Tarefas políticas e militares na Líbia: frente única contra os ataques da OTAN!
Desde o dia da visita de Obama ao Brasil em Março, a Líbia está sofrendo uma série de bombardeios feitos pelas forças aéreas dos países-membros da OTAN. Essa intervenção começou a partir do "pedido" do Conselho Nacional de Transição, uma frente pró-imperialista que fala em nome da oposição da Líbia, que pediu a chamada "zona de exclusão aérea" a ONU, assim como armas e aparato militar para derrubar Kadafi.
Sabemos que qualquer pedido desse tipo, feito aos países imperialistas, será usado como argumento para que as potências invadam o país, com os seus próprios objetivos. No caso, tanto os governos da Itália como da França, não por coincidência os que têm mais relações comerciais com a Líbia, estão na linha de frente da operação da OTAN que, se tiver sucesso, deixará as reservas de petróleo líbias diretamente nas mãos do imperialismo europeu e norte-americano.
Nessa condição em que está estampado um processo de pilhagem descarado aos recursos energéticos dos países árabes e africanos por forças militares opressoras do imperialismo e setores alinhados, defendemos frente única com todos os setores do movimento de massas que estejam no campo contrário à operação da OTAN. Entendemos que os operários, proletários e semi-proletários da Líbia só sairão vitoriosos desta guerra quando primeiro derrotarem as forças de intervenção imperialistas e os rebeldes do Conselho Nacional de Transição de Bengazi, para então derrotar as forças do próprio Kadafi e então seguir com suas demandas democráticas, demandas estas que somente serão cumpridas pelos próprios proletários armados da Líbia consolidados no poder através de comitês proletários organizados nas cidades!
O processo na Líbia
Na Líbia, desde o dia 16/02, houve uma série de protestos contra a ditadura pró-imperialista de Kadafi, que foram reprimidos com muita violência, deixando centenas de mortos. O começo dessas mobilizações foi parecido com o que aconteceu no Egito e na Tunísia, mas depois de dez dias, em 26/02, foi formado o Conselho Nacional de Transição, formado por ex-membros da ditadura, empresários líbios, líderes regionais fundamentalistas e defensores dos direitos humanos ligados à Human Rights Watch.
Todos os membros do CNT são ligados ao imperialismo, de uma forma ou de outra. Dessa forma temos que fazer autocrítica da posição anterior (no artigo O Conselho Nacional é a Cova da Revolução), que foi postada por um militante e continha duas caracterizações não aprovadas pelo Coletivo Lenin: caracterizava o CNT como uma Frente Popular e dizia que havia um processo revolucionário na Líbia. A Liga Comunista (LC), organização de São Paulo, fez essa crítica a nós em seu jornal (O Bolchevique #3). Além disso, fizeram mais uma críticas corretas:
1) O processo líbio não é uma revolução, pois houve a formação de um poder paralelo no leste da Líbia sob controle da oposição, mas isso não tem nada a ver com dualidade de poderes no sentido leninista da expressão, porque o novo governo também é burguês, sendo que não há qualquer organização operária ou organismos de poder de proletários urbanos. Ou seja, os operários e proletários do leste da Líbia estão sendo dirigidos e cooptados pelo CNT, composto pelos mais diversos membros da burguesia pró-imperialista. O CNT não é um movimento de massas, e sim a cabeça de um governo burguês estabelecido em Benghazi.
2) Na declaração se dizia que o CNT "namorava" com o imperialismo. Isso é verdade em relação às palavras escritas na declaração. Mas a experiência mostrou que o CNT foi formado justamente para pedir uma intervenção militar no país. Por isso, o CNT foi armado desde o seu surgimento pelo imperialismo, como documentos diplomáticos vazados comprovaram, e logo militarizou a luta transformando-a num conflito entre exércitos regulares burgueses que disputam nesse momento o poder na Líbia para ver quem é mais capacho do imperialismo, sendo ambos responsáveis pela morte de milhares de operários e proletários líbios.
Diante disso, o que os trabalhadores e sua vanguarda comunista deveriam fazer numa situação tão complexa?
Para parte da esquerda, só o fato de ser contra Kadafi já tornava a oposição progressiva. Esse foi o caso do PSTU, que costuma apoiar automaticamente qualquer luta de massas independente de seu conteúdo político. Se o CNT chegar ao poder, o PSTU vai chamar isso de "vitória", como chamou, no Egito, a substituição do governo Mubarak por uma ditadura militar.
Por outro lado, partidos stalinistas, além de organizações como a LBI (Liga Bolchevique Internacionalista) e a já citada LC - que reivindicam a tradição trotskista - ficaram, desde o começo, no campo militar de Kadafi. A LBI chegou a dizer que Kadafi tem atritos com o imperialismo. Na verdade, ele teve, até a década de 1980, porém seguindo o retrocesso que foi o fim da URSS, se alinhou completamente com o imperialismo, chegando até a apoiar a "guerra ao terror" dos EUA!
Para nós do Coletivo Lênin, os trabalhadores e comunistas líbios deveriam ter participado das mobilizações contra Kadafi em fevereiro, para disputá-las e tirá-las do controle do CNT. Ao mesmo tempo, não deveriam se dissolver no exército da oposição. Pelo contrário, deviam tentar formar milícias operárias e camponesas para intervir de forma independente no processo, se confrontando militarmente com Kadafi e suas tropas.
Durante todo esse processo inicial, deveriam levantar a bandeira de Fora Kadafi! Assembleia Constituinte Revolucionária, supervisionada por comitês de trabalhadores e camponeses, para dar um rumo realmente progressivo à aspiração por democracia do povo líbio. Só essas palavras de ordem podem desmascarar a demagogia do CNT, que quer uma democracia burguesa pró-imperialista.
As correntes que não concordam com essa política dizem que a oposição líbia é semelhante à direita venezuelana e à oposição iraniana e que, por isso, estar junto com ela na luta contra a ditadura seria capitular ao imperialismo. Esses exemplos estão totalmente fora do contexto! No caso da oposição venezuelana ele chamam sim o governo Chávez de ditadura, mas ele tem todas as liberdades democráticas de uma democracia burguesa. Por isso, a sua ladainha "antiditatorial" não passa de palhaçada e desculpa para justificar o seu golpismo. No caso do Irã, a oposição que reclamou de fraude eleitoral expressamente reivindicava o regime fundamentalista no país desde 1979. O objetivo deles, como dissemos em julho de 2009 no nosso artigo Irã: derrubar a ditadura fundamentalista, era criar "um regime fundamentalista alinhado aos EUA,como na Arábia Saudita".
Está claro então que os marxistas não priorizam a defesa de pequenas conquistas de determinado governo, e sim a auto-organização dos trabalhadores, que é muito mais fácil numa democracia burguesa do que numa ditadura burguesa. Por isso, não são indiferentes ao regime ou acham que é tudo a mesma coisa, como os anarquistas e ultra-esquerdistas.
Dessa forma, na Líbia, a luta contra a intervenção da OTAN não pode suspender a luta pela Assembleia Constituinte Revolucionária. Para atuar de forma independente, numa situação em que não há sindicatos e partidos operários, os trabalhadores devem criar comitês por local de trabalho e moradia, e armar os comitês para a sua autodefesa e para preparar a ofensiva. Nesse movimento organizado e armado de proletários líbios, não poderia haver nenhuma confiança e apoio político a nenhum dos dois setores pró-imperialistas, o governo Kadafi e o CNT. Então nesse momento, a tática principal dos proletários da Líbia passa a ser derrotar as forças imperialistas da OTAN e as pró-imperialistas do CNT, para então derrotar as forças de Kadafi e consolidar a Assembléia Constituinte Revolucionária dos proletários Líbios como unica forma real de estabelecer uma democracia operária na Líbia. Mas sabemos que tais demandas extremamente complexas só serão consolidadas através de um instrumento político dos trabalhadores líbios: o partido revolucionário, com maioria de mulheres, para lutar pelo governo direto dos trabalhadores.
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