Informes da guerra síria (julho de 2015)
Os informes abaixo foram traduzidos pelo blog Espaço Marxista a partir daqui. Ao final, algumas notas para melhor compreensão.
Desde junho o Estado Islâmico (1) tem efetuado uma série de contra-ataques em dupla frente, visando as forças curdas e as governamentais (Bashar al-Assad) no norte da Síria. Desta forma, o ISIS lançou uma ofensiva contra a cidade de Hasaka, manejando ataques suicidas e capturando do governo os bairros do sudoeste da cidade. Em 16 de julho, unidades do governo e as forças de apoio cortaram a rota de suprimentos do ISIS vinda de al-Shaddadi e al-Meilabiyeh, próximos de Hasaka. Isso foi pouco dias depois de outra rota de suprimentos a partir de Jisr Abyad no lado sudoeste da cidade ter sido bloqueada. Então, o exército [governamental] retomou o controle das principais estações de transmissão de eletricidade nos arredores ao sul de Hasaka.
Enquanto isso, de trinta a quarenta militantes do Estado Islâmico, disfarçados em uniformes do YPG curdo e de rebeldes do Exército Livre Sírio (ELS), [que é] apoiado pelos EUA, se infiltraram na cidade curda fronteiriça de Ayn al-Arab, detonando dois SVBIED (2) na fronteira com a Turquia e entrando em combate com forças do YPG.
Os ataques sincronizados no norte da Síria são parte de uma campanha global para criar condições de maior avanço pelo país. Os ataques em Ayn al-Arab e na cidade de Hasaka parecem feitos para desestabilizar as operações lideradas pelo YPG na província nortista de ar-Raqqa, de modo a desviar a pressão em terra contra o ISIS na cidade de mesmo nome. A escalada da ofensiva do ISIS contra a cidade de Hasaka também indica que a organização pretende capturar a cidade para compensar as recentes perdas para as forças curdas e rebeldes ao longo da fronteira sírio-turca. O ISIS também lançou um contra-ataque contra a aliança YPG-ELS em Ayn Issa ao norte da cidade de ar-Raqqa em 5 de julho, que contou com a denotação de pelo menos dois carros-bomba; os combates continuam.
No final de junho, o governo de Assad incrementou reforços, incluindo as unidades das Forças Especiais "Tigres", na parte ocidental de Palmira, levando a combates no oeste da cidade próximo aos campos de gás de Sha'er e Jazal. A ofensiva do governo objetiva recapturar a cidade das mãos do ISIS, contudo isso ainda não ocorreu.
O Hezbollah libanês e as Forças Armadas Sírias anunciaram em 2 de julho uma ofensiva para tomar dos rebeldes a cidade de Zabadani, no noroeste de Damasco e próxima da fronteira libanesa. Zabadani ocupa posição estratégica junto a rotas de suprimento conectando Damasco às posições do Hezbollah em Beirute e no Vale do Beqaa. Combates continuam a ocorrer na medida em que os esforços do Hezbollah e das forças do governo de ingressar na cidade pelo oeste colidem com a resistência de JN (3), Ahrar al-Sham e outras facções terroristas.
Os ataques do ISIS em Ayn al-Arab, Hasaka e Ayn Issa demonstram que perdas pontuais no norte da Síria não impactaram a capacidade militar da organização. Alternativamente, informes indicam que o ISIS aceitou um risco calculado no norte da cidade de ar-Raqqa, no intuito de manter recursos para novos esforços de alcançar a cidade de Hasaka, a Síria central e outras partes do país.
Bem ao mesmo tempo o centro de operações da Fatah Halab (4) anunciou o início de sua batalha para tomar o controle total das áreas mantidas pelo governo na cidade de Aleppo. As chamadas forças rebeldes e islâmicas "moderadas" objetivam irromper nas vizinhanças de Nova Aleppo e az-Zahraa no noroeste da cidade. Enquanto isso, a Frente al-Nusra e outras facções de rebeldes salafistas-jihadistas anunciaram a formação do centro de operações da Ansar al-Sharia (5) em 2 de julho, efetuando uma ofensiva paralela contra as posições das forças do governo no distrito de az-Zahraa.
No mesmo contexto, as exitosas defesas das cidades de Aleppo e Dera'a pelas forças governamentais arriscam sobrecarregar suas capacidades defensivas. O governo de Assad parece vulnerável a uma ofensiva do ISIS através do corredor central da Síria, na medida em que as Forças Armadas Sírias estão baseadas no norte e no sul do país.
Notas do Espaço Marxista:
(1) Tendo em vista que o grupo auto-intitulado Estado Islâmico -"ISIL", "ISIS", "Daesh"- tem práticas drasticamente antagônicas aos princípios humanitários e islâmicos mais elementares, inclusive em radical contradição com as regras de guerra estabelecidas por Muhammad nos albores do Islã, nós do blog Espaço Marxista, em respeito à comunidade muçulmana internacional, preferimos denominá-lo Estado Anti-islâmico ou Estado "Islâmico", aspas bem entendidas.
(2) "Suicide Vehicle Borne Improvised Explosive Device", isto é, carro-bomba para ataques suicidas.
(3) Jabhat al-Nusra, conhecida em português como Frente al-Nusra.
(4) Agrupamento de facções sírias "rebeldes". Não confundir com a Fatah palestina de Yasser Arafat.
(5) Assim como a Fatah Halab, um agrupamento de facções islâmicas anti-governo atuando em Aleppo.
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