Reproduzimos aqui uma carta aberta do Coletivo Lenin que vem sendo distribuída para a militância do Rio de Janeiro e disseminada em diversas listas de e-mail. O intuito de tal carta é fazer um chamado à participação de organizações e militantes independentes da esquerda carioca no Conselho Popular de Favelas, fórum criado para organizar a resistência de diversas comunidades que vêm sofrendo constantes ataques por parte da Prefeitura da cidade no intuito de removê-las para dar lugar ao turismo e à especulação imobiliária. Tal fórum já foi capaz de organizar alguns atos e também Assembléias Públicas com Deputados Estaduais e Federais e tem apontado cada vez mais para uma radicalização da luta.
Àqueles que se interessarem em participar do mesmo, este vem se reunindo toda terça às 14h seguinte endereço: Edifício João Paulo II - Rua Beijamin Constant nº23, Glória (próximo à estação de metrô da Glória).
Em decorrência das fortes chuvas que assolaram a cidade do Rio de Janeiro em abril, a Prefeitura de Eduardo Paes (PMDB), em aliança com o governo estadual de Sérgio Cabral (também PMDB) mudou seu foco de ataque às ocupações urbanas e camelôs, materializados através da Operação Choque de Ordem. Utilizando-se de laudos falsos e da cumplicidade de órgãos como a Georio, os governantes deram início então a uma verdadeira cruzada pela remoção de diversas favelas.
Nós do Coletivo Lenin, organização marxista baseada no programa da extinta IV Internacional e que mantém relações fraternas com a Tendência Bolchevique Internacional (TBI), atuamos no movimento sem-teto carioca através da Frente Internacionalista dos Sem-Teto (FIST) e vemos com clareza os reais interesses por trás de tais remoções. São os interesses de empresas do ramo imobiliário e turístico que estão sedentas para fazer uma verdadeira “limpa” na cidade e utilizar determinados espaços estratégicos que poderiam render milhões se não estivessem sendo usados como moradia por trabalhadores pobres e de maioria negra. São, portanto, os interesses da mesma classe que buscamos combater através de nossa luta revolucionária pelo socialismo.
Infelizmente, porém, dada a cumplicidade de Presidentes de diversas Assembléias de Moradores e, claro, dada a gigantesca estrutura do capital, tudo aponta para a vitória do projeto capitalista que está por trás das remoções. Ou quase tudo. Diversas favelas vêm se organizando através de reuniões de massas, que chegam a contar com até mesmo trezentos participantes. Para dar centralidade e organizar a nível regional essas reuniões locais, foi criado um fórum com o objetivo de convocar manifestações e prover auxílio jurídico às comunidades ameaçadas, o Conselho Popular. Tal fórum congrega atualmente representantes de diversas favelas e tem sido capaz de organizar demonstrações de força e elaborar planos de resistência.
Entendemos que os setores estudantil e sindical do Rio de Janeiro passam por um considerável refluxo e que as mobilizações que vêm ocorrendo nas favelas estão indo contra a corrente, representando um autêntico ascenso de setores super-explorados da classe trabalhadora. E mesmo assim, não vemos quase nenhuma organização da esquerda revolucionária disputando tal processo, deixando-o à mercê de lideranças traidoras e do social-pacifismo da Pastoral de Favelas, organização ligada à Igreja Católica. Quando muito, vemos um ou outro representante da ala parlamentar do Enlace, corrente interna do PSOL, mas mesmo assim estes aparecem apenas para tentar desviar o processo de lutas para dentro dos palácios governamentais, através de Audiências Públicas e demais iniciativas que o acumulo histórico da luta revolucionária do proletariado já mostrou serem praticamente inúteis e ineficazes. A única exceção, além do próprio Coletivo Lenin, é a presença do Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR).
Nesse sentido, fazemos um chamado aos companheiros do Movimento Rumo ao Socialismo (MRS), da Liga Estratégica Revolucionária – Quarta Internacional (LER-QI), da corrente Liberdade, Socialismo e Revolução (LSR), do Partido Comunista Revolucionário (PCR), do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e de demais organizações que se considerem à serviço da luta revolucionária do proletariado à mobilizarem suas colaterais no movimento estudantil e sindical para somarem forças ao Coletivo Lenin na luta contra o capital que tem se materializado na resistência dos moradores de favelas à remoção.
Fazemos esse chamado por entendermos que tais companheiros influenciam importantes setores da vanguarda estudantil e sindical e que não titubeariam diante da proposta de lutar por um programa revolucionário voltado para as demandas dos moradores de favelas. Nesse aspecto, nós do Coletivo Lenin vimos defendendo nas reuniões do Conselho Popular as seguintes palavras de ordem:
- Lutar por um plano de obras custeado pela taxação progressiva dos impostos das grandes empresas que garanta moradia de qualidade para os trabalhadores pobres do Rio de Janeiro;
- Lutar para que as obras sejam supervisionadas pelas próprias organizações dos moradores;
- Lutar para que a parcela dos royalties do pré-sal destinada ao Rio sirva para garantir moradia, educação e saúde de qualidade para a classe trabalhadora.
Apenas atacando o grande capital diretamente, ou seja, no espólio do trabalho de milhões materializado no lucro de uma ínfima minoria é que poderemos avançar na luta revolucionária pelo socialismo. Por isso acreditamos ser cruciar que a militância do Rio de Janeiro se integre na frente única do Conselho Popular.
Aguardaremos a resposta dos companheiros e seguiremos na luta contra as remoções, mobilizando os sem-teto em aliança com os moradores de favelas e enfrentando os setores recuados e conciliadores que hoje tendem a ser maioria em qualquer fórum.
Saudações comunistas,
Coletivo Lenin.
Junho de 2010
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