Reproduzimos mais uma vez um texto da companheira Denise, professora e historiadora do Rio de Janeiro
Mudou o Brasil, mudaram os brasileiros
As portas do maior evento mundial de futebol, a Copa do Mundo, tão
sonhada pelos governos que avaliaram ganhar muito sem maiores problemas.
Afinal, sempre um setor da sociedade ganhou muito enquanto a grande maioria da
população trabalhadora assistia bestializada sem impor suas frustrações. Algo
mudou, espero que continue mudando! Desde a metade da década de 1990, quando
Fernando Henrique Cardoso assumiu a presidência, baseado na ilusão do Plano
Real, a classe trabalhadora é empurrada para baixo. Baixos salários,
privatizações das principais empresas de serviços, o que não trouxe melhoria na
qualidade das prestações desses serviços, mais um aumento substancial nos
preços; foi assim na telefonia, na eletricidade, na siderurgia, nos
transportes. E o silêncio e apatia da população se fazia presente.
Chegamos à primeira década do século XXI, em 2002 ganha as eleições o PT
do Luís Inácio Lula da Silva. Primeiro presidente operário, a classe
trabalhadora se sentiu representada. Porém, essa representatividade foi cada
vez mais perdendo fôlego, embotada pela corrupção, privatização, péssimos
serviços e altos preços. Mais ainda assim, baseando-se em Projetos Sociais, que
mais seqüestravam do que libertavam a população mais pobre, o governo Lula
manteve a população anestesiada. Em 2008, num jogo de toma lá dá cá, o Brasil,
enfim consegue levar da FIFA, o tão sonhado aval para sediar a copa do mundo .
Nos primeiros anos de obras a população ainda estava feliz e orgulhosa de ter
sido escolhida como anfitriã dessa grande festa. Mas, ao se aproximar da grande
festa, o povo percebeu que não foi convidado a dela participar.Mais uma
vez,todas as nossas necessidades de uma vida digna foi relevada a outros
planos. Planos esses, totalmente fora do alcance da classe trabalhadora. O
governo Dilma Roussef, eleito em 2010 sob a sombra do que tinha sido o governo
Lula, foi se mostrando cada vez mais indigno da confiança dos brasileiros.
Corrupção escancarada, alianças espúrias com partidos claramente burgueses,
como no RJ com o PMDB e em SP com PP do Paulo Maluf, transformaram o sonho em
pesadelo. 2013, o ano da virada Quanto mais se aproximava do torneio
futebolístico,mais a população se percebeu vilipendiada em suas necessidades
básicas, tais como:saúde, educação, transporte, moradia e alimentação. Para o
grande evento, foi necessárias obras, desnecessárias, e com elas as remoções
forçadas, gastos públicos explodiram e tudo acabava na conta da população.
Em junho de 2013, com o anúncio de mais um aumento na tarifa dos
transportes urbanos, a população teve um surto coletivo, e todos na rua contra,
não mais pelos R$ 0,20 centavos que seria o aumento dos ônibus, mas por 19 anos
de submissão. As manifestações de junho de 2013, abriram as compotas de lutas
sufocadas, de gritos presos nas gargantas e nos corações. Ainda não pipocavam
greves, mas passeatas gigantescas, a mídia burguesa tentando acalmar os ânimos
criminalizando os Black Blocks (os famosos vândalos mascarados), a revolta
estava no ar. O governo cedeu, não aumentou as passagens e a população não
sossegou. Em outubro a greve da educação das redes municipal-estadual-faetec no
RJ,acendeu de novo uma forma de luta, tão apagada nas duas décadas anteriores.
O estado não sabendo como lidar com esse fenômeno e sempre truculento, mostra a
sua verdadeira face ditatorial. Muita bomba, muito cassetetes, muita bala de
borracha. A greve histórica de educação, termina rendida por acordos espúrios
entre sindicato e governo, passando pelo Ministro Luiz Fux. Mas quem disse que
acabou a luta? 2014, um ano explosivo Já nos primeiros dias de 2014, embate
entre sem tetos e as forças do governo, na desocupação da Favela
Metrô-Mangueira. O que parecia ter sido resolvido com a permanência da Aldeia
Maracanã, como centro de referência indígena sofre nova ameaça. Também volta-se
a falar em aumento de transportes. Em abril, a truculenta retirada dos
moradores da Ocupação Oi Telemar, e uma Semana Santa de pura aula de cidadania
e solidariedade. Em fevereiro, numa manifestação contra o aumento da tarifa de
ônibus, acontece uma fatalidade, o jornalista da Rede Bandeirantes, é
fatalmente atingido por uma bomba. Episódio que até hoje é coberto de dúvidas,
mas utilizado claramente para criminalizar todos os movimentos. Paramos. Não!
Vamos parar. Também não? As greves começam a pipocar. Os trabalhadores da
limpeza pública do RJ(garis), iniciaram e atravessaram o carnaval em greve, com
total apoio da sociedade, atropelando sindicato pelego, prefeito fascista e PM
capitã do mato. Foi a compota que precisava ser aberta. A partir daí 40
categorias do Brasil inteiro entraram em greve. Motoristas e cobradores do
RJ,SP ,São Luís(MA),Salvador,Florianópolis e Fortaleza; Servidores públicos
municipais de Balneário Comburiu , Joinville e Blumenau(SC); Professores
municipais e metroviários de SP; Professores municipais e estaduais,servidores
da saúde,cultura,vigilantes e Polícia Civil,RJ Polícias Militares,Recife
Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal de Alagoas,Amazonas,Bahia,Espírito
santo,Minas Gerais,Pará, Paraíba, Pernambuco,Rio de Janeiro,Rondônia,Santa
Catarina e São Paulo . Dentro dessa enorme disputa de poder, da desobediência
civil, da classe trabalhadora que não quer ser gado do poder que se utiliza da
(in)justiça burguesa para tentar criminalizar as greves, jogando as para a
ilegalidade e a vontade dos trabalhadores em não se intimidarem, nasce, ao meu
ver, um novo Brasil. Espero que ao final da Copa, não voltemos a ser os
bichinhos domados que por 19 anos fomos.
Por Denise Oliveira, junho,2014
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