Por P. Araújo
No final de semana passado, aconteceram as Paradas gays do Rio de Janeiro e de São Paulo. No Rio, um jovem de 19 anos foi baleado depois da parada, e diz que o tiro foi dado por militares do Forte de Copacabana. Em São Paulo, um jovem foi espancado com lâmpadas de poste (!), não por neonazistas, mas por playboys "normais" (ou seja, neonazistas sem saber!). No Paraná, no mesmo fim de semana, três travestis foram assassinadas.
No Brasil, cerca de 200 homossexuais são assassinados por ano. Só no Rio de Janeiro, houve 600 denúncias nos últimos doze meses.
Para a maioria do "movimento" homossexual (usamos a palavras movimento entre aspas porque ele é formado por ONGs que recebem verbas estatais, e não por organizações independentes), o objetivo das paradas e da legislação contra a homofobia é a visibilidade e inclusão dos homossexuais na sociedade, sem questionar a estrutura dessa mesma sociedade, que reproduz o machismo, o racismo, a homofobia e a intolerância religiosa através dos meios de comunicação, igrejas, escolas e nos locais de trabalho. Ou seja, são, para usar a expressão do escritor gay João Silvério Trevisan, "mendigos da normalidade".
Esse atos constantes de violência mostram exatamente o contrário. Mesmo que os homossexuais tenham acesso, através do mercado, a boates e outros guetos onde podem expressar a sua sexualidade (e enriquecer algum empresário), a homofobia é uma "reserva" para a classe dominante. Isso é, sempre que existe alguma crise social, os homossexuais são usados como bode expiatório para a população descarregar o seu ódio, e jogar um trabalhador contra o outro.
Atualmente, a decadência do capitalismo leva a uma volta do fundamentalismo religioso e outras formas de pensamento irracional sobre a sociedade. No Brasil, isso se reflete principalmente através do fundamentalismo católico e evangélico. Figuras como Silas Malafaia, colocando outdoors dizendo que "Deus criou o homem e a mulher", como "argumento" contra os homossexuais, ou igrejas mostrando pessoas "curadas" da homossexualidade, são uma pressão constante sobre os jovens homossexuais, que são obrigados a aceitar uma moral religiosa que ignora os conhecimentos científicos sobre a psicologia e tenta criar corpos facilmente manipuláveis, através da repressão sexual.
Enquanto isso, as ONGs, durante todo o governo do PT com a burguesia, priorizaram a pressão pela adoção do Programa Brasil sem Homofobia, um conjunto de medidas que leva a um controle do sistema de saúde pelas ONGs, e que não aponta nenhum combate contra o fundamentalismo. Mais recentemente, a iniciativa dos reformistas é criminalizar a homofobia, como se a mesma polícia que extorque travestis (quando não está envolvida em esquadrões da morte que perseguem homosssexuais, como na Baixada Fluminense) pudesse resolver algum caso de violência.
A miséria sexual nas sociedades de classes
Dentro da esquerda, as poucas correntes que fazem a discussão sobre a questão homossexual a resumem à luta por direitos iguais. Nada mais errado do que esse reformismo!
Nas sociedades primitivas, como nas tribos indígenas do Brasil, em que o trabalho é só para a subsistência, existe uma grande "promiscuidade" (para os padrões capitalistas). Quando se formam as sociedades de classes, as classes dominantes precisam obrigar o povo a trabalhar para produzir para elas. Isso é incompatível com o uso consciente dos prazeres, por isso todas essas sociedades usam alguma ideologia, geralmente de fundo religioso para pregar a abstenção sexual. Assim, os trabalhadores se tornam facilmente manipuláveis (por causa da manipulação da parte mais íntima da personalidade, a sexualidade) e podem evitar qualquer "distração" que os impeça que morrer de trabalhar pros outros.
Segundo Engels (em A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado), a civilização nasce com a divisão da sociedade em classes. Portanto, o comunismo não é outra forma de civilização, e sim o fim da civilização como conhecemos.
A miséria sexual sofrida pelos trabalhadores no capitalismo (modelos obrigatórios de relações, atraso do começo das relações sexuais na adolescência, preconceito contra a homossexualidade, as "perversões" etc) deve ser usada como elemento para mostrar a superioridade do socialismo para as massas.
O comunista alemão Wilhelm Reich foi expulso do PC alemão pela sua direção stalinista em 1934, após uma longa campanha pela educação sexual da classe trabalhadora (distribuição de anticoncepcionais, luta contra o preconceito contra a masturbação e o casamento burguês etc). Para ele, a função do partido revolucionário é criar uma política sexual proletária. essa política não é a adoção de formas alternativas de sexualidade 9como se isso pudesse se desenvolver plenamente no capitalismo), de uma maneira contracultural, e sim a agitação cotidiana da miséria sexual sofrida pelo povo, mostrando como ela pode ser resolvida no socialismo.
Somente com a abolição do trabalho doméstico, as pessoas (principalmente as mulheres) vão poder se libertar da prisão que é passar o dia em casa, e isso vai liberar muito mais tempo para o prazer. O combate contra as ideologias religiosas reacionárias é indispensável para acabar com a ideia de que o sexo é "sujo" ou "pecado". E só um sistema de saúde controlado pelos trabalhadores pode permitir uma educação sexual de verdade, e medidas de contracepção e saúde, para facilitar a vida sexual das pessoas.
Isso não é uma utopia, foi o que aconteceu nos primeiros anos da revolução russa (1917-1925), antes que o isolamento e a militarização levasse o stalinismo ao poder. Ou seja, o pressuposto da revolução sexual é uma revolução social, que crie o governo direto dos trabalhadores através de assembleias.
Na luta por essa revolução, os comunistas devem agitar um programa socialista, de denuncia do fundamentalismo religioso, defesa das pessoas reprimidas por causa de sua sexualidade, e dae propaganda das descobertas científicas contra toda desculpa dos patrões e do Estado contra o livre exercício da sexualidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário