QUEM SOMOS NÓS

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Somos uma organização marxista revolucionária. Procuramos intervir nas lutas de classes com um programa anticapitalista, com o objetivo de criar o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, a seção brasileira de uma nova Internacional Revolucionária. Só com um partido revolucionário, composto em sua maioria por mulheres e negros, é possível lutar pelo governo direto dos trabalhadores, como forma de abrir caminho até o socialismo.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Mais ataques aos direitos dos trabalhadores (Antônio Júnior)

segue o informe do companheiro metalúrgico Antônio Júnior, da CAF de Hortolândia/SP

http://espacomarxista.blogspot.com.br/2015/02/ataques-aos-direitos-da-classe.html

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domingo, 22 de fevereiro de 2015

50 anos do assassinato de Malcolm X

A man in a suit and tie, carrying a rifle, looks out the window

Ele nasceu Malcolm Little, em 19 de maio de 1925. Seu pai era
militante da UNIA (Associação Universal pelo Progresso dos Negros).
A UNIA foi criada por Marcus Garvey, num período de desespero para os
negros estadunidenses. Depois da Guerra Civil americana, que aboliu a
escravidão, houve um período de Reconstrução. Durante esse período, os
negros acreditaram que finalmente chegaria a igualdade, mas tiveram suas esperanças
destruídas quando o governo federal decidiu abandonar
o Sul dos EUA nas mãos dos racistas, que restabeleceram várias leis
segregando brancos e negros (as leis Jim Crow, que numa tradução livre
seria Zeca Urubu). Tudo isso foi garantido pela violência da Ku Klux
Klan. Nas primeiras décadas do século XX houve um auge de
linchamentos de negros.
Diante dessa situação, Marcus Garvey não acreditava na possibilidade
da integração dos negros à sociedade americana, e defendia a volta à
África. Os negros mais conscientes aderiram à UNIA porque viram nela a
única alternativa ao racismo e à brutalidade.
O pai de Malcolm foi morto por racistas quando ele tinha seis anos. A
partir daí, sua família se desintegrou. Sua mãe começou a
desenvolver problemas mentais, e acabou sendo internada em 1938, por
uma mistura de preocupação real com as suas condições psicológicas e pela
simples intenção racista de deixá-la num depósito de gente. Os
irmãos tiveram que se separar.
Sem nenhuma perspectiva de vida, Malcon entrou para o mundo do crime e
se tornou assaltante, traficante e cafetão. Logo se tornou um dos
mais procurados na cidade, até que foi preso em 1946. Por causa de
todo seu histórico de vida, compreendia que a prisão era uma
punição racista. Começou a estudar e se tornou um destaque dentro
da prisão, participando de grupos de debates, em atividades
que os presos mesmos promoviam, sempre tentando ligar os temas que abordavam à
questão racial.
Demônios de Olhos Azuis
Até aí, essa poderia ser a história de um preso que se “regenerou” na
prisão.  Mas, através do seu irmão mais velho, Reginald, Malcon se aproximou e
se converteu a Nação do Islã.
A Nação do Islã era uma seita religiosa que, apesar do nome, não era
ligada às grandes correntes do Islã. Na década de 1930, um
caixeiro-viajante chamado Muhammad Fard viajou pelos EUA pregando que
os negros eram o povo escolhido de Deus, e que o cristianismo era uma
religião criada pelos brancos para ensinar os escravos a virarem a
outra face a seus opressores. Segundo a Nação do Islã, Fard era
simplesmente Deus encarnado.
Um dos ensinamentos mais importantes da Nação do Islã era que todos os
seres humanos tinham sido criados negros e que Yuqub (= Jacó) tinha
feito cruzamentos de seres humanos com demônios. Os cruzamentos
geravam pessoas cada vez mais brancas, até que conseguiu criar os
louros de olhos azuis, tão corrompidos que não tinham alma. Por isso
a Nação do Islã chamava os brancos de “demônios de olhos azuis”.
É fácil ver, sob a perspectiva dessa mitologia religiosa, que retratavam de 
forma contundente o racismo da sociedade americana na época. O
objetivo da Nação do Islã era de que os negros se separassem
voluntariamente dos brancos e vivessem como uma nação à parte. Daí o
nome do grupo.
Malcolm aderiu a isso de corpo e alma, abandonando o nome de Little, de origem
cristã e provavelmente dado à
sua família por senhores de escravos. Trocou pelo X, dando a entender
que não reconhecia seu nome de origem.
Com uma incrível habilidade oratória, Malcolm se tornou, em pouco
tempo, depois que saiu da prisão (1952), o principal porta-voz da
Nação do Islã, e um dos maiores representantes do povo negro no fim
dos anos 1950, quando se desenvolvia a luta pelos direitos civis.
A peregrinação
Com o tempo, começaram a surgir divergências entre Malcolm X e o líder
da Nação do Islã, Elijah Muhammad. O motivo imediato foi que Malcolm
descobriu comportamentos repreensíveis de Muhammad, como o uso dos recursos
da Nação do Islã para proveito próprio e casos extraconjugais com
mulheres do grupo.
Ao mesmo tempo, como pano de fundo, também acontecia a radicalização
do movimento pelos direitos civis. Novas organizações estavam
surgindo, como o SNCC (Comitê de Coordenação Estudantil Não-Violento),
que usavam métodos de desobediência civil para contestar as leis de
segregação racial. Além da direção do pastor batista Martin Luther
King, havia setores mais jovens que estavam abandonando o pacifismo e
partindo para ações de autodefesa contra a Ku Klux Klan. Era o caso, por
exemplo, dos Diáconos Por Democracia e Justiça, e de lideranças que
estavam se aproximando do marxismo, como Robert Willians e Stokely
Carmichael.
A Nação do Islã, com sua pregação de uma separação pacífica e
religiosa, era vista cada vez mais como uma organização
conservadora, exatamente o contrário do perfil de Malcolm. Essas
tensões chegaram ao auge depois da morte do presidente John Kennedy.
Quando Malcolm foi entrevistado, ao ser indagado sobre o que achava
do assassinato, usou a frase “the chicken came home to roost”, um
ditado popular com um sentido semelhante a “quem com ferro fere, com
ferro será ferido”.
Foi o suficiente para Muhammad pedir a cabeça de Malcolm X. Com a
crise política alimentando sua crise religiosa, e vice-versa,
pediu dinheiro emprestado a sua irmã Ella e realizou o hajj, a
viagem para Meca, que é obrigatória para todos os muçulmanos que
tiverem recursos para fazê-la.
E Foi em Meca que Malcon sofreu sua grande mudança de perspectiva
política. Viu povos islâmicos de todas as raças e países unidos na
adoração a Deus. Ao mesmo tempo, conheceu dirigentes de vários
movimentos de libertação nacional de países árabes, especialmente os
da Frente de Libertação Nacional, da Argélia, que demonstraram
máxima hospitalidade e admiração para com ele.
Unidade afroamericana
A lição que Malcolm X tirou do hajj foi de que é possível que as
diferentes raças convivam pacificamente, e o meio que ele encontrou
para isso foi a luta pela libertação nacional. Voltando aos EUA,
criou duas instituições, a Mesquita Muçulmana Inc., de caráter
religioso, agora dentro do Islã sunita, e a Organização pela Unidade
Afroamericana (OAAU, na sigla em inglês). A OAAU era inspirada, como o
próprio nome mostrava, pela Organização pela Unidade Africana, que
congregava os novos governos africanos e os movimentos ainda em luta
pela independência.
A Nação do Islã tinha ódio do que considerava a traição de Malcolm X,
ainda mais porque tinha perdido uma grande parte de seus adeptos, e
chegou a ameaçá-lo. Mas Malcon logo percebeu que estava sendo
vigiado e perseguido numa escala muito maior do que a Nação do Islã
teria condições de arquitetar.
O governo americano via que o discurso muito mais radical de Malcolm X
poderia se tornar uma alternativa diante do pacifismo de Martin Luther
King. Os próprios documentos da CIA, revelados anos depois, mostram
que o maior medo do governo era o surgimento de um líder negro que
unificasse todo a comunidade numa luta contra o Estado.
Era justamente o que Malcolm X estava começando a fazer, ao pregar a
autodefesa, como no seu famoso discurso “The Ballot or the Bullet” (O
Voto ou a Bala). Mais grave ainda: quando convidado para um debate
organizado pelo SWP, o partido trotskista americano, fora indagado sobre o que
achava do capitalismo. Foi quando Malcon pronunciou sua famosa frase
“não existe capitalismo sem racismo”, e concluiu dizendo que a maioria dos novos
governos africanos pós-independência estavam se aproximando do
socialismo, o que era significativo. Por isso, o governo americano
decidiu que ele não poderia mais continuar vivo.
Em 21 de fevereiro de 1965, durante uma palestra na Mesquita Muçulmana
Inc., Malcon foi atingido por vários tiros. Foram acusados três
integrantes da Nação do Islã, que negaram ter cometido o crime pelo
resto de suas vidas.
O legado revolucionário
Como vimos, Malcolm X nunca foi marxista. Mas, mesmo assim, através
da sua visão religiosa, tocou em temas fundamentais para a
destruição do racismo: a necessidade da autodefesa, a solidariedade
com os movimentos dos povos oprimidos, a ação de massas etc. Malcon morreu
prematuramente, e coube aos militantes que o sucederam
desenvolver  suas ideias de forma consistente.
E foi o que de fato aconteceu logo após sua sua morte e,
principalmente, depois do assassinato de Martin Luther King, em 1968,
quando se formaram dezenas de organizações marxistas no movimento pelos
direitos civis. A mais importante, evidentemente, fora Os Panteras Negras,
que nasceu em 1966, organizando ações de autodefesa em Oakland, e
se tornando a maior organização de extrema esquerda estadunidense
depois da Segunda Guerra Mundial.
Como o movimento de massas desencadeado pelo assassinato do jovem
Michael Brown em Ferguson mostrou, os negros continuam a ser o setor
mais dinâmico da classe trabalhadora estadunidense, e o setor que realiza as
ações mais radicalizadas. A eleição de Obama, assim como a de Mandela
na década de 1990, mostra ao mundo inteiro a atualidade do dilema
colocado por Malcolm X: o voto ou a bala. Ou a ilusão eterna da luta
por dentro do sistema, ou a batalha para organizar sua derrubada.definitiva.
 

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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Syriza: O populismo pequeno burguês gerindo o Estado capitalista, em meio a nova guerra fria


Reproduzimos aqui a declaração que reflete a posição da maioria do Comitê Paritário

GRÉCIA - DECLARAÇÃO CLQI SOBRE O GOVERNO SYRIZA

Syriza: O populismo pequeno burguês gerindo o Estado capitalista, em meio a nova guerra fria
Declaração do Comitê de Ligação pela IV Internacional
19/02/2015
A vitória do Syriza (Coalizão da Esquerda Radical) na eleição geral grega de 25 de Janeiro revela um grande giro à esquerda na consciência política da classe trabalhadora grega e dos agricultores pobres (cerca de 35% dos gregos são camponeses). Resultado semelhante também refletiu de forma contraditória a votação do Partido Nacional Escocês e os altos índices de votação do “Podemos”, na Espanha, e do Sinn Fein, na Irlanda. O entusiasmo por essa vitória reflete as esperanças e confiança das massas de que pelo menos alguns passos para a libertação dos trabalhadores foram dados depois das terríveis privações impostas pela Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional).

Esse resultado também alimenta ilusões que a libertação da Grécia dos grilhões da Troika pode ser alcançada pela via parlamentar, de forma pacífica, ajudado por uma mobilização na base, apoiada talvez por algumas greves e manifestações que irão acelerar o estabelecimento do programa legislativo do Syriza, sob a liderança do primeiro-Ministro Alexis Tsipras. Estas ilusões são fomentadas e racionalizada por toda sorte de reformistas, stalinistas e centristas, incluindo muitos que apresentam em nome do trotskismo revolucionário. Mas, em vez disso, são oferecidos a negação populista e o repúdio imediato da política de classe e um rechaço a qualquer programa que possa conduzir a luta de classes para a revolução socialista. A própria ideia de que "a emancipação das classes trabalhadoras deve ser conquistada pelas próprias classes trabalhadoras", como Marx postulou em 1864, é agora rejeitada como uma ilusão, retrógada e desatualizada.


Paul Walsh, da Red Pepper (http://www.redpepper.org.uk/); um representante típico deste lixo, argumenta exatamente isso:

"[O] sucesso do Syriza tem muito em comum com o do Podemos” da Espanha e da Campanha por uma Independência Radical da Escócia [RIC]. O kit de ferramentas do "passo a passo populista” 'inclui: o abandonando estratégico da retórica clássica do marxismo, comunicar uma mensagem populista nas mídias sociais e o uso de formas não hierárquicas e descentralizadas de organização. Teoricamente, esses grupos têm como objetivo criar e ocupar um novo espaço político. Eles compartilham a percepção de que o projeto marxista clássico está esgotado. No entanto, utilizando o conceito de Gramsci da hegemonia – a premissa aqui é que são as ideias que devem conduzir o domínio e o controle. – eles estão criando uma nova cultura, não apenas os novos partidos políticos "[1]
Contra a negação demagógica da organização revolucionária da luta contra o capital: "Toda a arte de uma organização conspirativa consiste em saber utilizar tudo e todos, em 'dar trabalho a todos e a cada um', conservando o mesmo tempo a direção de todo o movimento, e isto entenda-se, não pela força do poder, mas pela força da autoridade, por energia, maior experiência, amplidão de cultura, habilidade. Esta observação está relacionada com uma contestação possível e comum: a de que uma centralização rigorosa possa destruir um trabalho com excessiva facilidade, se casualmente no centro se encontre uma pessoa incapaz, possuidora de imenso poder. É claro que isso é possível, mas o remédio contra isso não pode ser o princípio eleitoral e a descentralização, absolutamente inadmissíveis e inclusive nocivas ao trabalho revolucionário sob a autocracia."https://www.marxists.org/portugues/lenin/1902/09/carta.htm
GOVERNO TSIPRAS – “FRENTE POPULAR” OU UM FRÁGIL
POPULISMO PEQUENO BURGUÊS, APOIADO NA NOVA GUERRA FRIA?
Acreditamos que o governo do Syriza não é um governo de frente popular. Uma frente popular é um governo burguês. Mas, nem toda coligação com partidos burgueses é uma frente popular. Por que? Porque uma frente popular pressupõe uma composição política com um partido operário burguês. O Syriza, embora não seja um partido burguês, também não é um partido operário burguês, e menos ainda, um partido operário. O Syriza, bem como outros fenômenos partidários atuais, é um partido pequeno burguês, que passa a ocupar um espaço importante na política nacional de seu país, por causa da extrema degeneração dos partidos as organizações tradicionais, dirigentes do movimento operário no século XXI, porque a desmoralização das direções tradicionais do movimento operário e sindical não é superada por novas direções operárias e revolucionárias. Mas, historicamente, a pequena burguesia é incapaz de estabelecer um governo próprio, precisa apoiar-se nas classes fundamentais da sociedade capitalista (e em seus partidos) e em condições excepcionais da luta de classes mundial.
O governo do Syriza nasceu de uma coalizão emergencial deste partido pequeno burguês com um partido burguês (ANEL). Durante as eleições, o Syriza recebeu momentaneamente o apoio e os votos de setores da população trabalhadora, mas este partido não dirige organicamente a população trabalhadora. O partido de Tsipras não dirige os sindicatos, nem outras organizações de massas, como faz o KKE através da PAME (Frente Militante de Todos os Trabalhadores, em português). O Syriza, embora reúna tendências políticos oriundas da social democracia grega, como o Synaspismos (SYN), em sua composição interna partidária, não pode ser identificado somente como uma nova versão do velho reformismo, ele não é um partido operário burguês, como eram os antigos partidos reformistas. Não dirigem o movimento operário. Não se apoiam internacionalmente na antiga Guerra Fria, entre o imperialismo e fortes Estado operários, como a URSS. O partido de Tsipras ascendeu três anos depois que a onda de greves gerais (2010-2012) refluiu. Não surgem de revoluções, como o governo Kerensky, nem sequer são “o último recurso da burguesia contra a revolução proletária”.
A ascensão de Partidos como o Syriza a condição de gerentes principais do Estado capitalista é um fenômeno relativamente raro. Esse fenômeno surgiu a partir de determinadas condições relativamente novas na luta de classes, condições que exigem um populismo pequeno burguês na condução política do Estado burguês. Seus governos são mais frágeis que os dos governos de frente popular. São fenômenos embelezados por uma demagogia populista-horizontalista, que enganam as massas trabalhadoras por um período muito curto, eleitoral quase meteórica. A ascensão do Syriza não foi possível apenas por causa de questões políticas nacionais, pelo esgotamento de todos os outros partidos do regime. Não. A ascensão do do Syriza também foi produto da nova guerra fria entre o imperialismo e o bloco de nações capitaneadas pela Rússia e China (Eurásia), quando frágeis direções pequeno burguesas podem apelar para o novo bloco burguês ascendente e para os Brics, para barganhar um novo acordo com o imperialismo. Esta é uma política que o "Podemos" da Espanha também vem fazendo, mesmo antes de chegar ao governo. [ 2 ]
O novo governo grego é dirigido por um partido da pequena burguesia, candidato a refém de alguma ala do capital internacional. Um partido da pequena burguesia só dirige um governo em situações excepcionais. No caso, o Syriza foi projetado para cima, para conduzir o debilitado Estado capitalista grego, após o profundo desgaste de todos os outros partidos do regime que impuseram sobre a população as orientações draconianas da Troika, e, durante uma disputa interburguesa internacional. Por causa de todas suas debilidades orgânicas, seus vínculos de classes e ao governar um país extremamente debilitado, o governo encabeçado pelo Syriza tentará ganhar tempo explorando as diferenças entre a UE e a Rússia e barganhando, hora com um, hora com outro, mas logo será refém de um dos dois blocos capitalistas internacionais, do imperialismo ou da Eurásia. Uma prova do que estamos falando está no recuo que o novo governo fez, 24 horas depois de ter anunciado que iria suspender a privatização do porto de Pireu, que já se encontra em avançado processo de privatização pela China, e que protestou depois do primeiro anúncio do governo de Syriza. A China exigiu do Syriza a manutenção do processo de privatização porque quer fazer do Pireu a principal porta de entrada de suas mercadorias na Europa. [ 3 ]
Diferente do populismo burguês clássico (Peron, Vargas, Cárdenas), e das variantes do novo populismo burguês (Chavez, Corrêa), estaríamos diante de um novo tipo de populismo pequeno burguês. Algo também diferente das direções pequeno burguesas que não chegaram a romper com a burguesia como o MNR na Bolívia de 1952 ou o sandinismo na Nicarágua em 1979. O Syriza nada tem a ver com o kerenkismo, que é típico de governos frente populistas. As atuais direções pequeno burguesas da etapa pós-soviética não sofrem fortes pressões da população trabalhadora para romper com a burguesia. Todavia, a nova multipolaridade capitalista permite que estes partidos cheguem a direção do próprio Estado capitalista e, no caso, barganhem com o imperialismo a restauração da economia grega para seus traços dependentes anteriores, superando a baixa econômica imposta pela semicolonização do período, caracterizado pela privatização dos setores de energia, aviação [ 4 ] e portos em favor do capital financeiro imperialista, além do o cancelamento de leis impostas pela troika em troca do resgate financeiro ao país, como a demissão de funcionários públicos.
O objetivo do Syriza é ganhar tempo para cumprir os ditames do imperialismo de forma mais gradual e ‘sustentável’ a manutenção da estabilidade política do capitalismo grego. Para não frustrar por completo seus eleitores logo nos primeiros dias de governo, o Syriza fez muitas promessas, como o fim dos centros de detenções dos imigrantes, o aumento do salário mínimo de 500 para 750 euros, retorno do 13º salário e do bônus de natal para os que recebem até 700 euros por mês, o fornecimento gratuito de eletricidade para 300 mil famílias, uma reforma fiscal, a revisão das privatizações, a renegociação da dívida grega, a readmissão dos funcionários estatais que foram demitidos. Todos esses anúncios foram possíveis pela política de chantagem, leilão político e zig-zags, como encenar aproximação com o bloco Eurásico para assustar o imperialismo e, em seguida, obter um certo crédito temporal da Troika, em troca do apoio grego as novas sanções contra a Rússia.
Com diferentes orientações e a partir de condições nacionais também distintas, os partidos pequeno burgueses aproveitam-se do desgaste das antigas direções da população trabalhadora ultra-corrompidas e desmoralizadas, e das fendas abertas no sistema mundial de dominação imperialista para ampliar seu espaço político no governo dos Estados capitalistas. O “Podemos” também tende a aliar-se ao bloco Eurásico, ou pelo menos flertar com ele, para negociar em melhores condições com EUA e UE [ 5 ]. As diferencias de SIRYZA com Podemos, se definem a partir do fato de que Espanha sim é um Estado imperialista, ainda que decadente e de segunda ordem e intermediário.
Tudo o que representa a antítese da organização da classe trabalhadora, do euro comunismo até o semi-anarquismo do movimento “Ocupy” recheia estas linhas confusas. Não poderíamos encontrar uma declaração mais anti-leninista e contrária a organização da classe operária do que a rejeição do papel da direção revolucionária contida na frase: " comunicar uma mensagem populista nas mídias sociais e o uso de formas não hierárquicas e descentralizadas de organização". E, é claro, a genuflexão de Gramsci, o queridinho dos eurocomunistas, é sempre obrigatória para aqueles que procuram atenuar o impulso da política de classe.
A partir do caráter de classe do Syriza, fazemos a caracterização de que o governo encabeçado pelo Syriza é um frágil governo burguês populista, apoiado em uma frente de partidos pequeno burguês e burguês. Não caracterizamos o atual governo grego como um governo de frente popular. E não alimentamos qualquer ilusão nos governos de frente popular, que historicamente, conduziram o proletariado para derrotas sangrentas (Espanha, Indonésia, Chile,..). Essencialmente, a posição trotskista é a defesa da Frente Única Operária (FUO), de organizações da classe trabalhadora, nos países imperialistas e das Frentes Únicas Anti-imperialista (FUA) nos países semi-coloniais. Nossa condição é a de que os elementos da pequena burguesia que dirigem o movimento de luta nacional ou a burguesia nacionalista que compõem a FUA, realizem uma luta real contra o imperialismo (uma guerra ou uma luta política aberta) para que a frente possa existir. Claro que a FUO ou a FUA podem ser acordos escritos, se a organização revolucionária possui um tamanho suficiente; medida que pequenos grupos revolucionários não estão em uma posição para o conseguir. A questão essencial aqui é a orientação política, como vamos lutar como nossos inimigos políticos estratégicos e com quem podemos nos aliar temporariamente, embora sem dar qualquer apoio político a estes aliados temporários, para e manter a nossa própria independência de classe, enquanto nós enfrentamos o inimigo principal.
SEMI-COLÔNIA OU PAÍS IMPERIALISTA?
O capital financeiro grego no sistema bancário
de países balcânicos até julho de 2011
Outro problema teórico para os marxistas, tal como aconteceu em relação a Ucrânia e a Rússia, é a caracterização da relação financeira entre a Grécia e o restante do mundo capitalista: uma semi-colônia ou um país imperialista? O Comitê Internacional Trotskista (ITC) definiu-a como um "Estado de desenvolvimento capitalista intermediário" em seus princípios fundacionais:
"Embora a esmagadora maioria dos Estados capitalistas são ou imperialista ou Estados dominados e oprimidos pelo imperialismo, como colônias ou semicolônias, existem poucos Estados capitalistas com um nível intermediário de desenvolvimento (por exemplo, Portugal ou Finlândia). Esses Estados não têm alcançado esse nível de desenvolvimento social, que dá origem a grandes monopólios e ao capital financeiro em uma escala supranacional, ou, se, em algum momento eles chegaram a alcançar o início de tal desenvolvimento, agora estão em declínio na presente situação. No entanto, também não podem ser considerados como colônias ou semicolônias. De um modo geral, estes países são elos da cadeia imperialista.”
Economia grega: despenca o PIB e sobem o desemprego,
o deficit orçamentário e a dívida pública sobre o PIB
"Em geral, nestes Estados, o proletariado não representa a maioria da população ativa, sendo uma minoria em comparação com o campesinato e a pequena burguesia urbana. Sendo assim, é importante estabelecer uma política de aliança entre o proletariado, os camponeses pobres e as camadas mais pobres da pequena burguesia urbana.”
"O reconhecimento da existência desse punhado de nações que não são nem imperialista nem coloniais não deve ser confundido com as teorias revisionistas do "subimperialismo", que visam equacionar a mais desenvolvida das semicolônias (tais como Argentina, Brasil, México, ou o Irã) com as nações imperialistas, ou, de qualquer forma, com as nações imperialistas menos desenvolvidas ou particularmente em crise, na verdade, negando ou pelo menos diluindo a divisão fundamental do mundo capitalista em países imperialistas e oprimidos."
Tony Gard, da Liga Revolucionária Internacionalista (RIL, em inglês) britânica, comentou, em resposta a uma consulta de Gerry Downing do Socialist Fight:

"Eu acho que alguns detalhes precisam ser verificados: 1) Gostaria de perguntar porque a Finlândia foi apresentada como exemplo; 2) a palavra “poucos” é inadequada. Eu diria que os Estados da Europa Central, os Balcãs, os ex-Estados Operários deformados, pode ser caracterizado dessa forma. Nas discussões internas no ITC, nos anos 80, eu sei que nós consideramos a Irlanda como um exemplo. Eu acho que ele ainda descreve Portugal e na Grécia muito bem. É claro que a definição tem um caráter transitório. Lenin considerava Portugal como uma espécie de semicolônia do imperialismo britânico, apesar de [na época] ter um império colonial considerável, e a burguesia grega, especialmente seus bancos, tem (ou talvez agora melhor será dizer 'tiveram') um relacionamento de certo modo 'imperialista' com outros países dos Balcãs".
Sem tetos, a Grécia entre os países mais miseráveis ​do mundo, com base
na taxa de desemprego e os altos preços dos produtos (Business Insider).
De modo que, nem a Rússia é um "elo da cadeia imperialista", nem tão pouco poderosa suficiente agora para ficar sozinha e competir nos mercados financeiros mundiais contra a dominação dos EUA e seus aliados da Otan, do capital financeiro, por exemplo. Esse entendimento tem sérias implicações na forma como encaramos o conflito entre a Grécia com a Troika e, em particular, contra a Alemanha. Contra a Troika estamos incondicionalmente ao lado do Syriza e de Tsipras neste conflito. Simultaneamente não apoiamos a ala direita do nacionalismo anti-imigrante e do nacionalismo sectário do stalinista PC grego (KKE) e de seu socialismo em um só país. Em outras palavras, a burguesia e a pequena burguesia gregas devem ser consideradas como classes semi-opressoras e semi-oprimidas neste conflito e, portanto, é necessário constituir uma forma particular, pontual de frente única anti-imperialista na Grécia.
Mesmo que o capital financeiro grego possa ter assumido um papel expressivo nas últimas décadas na região balcânica, particularmente para a Macedônia, de nenhum modo a Grécia hoje, sobretudo nos últimos cinco anos, pode ser vista como um país imperialista, como várias organizações políticas de esquerda erroneamente caracterizam. A Grécia não pode ser qualificada hoje como país imperialista pequeno, como a Suíça ou Holanda. A dinâmica da economia grega e suas relações com a Troika, provocaram um profundo retrocesso no país. Sobre-endividada, a Grécia foi obrigada a entregar para a privatização setores estatais estratégicos, como 14 aeroportos regionais e o de Atenas, o Porto de Pireu. Depois de submetida a ditadura da Troika, a Grécia perdeu seus traços de relativa autonomia econômica em relação ao imperialismo, comprometendo suas funções na exportação de capitais para os países da região. A Grécia retrocedeu economicamente da condição de país dependente (como Portugal e Argentina em 1916), em direção a condição de quase um país semi-colonial. O desemprego vitimou 26% da população, e 50% da juventude. A política sectária do KKE, que caracteriza a Grécia como país imperialista, é completamente desastrosa, porque desperdiça o valor progressivo, que podem adquirir, as reivindicações de libertação nacional nas mãos do proletariado. Deste modo, o KKE empurra toda a resistência anti-troika para os braços da demagogia nacionalista fascista, do Aurora Dourada, que capitaliza o descontentamento popular pela ruptura com a UE. Este é um ponto muito importante, pois toda luta contra os cortes imperialistas impostos a Grécia é uma luta pela soberania nacional da Grécia, que foi esmagada a partir de 2010. A única maneira para que o esgotamento e da frustração popular com o governo de Tsipras não termine sendo capitalizada pela extrema direita (a terceira principal força destas eleições) é a consolidação de uma esquerda revolucionária na Grécia.
O PARTIDO COMUNISTA
Tsipras é um produto político da ala eurocomunista do Partido Comunista Grego, o KKE Interior, que adotou o nacionalismo grego, em oposição às ordens liquidacionistas do Kremlin em 1968. O KKE Interior é o progenitor do atual Syriza por uma complicada série de cisões e fusões.
No passado se votou no Pasok, o partido operário burguês tradicional, como hoje se vota no Syriza. Mas, os governos do Pasok e suas coalizões impuseram a política da Troika, de arrocho sobre a classe trabalhadora grega, que desertou em massa do Pasok, e cada vez mais se estreita o espaço para enganar as massas com estes joguetes do capitalismo e do imperialismo da UE.
Entendemos porque muitos camaradas advogaram hoje pelo voto crítico no Syriza, mesmo ele não sendo um partido operário burguês. Não obstante, o Estado grego mescla um desenvolvimento intermediário, com características tanto de país imperialista, com suas grandes empresas de transporte e investimentos de capitais em países com Macedônia, Bulgária, Sérvia, Romênia, etc., mas também possui características de uma semicolônia. E uma grande parcela de seus capitalistas estão sob ataque dos capitalistas maiores, de forma que o voto crítico no Syriza poderia ser visto como uma espécie de Frente Única Antiimperialista. Mesmo que rechacemos esta política, compreendemos aqueles que se reivindicam marxistas e compreendem a situação desta maneira.
Isso é o fundamental da questão e por isso decidimos não chamar a votar pelo Syriza. Mas entendemos aqueles que sentem que seu voto é uma expressão de solidariedade com a luta de uma nação semi-oprimida. Como no passado, marxistas argumentaram a favor de um voto para o irlandês Sinn Fein quando ainda ele estava lutando contra imperialismo britânico e pelo CNA, nas primeiras eleições que ele disputou em 1994.
O mesmo tipo de argumento poderia ser utilizado sobre o referendum escocês pela independência. O Socialist Fight deliberou por defender o voto “Não”, e a LC e a TMB, todos camaradas do CLQI, decidiram pelo voto “Sim”. Poderia se argumentar que una vez que se rompesse o vínculo com Londres, a Escócia seria uma nação de desenvolvimento capitalista intermediário, como a Grécia, Portugal, Irlanda, alguns antigos Estados operários deformados do Leste Europeu, Rússia e China. Escócia poderia converter-se em uma nação intermedia, como una nação independente, com traços imperialistas e semi-coloniais. Estamos vivendo em uma época de transição e Escócia poderia aprofundar seus laços com a Eurásia ou com os EE.UU..
Fundamentalmente o vínculo da Grécia com a cadeia imperialista está agora sob uma forte pressão e pode romper-se. Todavia, Syriza tem realizado um zig-zag previsível. Inicialmente flertou com a Rússia, mas, aprovaram as novas sanções europeias anti-russas. Logo de cara, o governo Syriza anunciou o cancelamento do programa de privatização do Porto de Pireu, mas pressionada pela China, voltou atrás para dar prosseguimento a venda de 67% para a chinesa Cosco.
Nós não defendemos o voto no Syriza, porque ele não é um partido operário burguês, mas uma coalizão entre setores burgueses, reformistas pequenos burgueses e grupos centristas. Como o Socialist Fight afirmou no seu Editorial da revista número 9 (Verão de 2012):
"O Synaspismos (SYN) (tendência de Alexis Tsipras ), é o maior grupo de esquerda na aliança eleitoral chamado Syriza, eclético ideologicamente. Por sua vez o SYN é uma aliança eleitoral de vários stalinistas, ecologistas, burgueses e socialdemocratas radicais. Para fundar o Syriza, o processo de diluição ideológica do SYN foi ainda mais amplo, para incluir elementos ainda mais burgueses. É uma aliança do tipo Frente Popular; com uma propaganda anti-UE e anti-Euro, com camuflagens de fortes sentimentos nacionalistas gregos, tanto utilizados pelo Syriza, quanto pelo KKE. O contraste entre Syriza e um Partido de tipo Bolchevique como o de Lenin não poderia ser maior."
Este novo governo é burguês e pró-imperialista. Se o Syriza não tem como base a classe trabalhadora organizada, dos sindicatos e seus filiados, ele não se sente pressionado nem responsável perante ninguém, exceto perante a burguesia, a grega em primeiro lugar, e a burguesia europeia. Um partido operário burguês não formar um governo operário burguês quando é eleito. Todos os governos trabalhistas britânicos, por exemplo, foram governos capitalista-imperialistas. O partido operário burguês é o partido da burguesa no movimento operário e sua direção sempre deu e dará apoio ao sistema capitalista.
Até para os mais politicamente ingênuos, deve já estar claro que o Syriza veio para atenuar as contradições entre os interesses da burguesia grega e da UE e preparar o cumprimento mais eficaz dos planos da Troika. Tsipras tinha indicado abertamente e com antecedência que iria formar uma coalizão burguesa com um partido capitalista. No caso, Tsipras formou uma coalizão com os gregos Independentes (ANEL), um partido de extrema direita liderado por Panos Kammenos. Esta coalizão populista burguesa destina-se a formar a base para a defesa do capitalismo grego em detrimento da classe trabalhadora e dos pobres. A nomeação de Kammenos como Ministro da Defesa indica a vontade de Tsipras para esmagar com extrema violência qualquer levante pela classe trabalhadora eles ameaçaram o sistema capitalista.
A DIREÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES DA CLASSE TRABALHADORA
E nós insistimos que a questão vital aqui está na direção das organizações da classe trabalhadora grega, nos sindicatos, partidos operários burgueses, grupos centristas, reformistas social-democratas, stalinistas / maoístas ou de origem trotskista que disputam a direção política do proletariado.
Por esta razão, pedimos um voto para o EEK e o OKDE, eles têm as mais claras linhas políticas de luta de classe pedindo e reivindicam a derrubada do capitalismo com uma perspectiva internacionalista. Como o EEK afirmou em 2012:
"Revolução contra o socialismo num só país, frente única dos trabalhadores contra frente popular de colaboração de classes, a luta contra o fascismo, o declínio da democracia burguesa e da ditadura do proletariado, a necessidade de uma Internacional revolucionária, a questão do Estado, os perigos da burocracia etc. – são questões candentes que se encontram atuais e urgentes agora na Grécia e que são discutidas entre os setores mais combativos". [ 6 ]
O KKE parece muito esquerdista para muita gente e denuncia o Syriza, prevendo a sua liquidação. Ele fala de "apoiar o capitalismo” e a volta de uma "vida frugal para o povo". Ele tem o apoio dos trabalhadores industriais mais militantes e é claramente um partido operário burguês. Defendemos o voto no KKE onde quer que o EEK ou o OKDE não apresentaram candidaturas.
No entanto, um breve olhar sobre a história do KKE nos mostra que sua direção é contrarrevolucionária, como nos mostram os períodos cruciais da história grega. Durante o pacto Hitler-Stalin, o partido entrou em uma confusão política total. Nikos Zachariadis, seu líder emitiu uma carta em 17 de Janeiro de 1941, no qual ele escreveu: "Metaxas (ditador grego) continua a ser o principal inimigo do povo e do país, sua derrubada é do interesse mais imediato e mais vital do nosso povo... os povos e os soldados da Grécia e da Itália não são inimigos, mas irmãos, e sua solidariedade vai parar a guerra travada pelos exploradores capitalistas." Os soldados da Itália eram, obviamente, o exército fascista de Mussolini.
Em Atenas, no dia 03 de dezembro de 1944 a polícia grega e o exército britânico abriram fogo contra uma manifestação de mais de 100.000 pessoas. Isso começou a batalha de 37 dias de Atenas, quando Stalin se recusou a apoiar os comunistas, porque ele tinha acordado com Churchill e Roosevelt não fazê-lo. Tal como na Espanha, nas jornadas de maio de 1937, os stalinistas locais ficaram muito temerosos que a intensidade da luta tornasse a situação política muito revolucionária. Então, se viram obrigados a combater os setores mais avançados da própria luta, assim, trataram de assassinar cerca de "800 trotskistas", durante e depois da Guerra Civil, como reconheceu um de seus dirigentes. Os trotskistas reivindicaram somente 200 de seus partidários assassinados, o outro 600 se dividiram entre alguns anarquistas, mas a maioria eram membros do próprio KKE que lutaram pela revolução, embora ainda dominado por uma ideologia contrarrevolucionária. O KKE aceita então um acordo de cessar-fogo chamado Tratado de Varkiza. Na realidade, uma rendição. Eles desarmaram e liquidaram suas organizações. As forças policiais e fascistas, em seguida, atacaram e mataram muitos dos membros ordinários KKE. Quando eles foram forçados a lutar na Guerra Civil (1946-1949) Stalin não deu nenhum apoio para os comunistas, mas eles foram apoiados por partidos anti-Stalinistas da Macedónia, Bulgária, Iugoslávia e Albânia. Mas todos eles mantiveram a linha contrarrevolucionária do ‘socialismo em um só país’ que tentou manobrar entre as potências capitalistas rivais para 'coexistência pacífica" com o imperialismo.
Denunciar o Syriza por participar de um governo capitalista é pura hipocrisia pelo KKE. Em três ocasiões o KKE foi parceiro de menor importância de governos de ‘salvação nacional’ do capitalismo. Na verdade, eles eram membros da Synaspismos por um período, de forma que na crítica ao KKE não se apoia em qualquer princípio, mas apenas oportunismo. Como no confirma o verbete da Wikipedia:
"Em 1944, KKE participou do governo de unidade nacional de George Papandreou, ocupando os cargos de Ministro das Finanças, Ministro da Agricultura, de Ministro do Trabalho, Ministro da Economia e de Obras Públicas, e Vice-Ministro das Finanças... Nas eleições de junho 1989 Synaspismos (que incluía o KKE) ganhou 13,1 por cento dos votos e se juntou a uma coligação com a Nova Democracia para formar um governo de curta duração no meio de um espectro político abalado por denúncias de escândalos econômicos contra a administração anterior do Movimento Socialista Pan-helênico de Andreas Papandreou. Em novembro do mesmo ano Synaspismos participou do "Governo Universal" com a Nova Democracia e do Movimento Socialista Pan-helénico que nomeou Xenofonte Zolotas como primeiro-ministro por três meses". [ 7 ]
Na crise atual do KKE têm se destacado pela conduta extremamente sectária, contra forças políticas à sua esquerda, tratando-as como piores inimigos do que as forças de direita. Eles se recusaram a participar de quaisquer manifestações convocadas por outros grupos e sempre marcharam separadamente, utilizando diferentes rotas de modo a não dar qualquer apoio político mesmo nas maiores mobilizações de massas. No entanto, neste hábito sectário eles pareceram abrir uma exceção: Em 20 de outubro de 2011, o parlamento grego deveria aprovar um enorme orçamento de austeridade e todos os sindicatos, incluindo o PAME, controlado pelo KKE, marcharam sobre a Praça Syntagma, onde se encontra o parlamento grego. Então finalmente o KKE promoveu uma política de unidade? Infelizmente não, porque o KKE estava planejando o último ato de sua traição classe política. Wiki:
"Sem a votação, o governo Papandreou não teria recebido a próxima parcela do pacote de resgate da UE / FMI e teria ido à falência no próximo mês. Antes da votação, na greve geral de 48 horas (19 e 20/10/2011) levou o país a uma paralisação completa, enquanto a maior manifestação desde a queda da junta militar levou centenas de milhares de pessoas para a Praça Syntagma e ruas circundantes. Pela primeira vez, o Partido Comunista e os sindicatos, KKE e PAME, juntaram-se aos protestos, bloqueando o Parlamento para que os deputados não fossem capazes de entrar no momento da votação. Carregando bastões bandeira vermelha e usando capacetes, os sindicalistas formaram uma corrente humana em torno do Parlamento. No processo, no entanto, eles acabaram defendendo o Estado da multidão enfurecida fora. Ao invés de voltar a sua raiva para os políticos, que os protegia. A polícia de choque do Estado ficou, portanto, feliz em sentar e deixar os dois lados lutam entre si. Dezenas de pessoas ficaram feridas nos confrontos." [ 8 ]
Um anarquista protestou, indignada:
"Eu também estou interessada na unidade da esquerda e atualmente estou comprometida neste esforço, as diferenças entre as esquerdas libertárias e autoritárias apontam para o coração do que a revolução proletária realmente é, seu ponto central. Seja qual for potencial desta revolução, esta cooperação é quebrada quando os autoritários cercam o legislativo de um governo burguês para defendê-lo de revolução democrática. Concordar com isto seria renunciar a todos os princípios anarquistas. Eu não tenho nenhuma ideia do que os stalinistas 
estão pensando (supondo que eles não são agentes do imperialismo), mas seja o que for, eles não tem qualquer relação com a revolução social, como os anarquistas (ou mesmo com Karl Marx). Unidade implica uma certa medida de propósito comum, ao proteger a grega (e europeia) plutocracia, os comunistas têm demonstrado que os seus objetivos são incompatíveis com o nosso." [ 9 ]
A política oportunista, na defesa do parlamento contra os manifestantes, e sectária, na caracterização da Grécia como nação imperialista, do KKE, joga água o moinho do anarquismo pela esquerda, e do Aurora Dourada, pela direita.
CONCLUSÃO
A luta de classes na Grécia ainda encontrará suas batalhas cruciais. Nenhuma derrota ou vitória foi alcançado pelas forças da classe capitalista e do imperialismo Europeu contra a classe trabalhadora organizada na Grécia ou de toda a Europa. As grandes greves e mobilizações em massa de 2010 - 2012 entraram em refluxo momentâneo e agora o foco se volta para a eleição do SYRIZA, porque as massas procuram uma expressão política para suas lutas contra a terrível austeridade que tem sido imposta sobre a Grécia. É claro que há uma relação dialética entre a luta de classes e as eleições parlamentares, que são apenas um reflexo distorcido dessa luta. O perigo agora é que as massas vejam na eleição do Syriza um substituto para estas lutas. E tudo indica que agora a direção do Syriza está tentando explorar essas ilusões para manter a luta de classes confinada nos limites do que é aceitável para o próprio sistema capitalista.

Enquanto se solidariza com as esperanças da população trabalhadora e incentiva cada mobilização, o CLQI adverte que essas ilusões são perigosamente mortais, porque o Estado e os fascistas irão se lançar contra as massas com uma selvageria impiedosa quando o Parlamento não conseguir mais manter o povo iludido e for desmascarado. Queremos que este Estado de ânimo alimente uma renovação das lutas de greve de massas de 2010-2012, mas em um nível político mais elevado que levará à superação revolucionária do capitalismo, como parte de uma ampla e global ofensiva revolucionária do proletariado na Europa.
Notas
[1] Paul Walsh, pimenta vermelha, A ascensão do "peer peer-to-populistas", http://www.redpepper.org.uk/the-rise-of-the-peer-to-peer-populists/ # comment-291507
[2] http://actualidad.rt.com/actualidad/166505-podemos-gana-espana-salir-otan-brics
[6] As eleições gregas de maio de 2012, por Michael Savas-Matsas, EEK Grécia, 08 de maio de 2012
[7] Partido Comunista da Grécia, http://en.wikipedia.org/wiki/Communist_Party_of_Greece
[8] Os anarquistas e comunistas colidir em Atenas - em fotos, por Jerome Roos, em 22 de outubro de 2011, http://roarmag.org/2011/10/anarchists-communists-strike-riots-violence-greece/
[9] Ibid. Comente sobre esta peça.
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sábado, 14 de fevereiro de 2015

Declaração da Frente e ressalvas do Comitê Paritário


Nós, do Comitê Paritário, nos somamos à frente única convocada pelo MTST. Abaixo reproduzimos a sua declaração e as nossas ressalvas

http://resistenciapolularrevolucionaria.blogspot.com.br/2015/02/declaracao-da-frente-e-ressalvas-do.html?m=1

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Gulag soviético: uma análise histórica fora do mito (Jones Makaveli)


Reproduzimos aqui o excelente artigo do companheiro Jones, do PCB, que desmonta os mitos anticomunistas sobre a repressão na URSS, e coloca o stalinismo dentro do seu contexto histórico. Não concordamos com todas as conclusões políticas dele.

http://makaveliteorizando.blogspot.com.br/2015/02/gulagsovietico-uma-analise-historica.html?m=1

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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

MILITANTE ANARQUISTA É PRIMEIRO CONDENADO DAS JORNADAS DE JUNHO EM PORTO ALEGRE


MILITANTE ANARQUISTA É PRIMEIRO CONDENADO DAS JORNADAS DE JUNHO EM PORTO ALEGRE


Disponibilizamos aqui matéria veiculada pelo blog Jornalismo B, juntamente com uma nota da FAG a respeito do ocorrido. Em nome do Comitê Paritário, nossa solidariedade de classe aos camaradas!

 

Foi divulgada neste início de 2015 a primeira condenação judicial de um militante envolvido nos protestos contra o aumento das passagens em Porto Alegre. Vicente Mertz, integrante da Federação Anarquista Gaúcha (FAG), foi condenado a um ano e meio de prisão por dano ao patrimônio público e crime ambiental, pena que pode ser revertida em serviços comunitários. Vicente é um dos sete processados após um inquérito aberto no final de junho de 2013. Após a divulgação do inquérito emreportagem do Jornalismo B, Vicente havia o classificado como “uma montagem policial clássica”.
 
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Foto: Alexandre Haubrich / Jornalismo B
Tratando do protesto ocorrido em junho de 2013, na Praça da Matriz, o inquérito – que viria a transformar-se em processo – caracteriza Vicente como “um dos indivíduos de contumaz atividade de agitação de massas e uma das pessoas que efetivamente fazia frente na manifestação, inclusive jogava pedras contra a guarnição da Brigada Militar”. Ao Jornalismo B, na época, Vicente também garantiu não ter jogado pedras contra o Palácio da Justiça, do que foi acusado: “não tenho nenhuma relação com pedra nenhuma jogada no Palácio da Justiça. Eu, assim como outros membros mais ativos do Bloco, estava concentrado na parte de cima da Praça da Matriz, junto ao caminhão de som, em frente ao Palácio Piratini. Desconheço qualquer pedra jogada no Palácio da Justiça, inclusive fiquei sabendo disso no inquérito”, disse então.
O militante da FAG ainda acusou o inquérito de ter conteúdo puramente político: “o conteúdo político do inquérito está claro. As provas que a acusação afirma ter contra mim e os outros indiciados são fotos portando megafones ou bandeiras. Durante as intimações, todas as perguntas que faziam tinham este conteúdo ideológico, como ‘Você crê na violência como uma forma legitima de mudar a sociedade’ e outras perguntas do tipo. Ou seja, está claro que não estão acusando fatos concretos, e sim ideias”.
Federação Anarquista Gaúcha divulga nota
A FAG divulgou nota a respeito da condenação de Vicente. Leia abaixo, na íntegra:
Não se intimidar, não desmobilizar! Toda nossa solidariedade ao companheiro Vicente!
Janeiro de 2015, às vésperas da retomada das lutas contra o aumento das passagens e em defesa de um transporte 100% púbico em Porto Alegre, recebemos a notícia da sentença dada ao companheiro Vicente, militante da FAG e lutador social do Bloco de Luta pelo Transporte Público de Porto Alegre. Vicente está sendo condenado a um ano e meio de prisão por dano ao patrimônio público e crime ambiental, “crimes” que teria cometido em Abril de 2013 durante uma manifestação do Bloco de Luta em frente a Prefeitura de Porto Alegre. Trata-se da primeira condenação em Porto Alegre e para nós uma clara tentativa de intimidar e colocar medo no conjunto de lutadores e organizações que estão rearticulando as lutas nesse início de 2015. Um expediente político e histórico utilizado pelos setores dominantes de nossa cidade e de todo o mundo: o encarceramento dos que se levantam. Não nos desmobilizaremos e a nossa solidariedade será militante e nas ruas!!!
E a criminalização continua…
O fato de a condenação nos ter sido comunicada apenas uma semana antes do primeiro protesto do ano do Bloco de Lutas pelo Transporte Público é tudo menos uma obra do acaso ou de um processo regular do poder judiciário. Inicia-se o ano e ao mesmo tempo se começa a mexer nos processos que estavam tramitando desde 2013: adicionando nomes à alguns, novos crimes à outros. O processo neste contexto busca ter o mesmo efeito de uma bala de borracha ou de uma bomba de efeito moral: uma tentativa de intimidar e freiar as lutas nas ruas que ousam questionar os lucros dos empresários e os conchavos já evidente das empresas com os poderes públicos.
A situação está longe de ser apenas uma situação local: quem achou que a conjuntura de criminalização havia se esgotado em virtude do descenso das mobilizações de rua após a Copa do Mundo em 2014, a recente movimentação dos governos e dos aparelhos repressivos indicam o contrário. Em São Paulo, Rio de Janeiro e uma série de outras cidades no Brasil que iniciaram o ano com mobilizações contra o aumento das tarifas de ônibus a repressão tem usado dos mesmos expedientes contra os manifestantes: gás lacrimogênio, bala de borracha e detenções arbitrárias. O carioca Rafael Braga Vieira, que era até então o único condenado dos protestos de junho de 2013 continua preso e em Porto Alegre os processos voltam a ser movidos, novos nomes são inseridos e agora a primeira sentença é dada, sem prova alguma. É a velha justiça burguesa tomando lado em uma luta entre opressores e oprimidos que está longe de acabar.
Contudo, a luta e organização dos de baixo não começou hoje e também continuará. Mobilizam-se os jovens, os trabalhadores, os sem tetos e as comunidades de periferia. As mobilizações de rua de 2013 abriram novas possibilidades na gestação de experiências organizativas e de luta que o conjunto da esquerda combativa e anti capitalista precisa ajudar a fomentar e impulsionar, descartando as velhas práticas vanguardistas, sectárias e impositivas que infelizmente ainda permeiam discursos e práticas de muitas organizações. Acreditamos que só assim podemos criar força social que desde baixo vá gestando mecanismos de auto-organização e cravando em seu horizonte a necessidade de transformação social do conjunto da sociedade. Uma verdadeira frente de oprimidas e oprimidos solidária a todo e qualquer companheiro preso, torturado, assassinado e desaparecido.
2015: avançar em organização, cercar ainda mais de solidariedade @s que lutam!
A seletividade do sistema penal também se torna evidente neste caso. Ao longo desse processo que começa com mais de uma dezena de acusados pelos danos realizados em uma manifestação com mais de mil pessoas, vimos arquivarem um a um todos os suspeitos, responsabilizarem o único rapaz negro de ideologia anarquista que estava entre os acusados e agora incluírem outro militante negro do Pstu. Sabemos que o motivo central dessa condenação é de ordem político-ideológica mas não podemos omitir o fato de que a cor negra dos acusados tem um peso importante.
Os últimos processos tiveram como destaque a criminalização contra os coletivos e movimentos anarquistas. Em 2013, tivemos os nossos espaços públicos invadidos e nossos livros recolhidos, passando por pesados processos de inquéritos onde o que era avaliado era nossa posição em relação a temas como autoridade, governo, forças policiais e outros assuntos caros à ideologia anarquista. Panfletos, cartazes e literatura foram anexadas nos processos, como se fossem provas circunstanciais que mostrassem algum papel de mentor intelectual da nossa ideologia nas depredações ou saques realizados nas manifestações de 2013, que contavam com mais de 50 mil pessoas em Porto Alegre.
O companheiro Vicente, assim como os demais militantes e lutadores de outras organizações, coletivos e ideologias, não foi o primeiro e não será o último jovem negro e anarquista a ser condenado nesse Brasil racista. São milhares de homens e mulheres negros/as e pobres exterminados e condenados diariamente pelas polícias militares e pela justiça burguesa e racista. É a elas e eles que nossa solidariedade militante é direcionada e será junto de cada trabalhador/a que cerraremos nossos punhos. Não nos intimidaremos e em cada marcha de rua, piquete, greve, ocupação estaremos ombro a ombro com todos e todas que lutam!
Solidariedade à todos e todas companheiros e companheiras perseguidos por lutar!
Pelo fim da polícia militar!
Nossa ideologia anarquista não se presta a caricaturas!!!
Federação Anarquista Gaúcha – FAG
 
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