões do ABC no final dos anos 70 e início dos anos 80. É um Lula que, por exemplo, bate no peito par dizer que os grevistas não devem ser contra os patrões, afinal, são eles que fornecem os empregos. O Lula do Filme, que enche a boca para dizer que não é comunista, é muito diferente daquele Lula que defendia o socialismo, ainda que de forma vaga, e dizia publicamente que o Brasil deveria restabelecer relações com os Estados Operários. O Lula do filme é um Lula muito mais à direita do que ele realmente era.
Sabemos que Lula nunca foi revolucionário e nunca defendeu um claro projeto de socialismo. Sabemos, inclusive, que pairam sobre ele suspeitas de denunciar comunistas para o DOPS e também de fazer negociatas para desmantelar algumas greves. Porém, o que não se pode apagar da História é que o grande ascenso de 1979/1980 tinha um projeto político com influência socialista e, diferentemente das características de hoje, procurou estabelecer formas de organização da classe trabalhadora. São essas as marcas que o filme tenta apagar e, por isso, além de colocar Lula bem mais à direita do que ele era, apaga da históriaa fundação da CUT e do PT. Muito além da tentativa de se construir um mito em torno da figura de Lula, o filme é uma verdadeira falsificação da com o objetivo de que as novas gerações pensem que o discurso de esquerda nunca encontrou eco no movimento de massas.
A direita tradicional, (PSDB,DEM), não fazem esse tipo de crítica ao filme, pois essa falsificação da história interessa diretamente a eles. Por isso, mantém suas críticas na superficialidade da discussão sobre se vai ou não influenciar as próximas eleições s sobre quem pagou o filme, se foram empresas que recebem em benefícios do governo ou não. Infelizmente, nessa superficialidade de críticas que colocam no centro apenas a questão da ética na política, embarcam também algumas correntes da esquerda que não percebem que o filme presta um grande serviço à tentativa de apagar a história da esquerda nesse país. E essa tentativa não é nova. Não é por acaso que não há nenhum filme que mostre as vitórias dos anos 80. Pelo contrário, mostram apenas a esquerda sendo derrotada e torturada nos anos 70. E o filme de Lula não faz diferente. Por isso, de forma estranha o enredo faz um salto de 1979 para 2003 apagando completamente, não apenas a defesa do socialismo que aquele movimento fazia levando até mesmo Lula encampar esse discurso. Apaga também o ascenso dos anos 80 que chegou a deixar o governo Sarney completamente imobilizado. Afinal, mostrar isso seria um exemplo perigoso para as massas exploradas e oprimidas de hoje.
Muito além do mito em torno do Lula, o filme consiste em uma tentativa de reescrever a história sob a ótica da burguesia. Uma história onde nunca houve esquerda, nunca houve defesa do socialismo e sempre houve a defesa dos patrões. É esse o paradigma que estão tentando criar para as novas gerações. Porém, do lado de cá do mito, encontrarão uma firme muralha de resistência que não abandona o programa revolucionário e não se cansa de combater a ideologia burguesa... Ainda que disfarçada sob filme de peão.
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