Nosso agradecimento à companheira Lenna Valendorf, que revisou e propôs mudanças no texto.
Dia da Memória Trans: combatendo o machismo e a transfobia
No dia 20 de novembro, ativistas do mundo inteiro lembram todas as pessoas trans que sofreram violência ou até morreram por não se adaptarem aos padrões de comportamento considerados "certos" para o seu sexo.
Quando falamos em pessoas trans, estamos falando de travestis, transexuais e de todas as pessoas, inclusive do sexo feminino, que não se conformam aos estereótipos sociais "masculinos" ou "femininos" associados ao seu sexo. O ódio contra as pessoas trans chamamos de transfobia.
Esse dia foi criado em 1998, depois do assassinato da travesti negra Rita Hester, nos Estados Unidos. Mas poderia ter sido criado em qualquer outra data, porque as pessoas trans morrem diariamente no mundo inteiro. No Brasil, cerca de cem travestis e transexuais são mortas todo ano, segundo o Grupo Gay da Bahia.
Séculos de história - apagada
Pessoas trans existiram na grande maioria das sociedades conhecidas e durante toda a história. Em muitos povos, existiram "terceiros gêneros", não considerados nem masculinos nem femininos, como hjiras, na Índia e os "dois espíritos" entre os índios norteamericanos.
As potências imperialistas, ao submeterem todos os povos do mundo à cultura europeia, criminalizaram e perseguiram todas essas expressões alternativas, muitas vezes com argumentos pseudocientíficos ou religiosos. Por isso, não é por acaso que o movimento homossexual, em que pessoas trans estiveram presentes desde o começo, surgiu no começo da época imperialista, no final do século XIX.
A partir do final da década de 1960, com o ascenso do movimento feminista, começou uma nova fase da luta pela libertação sexual. Depois do Levante de Stonewall, em 1969, surgiu um novo movimento homossexual com um perfil antiimperialista e revolucionário. As primeiras que enfrentaram a polícia em Stonewall foram as locas (travestis) portorriquenhas.
Dentro desse movimento, muitas vezes as lésbicas e pessoas trans não tiveram o mesmo espaço que os gays e, por isso, muitas vezes criaram as suas próprias organizações. A primeira organização trans da época foi a STAR (Ação Revolucionária das Travestis de Rua), formada em 1970 por Sylvia Rivera e Marsha Johnson.
Aqui no Brasil, depois de muitos anos sendo estigmatizadas na sociedade e dentro do próprio movimento homossexual, as travestis da Praça Mauá, Rio de Janeiro, fundaram a sua primeira associação em 1992, a ASTRAL (Associação de Travestis e Liberados), sob a direção de Jovanna Baby.
Liberação Sexual através da Revolução Socialista!
Infelizmente, a referência para as travestis não eram mais as organizações de classe e revolucionárias. O motivo foi o começo da etapa marcada pela destruição da URSS e o discurso do "fim do comunismo", mas também o desprezo histórico da maior parte do movimento socialista em relação às questões da sexualidade. Grande parte da esquerda via as pessoas trans como degenerados e a sua luta como "pequeno-burguesa".
No contexto da epidemia da AIDS, e dos programas de prevenção feitos pelo governo, as associações de travestis começaram a se organizar como ONGs, financiadas pelo Estado. Esse é o caso da ANTRA, a Articulação Nacional de Travestis e Transexuais.
As ONGs, por serem sustentadas pelo Estado e pelas empresas, não podem lutar até o fim contra a classe dominante, que se beneficia da divisão dos trabalhadores provocada pelo machismo. Além disso, fragmentam as lutas (vendo cada "letra" da sigla LGBT como um fim em si mesmo) e as separam da base onde elas poderiam se massificar, os movimentos sociais.
Por isso, defendemos que os sindicatos, movimentos populares e estudantil organizem as lutas pelas reivindicações das pessoas trans. Sabemos que isso não é fácil. Se a maioria dos movimentos passa por cima da questão homossexual, as necessidades das pessoas trans são muitas vezes tratadas com desprezo ou deboche.
As travestis e demais pessoas trans sofrem uma exclusão quase total por causa da transfobia. Muitas vezes, precisam abandonar as escolas no segundo grau e, muitas vezes, a última alternativa que sobra pra se sustentarem é a prostituição. E, na prostituição, sofrem com a violência policial, quando não são assassinadas pelos clientes.
Acima de tudo isso, são medicalizadas, ou seja, tratadas como doentes que precisam ser curadas através de cirurgia de redesignação genital. E tratadas pelos meios de comunicação e igrejas como aberrações ridículas ou estereótipos sexuais, na época do Carnaval. No caso das travestis negras, o estigma se mistura com o racismo da "mulata exportação".
Tudo isso coloca a necessidade da luta pelo direito à educação e trabalho para as pessoas trans. A luta dos comunistas precisam incluir as pessoas trans. Por isso, reivindicamos:
- por um sistema de educação público, gratuito, de qualidade, não machista, não racista e controlado pelos trabalhadores e estudantes!
- educação sexual nas escolas, pra combater o preconceito!
- fim dos estereótipos machistas, racistas, homofóbicos e transfóbicos nos meios de comunicação, como o programa Zorra Total!
- redução da jornada de trabalho sem redução de salários, para que as pessoas trans tenham uma alternativa à prostituição!
- uso do nome social nos documentos, serviços públicos e empregos!
- contra a medicalização das pessoas trans! contra a imposição da hormonização e cirurgia! Transição acessível pelo SUS para quem assim quiser!
Enquanto existir capitalismo, todas as formas de diferença serão usadas para jogar trabalhador contra trabalhador. As pessoas trans precisam ser incorporadas ao movimento dos trabalhadores e lutar dentro dele contra a transfobia e contra o sistema em que a sexualidade se torna mercadoria para o lucro dos patrões. Só o socialismo pode garantir um mundo em que as pessoas sejam um fim em si mesmo e determinem suas próprias vidas.
QUEM SOMOS NÓS
- Coletivo Lênin
- Somos uma organização marxista revolucionária. Procuramos intervir nas lutas de classes com um programa anticapitalista, com o objetivo de criar o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, a seção brasileira de uma nova Internacional Revolucionária. Só com um partido revolucionário, composto em sua maioria por mulheres e negros, é possível lutar pelo governo direto dos trabalhadores, como forma de abrir caminho até o socialismo.
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Dia da Memória Trans: combatendo o machismo e a transfobia
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