O Haiti possuia um governo de frente popular semelhante ao de Lula no Brasil. O então presidente haitiano, Bertrand Aristid, foi derrubado por um golpe militar despertando a fúria de milhares de pessoas que passaram a se organizar na resistência ao golpe. Para esmagar a resistência, a ONU enviou “forças de paz” sob a liderança do Brasil com a justificativa de “pacificar” o país.
Após o terremoto do início de janeiro, a situação se tornou ainda mais dramática. Alguns bairros de maioria pró Aristid voltaram a ser ocupados por pelos movimentos chamados de “gangeus” e o mundo inteiro fala da necessidade do aumento das tropas invasoras. Sem esclarecer por que a “ajuda humanitária” deve ser feita por fuzileiros ao invés de médicos, Lula já enviou ainda mais soldados ao Haiti.
Diversas organizações de esquerda e entidades dos movimentos sociais iniciaram mobilizações no sentido de prestar ajuda ao povo haitiano e colaborar na reconstrução do país. Essas mobilizações culminaram no lançamento da Frente Nacional de Solidariedade ao Povo Haitiano. Essa frente é integrada por diversos movimentos, ONGS e entidades, como CUT, Jubileu Sul, Caritas, Marcha Mundial das Mulheres, Assembleia Popular, Conlutas, Intersindical e outros.
O Coletivo Lênin é a favor da solidariedade de classe aos trabalhadores e trabalhadoras haitianos atingidos pela falta de estrutura a que o imperialismo jogou aquele país. Essa falta de estrutura foi a verdadeira causa de haver muitas vítimas do terremoto. Porém, não choramos as mortes dos soldados brasileiros que lá estavam para reprimir o povo do Haiti.
Apesar de ser a favor da solidariedade de classe, o Coletivo Lenin, por compreender que os objetivos da Frente Nacional de Solidariedade ao Povo Haitiano fazem com que seja um erro grave os revolucionários participarem da mesma, não integra e nem apoia essa frente.
Um dos objetivos da frente, deliberado em seu primeiro encontro, é exigir que “os governos e a comunidade internacional assumam sua responsabilidade com o povo haitiano e a reconstrução do país”. O Coletivo Lenin é totalmente contrário à delegação de qualquer tarefa de “reconstrução” do Haiti a governos imperialistas. Propor isso a tais governos significa dar a eles um salvo conduto para fazerem o mesmo que os Estados Unidos fizeram após a invasão do Iraque: “reconstruir” o país sob as bases dos seus próprios interesses imperialistas. Aliás, as potências da exploração mundial, sempre se prontificaram a “reconstruir” qualquer país arrasado. Afinal, isso é um ótimo negócio para fortalecer sua dominação econômica e ideológica. Quem deve reconstruir o Haiti, não são os países imperialistas, mas as organizações dos trabalhadores haitianos que deveriam contar com amplo apoio material e também militar dos partidos e organizações de classe do mundo inteiro.
Outro objetivo expresso nas resoluções do primeiro encontro da “Frente” é pressionar o governo brasileiro para que disponha transporte para o envio das arrecadações (alimentos, água, medicamentos e sementes), e, sobretudo, para que as tropas militares atuem na reconstrução do país. Esse é mais um objetivo que apenas reforça os laços de dominação do imperialismo sobre o Haiti. Somos radicalmente contra delegar qualquer tarefa de reconstrução aos assassinos do povo haitiano (os soldados da minustah). Ao contrário, somos pela sua expulsão do Haiti e, para isso, devemos ajudar a resistência haitiana para que ela consiga derrotar as tropas da ONU. Aliás, a necessidade da derrota das tropas da ONU é ignorada pela “frente”. Igualmente, exigir que o governo brasileiro amplie seu papel na “ajuda humanitária” é um desserviço à luta do povo haitiano por sua libertação. A “ajuda humanitária” do governo brasileiro e ONGS brasileiras são um mecanismo que visa reforçar a legitimação ideológica das atrocidades que o Brasil tem promovido no Haiti. Por isso, exigir que o Brasil amplie tal “ajuda” significa, na verdade exigir que se amplie essa legitimação.
A “Frente de Solidariedade” não resume seu programa à “ajuda humanitária”. Ela possui também um claro projeto de país para o Haiti “reconstruído”. Um Haiti “Livre e Soberano”, como também expressa a resolução do seu encontro. Haiti “livre e soberano”, significa um país com uma burguesia nacional soberana para se autodeterminar politicamente sem a presença de tropas estrangeiras. Porém, para os trabalhadores e trabalhadoras explorados do Haiti, ser massacrado por uma burguesia internacional ou por uma burguesia nacional soberana faz, na verdade, pouca diferença. Por isso, defendemos a construção de um Partido Revolucionário de Trabalhadores haitianos, com maioria de negros, que lute por governo direto dos trabalhadores, nascido da revolução e que faça o Haiti avançar para o socialismo. Se negar a dizer isso e dedicar-se apenas a tarefas “humanitárias” enquanto se pressiona o governo Lula para mudar sua política externa, retirar as tropos e aumentar a ajuda é, na verdade, negar que os dramas do povo haitiano só podem ser resolvidos pelo socialismo. Além disso, serve para estimular a ilusão de que os países imperialistas ou subimperialistas, como o Brasil, podem cumprir algum papel progressivo no Haiti. Por esse mesmo motivo defendemos uma séria de greves e mobilizações contra a invasão do Haiti. Paralelamente, é necessário prestar apoio militar ao que ainda resta da resistência haitiana que faz confronto armado com as tropas brasileiras. Essa é a verdade que poucos querem ver e, por isso, há inclusive partidos que se dizem socialistas aderindo aos eixos da “frente de solidariedade”. Esse é um erro grave.
Seria correto defender a o programa revolucionário “por dentro” da Frente?
Existem diferentes níveis de unidade entre as organizações políticas: as frentes únicas e os blocos programáticos. Ao contrário do que a maioria da esquerda brasileira pensa, um sindicato ou uma central sindical é uma frente única. Já as chapas que concorrem a sindicatos, são blocos programáticos. Igualmente são blocos programáticos as frentes que disputam eleições burguesas, e movimentos com um programa definido. Os revolucionários não se negam a lutar por reformas. Nessas lutas, inclusive, atuam em frente única com reformistas e até com pelegos, com fazemos na frente única que é a CUT e na UNE. Porém, como os blocos programáticos expressam um projeto de sociedade, os revolucionários somente entram em tais blocos quando os mesmos assume alguma palavra de ordem transitória. A Frente de solidariedade ao Povo Haitiano não é uma frente única, como dirá a maioria das organizações da esquerda brasileira. Por seu programa e por seu claro projeto de país para o Haiti é, na verdade, um bloco programático não classista e com um programa aquém do reformismo, pois não se choca com a dominação imperialista sobre o Haiti.
Por tudo isso, não defendemos que as entidades do movimento participem da frente de solidariedade e afirmamos que o sectarismo de alguns que se recusam a participar de frentes como a CUT revela sua outra face. A face do abandono do programa revolcuionário para compor um bloco com governistas, ONGS, igreja, etc. na defesa de um programa quer reforça a dominação sobre o Haiti
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