terça-feira, 21 de abril de 2009

Pela Federação Socialista do Oriente Médio (março/2008)

Pela Federação Socialista do Oriente Médio!

Como parte da sua ofensiva para controlar o petróleo internacionalmente (um dos paliativos contra a crise estrutural do capital, que se combina com a decadência do capitalismo norte-americano), os EUA estão preparando o clima para uma guerra contra o Irã. Para isso, tenta coesionar seus aliados na região, como Israel, Arábia Saudita e Emirados Árabes. Isso potencializa todas as contradições da região, a tal ponto que uma guerra contra o Irã poderia se generalizar e incluir até mesmo outros países imperialistas, como a Rússia. Este cenário poderia até mesmo se tornar o de uma guerra mundial.

Os três epicentros das crises da região são o Iraque, o Irã e a Palestina.

Iraque

Em relação ao Iraque, a ocupação norte-americana tem enfrentado crescentes dificuldades de passar o poder ao regime fantoche de maioria sunita. Até mesmo o próprio Bush Jr, em um discurso às tropas em 11/01, reconheceu a possibilidade de sair do Iraque, “quando a paz estivesse restabelecida”.

Infelizmente, a chamada “resistência iraquiana” não tem lutado contra as ocupações dos EUA e seus (cada vez menos) aliados de um ponto de vista antiimperialista. Existe, desde 2006, uma “guerra civil na guerra civil”, em linhas religiosas, em que as distintas comunidades que formam o Iraque (sempre sob suas direções burguesas) – os xiitas, sunitas, e os nacionalistas burgueses do Baath tentam desestabilizar o governo fantoche para se alçarem ao poder, para também servirem aos seus patrões imperialistas.

Esta guerra civil (burguesa) não tem nada a ver com a necessidade de os trabalhadores, com independência política, dirigirem os camponeses e setores das classes médias na luta contra o imperialismo. As burguesias nacionais e seus partidos estão ligadas ao imperialismo pelos laços da produção e do mercado mundiais. Por isso, são incapazes de lutar contra ele.

O que é necessária é a luta contra o imperialismo através dos métodos da classe operária (greves, milícias, passeatas, sabotagens etc), junto com as massas não-proletárias. Além disso, é fundamental que os trabalhadores construam um partido revolucionário, que ajam como tribuno do povo, defendendo as mulheres e homosseuxuais (oprimidos tanto pelo imperialismo como pelos fundamentalistas) e defenda a unidade entre os trabalhadores de todas as religiões, inclusive as minorias de judeus e cristãos.

Nesta luta, o fundamentalismo é o grande obstáculo contra uma política independente, ganhando a consciência de vários trabalhadores com as suas ações radicalizadas. Mesmo assim, o fundamentalismo é uma corrente nacionalista burguesa facistóide, que só pode preparar massacres contra os trabalhadores, as mulheres e outros grupos religiosos.

Por isso, como aplicação na nossa recusa a “frente antiimperialistas” com a burguesia, nos recusamos a qualquer acordo político com as correntes fundamentalistas. Isso não parece ser a posição de várias correntes morenistas (CST, PSTU) e altamiristas (PCO), que têm formulações como “comando unificado da resistência iraquiana” (PSTU), ou “por um governo da resistência libanesa” – ou seja, do Hizbollah, como a LBI.

Não podemos cair na ilusão kautskista e etapista de que o imperialismo é apenas uma política, que pode ser revertida sob pressão das massas, sem o fim do capitalismo. O imperialismo é a própria estrutura do capitalismo mundial. Por isso, só podemos lutar contra o imperialismo lutando pelo fim do capitalismo. Qualquer governo surgido de uma derrota militar dos EUA, sob direção burguesa, vai fazer uma série de acordo com o imperalismo, provavelmente o europeu.

Isso foi exemplificado pela vitória da assim chamada “Revolução Islâmica”, dirigida por Khomeini, no Irã de 1979. Obviamente, representou uma derrota para os trabalhadores. Por outro lado, não devemos usar as direções burguesas como desculpa para ficarmos “em cima do muro”, e não defendermos a bandeira democrática da derrota dos imperialistas no Iraque, como o faz o PC operário do Iraque, do falecido Mansur Hekmat, que chegou a colaborar com a polícia do governo fantoche na luta contra os “terrorismos gêmeos”. Assim, a luta democrática pela derrota das tropas imperialistas no Iraque (assim como no Afeganistão) deve estar ligada à luta por um governo operário e camponês, que aponte para uma federação socialista, pode acabar com o domínio imperialista no Iraque.

Curdistão e a luta pela independência

A situação do Iraque nos leva diretamente à questão curda. Em número de mais de 30 milhões, são a maior nação sem Estado do mundo, divididos principalmente entre a Turquia e o Iraque. No Iraque, infelizmente, as décadas de opressão sob o governo de Saddam Hussein deram a setores nacionalistas curdos a desculpa para apoiar os EUA.

Já na Turquia, os curdos são o único povo oprimido que está lutando pela sua libertação sob uma direção que não seja burguesa, os maoístas do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). Isso é um fator de um potencial incrível num país que é um aliado histórico dos EUA na região. Não é por acaso que, de tempos em tempos, o governo turco levanta onde de repressão violenta contra o movimento de libertação nacional curdo.

Obviamente, os maoístas do PKK não podem ser uma direção conseqüente para esta luta. O partido tem uma estratégia muito mais foquista do que realmente de guerra popular prolongada, estimula a divisão entre os trabalhadores curdos e turcos. E, desde a prisão, em 2001, de seu dirigente maior, Abdullah Occalam, o partido tem entrado numa série de acordos de paz que têm como objetivo desmilitarizar a luta e transformá-lo numa organização institucional. Esse foi o mesmo fim das guerrilhas salvadorenhas, guatemaltecas e do M-19 colombiano nos anos 1980.

Mesmo assim, os comunistas devem defender o PKK, o TKP-ml e o PC iraquiano (clandestino, não o que está no governo) contra todos os ataques da burguesia, e da sua criminalização como “terroristas”. Ao mesmo tempo, devemos defender o direito à auto-determinação do povo curdo, em uma república dos trabalhadores.

Irã

A próxima vítima dos EUA, provavelmente, será o Irã. Diante disso, alguns cretinos podem ter a tentação de pintar o regime fascista de Ahmadinejad como “antiimperialista”.

A chamada “revolução islâmica” foi, na verdade, a derrota de uma crise revolucionária, em que as massas e a classe operária (principalmente os petroleiros) se enfrentaram com o regime pró-americano do Xá Reza Pahlevi. A direção do processo foi assumida pelos fundamentalistas. Logicamente, a primeira medida de seu governo foi massacrar os levantes camponeses e exterminar os comunistas. (O PC iraniano, na sua estratégia de frente popular, pediu uns cargos no governo antes de ser destruído...)

O governo de Ahmadinejad, apoiado não discurso de representar uma continuidade desta “revolução”, é tão violentamente anti-semita que chegou a organizar em 2006 uma conferência internacional de crápulas que negam que houve o Holocausto, na Segunda Guerra para, assim, dizer que Israel não deve existir. Além disso, a imposição da Sharia (a lei islâmica) continua a vitimizar as mulheres.

Outro tipo muito especial de cretinos diz que, por causa disso, devemos lutar pela “democracia” no Irã, e nos opor ao seu direito a desenvolver tecnologia nuclear. É um direito elementar de qualquer país, ainda mais sob ameaça imperialista, ter armas nucleares, já que os EUA e outras potências as usam como instrumento de chantagem.

Além disso, a luta pela “democracia” em geral tem sido usada como tática para colocar no poder regimes pró-americanos em todo o mundo. Foi exatamente a tática dos EUA, ao apoiar o Partido do Povo do Paquistão (PPP) de Benazir Butto contra a ditadura militar paquistanesa. Devemos lutar contra este tipo de “reação democrática”, e dizer claramente que a solução para os trabalhadores iranianos é substituir os mullás não por um governo democrático-burguês, e sim por um governo operário e camponês, baseado na democracia direta e nascido de uma revolução, não “islâmica”, e sim socialista.

Palestina

Mas o grande problema dos EUA na região é a resistência palestina. Desde a segunda intifada que começou em 2001, o povo palestino, historicamente oprimido pelo Estado sionista, tem levado a região a uma “guerra morna”, com episódios como os ataques islarelenses ao Líbano, a vitória dos burgueses fundamentalistas do Hamas nas eleições da Autoridade Nacional Palestina etc.

Novamente, a maioria das organizações capitula ao nacionalismo palestino, defendendo ou a política suicida de dois estados (que levou à inviável Autoridade Nacional Palestina, que tem como única utilidade servir para corromper a direção da OLP com seus cargos), ou a “Palestina laica, democrática e não racista”, ou seja, um estado burguês na Palestina.

A desculpa para isso é que a “dinâmica objetiva” levaria um estado palestino laico a se tornar socialista. Na verdade, a história mostra que a “dinâmica objetiva” de lutas dirigidas pela burguesia ou em aliança com ela leva somente à derrota. Foi o que aconteceu no Chile de Allende, na Nicarágua sob o governo sandinista, na África do Sul pós-apartheid etc.

Mais grave ainda do que isso é quando as organizações de esquerda endossam o anti-semitismo! A grande desculpa para isso é a louca caracterização de Israel não como um Estado burguês, e sim como “enclave militar” dos EUA. Essa caracterização está a serviço de negar a luta de classes no país, ou seja, a necessidade da luta conjunta entre os trabalhadores israelenses e palestinos contra o estado israelense. A Intifada palestina só pode ser vitoriosa se se unir com as lutas dos trabalhadores judeus e se converter numa verdadeira revolução social.

Povos interpenetrados

Reconhecer a natureza burguesa do sionismo (e de seu mito da “terra sem povo” que serviu para expulsar e marginalizar os palestinos, com o apoio da Inglaterra) e repudiar as ocupações a partir da Guerra dos Seis dias (1967), através dos assentamentos não deve nos levar a dizer que os israelenses judeus devem ser expulsos de lá. Eles constituem um povo, com tanto direito à autodeterminação quando os palestinos. E só juntos podem alcançar esse objetivo.

O racismo anti-judeu de várias correntes da esquerda leva a posições bizarras, como apoiar qualquer atentado terrorista em Israel, mesmo contra civis, como fazem os morenistas (a corrente mais influenciada pelo anti-semitismo do movimento nacional palestino). E a levantar a bandeira “Fim do Estado de Israel”, que não se volta contra o estado burguês (ninguém diz “fim do Estado brasileiro”, ou “fim dos EUA”), e sim contra o direito dos hebreus israelenses à autodeterminação. Não por acaso, muitas vezes os nazista usam esta palavra de ordem na Europa.

Os povos palestino e hebreu vivem no mesmo território. Por isso, são “povos interpenetrados”, como foi definido pela Liga Espartaquista nos anos 1960 (quando ainda eram uma corrente revolucionária). A Quarta Internacional, desde 1948, sempre defendeu o direito à autodeterminação de ambos os povos no que veio a se tornar Israel. As suas disputas por recursos naturais, território, empregos etc, não podem ser resolvidas dentro da economia capitalista, marcada pela competição. Só um Estado Operário binacional, formados por sovietes de todos os povos da região, porque colocar e resolver estas questões.

Contra as fronteiras do imperialismo!

As lutas de massas contra o imperialismo, principalmente dos EUA, estão acontecendo na Palestina, na Síria, no Irã, no Paquistão etc. Elas não podem ser vitoriosas sob a direção fundamentalista e nacionalista burguesa. Devemos combater estas posições, assim como o anti-semitismo, dentro destes movimentos, em vez de nos adaptarmos a eles.

A “balcanização” (ou seja, a divisão em vários países inviáveis) do Oriente Médio, assim como a existência de Estados-protetorados, controlados diretamente por oligarquias vinculadas aos imperialismos (Emirados Árabes, Bahrein, Líbano, a própria Arábia Saudita, cujo nome é o mesmo da família Saud, sua “dona” etc), serve somente para fragmentar as lutas dos povos da região. Por isso, devemos defender a federação de todos os povos sob a forma de um Estado Operário multinacional na região.

Só a aplicação da teoria e programa da revolução permanente, e a sua fusão com o movimento operário e camponês, pode oferecer uma solução para os prolbemas do Oriente Médio, causados por mais de um século de um xadrez imperialista na região. Para isso, e necessário avançar na luta pela refundação da Quarta Internacional, a organização que incorpora este programa, em luta contra o reformismo e o nacionalismo burguês.

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