Publicamos aqui, como parte da descomemoração dos 50 anos do golpe, o artigo do companheiro Denes, do Maranhão
No último dia 31 de março
completaram-se meio século do início de um dos períodos mais sombrios da
história do nosso país. Um período em que dirigentes sindicais, lideranças de
movimentos sociais, estudantes, intelectuais, políticos progressistas e pessoas
comuns foram presos, expulsos do país, torturados, mortos, ocultados seus
cadáveres, estuprados, "evaporados" na Casa da Morte de Petrópolis
(RJ), sendo que muitos estão desaparecidos. Um período em que as organizações
políticas de esquerda eram impedidas de funcionar e que qualquer manifestação
pública era reprimida com violência. Um período em que os meios de comunicação,
a literatura, a música e todo tipo de expressão artística e política foram controlados
e censurados onde grupos paramilitares, procedendo com espancamentos, eram
consentidos pela ditadura.
A ditadura não só foi militar.
Tinha apoio de diversos estratos da sociedade civil, de religiosos a
traficantes, passando pela ajuda externa do governo Kennedy dos Estados Unidos.
O caráter internacional do golpe verifica-se na cooperação com outros regimes
militares na hedionda Operação Condor.
E ESSA TAL MARCHA DA “FAMÍLIA”...
SE A DITADURA ERA PRÓ-FAMÍLIA, POR QUE DAVAM ELETROCHOQUE EM GRÁVIDAS ATÉ
ABORTAREM?
A ultra direita tentava usurpar o
poder desde o governo de Getúlio Vargas. Seguem-se tentativas golpistas em Novembro/1955,
Fevereiro de 1956, Outubro de 1959. E, em agosto de 1961, quando da renúncia de
Jânio Quadros, as Forças Armadas vetaram a posse do vice-presidente João
Goulart e iniciaram, juntamente com os conspiradores civis, a constituição de
um governo ilegítimo, só voltando atrás diante da resistência. Em 1964 foi
repetido dessa vez com êxito.
Era uma época em que os apoiadores
do regime tiveram favorecimentos e privilégios políticos e econômicos, a
exemplo do apoio explícito do órgão de inteligência estadunidense, a CIA. Foi
nessa época que sujeitos como José Sarney se elevaram. Inúmeros casos de corrupção
havia tanto quanto agora, mas a imprensa era impedida de noticiar o que
acontecia, por exemplo, nos projetos faraônicos como a Transamazônica, Itaipu, a
Caixa de Pecúlio dos Militares. Também ficaram célebres o caso Lutfalla
(envolvendo o ex-governador Paulo Maluf, aliás, ele próprio uma criação da
ditadura) e o escândalo da Mandioca. As viúvas santificam os generais e suas
frugalidades, mas o aparato repressivo criado para combater a guerrilha
propiciava a seus integrantes uma situação privilegiadíssima. Não só recebiam de
empresários direitistas vultosas recompensas por cada "subversivo"
preso ou morto, como se apossavam de tudo que encontravam de valor com os
resistentes. Acostumaram-se a um padrão de vida muito superior ao que sua
remuneração normal lhes proporcionaria. Sabemos que os generais receberam
“malas de dinheiro” por ocasião do golpe.
Em 1964 Castello Branco prometeu
eleições diretas em dois anos, mentiu, e tivemos que esperar por vinte anos
pelas eleições diretas. Em 1970 os militares, aproveitando o boom econômico e a
euforia da conquista do tricampeonato mundial de futebol, que lhes trouxeram o
apoio da classe média, partiram para o extermínio premeditado dos militantes,
que, mesmo quando capturados com vida, eram friamente executados. A ditadura
terminou melancolicamente em 1985, com a economia marcando passo e os cidadãos
cada vez mais avessos ao autoritarismo sufocante. A infração no período chegava
a 290%.
Recentemente, travou-se uma luta
do poder executivo federal para apurar os crimes da ditadura. Muito pano pra
manga. O resultado final foi muito distante do esperado, pois os verdugos, os
mandantes não foram responsabilizados, só alguns paus mandados receberam a
devida punição. Um dos peixes grandes o coronel Brilhante Ustra teve como
testemunhas de defesa o ex-presidente José Sarney e o senador Romeu Tuma.
Enquanto isso, na Argentina até general pega prisão perpétua. Na Europa,
historiador que nega a existência do Holocausto vai para a prisão. Para o juiz
espanhol Baltasar Garzón, responsável pela prisão de Pinochet, o Brasil tinha
obrigação de apurar as atrocidades cometidas pela ditadura de 1964/85, pois
crimes contra a humanidade não prescrevem nem podem ser objeto de uma anistia
autoconcedida pelos verdugos. Só quem ainda dorme de botinas, concebe o termo
“revolução” para se referir à ditadura a exemplo do presidenciável Aécio Neves.
Questionado depois por um jornal, deu uma aula sobre o uso criterioso de
conceitos: “Ditadura, revolução, como quiserem”.
A
ditadura acabou, mas ainda tem muito entulho autoritário por aí. Em um desgracioso comentário, a
'Dilma Prendo e Arrebento': “A Polícia Federal, a Força Nacional de Segurança,
a Polícia Rodoviária Federal, todos os órgãos do governo federal estão prontos
e orientados para agir dentro de suas competências [contra as manifestações de
protesto durante o Mundial da Fifa] e, se e quando for necessário, nós
mobilizaremos também as Forças Armadas”; como pode empregarem como ministro o
senhor Edson Lobão entusiástico do ditador Ernesto Geisel? Como pode até hoje a
prática de tortura e desaparecimento ser recorrente com dezoito “Amarildos”
sumindo em todo mês? E corredores do Congresso um desfile de filhotes da
ditadura - deputados e senadores que foram da velha Arena (Aliança Renovadora
Nacional, que apoiava o regime)? Friedrich Engels e Karl Marx mostram que por
mais democrático que seja um estado, este continua sendo uma ditadura cujas
principais características são a burocracia, a divisão dos súditos por
território e uma força militar, um exército permanente.
Não se pode equivaler a luta
armada contra o regime militar e as práticas hediondas cometidas pelos órgãos
de repressão política. Seria bom que ficasse bem claro seu Gilmar Mendes que,
desde a Grécia antiga, é reconhecido o direito que os cidadãos têm de
resistirem à tirania. Então, a ninguém ocorre qualificar de
"terroristas" os membros da Resistência Francesa que descarrilaram
trens, explodiram pontes e quartéis, justiçaram colaboracionistas, etc.,
atuando com violência incomparavelmente superior à dos resistentes brasileiros.
"Constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados,
civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático",
reza o inciso 44 do Artigo 5º da Constituição Federal. A ordem constitucional
foi quebrada no malfadado 1º de abril de 1964 e hibernou durante 21 anos. O que
vigorava era a desordem totalitária do AI-5, uma licença para os militares
perseguirem, trancafiarem, torturarem e assassinarem os opositores como bem
lhes aprouvesse. Os ditadores e seu ministro não estão nem aí com sua
consciência: “Sei que a V. Ex.ª repugna, como a mim e creio que a todos os
membros deste conselho, enveredar pelo caminho da ditadura. Mas às favas,
senhor presidente, todos os escrúpulos de consciência!”. É esta a imagem que
deixará para a História.
Hodiernamente, dois sujeitos -
Maycon Freitas, dublê da rede e Bruno Toscano anunciam o bis da Marcha da
Família com Deus e pela Liberdade. Contra o racista Bruno Toscano são movidos
vários processos por mentira e difamação nas redes sociais, estimula o
terrorismo político contra militantes de esquerda. Será outro fracasso rotundo
como foi o movimento “Cansei!”. O Incrível Exército de Brancaleone novamente em
marcha, para aumentar a quota de fiascos, dando mais uma demonstração de
anacronismo e irrelevância.
No Maranhão, graças ao empenho de
deputados, foi instada uma comissão da verdade. Enquanto o senhor Manoel da
Conceição era torturado, o senador Zé Sarney construía seu patrimônio. Enquanto
Maria Aragão gemia no cárcere, o senhor José Sarney lambia as botas dos
militares e cuidava do seu patrimônio. Manoel da Conceição lembrou a história
dele na Ditadura Militar. Corrigiu o dia do Golpe que, conforme o militante,
foi em 1° de abril, alterado pelos militares por ser conhecido como o dia da
mentira. Relatou parte de sua história e se emocionou ao lembrar uma das muitas
torturas sofrida por ele. “Vocês sabem o que é ser arrastado e passar três dias
pendurado pelo saco? Fizeram isso comigo para que eu entregasse meus companheiros.
Mas quando as pessoas procuram por a gente encontram fichas policiais”
denunciou. Relembrando da estatização da Fundação José Sarney, “No momento que
se cria um comitê da verdade, se cria, também, o museu da mentira para cultuar
o ex-presidente da Arena”.
Somos nós a esquerda que estamos
cansados com estes governos do PT. Cansados de banqueiros, grandes empresários
e agronegócio terem seus interesses caninamente defendidos pelos governos
petistas. Karl Marx saúda a vitória eleitoral da esquerda francesa "nas
eleições na França de 10 de Março de 1850! Era a revogação do Junho de 1848! Em
que pese Karl Marx notar doravante que "o sufrágio universal tinha
cumprido a sua missão. A maioria do povo tinha passado pela escola de
desenvolvimento, que é a única coisa para que pode servir o sufrágio universal
numa época revolucionária, tinha de ser eliminado por uma revolução ou pela
reação". Um governo à esquerda dos atuais partidos não pode cair de
joelhos para Sarney, não pode se vergar ao blefe de militares, no mínimo. No
mínimo.
Findo este percurso, é
constrangedor e doloroso, nesse início de milênio, meio século após, ter que
repor o sentido de palavras consagradas pelo uso de gerações que a ditadura
enterrou sob a mentira, por isso cantamos com toda razão e todo tesão Viva a
Revolução! Que nossos companheir@s descansem em paz! Agradecemos ao colunista
Antonio Lassance no site da Carta Maior, Uraniano Mota no site da Boitempo e
principalmente a Celso Lungaretti no seu blog Náufrago da Utopia pelas informações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário