Nós, do Coletivo Lênin, temos, desde a nossa ruptura com o PSTU, em
2006, feito uma crítica global da concepção política defendida por quase todas
as correntes que vieram da LIT, o morenismo.
O morenismo é uma expressão especificamente latino americana de uma
tendência que dominou a Quarta Internacional na década de 1950 e que,
finalmente, levou à sua fragmentação, que continua até hoje. Essa tendência,
que nós chamamos de pablismo (por causa do nome do dirigente que a formulou,
Michel Pablo), se baseava na ideia de que seria praticamente impossível que os
trotskistas tirassem a direção dos movimentos de massas dos partidos
stalinistas, socialdemocratas e nacionalistas. E que, portanto, o que os trotskistas
deveriam fazer era tentar tensionar esses setores para que eles fossem à
esquerda e tomassem posições revolucionárias, chegando ao poder.
Essa explicação deve parecer familiar para quem conhece a história do
PSTU (mas também da CST e do MES) nos últimos trinta anos: primeiro na sombra
do PT, eternamente exigindo que o partido rompesse com a burguesia com quem ele
se aliou desde 1987. Depois, na sombra do PSOL, esperneando quando o partido
recebeu financiamento da burguesia ou se coligou com partidos burgueses, mas
sempre apoiando e formando frentes eleitorais com ele.
Mas a característica que diferenciou o morenismo de todas as outras
correntes pablistas era a sua stalinofobia. Moreno defendia que o stalinismo
era completamente contrarrevolucionário, ou seja, nunca poderia tomar nenhuma
medida progressiva. Portanto, logicamente, qualquer movimento contra o
stalinismo só poderia ser progressivo.
Foi essa posição, completamente fora da realidade, e beirando o
anticomunismo, que fez a LIT apoiar com todas as forças as contrarrevoluções
que restauraram o capitalismo na URSS e no Leste europeu. Hoje em dia, as
organizações morenistas não defendem Cuba e Coreia do Norte contra a
restauração do capitalismo, com o argumento de que as concessões feitas pela
burocracia já significam a restauração e que nesses países já existem ditaduras
capitalistas, portanto, não existe mais o que defender.
Na prática, por exemplo, o PSTU fez coro com a direita na campanha
racista e anticomunista contra a vinda dos médicos cubanos, mesmo que usando
argumentos "sofisticados" para dizer que o que estava em jogo não era
hostilidade contra Cuba, e sim uma simples questão de direitos trabalhistas.
Se a CST e o MES, mesmo com algumas posições semelhantes, não chegam
nunca às conclusões reacionárias que o PSTU, não se pode dizer o mesmo do MRS.
O MRS, que é a corrente que mais reivindica o morenismo, rompeu com o PSTU em
2006, por causa da formação da Frente de Esquerda. Eles parecem ter uma memória
muito falha, porque dizem que foi na época que eles romperam que o PSTU se
tornou um partido oportunista, esquecendo toda a trajetória, que vai desde
caracterizar o movimento Diretas Já como uma revolução democrática vitoriosa
(!?), até não dizer que a candidatura de Lula em 1989 (quando eles eram uma
corrente do PT) era uma Frente Popular e muitos etc.
O MRS (na sua intenção de ser mais morenista que o próprio PSTU), sempre
se caracterizou por levar as posições absurdas do PSTU até as suas últimas consequências.
Por exemplo, eles também são contra a vinda dos médicos cubanos e criticam o
PSTU porque não defendeu, nas assim chamadas "jornadas de junho", a
palavra de ordem de Fora Todos! (isso num momento em que a direita estava
tentando usar as manifestações para atacar o governo do PT).
No movimento sindical, o MRS tem uma posição de CSP-CONLUTAS "puro
sangue", ou seja, contra frentes com outros setores fora da central. No
papel, parece uma posição de esquerda, mas na prática é uma demarcação burocrática
pela central, em vez de levar em conta a política, e que só serve para
fortalecer o aparato da CSP-CONLUTAS.
Mas justiça seja feita com a memória do Moreno: mesmo com todos os
problemas, ele sempre esteve do lado dos países coloniais e semicoloniais na
luta contra o imperialismo. Na verdade, o próprio morenismo surgiu como
corrente política em contato com o nacionalismo peronista argentino, e o que
podemos criticar é que, muitas vezes, o que havia era capitulação às posições
nacionalistas, como por exemplo, na formação do PSRN (Partido Socialista pela
Revolução Nacional) com setores peronistas.
Mas, depois do fim da URSS, as correntes morenistas levaram a sua
capitulação ao campo imperialista à sua conclusão lógica e fizeram o que nem o
próprio Moreno fez na vida: apoiar intervenções imperialistas em nome da
"democracia". Se já existiam sinais disso durante as guerras que
destruíram o Estado Operário iugoslavo (a LIT fez uma campanha de "ajuda
operária à Bósnia" junto com setores da socialdemocracia europeia que
estavam defendendo a guerra contra a Sérvia), nos últimos anos a máscara caiu
de vez.
A crise mundial que começou em 2008, como não poderia deixar de ser,
levou a uma grande instabilidade social. Infelizmente, numa situação de crise
do movimento dos trabalhadores, a revolta das massas acaba, muitas vezes, sendo
canalizada por setores de direita, principalmente quando elas estão em conflito
com governos que têm conflitos pontuais com os países imperialistas.
Isso foi o que aconteceu no caso da oposição líbia. As primeiras lutas
espontâneas contra a ditadura de Muammar Khadafi que surgiram inicialmente com
demandas justas e democráticas, sendo, portanto de caráter progressivo;
infelizmente, foram rapidamente controladas por setores alinhados com os EUA e
a França. Eles criaram o Conselho Nacional de Transição (CNT) e passaram a
exigir uma intervenção da OTAN contra o próprio país.
Numa situação dessas, qualquer revolucionário não teria outra opção a
não ser defender uma frente única antiimperialista, inclusive com o governo
Khadafi, para impedir que a Líbia se transformasse num país mais subordinado
ainda às grandes potências.
A atitude de todas as correntes morenistas brasileiras (PSTU, CST, MES e
MR) foi exatamente o contrário: eles continuaram a apoiar a derrubada de
Khadafi, mesmo com toda a evidência, inclusive jornalística, de que eles
estavam sendo financiados e armados pela OTAN, e comemoraram quando o CNT
chegou ao poder, como se isso fosse uma vitória da "revolução" líbia.
O MR (atual MRS) perdeu qualquer contato com a realidade, e chegou até mesmo a
falar que existia dualidade de poderes e que uma greve geral tinha acontecido
na Líbia!
Tudo isso em nome da "democracia" formal e do apoio acrítico
aos movimentos de massas, independente do conteúdo deles. Essa posição traidora
se contradiz inclusive com a trajetória da LIT, que esteve do lado da Argentina
contra a Inglaterra na Guerra das Malvinas, em 1982, dizendo claramente que não
se tratava de uma luta de uma ditadura contra uma democracia, e que era questão
de princípio apoiar a nação oprimida, mesmo que o seu governo fosse o regime
militar de Galtieri.
Agora, a próxima vítima dos imperialismos americano e europeu é a Síria,
onde eles apoiam o Conselho Nacional Sírio (qualquer semelhança com o CNT da
Líbia não é mera coincidência), cuja corrente principal são os fundamentalistas
da Irmandade Muçulmana. O Exército Livre da Síria, que é o braço militar da
luta contra a ditadura de Bashar Al-Assad (apoiada, por enquanto, pelo
imperialismo russo) tem sido armado e financiado pelos aliados dos EUA no
Oriente Médio, o Qatar e a Arábia Saudita.
Com uma análise de conjuntura que parece ter saído de um delírio
completo, o PSTU chega a exigir que todos os governos do mundo mandem armas
para a oposição síria! Uma mostra de pura ingratidão do PSTU, como vimos,
porque os EUA já estão fazendo isso, usando os seus aliados como
testas-de-ferro!
O MES e a CST, mesmo que não caiam no extremo de oportunismo do PSTU,
também apoiam a derrubada de Assad, sem dizer que isso só seria positivo se a
classe trabalhadora tomasse o poder nas suas próprias mãos. Não entendem que se
o CNS e o exército livre da Síria tomassem o poder seria completamente
desastroso e que, nesse momento e na ausência de uma direção da classe trabalhadora,
significaria a instalação de um regime fundamentalista sunita, que acabaria com
os poucos elementos laicos do Estado sírio e perseguiria as minorias religiosas
(xiitas, cristãos e alauítas).
Mas o recorde do oportunismo pertence ao MRS, que se lamenta no seu
último jornal que o imperialismo ainda não tenha se decidido pela intervenção
militar:
"Por isso, setores como o Partido Trabalhista britânico e parte dos
conservadores desse país, assim como muitos democratas e republicanos nos EUA,
titubeiam e francamente relutam em fazer qualquer coisa contra Assad."
(Correio dos Trabalhadores, 55)
Lênin chamava a socialdemocracia europeia, que apoiou a Primeira Guerra
Mundial, de social-imperialista, ou seja, socialista em palavras, imperialista
nos atos. Não existe melhor definição hoje em dia para o que se tornaram as
correntes morenistas.
Aí o Coletivo Lênin escreve:
ResponderExcluir"Só com um partido revolucionário, composto em sua maioria por mulheres e negros, é possível lutar pelo governo direto dos trabalhadores, como forma de abrir caminho até o socialismo."
É constrangedor como as pessoas não percebem que isso é uma forma de Ku Klux Klan do terceiro mundo... Socialista de verdade luta pelo fim da exploração, pela justiça e pela liberdade, enquanto o discurso for o da minoria nunca sairemos da situação em que estamos.
PS Qualquer forma de pensamento que não for radicalmente anti stalinista não passa de uma opressão. Vocês não passam de uma piada...
Por falar em antistalinismo...
ResponderExcluirhttps://www.marxists.org/portugues/trotsky/1935/04/20.htm
https://www.marxists.org/archive/trotsky/works/1940/negro1.htm