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Somos uma organização marxista revolucionária. Procuramos intervir nas lutas de classes com um programa anticapitalista, com o objetivo de criar o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, a seção brasileira de uma nova Internacional Revolucionária. Só com um partido revolucionário, composto em sua maioria por mulheres e negros, é possível lutar pelo governo direto dos trabalhadores, como forma de abrir caminho até o socialismo.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Sobre o fim do Colégio Estadual Vicente Licínio Cardoso


Reproduzimos a carta do companheiro Pedro, do GEP (Grupo de Educação Popular), sobre mais esse ataque à educação pública por conta da Copa e das Olimpíadas.



Sobre o fim do Colégio Estadual Vicente Licínio Cardoso
 
Dia 20 de Maio de 2013, quem lembrará de ti?

No mesmo dia em que comemoramos, nas ruas, os 25 anos da marcha de 1988 pela igualdade racial, uma escola pública construída na área portuária – onde os negros sobreviventes eram vendidos após o sequestro na África, após meses à carne cortada em navios onde roubar a vida era o próprio princípio (o batismo?) em questão, onde a memória da dor, cravada em ossos e pedras, hoje é comercializada como “cultura” e “patrimônio” nos mesmos locais de onde seus descendentes são hoje expulsos pela parceria “olímpica” de empresas e Estado - recebia um comunicado da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro anunciando a sua extinção. A partir deste dia, o governo de Sérgio Cabral – que há algumas semanas atrás, lembrando a "abolição" da escravidão, homenageou a polícia militar do RJ, a mesma que mata jovens pretos como quem pede uma informação num ponto de ônibus - concretiza o que ele já construía desde 2010: o fim do Colégio Estadual Vicente Licínio Cardoso, colégio que por mais de três décadas esteve localizado na Praça Mauá e que desde Março deste ano estava “alojado” no Colégio Estadual Julia Kubischek após sofrer dois despejos arbitrários em Janeiro e Fevereiro deste ano (o primeiro para a Escola Municipal Darcy Vargas, uma escola de ensino infantil onde não foi oferecido nem salas e carteiras para adultos, e o segundo para o C.E.Julia Kubischek, retirando a escola da área portuária).

Para quem construía esta escola e acredita na possibilidade de realizar outro projeto político e pedagógico na região, hoje a tristeza é imensa. Comecei a trabalhar no C.E. Vicente Licínio Cardoso em 2009. Morava na Ladeira do Barroso 136 (Morro da Providência, Gamboa) e escolhi esta escola para trabalhar por estar envolvido na luta pela educação popular na área portuária do Rio e ver a oportunidade de aproximar o trabalho que realizo com tantas outras companheiras e companheiros no Grupo de Educação Popular (GEP), na Providência (através do Pré-Vestibular Comunitário Machado de Assis e da Alfabetização de Jovens e Adultos da Providência), da escola pública que sempre atendeu a maior parte das pessoas que concluíram o segundo grau e que residiam no Morro da Providência e nos bairros da Gamboa, Saúde e Santo Cristo.

Nestes anos, apesar de conviver com o total desrespeito - o racismo institucional - da Secretaria de Educação, órgão do Estado responsável pela destruição da educação pública e que nunca teve qualquer preocupação com a falta de funcionários na escola, com a péssima estrutura, com a qualidade de trabalho para os profissionais e de ensino para os alunos, conseguimos fazer muitas coisas boas e posso dizer que tive uma alegria imensa de ter atravessado a vida – e ter a minha percorrida – de muitas pessoas bonitas, cheias de beleza e coragem, que nos impedem de esquecer, nestes momentos difíceis, que “a vida bate”, apesar de tudo.

Sabemos, não temos dúvida, que esta é mais uma derrota, mais uma pancada. Mas, lembremos sempre, para aqueles que ainda nos agridem, que somos de ferro vermelho, eterno, como o poema "à vida" de Marina Tzvetaieva.
 
À Vida
 
Não roubarás minha cor
Vermelha, de rio que estua.
Sou recusa: és caçador.
Persegues: eu sou a fuga.
Não dou minha alma cativa!
Colhido em pleno disparo,
Curva o pescoço o cabelo
Árabe — E abre a veia da vida.
 
Saudações, a luta continua,

Pedro (Professor da rede estadual e militante do Grupo de Educação Popular)

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