Nas últimas semanas, a polícia começou uma operação de criminalização
sem precedentes na democracia parlamentar, caracterizada principalmente pela
prisão de cinco pessoas identificadas com a tática dos Black Blocks e, desde
terça-feira, dia 03/09, pela determinação do Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro da proibição do uso de máscaras nas manifestações.
Durante uma manifestação chamada de Baile de Máscaras, na frente do
Teatro Municipal, várias pessoas foram detidas, algumas até mesmo que não
estavam usando máscaras. A imprensa empresarial, principalmente a Rede Globo, em
toda a sua cobertura criminalizou os manifestantes, chamando eles de
"mascarados".
Foram feitas acusações caluniosas, como a de formação de quadrilha, que
poderia ser aplicada corretamente só no caso do próprio governo estadual, com o
miliciano Pezão e outros bandidos, como Sérgio Cabral e o Professor Uoston.
O Rio acompanha a cidade de Recife, que foi a primeira a criminalizar o
uso de máscaras em manifestações, há mais ou menos duas semanas. O uso de máscaras é uma medida mínima de
proteção dos manifestantes contra a violência policial, já que os porcos
fardados costumam marcar a cara das pessoas para ameaçar depois.
A polícia alegou que encontrou objetos que poderiam ser usados como
armas contra as pessoas. Como todos deveriam saber, o uso de instrumentos
para a autodefesa contra a polícia, que geralmente não usa
identificação nos atos, é uma forma totalmente legítima e correta de
ação, sem nenhum objetivo criminoso, como, por exemplo, ganhar licitações
fraudadas de linhas de ônibus ou dar o patrimônio público para as empresas
fantasmas do especulador Eike Batista.
Inclusive a polícia acusou um dos supostos integrantes do Black Block de
pedofilia, porque ele, segundo o Jornal Hoje, tinha fotos de crianças no
computador! De acordo com esse critério, praticamente todo mundo poderia ser
acusado de pedófilo. Isso para não falar na possibilidade real das fotos terem
sido simplesmente plantadas no computador, prática mais do que comum usada pela
polícia criminosa contra os manifestantes.
Qualquer um que faz
parte dos movimentos sociais há algum tempo, sabe que todas essas técnicas
covardes são usadas pela polícia sempre que possível para dividir e
desarticular o movimento e amedrontar os manifestantes que lutam por causas
justas. Ultimamente, no entanto, a repressão aos atos tem sido mais
frequente e mais covarde, compondo um cenário que mostra uma crescente fascistização
da sociedade, debaixo de formas democráticas, enquanto se preparam os
megaeventos e o crescimento econômico do capitalismo no Brasil começa a
desacelerar. Nessa nova fase, os revolucionários devem estar muito mais
preparados.
O fato de que muitos dos presos foram identificados pela Internet mostra
o quanto é perigoso o uso do Facebook para a organização das manifestações.
Como já falamos antes, os novos meios de comunicação prestam uma ajuda
insuperável, mas eles devem ser usados para divulgar as lutas,
enquanto a organização deve continuar a ser presencial, o que dificulta a
infiltração policial e a espionagem, e mantém o segredo do que não pode ser
divulgado publicamente.
É preciso não esquecer que a polícia que reprime na rua é a mesma
polícia que extermina a população negra e pobre na favela, a mesma polícia que
faz parte das milícias, que tortura, mata e dá sumiços em milhares de Amarildos
da Baixada à Zona Sul, do Centro à Zona Oeste do Rio (e nos outros estados do
Brasil também). É preciso não se esquecer disso para não se esquecer da
necessidade cada vez mais urgente de se auto defender destes bandidos, nas ruas
e favelas. Só assim, se organizando coletivamente poderemos defender nossos
direitos de se manifestar e de viver.
Dessa forma, temos que saudar a tática dos Black Blocks, que é a
primeira experiência de autodefesa do movimento em muitos anos. Além da importância
da organização de autodefesa, os black blocks trouxeram de volta para dentro do
movimento o debate real sobre ações radicalizadas do movimento; (coisas que
muitas organizações só defendem no papel). Essas ações, na maioria das vezes,
são ferramentas fortes na luta contra o Estado, seja pela diminuição das
passagens, seja pela derrubada do Cabral. Apesar de excessos que aconteceram
(como atacar pequenos comerciantes e pontos de ônibus), achamos importantes e
justos as ações políticas que aconteceram em alguns atos.
Temos críticas a
serem feitas, mas, ao invés de criminalizar e atacar os Black Blocks por causa
de nossas discordâncias, como fazem algumas organizações oportunistas e
pacifistas, fazendo coro com a polícia e a Globo, temos que propor maneiras de
avançar.
Para nós, os Black Blocks para funcionar melhor, evitar a infiltração de
P2 e alguns excessos, deveria ser uma autodefesa de massas e uma expressão das
passeatas. Para isso é necessário fazer parte da comissão de segurança dos
atos, em conjunto com os movimentos que organizam as lutas.
Infelizmente,
muitos setores dos blacks blocks não enxergam essa necessidade. Isso se dá por
causa da maioria de seus integrantes se alinharem com um discurso anarquista
que não vê a necessidade de organizar coletiva e centralizadamente os
manifestantes nos atos, que muitas vezes é contra lutar ao lado de partidos
políticos, mesmo que da classe trabalhadora; e que enxerga as ações
radicalizadas com um fim em si próprio, o que leva muitas vezes a achar que um
ato só é vitorioso quando há enfrentamento com a polícia.
É preciso lembrar
que a falta de interesse em seguir deliberações dos espaços democráticos não é
uma crítica dirigida somente contra o black block. Muitas organizações e
partidos políticos muitas vezes, nas quais o movimento mais precisava de união
e força, como no ato da final da copa das confederações, simplesmente não
compareceram ao ato, ignorando a deliberação de uma assembléia de mais de 2000
pessoas.
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