Três notas sobre a Grécia
O objetivo dessas notas é refinar a nossa orientação política sobre a situação prerrevolucionária grega. A Grécia é o elo mais fraco da cadeia imperialista na Europa. Portanto, o futuro do movimento dos trabalhadores está sendo decidido lá, mais que em qualquer outro lugar.
- Sobre o governo dos trabalhadores
A situação grega não pode avançar até a revolução sem uma perspectiva política concreta para a maioria dos trabalhadores, que mostre uma alternativa de classe aos governos da burguesia, sempre alinhados com o imperialismo europeu.
Por isso, os revolucionários gregos devem levantar como eixo das suas intervenções a palavra de ordem de governo dos comitês de greve, composto pela esquerda socialista KKE-Syriza-Antarsya, com um programa socialista revolucionário que leve à planificação econômica socialista como única saída da crise, em completa independente dos setores nacionalistas-burgueses e sem qualquer confiança numa nova Frente Popular com tais setores!!!
O arco de alianças (KKE-Syriza-Antarsya) deve ficar explícito, para ganhar para a proposta a base do KKE e do Syriza, que são organizações que estão se orientando para uma política de frente popular. O programa socialista é a única maneira de romper com o FMI e a União Europeia, e é o que impediria que esse fosse um governo para salvar o capitalismo. E o controle pelos comitês de greve é a única garantia de que a força social dos trabalhadores pode impor o programa, e derrotar a política de conciliação das direções majoritárias.
- Por um partido revolucionário unificado, com direito a tendências públicas sob centralismo democrático
A Antarsya (Coalizão da Esquerda Anticapitalista) é formada por organizações que se reivindicam marxistas e estão à esquerda da política eleitoreira da Syriza (Coalizão da Esquerda Radical). Mas a sua forma organizativa, de frente, não permite uma intervenção à altura das necessidades do momento.
Por isso, os revolucionários que defendem uma política de ruptura imediata com o capitalismo, através do governo direto dos trabalhadores através de sovietes devem se unir dentro e fora da Antarsya, para criar um partido leninista onde as correntes potencialmente revolucionárias estejam representadas, mas mantendo o centralismo democrático. As divisões dos revolucionários entre diferentes origens(troskismo, maoísmo, terceiro campo etc) não devem separá-los em partidos diferentes, se eles tiverem acordos nas tarefas estratégicas para a luta transformação da crise atual numa revolução socialista.
- Contra a expulsão da Grécia da Zona do Euro
Se o endividamento grego não conseguir se estabilizar com as medidas de austeridade atuais, o que é provável, as burguesias imperialistas mais fortes na União Europeia vão mudar a política e tentar expulsar a Grécia da Zona do Euro. Alguns sinais disso já estão sendo dados na forma de pressão sobre Angela Merkel.
O objetivo da expulsão da Grécia seria abandonar o país para preservar o Euro, numa situação em que fosse caro demais “segurar” a Grécia. O resultado seria o fechamento das fronteiras europeias para a burguesia grega, o isolamento do país e uma crise ainda maior.
Os comunistas somos contra a União Europeia, mas sabemos que a volta a um estado nacional isolado seria impossível e reacionária. São os trabalhadores gregos que devem definir os rumos da Grécia, e não a burguesia imperialista da UE.
Diante da proposta da saída do Euro, a nossa posição deve ser internacionalista: a ampliação das lutas em escala europeia. Se a revolução for vitoriosa na Grécia, não deve ser para “voltar no tempo” para uma economia nacional isolada, e sim para criar a semente dos Estados Unidos Socialistas da Europa.
Parabéns companheiros.
ResponderExcluirSuas posições sobre a conformação do embrião de um partido revolucionário, com centro no programa e não nas tradições reivindicadas, é a única política que revolucionários de verdade podem aplicar no atual contexto. Não tenho conhecimento sobre as correntes supracitadas, mas adianto que permitir ou não a participação de defensores de frente populares, assim como de reformistas de quaisquer espécie, em organismos de massas (potenciais soviets) não é algo definido pela vontade dos revolucinários e sim pelos trabalhadores gregos. Só a experiência concreta pode expulsá-los de tais organismos, sob pena de condenar ao mais superficial formalismo estes organismos.
Vocês precisam explicar melhor essa necessidade de tendências públicas sob o centralismo democrático - da forma que está posto é algo incompreensível.
Sobre ser contra a expulsão da Grécia da União Européia: defender sua permanência para propor seu desligamento em caso de revolução vitoriosa me parece algo absurdo e desmoralizante para os revolucionários. Ou defendemos a independência do proletariado da burguesia internacional ou mendigaremos suas migalhas. Dizer que mendigar é um mal menor é apostar na derrota do proletariado em armas, é abandonar a luta antes que esta esteja decidida.
Saudações em luta. Logo que tenhamos algo estabilizado em termos de organização aqui no Ceará, retomaremos contatos tendo em vista a possibilidade da realização de conferências.
Farpa,
ResponderExcluirficamos muito felizes de ter novidades sobre vocês aí no Ceará!
Sobre a presença de reformistas nos possíveis futuros sovietes: vocês estão certos.
Sobre a expulsão da Grécia da União Européia: o que a gente é contra é a política de sair da UE mantendo o capitalismo, que é uma saída nacionalista que pode ser adotada por um setor da burguesia grega. Se a Grécia for expulsa, o certo não vai ser fazer campanhas pela volta à UE, e sim denunciar que é uma medida para "abandonar" a Grécia pra salvar o imperialismo europeu. Numa situação dessas, qualquer governo que tentasse voltar ao dracma (!!!) deveria ser denunciado tanto quanto a UE, e os revolucionários deveriam lutar por uma ruptura SOCIALISTA com a UE.
Sobre o direito a tendências públicas num partido centralizado. Muita gente não sabe, mas era assim que o partido bolchevique se organizava. As ações e a propaganda eram estritamente centralizadas, mas posições alternativas podiam ser publicadas nos órgãos de imprensa do partido, tanto na época em que era o POSDR (partido operário socialdemocrata russo) unificado com os mencheviques, como na fração (e depois partido) bolchevique.
Alguns exemplos:
1) As Teses de Abril, que eram uma polêmica contra a linha da direção do partido bolchevique, foram publicadas publicamente no Pravda.
2) A polêmica sobre participar ou não das eleições de 1906 foi debatida publicamente no jornal da fração bolchevique, Proletarii.
3)Antes do partido ter uma posição oficial sobre as posições da Oposição Operária, dirigida por Alexandra Kollontai, os militantes da tendência (que defendia que o poder não era para ser exercido nem pelo partido nem pelos sovietes, e sim pelos sindicatos) montaram chapas separadas da maioria do partido, no Congress Panrrusso de Sindicatos de 1920.
4) Quando Zinoviev e Kamenev denunciaram publicamente a tentativa de tomada do poder, em 1917, Lênin exigiu que eles fossem expulsos do partido. Mas não foi por eles defenderem a posição deles publicamente, e sim por motivos de segurança: a denúncia dos dois ameaçava o partido de sofrer repressão. E mesmo assim, eles não foram expulsos.
Esse artigo é uma fonte interessante sobre o assunto:
http://www.internationalviewpoint.org/article.php3?id_article=782
Como você falou, os militantes de um partido revolucionário unificado seriam de tradições diferentes. Se eles estiverem unidos na ação, defendendo a mesma linha, eles vão querer debater publicamente as suas divergências históricas. Isso não pode ser um impedimento para a construção do partido. Por isso, damos tanta importância à questão das tendências.
Esperamos o contato dos companheiros ansiosamente.
Saudações comunistas!