terça-feira, 21 de abril de 2009

Sobre a questão do defensismo revolucionário (agosto/2008)

Esta obra é uma coletânea de textos do CCI e da TBI (Tendência Bolchevique Internacional) sobre a questão da defesa dos Estados Operários contra a contra-revolução externa e interna. Do CCI temos “O fim da URSS e a tentativa de golpe do Bando dos Oito”, “Defender Cuba até o ultimo segundo”, “Teses sobre a China” e “O Dalai Lama é condecorado nos EUA”. Da TBI, que consideramos que foi a corrente que deu a resposta mais consistente aos desafios colocados pela contra-revolução nos anos 1980, temos as “Teses sobre o Solidariedade” e “1991: A Contra-Revolução triunfa na URSS, escrito dias depois do golpe de Ieltsin.

Existem dois grandes motivos para publicar estes textos.

Primeiro, localizar a nossa militância historicamente. A maioria das organizações de esquerda ganha os seus militantes com um discurso triunfalista, anunciando “novas ondas da revolução mundial” (Liga Operária), “Ondas de esquerda na América Latina” (PC do B) ou “situações revolucionárias mundiais” (PSTU) que só existem nos discursos de seus dirigentes.

Mas a realidade é muito diferente. Desde os anos 1980, assistimos ao maior refluxo da história do movimento operário. A tal ponto que, hoje em dia, é impossível construir partidos leninistas com influência de massas para tomar o poder. Nestas condições, a nossa tarefa é a de criar grupos de propaganda, que possam lutar para construir estes partidos à medida que mudem as condições políticas. E entender a contra-revolução mundial dos anos 1980 é a primeiro passo para entendermos a nossa época, em que as pessoas têm repulsa aos partidos revolucionários e, em grande parte, mesmo ao movimento operário. A causa disso foi o fim da URSS , que deixou na mente dos trabalhadores a idéia de que o socialismo não somente é ruim, mas também impossível.

Sem esta localização, é impossível entender fenômenos políticos como o apartidarismo,o “anarquismo de direita” do movimento antiglobalização,a negação do papel dirigente da classe trabalhadora etc. Que assolam os comunistas que lutam para construir núcleos bolcheviques.

O segundo motivo é que a política de Trotsky em relação aos Estados Operários Burocratizados (na sua época, a URSS) foi a única que passou pela prova dos fatos. A maioria esmagadora da esquerda caiu no conto do vigário do stalinismo, e identificou a sociedade da URSS e dos restantes Estados Operários com o socialismo. Por isso, quando o “socialismo” acabou, restou-lhes brigar por migalhas no capitalismo.

Já algumas correntes mais radicais, como os anarquistas, esquerdistas ou maoístas e hohxistas identificavam a URSS como um país capitalista puro e simples, os anarquistas desde o início (igualando a revolução russa com uma revolução burguesa), os esquerdistas analisando a Revolução Russa como uma revolução derrotada pelos bolcheviques, e os maoístas e hohxistas desde a morte de Stálin (com uma “revolução palaciana”).

Em diferentes momentos, caracterizavam sociedades com o Estado e a economia tão semelhantes como China, URSS e Albânia como capitalistas ou socialistas, dependendo de seu alinhamento com os partidos no poder! A onda da contra-revolução não quis saber destas polêmicas e varreu a maioria destas organizações do mapa da mesma forma.

Dizer que é capitalista um país sem mercado de meios de produção, com trabalho obrigatório, sem capital financeiro etc, é pura ignorância sectária. Estas teses os desarmaram igualmente durante a queda da URSS, porque não entenderam a profundidade do fenômeno que estava ocorrendo ali.

Só a tese trotskista (formulada principalmente em A Revolução Traída) da economia de transição entre o capitalismo e o socialismo, com um Estado Operário Degenerado (na URSS) ou Deformado (nos outros países, devido à ausência, desde o início, dos sovietes), pôde dar conta destas sociedades, ainda não socialistas (porque o socialismo só pode ser internacional), mas não mais capitalistas, dirigidas por uma burocracia operária que usurpou o poder direto da classe.

Trotsky já alertava que, em determinado ponto do desenvolvimento histórico, a burocracia tentaria se converter em burguesia, para controlar os meios de produção, e que isso só poderia ser feito através de uma revolução que destruísse o Estado (e não a partir de meras reformas econômicas) A única forma de impedir isso seria a Revolução Política, que expulsasse a burocracia e colocasse o estado sob controle dos sovietes.

Durante a segunda metade do século, houve vários movimentos progressivos contra a burocracia, alguns deles sendo revoluções políticas incipientes, como em Berlim Oriental em 1953, Hungria e Polônia em 1956, China entre 1966-1967, Tchecoslováquia em 1968, Polônia em 1970 etc. Os revolucionários deveriam intervir nestes movimentos para criar partidos trotskistas que dirigissem a revolução política.

Infelizmente, a crise da IV Internacional deixou com que todos eles acontecessem ser que houvesse uma alternativa de direção revolucionária. Por isso, os eventos dos anos 1980, mesmo com algumas exceções (as greves de agosto de 1980 na Polônia, os atos de outubro de 1989 na Alemanha Oriental e o início das manifestações na Romênia, em dezembro do mesmo ano), foram contra-revolucionários em seu conteúdo, mesmo se realizados pelos trabalhadores.

Foi a primeira vez na história do capitalismo em que a classe revolucionária, devido à sua extrema desorientação (fruto de 60 anos de identificação entre socialismo e stalinismo, feita pela burocracia), agiu contra seus interesses a ponto de entregar o poder à burguesia.

Naquele momento, e na ausência da possibilidade da revolução política, a tarefa dos comunistas era a defesa incondicional dos Estados Operários, em aliança com os setores da burocracia dispostos a fazer isso. Como disse Trotsky, “Stalin derrubado pelos trabalhadores, é um passo para o socialismo. Stalin derrubado pelo imperialismo, é a contra-revolução que triunfa”.

Este trecho é do “livro maldito” de Trotsky, Em Defesa do Marxismo. A maioria das correntes que se dizem trotskistas nem mesmo o vendem mais, porque todas, com a exceção da LCI (que hoje se dividiu entre LCI e IG) e a TBI, estiveram do lado da contra-revolução, em nome da “democracia”, apoiando o Solidariedade, o golpe de Ieltsin, a queda do Muro de Berlim etc. A LIT-QI chegou mesmo a chamar o golpe e Ieltsin de “revolução política contra a ditadura stalinista”. Isso só valoriza o papel da análise trotskista, que esse anti-comunistas não puderam usar, devido ao seu compromisso com o sistema.

E hoje em dia, esta questão se torna mais importante, devido ao caso de Cuba, China e Vietnã que, ao contrário da Coréia do Norte, “resolveram” o problema do seu isolamente com o recurso a uma “NEP de direita”, que abriu grandes concessões para o capital estrangeiro, as mãos de burocracias sem nenhum compromisso com a manutenção do Estado Operário. Hoje, isso põe a natureza não-capitalista destes países em risco. Mas para que voltem a ser as semi-colônias que eram, é preciso uma contra-revolução que destrua o Estado controlado pela burocracia. E essa é a tarefa das movimentações imperialistas, disfarçadas de “movimentos pró-democracia”.

Sem entendermos a natureza destas sociedades, de suas formações sociais e seus Estados, iremos nos desarmar e cair no “jogo da democracia” como nos anos 1980. É por isso que correntes como a TMI-QI de Allan Woods, e a FT-QI (LER no Brasil) já abriram mão da defesa da China, e a LIT até mesmo da de Cuba. É por isso que a LBI já começa a “reavaliar” sua posição sobre a China, sem nenhum salto qualitativo que exigisse essa mudança.

Usando acriticamente a definição de Trotsky sobre a URSS dos anos 1930, como não há monopólio do comércio exterior e planificação nestes países, e como há um setor privado cada vez maior, eles dizem que não se trata mais de Estados Operários. Pelo mesmo critério, a URSS de 1921 e a Iugoslávia dos anos 1950 seriam estados burgueses!

Neste momento, não podemos baixar a guarda. Só compreendendo o trotskismo, estaremos preparados para lutar contra a burguesia nestas contra-revoluções que se aproximam.

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