Não sou contra a liberdade. Pelo
contrário. Sou plenamente a favor. O problema é que existe um nítido
tendencialismo, por exemplo, na imprensa. E o que é pior, um tendencialismo
velado. Quando existe uma cobertura de um protesto da direita, como a que
pudemos assistir hoje pela televisão, podemos perceber, com grande clareza, que
as emissoras não transmitem notícias e informação, elas criam as notícias e as
informações. O que pretendo fazer, espero que tenha ficado claro a partir
destes comentários iniciais, é um
comentário sobre a cobertura do ato e a atitude da polícia e não sobre o ato em
si.
Foi feita
uma ampla cobertura do protesto de dia 15/03/15, com claro exagero do número de
manifestantes presentes. Números que foram exagerados também pela polícia em
diversos estados. Não pude deixar de comparar com a cobertura de atos da
esquerda. A cobertura destes atos, quando conseguimos acompanhá-las pela
televisão (pois muitas vezes elas não ganham espaços nos noticiários), o número
de manifestantes é subavaliado. Além disso, pude ver várias faixas levadas pelas
manifestações. Sinceramente, fiquei muito preocupada quando vi os dizeres “MAR
DE LAMA”. Lembram-se dessa? Aquela campanha contra Getúlio Vargas... Foi o que
preparou o terreno para, dez anos depois, instaurar-se a ditadura militar... Quando
os protestos são de esquerda, essas faixas raramente entram em foco. E os
dizeres não são repetidos pelo repórter. Dizeres do tipo: “tarifa zero”, “fim do vestibular, acesso AS
universidade para todos os estudantes”, “diminuição da carga horária, sem
diminuição do salário para combater o desemprego”, “salário igual para trabalho
igual”. Uma pena... Um país melhor, acredito eu, seria um no qual todos
os trabalhadores tivessem empregos, as empresas de ônibus fossem controladas
pelos trabalhadores e a tarifa fosse gratuita, todos os estudantes tivessem
acesso à universidade pública e de qualidade, a terceirização não existisse,
não houvesse nenhum tipo de preconceito – racismo, preconceito de gênero e
orientação sexual, machismo, dentre outros – e, principalmente, um país no qual
todos fossem, de fato, livres e no qual todas as pessoas tivesses acesso ao que
necessitam para viver. Enfim, certamente não seria o país da ditadura militar,
ou, para ser um pouco mais otimista, o país da hegemonia política dos partidos da
direita, que manifestações como a de hoje defendem.
Não ouvi
falar sobre o impacto no trânsito dessas manifestações. E os pobres cidadãos
que queriam sair para almoçar com suas famílias no domingo? Para deixar a
ironia de lado, e os trabalhadores que estavam indo ou voltando do trabalho NO
DOMINGO? Sim, porque você pode não trabalhar domingo, mas tem gente que
trabalha. Não estou dizendo que as manifestações não devem atrapalhar o
trânsito, isso é inevitável, estou dizendo que, magicamente, a manifestação da
direita não atrapalhou! Mas o dos caminhoneiros, que aconteceu no mesmo dia,
atrapalhou e muito, segundo os noticiários.
Fiquei
surpresa com a polícia também. Nossos caros coxinhas desobedeceram à proibição
de não invadir o espelho d’água em Brasília e jogaram água nos pés dos
policiais que permaneceram imóveis. Incrível. Cadê o spray de pimenta? As balas
de borrachas? O que fizeram com as balas de borracha? Os cassetetes? Esqueceram
em casa? Não. Os cassetetes, as balas de borracha, os sprays de pimenta tem
nomes escritos neles. Nomes de pobres, de pretos, de moradores de ocupações, de
índios, de militantes de esquerda... Estão destinados. Servem para ferir e
matar uma parte da população... Se isso é liberdade, eles estão precisando de
um dicionário novo, para não falar de uma nova consciência.
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