sábado, 5 de fevereiro de 2011

O Coletivo Lênin, a FIST e a luta contra os despejos

O Coletivo Lenin é uma organização marxista que tem por maior objetivo lutar por uma revolução socialista, que crie um governo direto dos trabalhadores, ou seja, um governo em que os trabalhadores, e não os patrões, controlem as empresas e a política. Esse controle aconteceria através de assembleias democráticas, como as que já ocorrem em várias ocupações de sem-teto. Chamamos isso de um governo direto, porque não existiriam políticos profissionais que “representassem” os trabalhadores (sendo que na verdade eles representam os interesses dos empresários e banqueiros que financiam as campanhas eleitorais). Essa pode parecer uma ideia sonhadora, mas durante algumas décadas, um terço da humanidade viveu sem patrões, o que acabou com o fim da União Soviética em 1991.
Começamos a atuar no movimento sem-teto em 2009, por acreditar que a luta pela moradia é, acima de tudo, uma luta de trabalhadores pobres contra o grande capital e os governos dos patrões. De 2009 até metade de 2010 estivemos presentes nas ocupações e reuniões da FIST, por ver que essa é uma entidade bastante combativa. Por causa de alguns problemas, tivemos que diminuir nosso ritmo e por isso hoje tem muita gente na FIST que não conhece o Coletivo Lenin.
Resolvidos esses problemas, nós estamos voltando com tudo para o movimento sem-teto, jogando peso na atual luta pela unificação das diversas ocupações e organizações em um único fórum, capaz de organizar nossa resistência contra os despejos que estão acontecendo. É importante dizer que sempre defendemos essa ideia, junto com o companheiro André de Paula e a FIST, mas só depois de muita porrada alguns outros setores do movimento entenderam que não dá para resistir no esquema “cada macaco em seu galho”. Apenas juntos seremos capazes de derrotas mais esse ataque dos patrões e seus fantoches nos governos municipal, estadual e federal!

A FIST e o Coletivo Lenin: uma autocrítica necessária
Nesse momento de retorno ao movimento sem-teto e às reuniões da FIST, achamos importante levantar algumas críticas de erros que cometemos no passado.
A primeira e mais importante é que, quando começamos a atuar nesse movimento, nos “filiamos” a FIST e tentamos unificar os sem-teto a partir dela. Isso foi um erro grave, pois não podemos eleger uma posição privilegiada para debater unificação. Devemos estar presentes na base de todas as outras organizações e, a partir daí, lutar para organizar um fórum conjunto capaz de discutir a questão da unificação e de planejar um calendário conjunto de lutas.
Além desse erro, existem dois materiais que publicamos no passado que também merecem ser criticados. São eles nossa tese para o IV Congresso da FIST e um panfleto que soltamos nas ocupações dessa organização em abril passado. Na tal tese, criticamos o SINDPETRO por usar os sem-teto da FIST como mão de obra barata para sua campanhas. Acontece que os ocupantes se dispunham a atuar nelas em troca de uma ajuda mais do que bem vinda, conseguindo assim um dinheiro a mais para se sustentar. Mas é necessário deixarmos claro que retirar essa crítica que fizemos na tese não significa retirar a crítica principal: que o SINDPETRO e a direção da FIST possuem uma relação de “uma mão lava a outra”, que não é discutida e posta sob aprovação das bases da entidade.
Já sobre o panfleto de agosto, nós criticamos o companheiro André de Paula, figura pública da FIST, de “caluniar” e de “chantagear” ocupantes para conseguir o que quer. Acontece que não apresentamos nenhuma prova disso no panfleto, e uma calúnia é justamente uma acusação sem provas! Por isso gostaríamos de retirar também essas críticas feitas sem provas. Mas por experiência própria e por relatos de diversos ocupantes, temos plena consciência da utilização de métodos de pressão pelo companheiro André, com quem já discutimos alguma vezes sobre a necessidade de não agir dessa forma.

Um longo trabalho pela frente, o comitê de resistência
Agora, depois de reavaliar esses erros, o Coletivo Lenin mudou a sua relação com a FIST.
Nesse nosso retorno para o movimento sem-teto continuaremos a frequentar os espaços da FIST, devido à disposição dos companheiros em lutar pela unificação e pela moradia, mas tentaremos também atuar junto às demais organizações, sem tentar dar um passo maior que nossas pernas curtas, é claro.
Isso porque não consideramos a FIST um fim em si mesmo, e nem queremos estar só “dentro” dela. Ela é parte do movimento sem-teto. Por isso, queremos colaborar com os companheiros dos outros grupos, principalmente o antigo MCL da Baixada, o MTD (Movimento dos Trabalhadores Desempregados) e as comunidades ameaçadas de remoção, na resistência contra os governos dos ricos.
Hoje, a melhor forma de unificar o movimento não é tentar formar uma nova entidade. É criar um comitê de resistência, para reunir todos os setores para ações coordenadas de luta. É sair do social-pacifismo (que cria ilusões no Estado e na Defensoria e só vai para o confronto quando não tem mais jeito), e entender que a nossa defesa deve ser organizada coletivamente.
Nesse comitê, além de ajudar na organização da resistência, vamos atuar defendendo nosso programa para o movimento sem-teto, que só pode ser realmente vitorioso se tiver uma orientação contra o sistema capitalista. Isso inclui defender o fim da polícia racista, lutar pela taxação das grandes empresas para construir moradias populares, por creches gratuitas controladas pela população, pela redução da jornada de trabalho sem redução de salário etc.

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