Unir os trabalhadores nas ruas contra
o Golpe de Estado do Congresso
Nacional [ 1 ]
COMITÊ
PARITÁRIO (Coletivo Lênin - Resistência Popular Revolucionária - LC/CLQI)
Desde a
manifestação da esquerda “contra a direita e por direitos”, convocada pelo MTST
e ocorrida na Avenida Paulista em novembro de 2014 [ 2 ], até fevereiro, a
oposição de direita, recuou nas ruas e avançou no campo institucional. Avançou
dentro da nomeação do ministério de um governo acuado, avançou na política
econômica, na taxa de juros, na reforma trabalhista, nas demissões, tendo seus
apetites contidos apenas pela histórica greve por tempo indeterminado dos
metalúrgicos da Volkswagen.
Mas a direita
segue acumulando forças, coordenando-as e cercando uma Dilma cada vez mais
isolada. A direita hegemoniza a grande mídia, o judiciário, avança nas duas
casas do Legislativo, sobretudo na Câmara, e a Polícia Federal. Todos estes
órgãos são cada vez mais influenciados e coordenados pela direita para acelerar
o desgaste político do governo encabeçado pelo PT.
O instrumento
principal do ataque é a famigerada “Operação Lava Jato”, que no plano econômico
desvaloriza a Petrobrás e no plano político justifica a escalada golpista em
nome do combate a liquidação da Petrobrás. A maior e mais importante estatal do
país [ 3 ] é reduzida a uma galinha morta, prestes a ser retalhada e
privatizada ao menor custo financeiro possível.
A escalada,
articulada por etapas manipuladas por agentes diretos do imperialismo,
consistiu em fazer escândalo de uma prática comum e tolerada em todos os
governos burgueses (cujo tamanho na Petrobrás é tão grande quanto o tamanho da
companhia). A partir daí, e em escala crescente e cinematográfica, prenderam
inicialmente os grandes empresários beneficiados com a corrupção estatal,
apertando-os e oferecendo-lhes o artifício fascitóide da delação premiada, para
que, como fiança denunciassem o PT como articulador principal do chamado
esquema do ‘petrolão’, que embora atinja partidos do governo e da oposição, é
focado e superdimensionado para derrotar o PT. Uma vez desgastado mais ainda e
desmoralizado o PT, com novos dirigentes presos ou com direitos políticos
cassados, o governo Dilma estará pronto para sofrer um processo de impeachment
posto em pauta acelerada pelo quadrilheiro e novo presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha.
Por sua vez, a
política anti-proletária de Dilma, de capitular a todas as pressões do grande
capital financeiro e da oposição de direita, corrói o próprio capital político
que a presidenta reuniu durante o segundo turno das eleições e que a permitiu
derrotar a direita naquele momento. Deste modo, Dilma se desmoraliza, se isola
das massas que se sentem enganadas e pavimenta o caminho da reação golpista.
APÓS VITÓRIA
DA DIREITA NA CÂMARA, UMA SALTO
NO RITMO DA
ESCALADA GOLPISTA E O CAÇADA AOS DIREITOS
POLÍTICOS DA
POPULAÇÃO TRABALHADORA
A
arqui-golpista revista “Veja” lança suas apostas e comemora a vitória de Eduardo
Cunha afirmando que o governo Dilma está com os dias contados:
“A segunda
feira começa com um clima de ressaca para a presidente Dilma. Um dia difícil
depois da dura derrota que o Partido dos Trabalhadores sofreu aqui na Câmara
dos Deputados. Eduardo Cunha, desafeto do PT que já impôs derrotas ao partido,
foi eleito presidente da Câmara, ele que é do PMDB. A eleição foi de lavada,
uma verdadeira surra em Arlindo Chinaglia, o candidato do governo. 267 votos. E
a agora, aqui nos bastidores, como parte desta base aliada, que não foi tão
aliada, mas composta pelo PMDB, o grande assunto são as novas CPIs que virão
por aí. A primeira delas é a CPI da corrupção para investigar, além dos
esquemas da Petrobrás, do ‘petrolão’, o que é investigado pela ‘Operação Lava
Jato’, outros esquemas de corrupção que acontecem aqui, dentro do governo. Um
dia difícil, um fevereiro que começa difícil para a presidente Rousseff, depois
talvez do pior janeiro da história de um presidente, com um janeiro de muitas
decisões desastrosas, de muitas decisões que desmentem o discurso da própria
presidente um fevereiro que começa amargo, com Eduardo Cunha na presidência da
Câmara dos Deputados. Vale lembrar que este cargo aqui é o que decide em
ultimas instancia sobre os pedidos de CPI ou sobre eventualmente um pedido de
impeachment. Eduardo Cunha já mandou recados de que não vai se dobrar para o
Planalto. Ele logo que foi eleito fez um discurso conciliador, disse que não
haverá perseguições, mas nos bastidores a relação entre PT e PMDB é das piores.
Veio um xeque-mate em cima do Partido dos Trabalhadores e do governo da
presidente Dilma. Aqui nos bastidores a oposição já comenta que estes serão os
últimos 300 dias do governo da petista. São favas contadas, segundo uma fonte
da oposição me disse, para que Dilma sofra um processo de impeachment e perca o
mandato.” [ 4 ].
Esta derrota
do PT foi um marco na escalada golpista que ganhou um ritmo mais acelerado rumo
ao impeachment e a cassação de direitos democráticos da população. Ato
contínuo, na mesma semana a direita, capitaneada por Cunha aprova na Câmara dos
Deputados a Proposta de Emenda Constitucional 352/13 que
“A PEC cria as
circunscrições eleitorais. Segundo o texto, o sistema de apuração dos votos
continua sendo proporcional (as legendas e candidatos com mais votos assumem as
vagas). Mas os candidatos deverão concorrer em pequenas regiões dentro dos
estados, definidas pelo Tribunal Superior Eleitoral. Pela proposta, seriam
criadas circunscrições em cada estado que elegeriam de quatro a sete cadeiras
cada uma. Uma adaptação tosca e distorcida do voto distrital... Ou seja, são
enormes a chances de deputados dos cantões serem beneficiados em relação aos
grandes centros metropolitanos, onde há mais gente e mais fiscalização.” [ 5 ].
Esta medida
favorece as tendências ao “voto qualificado” em detrimento do voto universal,
aprofundando o federalismo oligárquico nacional que comanda os partidos
burgueses no país, tradição burguesa autoritária antidemocrática denunciada
pelas candidaturas da LC nas eleições passadas [ 6 ].
Mas não “só
isso”, a “reforma política” iniciada pelo novo Parlamento mantém a farra do
financiamento privado
“Na questão
mais fundamental para a democracia, o financiamento de campanha, continua
pesando o poderio econômico e não se moveu uma palha em direção à
transparência. O texto propõe teto de despesa para a campanha eleitoral, mas
joga para definição posterior pelo Congresso Nacional. Pela proposta, cada
partido poderá optar pelo modo de financiamento, se privado, misto ou
exclusivamente público. Ou seja, a farra continua. Claro que a maioria dos
partidos vai escolher o sistema misto, pegando dinheiro público e dinheiro
privado.” [ 5 ].
Outra manobra
está no estabelecimento de eleições gerais anti-esquerda em 2018. Depois de
sangrar e destruir o PT durante o processo de impeachment e sobretudo no
período entre o golpe e as próximas eleições presidenciais:
“Outra
lambança é determinar a coincidência das eleições municipais com as eleições
estaduais e a federal a partir de 2018. Para que isso ocorra, a PEC estabelece
que os prefeitos e vereadores eleitos em 2016 terão mandato de apenas dois
anos, podendo se candidatar à reeleição em 2018. Hoje, como são solteiras, as
eleições municipais são mais fiscalizadas, acompanhadas e debatidas do que as
eleições estaduais...Unindo as datas, a campanha presidencial vai levar todas a
reboque, em termos políticos e, principalmente, financeiros. Um candidato a
presidente com apoio de muitos candidatos a prefeito terá mais chance que um
candidato de partido com pequena penetração. Ou seja, o PMDB deitará e rolará.
Imagine quanto não custará montar uma rede de candidatos a prefeito para apoiar
os candidatos ao governo do Estado e à Presidência?” [ 5 ].
Dizemos que as
próximas eleições presidenciais não serão somente anti-PT, com os principais
expoentes do PT, inclusive Lula provavelmente “adoecido”, preso ou com os
direitos políticos cassados pela extensão da teoria do domínio de fato até ele,
mas também foi aprovada a “cláusula de desempenho” de lambuja, onde o restante
dos partidos de esquerda, menores, serão postos na ilegalidade por não
alcançarem um novo percentual mínimo legal de votos para existirem. Esta
cláusula garante o oligopólio dos grandes partidos burgueses, obrigando os
atuais políticos burgueses de partidos de aluguel a ingressarem nos grandes
partidos patronais e o pior, a cassação dos pequenos partidos de esquerda como
PSOL, PCB, PCO e PSTU. “a cláusula de desempenho, que exige que os partidos
tenham pelo menos 5% do total de votos válidos no país, distribuídos em pelo
menos nove estados, com um mínimo de 3% dos votos válidos em cada um deles” [ 5
].
Fora do Legislativo
nacional, a semana ainda contou com a renúncia precoce da diretoria da
Petrobrás. O combinado entre a CEO da companhia, Graça Foster, os demais
diretores, e Dilma era realizar uma transição até o final de fevereiro.
PIOR SERÁ PARA
O PROLETARIADO
Todavia, se um
impeachment será desastroso para Dilma e para a cúpula aburguesada do PT, para
os partidos menores da esquerda e para os trabalhadores será muito pior. A
maioria das organizações e do ativismo de esquerda age como deslumbrados em
relação a este processo. Não poucos nos acusam desde o ano passado de estarmos
delirando ou fazendo o jogo do PT, quando alertamos para o golpismo e o ascenso
da direita, estando a maioria da militância atual tão abobalhada quanto o PCB,
por exemplo, às vésperas do Golpe de 1964. E a quase totalidade, mesmo
reconhecendo o risco crescente do golpe de Estado parlamentar, via impeachment,
encara-o como algo pertencente exclusivamente ao mundo da alta política, um
conflito distante, meramente palaciano e não vê os objetivos econômicos amplos
por trás desta ameaça.
Se instaurará
uma repressão política indiscriminadamente contra todos aqueles defensores do
proletariado e povos oprimidos para liquidar toda resistência a uma ofensiva de
superexploração de classe e direitos e assim, dar início a uma nova fase de
acumulação capitalista e de alta da taxa de lucros no país. As reformas
trabalhistas e sindicais, a terceirização, o fim do direito de greve,... que
para os patrões estão atrasadas, serão aceleradas sob um governo de direita.
Por trás disto
tudo está a estratégia dos EUA de recuperar grande parte da influência
comercial e política perdida pelo imperialismo em favor da China e da Rússia
sobre o Brasil e a maior parte da América Latina a partir a crise econômica de
2008.
Contra este
curso desastroso para nossa classe, nós trabalhadores organizados politicamente
no Comitê Paritário estamos neste momento intervindo para impulsionar uma
Frente única nacional das organizações de esquerda e dos trabalhadores por
reformas populares e contra a direita. Defendemos reformas no capital, como o
aumento salarial, por exemplo, mas não somos reformistas, acreditamos que as
reformas são subproduto da luta forte e decidida dos trabalhadores contra os
patões e seus governos.
Ao mesmo tempo
que buscamos construir uma frente única contra o golpismo, combatemos as
tendências a conversão deste frente em uma aliança para colaboração com a
política antioperária do governo Dilma ou com os governos estaduais e
municipais burgueses, como o PSDB de Alckmin ou a prefeitura petista de São
Paulo.
ENTIDADES DA
CSP-CONLUTAS SE ALIAM A DIREITA GOLPISTA
NA CONVOCAÇÃO
DE ATOS PELO IMPEACHMENT
Acreditamos
que neste momento o papel dos verdadeiros defensores da classe trabalhadora
nada tem a ver com a posição da Conlutas que reúne entidades sindicais como a
Oposição Rodoviária de Alagoas [ 7 ] e sindicalistas que criminosamente se
aliam a direita na convocatória da manifestação nacional pelo impeachment no
dia 15 de março.
Nem apoiar a
direita nem ficar indiferente a luta de classes como os agrupamentos e/ou
blogueiros que se limitam a serem meros comentaristas da luta de classes, que,
acomodadamente em seus sofás se mostram indiferentes ao resultado da disputa
interburguesa nacional e internacional e esperam pelo pior, pois a classe
trabalhadora será a mais atingida com a ascensão de um governo pior do que o de
Dilma.
A CLASSE
OPERÁRIA RESISTE COM O QUE TEM
A MÃO
Acreditamos
que a resistência dos trabalhadores a pressão dos mesmos sob as burocracias que
controlam suas organizações sindicais já surtiu efeitos positivos neste início
de ano como a vitória parcial contra as demissões na Volks e o recuo momentâneo
do governo Dilma no ataque ao seguro desemprego.
Intervimos
ativamente nos rumos da frente desde a reunião convocada no dia 19 de janeiro
com a CUT, MTS, UNE, PT, PCdoB, PSOL, etc., sem alimentar qualquer aliança
programática comum com estes partidos, nem com suas ilusões perigosas, com a da
reforma política por exemplo, que pode subtrair ainda mais direitos sob a
hegemonia deste novo Congresso ainda mais reacionário que o anterior, para não
deixa-la converter-se em um instrumento impotente na luta contra a direita e a
política dos governos burgueses.
É preciso
disputar as ruas e a orientação das atuais manifestações e lutas, como a do
passe livre, reconquistar os sindicatos para as lutas, seguir o exemplo das
greves metalúrgicas por tempo indeterminado e/ou de solidariedade no ABC
paulista, etc.
Notas
1. Optamos por utilizar a expressão mais popular “Golpe de
Estado do Congresso Nacional” que “Golpe Parlamentar”, embora compreendamos que
o sistema político brasileiro, já denominado por analistas políticos de
“presidencialismo de coalizão”, ainda que formalmente seja presidencialista,
funciona, na prática, como um misto de presidencialismo com parlamentarismo ou
um semi-presidencialismo que permite que o presidente sofra impedimento caso o
governo perca seu apoio parlamentar.
2. Manifestação da qual as organizações componentes do
Comitê Paritário participaram apresentando suas posições políticas no panfleto:
“Fazer do Brasil uma grande Cuba!” -
http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2014/11/marcha-popular-contra-direita.html
3. A Petrobrás é a maior estatal do país. Fatura quase o
triplo que a segunda maior estatal do país, a BR distribuidora, que por sua vez
é uma subsidiária da Petrobrás. A terceira maior estatal é a ECT (Correios) e a
4ª, a Sabesp, companhia de água e esgoto paulista.
4.
http://www.folhapolitica.org/2015/02/comecou-contagem-regressiva-para-o-fim.html
5 .
https://br.noticias.yahoo.com/blogs/plinio-fraga/como-esta-proposta-de-reforma-politica-e-cavalo-124317973.html
6. http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2014/09/eleicoes-2014.html
7. Entidades ligadas a Conlutas convocando manifestações
pelo impeachment: Estamos convocando não só a categoria, mas a sociedade como
um todo, para realizarmos uma manifestação exigindo o impeachment dessa gang do
PT. Venha mostrar a sua indignação com o caos instalado no país, com essa corja
de gangster's do PT. e independente de sigla partidária, participe. Não podemos
deixar que essa gang dilapide ainda mais o nosso país. chega de hipocrisia!
sejamos os caras-pintadas do presente, do hoje, do agora!... Dia 15 de março,
manifestação nacional com caras pintadas, para exigirmos o impeachment da
chefe-mor dessa gang do poder! Participe para demonstrar a sua indignação!”
https://www.facebook.com/profile.php?id=100008995062551
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