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Somos uma organização marxista revolucionária. Procuramos intervir nas lutas de classes com um programa anticapitalista, com o objetivo de criar o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, a seção brasileira de uma nova Internacional Revolucionária. Só com um partido revolucionário, composto em sua maioria por mulheres e negros, é possível lutar pelo governo direto dos trabalhadores, como forma de abrir caminho até o socialismo.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

4 de agosto de 1914: a traição da socialdemocracia (2ª parte)




Combater na guerra? Combater a guerra?

Como já dissemos antes, a guerra provocou uma reviravolta em todas as correntes da Segunda Internacional. Não aconteceu, como a maioria das correntes diz, uma divisão entre direita, centro e esquerda em relação à guerra.

Por exemplo, o Bernstein, que era da ala direita, foi pacifista desde o começo, assim como Kautsky, que era do centro. Os dois romperam com o SPD em 1916 e formaram o USPD (Partido Socialdemocrata Independente) com o grupo de Rosa Luxemburgo. Na França, o reformista Jean Jaurès foi o maior militante contra a guerra dentro da SFIO (Seção Francesa da Internacional Operária, como era chamado o partido), tanto que foi assassinado por um nacionalista em 31 de julho, um dia antes do início do conflito.

Os guesdistas, seguidores de Jules Guesde, a ala esquerda da SFIO, apoiaram a guerra, e Guesde inclusive chegou a assumir um ministério em nome da “união nacional”. Gustave Hervé, que era da alta esquerda e militante antiimperialista na SFIO, apoiou a guerra e, alguns anos depois, se tornou fascista. Esse foi o mesmo caso de Benito Mussolini, da ala esquerda do PSI, que formou o grupo dos “socialistas intervencionistas”, ou seja, os socialistas que queriam que a Itália saísse da neutralidade e fizesse uma “guerra  revolucionária” contra a Áustria-Hungria.

Os maiores setores contra a guerra, previsivelmente, estavam nos países neutros. Por exemplo, nos EUA, que só entraram na guerra em 1917, todas as alas do Partido Socialista foram pacifistas. Mesmo assim, os três únicos partidos que defenderam que a guerra mundial deveria ser usada como oportunidade para a revolução foram o Partido Bolchevique, na Rússia, o Partido Socialista Sérvio e os “Estreitos” da Bulgária.

A divisão também aconteceu entre as fileiras dos anarquistas, com a diferença de que a maioria das organizações aderiram à linha anarquista de “guerra à guerra”, com a exceção da Confederação Geral dos trabalhadores (CGT) francesa, de alguns agrupamentos minoritários que se denominaram “nacional-sindicalistas”, e de algumas personalidades, como Piotr Kropotkin.

Então, em 1914, a Segunda Internacional estava despedaçada, e existiram duas posições antiguerra: a pacifista e a que defendia a transformação da guerra em revolução. Vamos ver agora como os socialistas antiguerra se organizaram para reconstruir uma Internacional.


Os social-imperialistas durante a guerra

A Segunda Internacional estava com uma conferência marcada para agosto de 1914, justamente com o objetivo de lutar contra a ameaça de guerra. Mas a traição de 4 de agosto colocou o Birô Socialista Internacional, que era o seu órgão dirigente, em inatividade.

O apoio à guerra estava em completo desacordo com o Congresso de Stuttgart, em 1907, em que tinha sido aprovada uma resolução contra a ameaça da guerra, escrita pela Rosa Luxemburgo. O Manifesto aprovado por unanimidade no Congresso de Basiléia, em 1912, era ainda mais claro, e defendia que, no caso de uma guerra imperialista, era o dever dos trabalhadores transformá-la numa guerra civil revolucionária. Karl Liebknecht imortalizou essa ideia, com a frase “o inimigo principal está em casa”.   

Com a capitulação, se formaram dois campos de socialistas pró—guerra ou, como Lênin chamou, de social-imperialistas. O primeiro, dos partidos dos países Aliados (França, Inglaterra e Rússia), organizou três conferências, em fevereiro de 1915, agosto de 1917 e setembro de 1918. Os principais organizadores foram o Partido Trabalhista e o Partido Trabalhista Independente (ILP) ingleses, a SFIO francesa e o Partido Social-Revolucionário russo.

Ao mesmo tempo em que eles diziam que a guerra tinha sido necessária para defender a democracia, eles fizeram declarações contra as anexações de territórios e exigindo a formação da uma Liga das Nações (o que realmente foi feito) e uma Corte Internacional para impedir futuras guerras.

Já os partidos dos países centrais (Alemanha e Áustria-Hungria), tendo à frente o SPD, o Partido Socialdemocrata Húngaro e o Partido Socialista Austríaco, fizeram uma única Conferência, em abril de 1915, com resoluções semelhantes, mas dessa vez insistindo que a guerra era uma medida necessária contra o czarismo russo.


Os internacionalistas na guerra

Foi a partir dos partidos dos países neutros que começou a se formar o movimento contra a guerra imperialista. Houve três conferências desses partidos, que prepararam as conferências antiguerra gerais. A primeira foi em Lugano, Suíça, em setembro de 1914, organizada pelo Partido Socialdemocrata Suíço e pelo Partido Socialista Italiano, exigindo que houvesse uma pressão diplomática pelo fim da guerra. A segunda foi em Copenhague, em outubro de 1915, e os participantes foram os partidos dos países nórdicos, e a terceira foi em Hague, Holanda, em julho de 1916.

Mas essas conferências não envolviam os setores antiguerra dos países que estavam participando do conflito. Isso só aconteceu a partir da Conferência de Zimmerwald (Suíça), em setembro de 1915, que reuniu todos os setores internacionalistas.  Uma segunda conferência aconteceu em Kienthal (Suíça), em abril de 1916, e a terceira foi em Estocolmo, em setembro de 1917, convocada pelo soviete de Petrogrado.

Durante as três conferências, existiram duas alas. Uma era a ala pacifista, formada por representantes da direita e do centro, que defendia o fim da guerra e uma política de autodeterminação dos povos, contra retaliações aos derrotados etc. A outra ala, chamada de “esquerda de Zimmerwald”, mantinha a posição de transformar a guerra imperialista em revolução. Foi a esquerda de Zimmerwald que levantou a proposta de criar uma Terceira Internacional, enquanto os pacifistas acreditavam que com o fim da guerra seria possível reunificar a Segunda Internacional.

Com a revolução russa, as condições políticas mudam completamente. Os bolcheviques, representantes da esquerda de Zimmerwald, criam o primeiro Estado operário e convocam a formação da Terceira Internacional. Para isso, contam com o apoio dos espartaquistas alemães, que logo fundarão do PC Alemão (KPD), e setores da esquerda em todos os países. A derrota na guerra abre,em 1918, a revolução na Alemanha e na Hungria, em que um governo dos trabalhadores assume o poder durante quatro meses.


Epílogo

Em março de 1919 se realizou o primeiro Congresso da Terceira Internacional. Além da esquerda de Zimmerwald, organizações sindicalistas revolucionárias e anarquistas que foram contra a guerra participaram. Para os bolcheviques, a Primeira Guerra marcava o estágio final do capitalismo, e colocava na ordem do dia a luta pelo poder em toda a Europa. Toda a atividade da IC até 1921 estava em função da expectativa da vitória na revolução alemã.

Mas, a partir de 1923, a onda revolucionária aberta na Rússia estava se encerrando, com a derrota da Ação de Março, na Alemanha. O novo período de paz permitiu a volta das antigas correntes antiguerra aos partidos socialdemocratas de onde tinham saído, formando a Internacional Operária e Socialista.

Na verdade, a perspectiva de Bernstein, de condições sempre mais favoráveis para a transição ao socialismo, se revelou uma ilusão. Em poucos anos, a Alemanha entraria em colapso por causa das retaliações impostas pelo Tratado de Versalhes. O fascismo iria se espalhar por toda a Europa, preparando o terreno para a Segunda Guerra Mundial.

A “guerra de atrito” do centro também se mostrou uma ilusão. O período prolongado de fortalecimento dos partidos e sindicatos tinha criado uma burocratização e levado à colaboração de classes.

A perspectiva da esquerda, de que a guerra significaria a agonia mortal do capitalismo, também foi uma ilusão. Lênin estava errado ao pensar que só uma pequena parte dos trabalhadores passaria a ter um nível de vida pequeno-burguês por causa do imperialismo. Bukhárin, em seu livro Imperialismo e Economia Mundial, apontava que a maioria da classe trabalhadora nos países centrais tinha uma melhora do nível de vida capaz de lhe dar uma perspectiva reformista, e que só as guerras entre países imperialistas permitiam uma ruptura da política de colaboração de classes.

Lênin também teve essa intuição no seu último texto, Mais vale menos, mas melhor, em que ele fala que, nas décadas seguintes, o eixo das revoluções se deslocaria para a Ásia. Infelizmente, a Terceira Internacional não pôde se preparar adequadamente para essa mudança porque, a partir de 1924, Stálin chega ao poder na URSS, e transforma a Internacional em um instrumento de pressão da burocracia soviética.

A Quarta Internacional, que surgiu em luta contra o stalinismo, não foi capaz de romper com as perspectivas da IC, tanto que o nome do Programa de Transição é A Agonia Mortal do Capitalismo e as Tarefas da Quarta Internacional. Depois da Segunda Guerra, o período de desenvolvimento acelerado do capitalismo que durou 30 anos desorientou violentamente o conjunto das organizações trotskistas, enquanto os partidos stalinistas nos países centrais se tornaram partidos reformistas.

A tarefa dos revolucionários hoje é entender o período histórico que estamos vivendo, com a crise estrutural e o deslocamento do eixo imperialista, para que a gente possa formular perspectivas adequadas para frear o caminho para a barbárie e colocar a luta pelo socialismo novamente na ordem do dia.

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