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Somos uma organização marxista revolucionária. Procuramos intervir nas lutas de classes com um programa anticapitalista, com o objetivo de criar o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, a seção brasileira de uma nova Internacional Revolucionária. Só com um partido revolucionário, composto em sua maioria por mulheres e negros, é possível lutar pelo governo direto dos trabalhadores, como forma de abrir caminho até o socialismo.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Notas sobre o imperialismo (jan/2015)


Contribuição individual do companheiro Rio


“1. A atual discussão começou sobre a caracterização da Grécia, mas logo evoluiu pra um debate sobre o imperialismo. Como essa é uma das duas grandes diferenças que eu tenho com o CLQI (a outra é sobre questão da mulher, e pode ser que haja diferenças sobre a questão negra), vou aproveitar aqui pra defender melhor a minha posição e criticar a do CLQI.

2. Antes, vou explicar a minha linha sobre a Grécia:

- a Grécia é um país imperialista de segunda linha (indústria naval e capital financeiro, que explora os Bálcãs e o Chipre), comparável a Portugal.
- A saída da UE seria uma solução nacionalista a serviço da burguesia.
- A eleição da Syriza não foi o resultado de uma situação pré-revolucionária. Portanto, a pressão principal não vai ser das massas querendo ultrapassar os limites do governo, e sim da Troika para derrotar o governo e mostrar que a austeridade é inevitável
- Por isso, o eixo da política deve ser a defesa da frente popular contra a Troika, sempre mantendo uma política de exigências e denúncias. Para aproximar e organizar a base da Syriza, se deve chamar a formar comitês de base, como Trotsky defendeu na frente popular francesa. Uma linha de ataque frontal ao governo só seria válida se ele passasse a implementar os planos de austeridade.
- é possível que a frente popular consiga algumas vitórias, o que será positivo, porque vai quebrar o mito de que é impossível vencer a austeridade
- a linha sectária do KKE, de escolher a Syriza como alvo principal, é comparável à do PSTU no Brasil, com o agravante de que a Syriza é reformista. Ou seja, é stalinismo do terceiro período.

3. Do ponto de vista da teoria, existem dois níveis. Um é o do capital social, ou seja, de todos os capitais. O outro é o nível da relação entre os diferentes capitais, ligados aos Estados. A Rosa analisou o primeiro nível, o Lênin o segundo. O problema é que o segundo nível depende do primeiro, ou seja, pra entender a relação entre os Estados, é preciso entender o estágio atual do capitalismo como um todo. O próprio imperialismo só existe por, a partir de determinada época, o desenvolvimento desigual do capitalismo (que sempre existiu) passou a englobar continentes inteiros.

Por que eu tô falando isso?

Porque existe uma visão no movimento que iguala dependência política e ser uma semicolônia. Um país pode ser dependente de um imperialismo mais forte, e ainda assim ser imperialista. Ou pode oprimir outra nação e ainda assim ser semicolonial. O imperialismo é o estágio superior do capitalismo, o que vai definir se um país é imperialista ou não é se ele chegou ao nível monopolista do capitalismo.

4. Até nos clássicos existe muita confusão sobre isso. Eu vou citar três exemplos:
- No Imperialismo, o Lênin diz que Portugal era um país dependente, apesar do grande império colonial africano.
- No mesmo livro, ele diz que a Argentina não é semicolonial (o Gerry deve lembrar que o Grant usou essa citação pra não defender a Argentina na Guerra das Malvinas)
- Trotsky considerava a Sérvia imperialista, porque ela dominava a Bósnia e a Croácia.

Os setores oportunistas usaram essas indefinições para defender a "independência nacional" de seus países imperialistas. Por exemplo, o PC canadense defendendo que a tarefa principal era lutar pela "soberania nacional" contra os EUA. Ou os lambertistas, que dizem que todos os problemas sociais da Europa serão resolvidos rompendo com a UE.

5. Bem, então já dá pra entender melhor a minha posição. Vou resumir aqui pra ficar mais claro (sem me aprofundar na relação entre os níveis etc., que não caberia aqui):

- O critério para definir se um país é imperialista é econômico, é o nível de desenvolvimento do capitalismo, ou seja, país avançado, que tem capital monopolista e financeiro próprio, é país imperialista.
- o Lênin já falava em outros graus intermediários entre colônia, semicolônia e país imperialista. No mundo de hoje, eu diria, que a cadeia imperialista é: EUA - imperialismo europeu (que tem interesses parcialmente contraditórios com as burguesias alemã, francesa e inglesa), imperialismos de segunda linha (por questões geográficas, os imperialismos russo e chinês são imperialismos de segunda linha que cumprem o papel de potências regionais), subimperialismos (Brasil, África do Sul, Índia etc., países dependentes mas associados ao imperialismo), países capitalistas dependentes (= industrializados), semicolônias e colônias.
O objetivo não é falar de TODOS os países, por exemplo eu não falei de casos bizarros como Mônaco, Vaticano, Groenlândia etc.
- Existe uma integração econômica muito maior que na época do Lênin. Isso é a base material da UE, e significa que as formas mais violentas de conflitos interimperialistas estão excluídas, como as guerras mundiais.

6. Depois disso, vou criticar a posição do CLQI, colocada principalmente no documento do German sobre o Núcleo Russo-Chinês

Eu considero a linha dos companheiros um erro estratégico desastroso, porque significa o alinhamento a longo prazo com países imperialistas de segunda linha contra os EUA e a UE.

Os companheiros devem saber das minhas divergências sobre a Ucrânia, onde eu defendo a dupla derrota (contra o governo de direita pró-UE com componentes fascistas, e as "repúblicas democráticas" fantoches da Rússia, também com componentes fascistas), justamente por essa diferença de análise.

7. A outra crítica que eu faço aos companheiros do CLQI é sobre a questão das resistências anti-imperialistas, que não está diretamente ligada a essa análise econômica. Eu sou contra o critério objetivista dos companheiros, que consideram que qualquer setor que se enfrente com os países imperialistas é anti-imperialista.

Como consequência da destruição contrarrevolucionária da URSS, houve um florescimento de setores que acreditam numa utopia pequeno-burguesa regressiva de "volta atrás no tempo" e rejeitam a sociedade capitalista em bloco. É o caso do fundamentalismo. Eu não considero que seja possível formar uma frente única anti-imperialista com eles, somente com setores nacionalistas de esquerda ou socialistas no sentido amplo da palavra.

Essa diferença apareceu no caso Charlie Hebdo, em que eu fui contra a posição do CLQI, porque entendo que o atentado representava a imposição de uma concepção medieval de punir a blasfêmia.


Um comentário:

  1. Minha nossa, não sei qual dos dois lados está mais errado. Tanto o "CLQI" quanto o autor deste documento tem concepções muito problemáticas. Quando possível, escrevo uma crítica mais elaborada.

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