QUEM SOMOS NÓS

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Somos uma organização marxista revolucionária. Procuramos intervir nas lutas de classes com um programa anticapitalista, com o objetivo de criar o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, a seção brasileira de uma nova Internacional Revolucionária. Só com um partido revolucionário, composto em sua maioria por mulheres e negros, é possível lutar pelo governo direto dos trabalhadores, como forma de abrir caminho até o socialismo.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Philippe Buonarroti (1761-1837)




Você sabe quem criou a palavra comunismo?

Philippe Buonarroti era italiano, nasceu em 1761 em Pisa. Quando começou a revolução francesa, ele foi para a Córsega, onde se integrou ao Clube dos Jacobinos (a ala democrata radical da revolução) e conheceu a família Bonaparte.

Em 1793, depois de ter sido expulso da Córsega e de ter voltado por um tempo para a Itália, em foi a Paris, onde organizou os italianos que estavam participando da revolução.

De 1793 a 1794, os jacobinos estiveram no poder durante o período conhecido como Terror, quando reprimiram com violência extrema não só os contrarrevolucionários como outros setores da própria revolução, e tomado as medidas democráticas mais avançadas, por exemplo a luta contra os privilégios da Igreja Católica, o congelamento dos preços dos alimentos e a abolição da escravidão.

Em 1794, eles são derrubados pela ala mais moderada. Esse período é conhecido como a Reação Termidoriana, porque começou no mês do Termidor do novo calendário criado pelos revolucionários em 1792. O governo do Diretório, formado por cinco membros, que assumiu o poder, foi catastrófico para o povo. Eles cancelaram o tabelamento dos preços que existiu durante o Terror, o que criou uma inflação galopante.

Nessa época, Philippe conheceu Gracchus Babeuf (o nome verdadeiro era François-Noël, mas ele adotou o nome de Gracchus em memória do Tribuno do Povo da época de Roma). Os dois, junto com Sylvain Maréchal, formaram a Sociedade dos Iguais, que foi a primeira corrente da revolução francesa a defender abertamente o fim da propriedade privada. Segundo o Manifesto dos Iguais, escrito por Maréchal:


A lei agrária, ou a divisão da terra, foi aspiração momentânea de alguns soldados sem princípios, de algumas populações incitadas pelo seu instinto mais do que pela razão. Nós temos algo de mais sublime e de mais equitativo: o bem comum, ou a comunidade de bens! Nós reclamamos, nós queremos desfrutar coletivamente dos frutos da terra: esses frutos pertencem a todos.
Declaramos que, posteriormente, não poderemos permitir que a imensa maioria dos homens trabalhe e esteja ao serviço e ao mando de uma pequena minoria.
Há muito tempo já que menos de um milhão de indivíduos tem vindo a dispor de quanto pertence a mais de vinte milhões de semelhantes seus, de homens que são em tudo iguais a eles.
Devemos pôr termo a este grande escândalo, que os nossos netos não quererão acreditar possa ter existido! Devemos fazer desaparecer, finalmente, essas odiosas distinções de classes entre ricos e pobres, entre grandes e pequenos, entre senhores e servos, entre governantes e governados.


A Sociedade dos Iguais começou uma conspiração para derrubar o Diretório, mas foram descobertos. Babeuf foi executado, Maréchal foi absolvido e Philippe foi deportado para a Itália. Ele continuou a conspirar, o que faria pelo resto da sua vida, mas dentro da carbonária, uma sociedade secreta semelhante à maçonaria onde se organizavam, na época, os setores democráticos radicais. Na França, em 1799, Napoleão Bonaparte dá um golpe de Estado que derruba o Diretório, encerrando o período da revolução. Em 1804, ele restaura a monarquia, se proclamando imperador.

Como uma das tarefas de um revolucionário é sistematizar a experiência das lutas de classes, em 1828, Buonarroti escreveu a História da Conspiração pela Igualdade, dita de Babeuf. Esse livro vai ser o elo com a nova geração de revolucionários franceses.

Em 1830, houve uma tentativa de revolução republicana para derrubar a monarquia, restaurada depois da revolução. Uma das organizações que participaram foi a Sociedade dos Direitos do Homem, que era organizada como uma sociedade secreta. Ela foi dissolvida em 1834, mas o seu criador, Armand Barbès, tentou criar outras sociedades secretas.

Nesse processo, ele conheceu August Blanqui, que depois seria conhecido como O Encarcerado (ele passou metade da vida preso). A concepção política do Blanqui (blanquismo) era a de que um pequeno grupo pode provocar uma revolução popular através de uma ação armada de vanguarda. Na Sociedade dos Amigos do Povo, eles dois conheceram Philippe Buonarroti. Para divulgar o livro de Buonarroti, eles organizaram os Banquetes Comunistas, onde pela primeira vez se surgiu essa palavra.

Quem também participava dos banquetes comunistas eram os militantes da Liga dos Proscritos, uma organização formada em 1834 por operários alemães, sob a direção de Wilhelm Weitling. Pouco tempo depois, a Liga dos Proscritos mudou o nome para Liga dos Justos e participou junto com a nova sociedade secreta de Barbès e Blanqui, a Sociedade das Estações (o nome era assim porque os diferentes setores da organização tinham os nomes dos meses), numa tentativa de insurreição em 1839.

Em 1847, a Liga dos Justos se fundiu com o grupo inglês Comitê Comunista de Correspondência, de Engels e Marx. O manifesto na nova organização,  Liga dos Comunistas, é o Manifesto Comunista.

Mas Philippe Buonarroti, o elo entre a revolução francesa e o movimento comunista, não chegou a ver esses acontecimentos, tendo morrido em 1837.

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sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Notas sobre o imperialismo (jan/2015)


Contribuição individual do companheiro Rio


“1. A atual discussão começou sobre a caracterização da Grécia, mas logo evoluiu pra um debate sobre o imperialismo. Como essa é uma das duas grandes diferenças que eu tenho com o CLQI (a outra é sobre questão da mulher, e pode ser que haja diferenças sobre a questão negra), vou aproveitar aqui pra defender melhor a minha posição e criticar a do CLQI.

2. Antes, vou explicar a minha linha sobre a Grécia:

- a Grécia é um país imperialista de segunda linha (indústria naval e capital financeiro, que explora os Bálcãs e o Chipre), comparável a Portugal.
- A saída da UE seria uma solução nacionalista a serviço da burguesia.
- A eleição da Syriza não foi o resultado de uma situação pré-revolucionária. Portanto, a pressão principal não vai ser das massas querendo ultrapassar os limites do governo, e sim da Troika para derrotar o governo e mostrar que a austeridade é inevitável
- Por isso, o eixo da política deve ser a defesa da frente popular contra a Troika, sempre mantendo uma política de exigências e denúncias. Para aproximar e organizar a base da Syriza, se deve chamar a formar comitês de base, como Trotsky defendeu na frente popular francesa. Uma linha de ataque frontal ao governo só seria válida se ele passasse a implementar os planos de austeridade.
- é possível que a frente popular consiga algumas vitórias, o que será positivo, porque vai quebrar o mito de que é impossível vencer a austeridade
- a linha sectária do KKE, de escolher a Syriza como alvo principal, é comparável à do PSTU no Brasil, com o agravante de que a Syriza é reformista. Ou seja, é stalinismo do terceiro período.

3. Do ponto de vista da teoria, existem dois níveis. Um é o do capital social, ou seja, de todos os capitais. O outro é o nível da relação entre os diferentes capitais, ligados aos Estados. A Rosa analisou o primeiro nível, o Lênin o segundo. O problema é que o segundo nível depende do primeiro, ou seja, pra entender a relação entre os Estados, é preciso entender o estágio atual do capitalismo como um todo. O próprio imperialismo só existe por, a partir de determinada época, o desenvolvimento desigual do capitalismo (que sempre existiu) passou a englobar continentes inteiros.

Por que eu tô falando isso?

Porque existe uma visão no movimento que iguala dependência política e ser uma semicolônia. Um país pode ser dependente de um imperialismo mais forte, e ainda assim ser imperialista. Ou pode oprimir outra nação e ainda assim ser semicolonial. O imperialismo é o estágio superior do capitalismo, o que vai definir se um país é imperialista ou não é se ele chegou ao nível monopolista do capitalismo.

4. Até nos clássicos existe muita confusão sobre isso. Eu vou citar três exemplos:
- No Imperialismo, o Lênin diz que Portugal era um país dependente, apesar do grande império colonial africano.
- No mesmo livro, ele diz que a Argentina não é semicolonial (o Gerry deve lembrar que o Grant usou essa citação pra não defender a Argentina na Guerra das Malvinas)
- Trotsky considerava a Sérvia imperialista, porque ela dominava a Bósnia e a Croácia.

Os setores oportunistas usaram essas indefinições para defender a "independência nacional" de seus países imperialistas. Por exemplo, o PC canadense defendendo que a tarefa principal era lutar pela "soberania nacional" contra os EUA. Ou os lambertistas, que dizem que todos os problemas sociais da Europa serão resolvidos rompendo com a UE.

5. Bem, então já dá pra entender melhor a minha posição. Vou resumir aqui pra ficar mais claro (sem me aprofundar na relação entre os níveis etc., que não caberia aqui):

- O critério para definir se um país é imperialista é econômico, é o nível de desenvolvimento do capitalismo, ou seja, país avançado, que tem capital monopolista e financeiro próprio, é país imperialista.
- o Lênin já falava em outros graus intermediários entre colônia, semicolônia e país imperialista. No mundo de hoje, eu diria, que a cadeia imperialista é: EUA - imperialismo europeu (que tem interesses parcialmente contraditórios com as burguesias alemã, francesa e inglesa), imperialismos de segunda linha (por questões geográficas, os imperialismos russo e chinês são imperialismos de segunda linha que cumprem o papel de potências regionais), subimperialismos (Brasil, África do Sul, Índia etc., países dependentes mas associados ao imperialismo), países capitalistas dependentes (= industrializados), semicolônias e colônias.
O objetivo não é falar de TODOS os países, por exemplo eu não falei de casos bizarros como Mônaco, Vaticano, Groenlândia etc.
- Existe uma integração econômica muito maior que na época do Lênin. Isso é a base material da UE, e significa que as formas mais violentas de conflitos interimperialistas estão excluídas, como as guerras mundiais.

6. Depois disso, vou criticar a posição do CLQI, colocada principalmente no documento do German sobre o Núcleo Russo-Chinês

Eu considero a linha dos companheiros um erro estratégico desastroso, porque significa o alinhamento a longo prazo com países imperialistas de segunda linha contra os EUA e a UE.

Os companheiros devem saber das minhas divergências sobre a Ucrânia, onde eu defendo a dupla derrota (contra o governo de direita pró-UE com componentes fascistas, e as "repúblicas democráticas" fantoches da Rússia, também com componentes fascistas), justamente por essa diferença de análise.

7. A outra crítica que eu faço aos companheiros do CLQI é sobre a questão das resistências anti-imperialistas, que não está diretamente ligada a essa análise econômica. Eu sou contra o critério objetivista dos companheiros, que consideram que qualquer setor que se enfrente com os países imperialistas é anti-imperialista.

Como consequência da destruição contrarrevolucionária da URSS, houve um florescimento de setores que acreditam numa utopia pequeno-burguesa regressiva de "volta atrás no tempo" e rejeitam a sociedade capitalista em bloco. É o caso do fundamentalismo. Eu não considero que seja possível formar uma frente única anti-imperialista com eles, somente com setores nacionalistas de esquerda ou socialistas no sentido amplo da palavra.

Essa diferença apareceu no caso Charlie Hebdo, em que eu fui contra a posição do CLQI, porque entendo que o atentado representava a imposição de uma concepção medieval de punir a blasfêmia.


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