QUEM SOMOS NÓS

Minha foto
Somos uma organização marxista revolucionária. Procuramos intervir nas lutas de classes com um programa anticapitalista, com o objetivo de criar o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, a seção brasileira de uma nova Internacional Revolucionária. Só com um partido revolucionário, composto em sua maioria por mulheres e negros, é possível lutar pelo governo direto dos trabalhadores, como forma de abrir caminho até o socialismo.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

O que é e pra onde vai a Frente Comunista dos Trabalhadores (FCT)?



Este é um documento interno que o Coletivo Lenin defende em sua maioria e que trata de divergências com a linha geral da FCT, frente que compomos atualmente. Ele foi escrito há mais de um mês e por isso pode se encontrar defasado em algumas poucas questões; no entanto achamos proveitoso divulgar publicamente este debate, por este tratar de temas importantes de serem discutidos, inclusive para além das organizações envolvidas.

____________________________________________________________________________


       Após alguns meses de experiência numa atuação conjunta com as organizações que fazem parte da FCT e após algumas discussões sobre avaliação desta frente pelos militantes do Coletivo Lenin, se faz necessário escrever este documento para expor algumas posições que ficaram claras com o passar do tempo. Este texto servirá para discutir sobre a caracterização e o funcionamento da dita frente e trazer à tona as divergências mais importantes que observamos nesses meses de experiência. É importante ressaltar que algumas dessas divergências representam a posição majoritária dentro do Coletivo Lenin, enquanto outras, por ainda não terem sido discutidas e/ou por serem consideradas dispensáveis de centralismo são posições apenas dos militantes que assinam este documento. Cada uma das posições expressas a seguir será associada como sendo uma ou outra.


O que é a FCT?

Nesse ponto, traremos nossa caracterização da FCT. A Frente Comunista dos Trabalhadores era antes conhecida como Comitê Paritário. Para não se perder numa discussão sobre nomes, quando nos referirmos à Frente Comunista dos Trabalhadores, estaremos também nos referindo ao Comitê Paritário, uma vez que entendemos que a proposta trazida por tal espaço continuou a mesma, mesmo com a mudança de nome.
Qual seria então essa proposta? A FCT se configurou, desde o seu início, como uma frente, ou seja, um espaço para reunir organizações, correntes e militantes independentes em torno de demandas em comum. Não podemos falar por todas as organizações que decidiram compor tal espaço, mas o Coletivo Lenin decidiu construí-lo por entender a necessidade de se aproximar de organizações que possuem uma atuação e programa próximos aos nossos, além de coordenar ações em comum com essas organizações e também da importância de existir um espaço permanente com princípios minimamente revolucionários, que pudesse ser uma opção para a extrema esquerda que se encontra dispersa e a outras organizações e partidos que não conseguem seguir tais princípios. Como tal espaço se propôs a ser uma frente, tais princípios deveriam ser mínimos para tentar juntar o máximo de organizações possíveis (com programas diferentes) em torno de necessidades comuns. Na nossa opinião, isso se configuraria numa atuação e propaganda baseada na independência de classe, democracia para discussões de decisão de atuação conjunta e a denúncia e combate do Estado burguês e dos demais inimigos da classe trabalhadora.
Acredito que houvesse a intenção de alguns companheiros e organizações de, a partir da experiência da FCT, de se criar uma organização formal e centralizada. No entanto, isso ainda não aconteceu. A FCT ainda é uma frente descrita nos termos acima e entendemos, como colocaremos aqui os motivos, que criar uma organização neste momento seria um grande erro.
É importante frisar que a FCT ainda é uma frente porque nos parece que está havendo uma confusão sobre isso. Para esclarecer essa questão dialogaremos com o texto da segunda edição do jornal, na primeira página após a capa, intitulado “Quem somos – Frente Comunista dos Trabalhadores”. Citamos agora alguns trechos que, na nossa opinião, deixaram claro que a proposta da Frente Comunista dos Trabalhadores mudou.
“A FCT se constrói como uma aliança internacional de trabalhadores comunistas sob a perspectiva da reconstrução da IV Internacional e da revolução permanente”

O Coletivo Lenin não defende a reconstrução da IV Internacional. Entendemos a necessidade de um partido da revolução mundial. Achamos, no entanto, que defender a reconstrução de um órgão que se desfez em dezenas de pedaços é acreditar que a História vai andar pra trás. Além disso, a IV Internacional foi criada em 1938 sob a bandeira do Trotskysmo ser a única opção revolucionária à burocratização stalinista. Revoluções e guerras aconteceram depois e um monte de rachas dos chamados trotskystas, sem contar o surgimento de novas vanguardas. Se apegar a somente uma parcela da luta de classes que aconteceu em mais de meio século para defender um único programa correto (que por sinal, todos os outros 20 pedaços dizem ser o seu) é uma velha tradição dogmática que se nega a enxergar a pouca influência que tem na realidade e se nega a abrir mão de fórmulas mágicas para dialogar com a realidade concreta.

“A FCT está hoje presente em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Ceará. É uma organização com tendências.”

Esperamos ter deixado claro que a FCT não é uma organização. A mera existência desse documento prova que não pode haver organização enquanto as divergências não forem devidamente discutidas. E também sobre como funcionaria tal organização visto que as divergências não serão sanadas na base do convencimento.

“A FCT possui mais de seis meses de existência. Internacionalmente, a FCT é seção do Comitê de Ligação pela IV Internacional, tendência internacional composta também pelo Socialist Fight britânico e pela Tendência Militante Bolchevique argentina com que as tendências da FCT passam a estabelecer relações fraternais.

Há algo de “longe demais” neste trecho. A FCT, além de organização, é agora uma seção nacional de um Comitê que nunca tivemos qualquer contato antes da FCT. Relação de seção é algo muito sério que não pode ser simplesmente estabelecido com uma frente. A frente está aberta para qualquer militante ou organização que tenha acordo com os seus princípios mínimos, mas não está aberta para se tornar seção de outra organização. Além disso, o Coletivo Lenin não passou a estabelecer relações fraternais com quaisquer dessas organizações. Essa discussão não foi levantada dentro do CL. Relações fraternais, apesar do nome legal, exigem de fato, relações fraternais e não somente reconhecimento público. Pouco conhecemos do programa e atuação de tais organizações. E do que conhecemos, temos sérias discordâncias.

“As origens políticas distintas... conduzindo-nos a uma compreensão comum da realidade, ou seja, a um programa comum, e, consequentemente, das nossas tarefas do momento.”

Discutiremos mais adiante nossas diferenças com esse “programa comum” que é segmentado em pontos no jornal. No entanto, mesmo que os militantes do Coletivo Lenin mais empenhados na tarefa de construir a FCT tenham esquecido de colocar tais divergência pelo CL, alguns militantes que assinam este documento já se colocaram contrários nos espaços de discussão da FCT, a pelo menos a um ponto do “programa”. Se tal divergência não é colocada no jornal, nem ao menos uma nota, como feito para a Tendência Revolucionária sobre o voto em Dilma no final do texto, mesmo quando é sabido que ela existe, fica óbvio que a proposta da FCT não é mais a de ser uma frente.


Como funciona a FCT?

A FCT possui alguns espaços de  comunicação entre os militantes das organizações que a compõem, onde um deles se destaca. Para além disso, a FCT se configura na realidade dos movimentos sociais (atos e espaços de movimentos sindicais, populares, estudantis, etc.) quase que completamente através do jornal. Sobre essas duas observações seria razoável concluir que a elaboração do jornal se desse majoritariamente através do  principal meio de comunicação, onde a maioria dos militantes podem acompanhar as discussões de maneira mais prática e dinâmica. No entanto, isso não acontece.
Alguns companheiros do CL aderiram aos espaços de discussão da FCT  tardiamente. Não vou discutir os motivos porque isso aconteceu para não levantar polêmicas desnecessárias. No entanto, aconteceu. Somente no dia primeiro de maio, 3 companheiros do Coletivo Lenin foram integrados aos espaços da FCT . Até essa data foram produzidos dois jornais da FCT sobre os quais as informações sobre como foi feito, como foram decididos os textos, opiniões sobre orçamento e tiragem, etc. foram passadas para nós a nível de informe quando já se estava consumado. Obviamente pode-se argumentar que isso é um problema interno do CL e não da FCT. E se argumentaria corretamente; mas esse não foi o único ponto. O CL, como um todo, após discutir tais questões, tirou suas posições próprias e inclusive decidimos mandar o texto “Os dois pesos e as duas medidas da mídia e da polícia” publicado no dia 15 de março, para ser incorporado ao segundo jornal, que inclusive foi divulgado para toda a FCT . Segundo um companheiro nosso que mais atua na FCT, tal texto não entrou no jornal porque ele “não participou ativamente da edição” do segundo jornal. Será que mesmo o companheiro do CL não tendo participado da confecção do jornal, nenhum outro militante da FCT levou em consideração esse texto na hora da confecção do jornal? Estes pontos nos fazem questionar a boa vontade de alguns companheiros em incorporar uma parcela do Coletivo Lenin em discussões fundamentais (majoritariamente em torno do jornal, principal órgão de divulgação da FCT) e a democracia sobre a qual os textos são escolhidos.
Para não levantar falsos apontamentos, fizemos uma pesquisa nas discussões da FCT anteriores à entrada dos 3 companheiros do CL para averiguar essa situação. Vimos que o jornal não é decidido em reuniões fechadas e burocráticas, e é também divulgado para discussões antes de qualquer decisão final. No entanto, temos severas críticas à forma como isso é feito. Não é clara a maneira como os textos que irão compor o jornal são divulgados previamente e para a grande maioria dos textos, isso sequer acontece. A única maneira que se tem acesso a todos os textos é quando o jornal já está praticamente finalizado. Isso desencoraja o militante que quer se colocar contra, pois sabemos muito bem da possibilidade de acusações de “basismo”, “democratismo”, de estar atrasando a publicação do jornal, que é muito mais importante do que ficar discutindo divergências “secundárias”.
Por exemplo, em relação ao segundo jornal, vimos que no dia 18 de Abril foi proposta uma pauta por um companheiro, uma capa foi proposta no dia 23 de Abril, uma versão provisória no dia 26 de Abril e a versão final já foi mandada para a gráfica no dia 28 de Abril. Para um jornal que se propõem ser bimestral, achamos 10 dias para discussão de todos os textos, que como já dissemos são divulgados apenas parcialmente e de maneira confusa, muitíssimo pouco. Alguns textos, com os quais temos discordâncias enormes nem sequer foram divulgados  e nem estavam na proposta de pauta.
Em relação ao primeiro jornal, é possível observar os mesmo problemas em escala relativamente maior. Entendemos que a primeira empreitada se apresenta sempre como a mais difícil, por isso nos isentamos de fazer críticas mais severas. No entanto, entendemos a necessidade de tentar sanar as debilidades do processo e não se acostumar a elas. Entendemos que essa iniciativa não foi tomada.
Nós vamos adiantar aqui respostas a uma das mais óbvias críticas ou comentários maliciosos que possam ser direcionados a nós. Apesar destas grandes discordâncias, alguns dos companheiros que assinam este documento tiveram a ideia de fazer a atividade de propaganda e divulgação do primeiro jornal na central do Brasil, antes do núcleo da FCT do Rio se convencer da importância dessa atividade. Foram responsáveis também não só pela ideia, mas pela execução da mesma, resultando na passagem de mais de 200 jornais num único dia; atividade que nenhum outro membro da FCT do Rio realizou, mesmo após terem decidido em reunião. Alguns de nós, fomos responsáveis pela maior venda de edições do segundo jornal no primeiro de maio carioca, passagem do primeiro jornal (já antigo) no primeiro de Maio e 29 de Maio e venda de algumas dezenas de exemplares no dia 29. Será que somos bons o suficiente pra vender jornais, mas somos “café com leite” pra participar de sua confecção? Nós que discordamos de diversos pontos do jornal, não estamos sentados criticando e inventando desculpas para não militar como muitos podem pensar. Isso é um argumento de autoridade. Então dizemos a quem possa interessar, que pense duas vezes, antes de dirigir críticas aos militantes que estão aqui manifestando suas divergências.

Por que o dito “programa” da FCT está errado?

Nossas divergências principais se resumem a 3 pontos, que em certo nível estão interligados. São eles:
I)                 Até onde deve ir a frente única com o PT
II)               A ideia de golpe nacional
III)              Frente única com o imperialismo “menos pior”

Tentaremos escrever nossas divergências de maneira rápida e clara, pois nosso objetivo nesse documento é prioritariamente nos manifestarmos e dizer que há divergências sérias dentro da FCT sobre as quais não se pode fechar os olhos nem desconsiderar e não discutir antes de se falar na criação de uma organização.

I)                  Sobre o PT e a frente única

Entendemos que a necessidade de frente única com o PT e demais espaços governistas se faz presente na conjuntura atual. Essa conjuntura é caracterizada por dois pontos. O primeiro é a referência que boa parte da classe trabalhadora ainda tem no PT, muito por conta de seu programa liberal-desenvolvimentista que consegue fornecer migalhas maiores para a classe trabalhadora, mas também por conta da direção deste partido de alguns organismos de base, como sindicatos, DCE’s e movimentos de esquerda. No entanto, como sabemos o PT não representa nenhuma alternativa revolucionária como direção da classe trabalhadora; lugar que só pode ser ocupado por um partido classista de massas e comprometido com a revolução socialista. Esse primeiro ponto, portanto não justifica a frente única com o PT. O segundo ponto, no entanto, retrata de forma mais triste nossa realidade. As organizações de esquerda não conseguem fazer frente ao projeto petista e apresentar uma alternativa concreta para a classe trabalhadora. Isso faz com que não possamos abandonar o PT a sua própria sentença e construir e apostar em espaços mais à esquerda, quando estes simplesmente ainda não existem concretamente. Principalmente num acirramento de conjuntura e pseudo polarização entre esquerda e direita, entre PT e PSDB.
Vimos uma escalada da direita liberal, junto com o que há de pior na humanidade (fascistas, intervencionistas, nazistas, etc.) em torno de um grande coro de “fora PT”. O PT viu parcialmente a necessidade de responder a esta escalada. Por isso mobilizou parcela de sua base, na tentativa teatral de dizer que o governo não sairia sem brigar. Nesse cenário, não nos negamos a nos posicionarmos nesse processo e fazer coro com o governo em espaços que reivindicassem o caráter público da PETROBRAS, contra o corte de direitos trabalhistas, a favor de programas sociais, e também contra o discurso golpista de parte da burguesia. Não nos negamos a combater a direita, tanto ideologicamente, quanto fisicamente quando necessário. No entanto, precisamos entender o processo que levou a esta escalada. O projeto falido de um partido burguês com discurso populista que atacou direitos da classe trabalhadora durante doze anos. A falta de referência da classe numa direção minimamente socialista (que coloque o debate por uma nova sociedade).  A frente única com o PT não pode ser entendida fora desse contexto, porque não pode ser defendida fora desse contexto. Dizemos isso para que não esqueçamos que o PT gere o principal inimigo da classe trabalhadora, o Estado.
A proposta de frente única deve ser colocada com o intuito de parar a ofensiva da direita (do liberal ao nazista), mas deve também denunciar para as bases do PT sobre sua direção. O que parece que é feito na agitação de frente única pela FCT é a exigência de que a direção do partido mobilize suas bases. Isso não poderia ser mais cômico. Acreditar que o PT se arriscaria a mobilizar greves, estando na gestão do Estado. Nossa principal tarefa na frente única, junto com a luta contra a direita, deve ser a de denúncia do PT e não de confirmação que só o PT pode parar o golpe. Uma organização revolucionária, por menor que seja, tem que se colocar como alternativa e não se esconder debaixo das asas de um partido que é a sombra do que já quis ser um dia.
Isso nos parece ficar claríssimo na posição de defender o voto crítico em Dilma no ano passado. Alguns companheiros do CL publicaram um documento com uma posição alternativa ao voto crítico no PT em 2014 no segundo turno. O texto coloca argumentos de forma mais ampla e desenvolvida. Seu nome é “Sobre as eleições e o segundo turno” e pode ser acessado no link seguinte http://coletivolenin.blogspot.com.br/2014/10/sobre-as-eleicoes-e-o-segundo-turno.html . A única posição aceitável de uma organização classista sobre eleições burguesas (declarações ou candidaturas) é aquela que se centre na denúncia do sistema eleitoral. Centrar significa tornar o centro. Não foi o que aconteceu com boa parte da esquerda que agitou tanto o voto crítico em Dilma. O que foi visto e é repetido ainda hoje é uma mistura de desespero e confusão, representados na criação de argumentos ultimatistas, que usam o pretenso golpe (antes militar, agora eleitoral, agora só publicitário) como desculpa para a posição em questão. Se cria uma atmosfera de golpismo, dando ênfases catastrofistas a alguns acontecimentos para justificar a frente única até as últimas consequências com um partido “menos pior”. Entendemos que as desculpas utilizadas para bater na direita e se esconder atrás do PT é não só esquecer que a sociedade se divide em classes e não em PT / PSDB, como fechar os olhos para as dificuldades apresentadas aos revolucionários nas eleições e na sociedade de maneira geral.
Achamos que esse aspecto se alastra por um amplo espectro de posições da FCT, relegar para segundo plano a luta de classes real em prol de golpismos de partidos burgueses, ou jogos de engravatados imperialistas. Como se o partido burguês que está no núcleo do Estado ou o lugar onde será a próxima copa do mundo fossem pontos mais importantes para a classe trabalhadora do que os eventos e lutas que a classe trabalhadora de fato participa. Para reflexão, nós gostaríamos de perguntar aos companheiros que votaram em Dilma no segundo turno do ano passado: O que teria acontecido de tão diferente caso o PSDB tivesse ganho as eleições? Depois de todos os ataques a direitos trabalhistas, cortes de serviços sociais, já se passou quase um ano das eleições e nós não conseguimos imaginar como o PSDB teria servido tão bem ao capital como o PT está fazendo.


II)               A ideia de golpe nacional.

Já adiantamos algo de nossa posição em relação a este ponto. Entendemos que o alarde de golpe nacional para a ordem do dia é uma das táticas (a mesma utilizada pelo próprio PT nas eleições inclusive) para induzir a classe trabalhadora a achar que a sociedade está completamente polarizada entre aqueles que odeiam o PT e são malvados e aqueles que precisam defender o povo do retrocesso. Isso parece aliviar a consciência de alguns militantes para correr pra debaixo da saia do todo poderoso PT, com todo seu aparato sindical e história de origem do movimento operário e deixar em segundo plano a carnificina de direitos trabalhistas, arrochos fiscais e salariais, venda de bens e empresas nacionais que o PT em toda a sua glória tem colocado em prática.
Entendemos a possibilidade de algum tipo de golpe (militar ou institucional) como muito remota e isso desde todo o início das manifestações da direita desse ano, das eleições de 2014, dos atos de 2013 (como inclusive alardeou um de nossos próprios militantes), etc.. A ideia de golpe, até onde nos lembramos foi colocada nas próprias eleições de 2010 (somente como golpe eleitoral) por alguns militantes do CL.
Entendemos um grave erro de avaliação das organizações e militantes que usaram como argumento de autoridade a piora na “correlação de forças” e decidiram dar um giro nas posições eleitorais e defender o voto crítico em Dilma (que de crítico não teve lá grande coisa) por medo do tal golpe que estava logo ali na esquina. Mesmo já tendo passado algum tempo, os companheiros que defenderam essa posição erroneamente ainda não admitem o erro e não fizeram autocrítica. Continuam usando artifícios, como frases do tipo “a direita mudou sua tática”, ou “a burguesia se redirecionou”, ou qualquer outra coisa do tipo para dizer que eles estiveram certos o tempo todo, mas foi a realidade que mudou.
O golpe nunca esteve perto de acontecer. Não houve articulação das forças armadas. O movimento “fora Dilma e PT” não tomou corpo orgânico. O que aconteceu foi uma parcela minoritária da burguesia, com suas mídias e palanques agitando palavras de ordem de contra corrupção e tentando manchar a imagem de um partido “patinho feio” da burguesia imperialista. Isso não é novidade pra ninguém, muito menos pra nós.
Apesar de entender o golpe como algo muito remoto de acontecer, ao contrário de alguns militantes, não somos cegos para a dialética da realidade e entendemos que essa possibilidade existe. E que o discurso da direita mais presente nas ruas abre portas para o aparecimento de organizações e atitudes fascistas e anticomunistas, como o ataque a partidos políticos e minorias oprimidas. Por isso temos total acordo com a palavra de ordem de frente única antifascista.
Uma organização revolucionária não pode apoiar suas análises em impressionismos, mas mais do que isso, não pode tentar transformar seus erros em acertos usando desculpas esfarrapadas. A autocrítica de erros não deve ser temida, pois é uma ferramenta poderosa para trilhar no caminho de acertos.


III)              Frente única com o imperialismo “menos pior”

Este ponto especificamente não apareceu no “programa” da FCT. No entanto, parece ser uma posição bastante presente na cabeça de alguns militantes da FCT. Para este ponto, vamos transcrever a contribuição individual do companheiro R a cerca desse tema:
“1. A atual discussão começou sobre a caracterização da Grécia, mas logo evoluiu pra um debate sobre o imperialismo. Como essa é uma das duas grandes diferenças que eu tenho com o CLQI (a outra é sobre questão da mulher, e pode ser que haja diferenças sobre a questão negra), vou aproveitar aqui pra defender melhor a minha posição e criticar a do CLQI.

2. Antes, vou explicar a minha linha sobre a Grécia:

- a Grécia é um país imperialista de segunda linha (indústria naval e capital financeiro, que explora os Bálcãs e o Chipre), comparável a Portugal.
- A saída da UE seria uma solução nacionalista a serviço da burguesia.
- A eleição da Syriza não foi o resultado de uma situação pré-revolucionária. Portanto, a pressão principal não vai ser das massas querendo ultrapassar os limites do governo, e sim da Troika para derrotar o governo e mostrar que a austeridade é inevitável
- Por isso, o eixo da política deve ser a defesa da frente popular contra a Troika, sempre mantendo uma política de exigências e denúncias. Para aproximar e organizar a base da Syriza, se deve chamar a formar comitês de base, como Trotsky defendeu na frente popular francesa. Uma linha de ataque frontal ao governo só seria válida se ele passasse a implementar os planos de austeridade.
- é possível que a frente popular consiga algumas vitórias, o que será positivo, porque vai quebrar o mito de que é impossível vencer a austeridade
- a linha sectária do KKE, de escolher a Syriza como alvo principal, é comparável à do PSTU no Brasil, com o agravante de que a Syriza é reformista. Ou seja, é stalinismo do terceiro período.

3. Do ponto de vista da teoria, existem dois níveis. Um é o do capital social, ou seja, de todos os capitais. O outro é o nível da relação entre os diferentes capitais, ligados aos Estados. A Rosa analisou o primeiro nível, o Lênin o segundo. O problema é que o segundo nível depende do primeiro, ou seja, pra entender a relação entre os Estados, é preciso entender o estágio atual do capitalismo como um todo. O próprio imperialismo só existe por, a partir de determinada época, o desenvolvimento desigual do capitalismo (que sempre existiu) passou a englobar continentes inteiros.

Por que eu tô falando isso?

Porque existe uma visão no movimento que iguala dependência política e ser uma semicolônia. Um país pode ser dependente de um imperialismo mais forte, e ainda assim ser imperialista. Ou pode oprimir outra nação e ainda assim ser semicolonial. O imperialismo é o estágio superior do capitalismo, o que vai definir se um país é imperialista ou não é se ele chegou ao nível monopolista do capitalismo.

4. Até nos clássicos existe muita confusão sobre isso. Eu vou citar três exemplos:
- No Imperialismo, o Lênin diz que Portugal era um país dependente, apesar do grande império colonial africano.
- No mesmo livro, ele diz que a Argentina não é semicolonial (o Gerry deve lembrar que o Grant usou essa citação pra não defender a Argentina na Guerra das Malvinas)
- Trotsky considerava a Sérvia imperialista, porque ela dominava a Bósnia e a Croácia.

Os setores oportunistas usaram essas indefinições para defender a "independência nacional" de seus países imperialistas. Por exemplo, o PC canadense defendendo que a tarefa principal era lutar pela "soberania nacional" contra os EUA. Ou os lambertistas, que dizem que todos os problemas sociais da Europa serão resolvidos rompendo com a UE.

5. Bem, então já dá pra entender melhor a minha posição. Vou resumir aqui pra ficar mais claro (sem me aprofundar na relação entre os níveis etc., que não caberia aqui):

- O critério para definir se um país é imperialista é econômico, é o nível de desenvolvimento do capitalismo, ou seja, país avançado, que tem capital monopolista e financeiro próprio, é país imperialista.
- o Lênin já falava em outros graus intermediários entre colônia, semicolônia e país imperialista. No mundo de hoje, eu diria, que a cadeia imperialista é: EUA - imperialismo europeu (que tem interesses parcialmente contraditórios com as burguesias alemã, francesa e inglesa), imperialismos de segunda linha (por questões geográficas, os imperialismos russo e chinês são imperialismos de segunda linha que cumprem o papel de potências regionais), subimperialismos (Brasil, África do Sul, Índia etc., países dependentes mas associados ao imperialismo), países capitalistas dependentes (= industrializados), semicolônias e colônias.
O objetivo não é falar de TODOS os países, por exemplo eu não falei de casos bizarros como Mônaco, Vaticano, Groenlândia etc.
- Existe uma integração econômica muito maior que na época do Lênin. Isso é a base material da UE, e significa que as formas mais violentas de conflitos interimperialistas estão excluídas, como as guerras mundiais.

6. Depois disso, vou criticar a posição do CLQI, colocada principalmente no documento do German sobre o Núcleo Russo-Chinês

Eu considero a linha dos companheiros um erro estratégico desastroso, porque significa o alinhamento a longo prazo com países imperialistas de segunda linha contra os EUA e a UE.

Os companheiros devem saber das minhas divergências sobre a Ucrânia, onde eu defendo a dupla derrota (contra o governo de direita pró-UE com componentes fascistas, e as "repúblicas democráticas" fantoches da Rússia, também com componentes fascistas), justamente por essa diferença de análise.

7. A outra crítica que eu faço aos companheiros do CLQI é sobre a questão das resistências anti-imperialistas, que não está diretamente ligada a essa análise econômica. Eu sou contra o critério objetivista dos companheiros, que consideram que qualquer setor que se enfrente com os países imperialistas é anti-imperialista.

Como consequência da destruição contrarrevolucionária da URSS, houve um florescimento de setores que acreditam numa utopia pequeno-burguesa regressiva de "volta atrás no tempo" e rejeitam a sociedade capitalista em bloco. É o caso do fundamentalismo. Eu não considero que seja possível formar uma frente única anti-imperialista com eles, somente com setores nacionalistas de esquerda ou socialistas no sentido amplo da palavra.

Essa diferença apareceu no caso Charlie Hebdo, em que eu fui contra a posição do CLQI, porque entendo que o atentado representava a imposição de uma concepção medieval de punir a blasfêmia.


Bem, eu acho que consegui explicar o fundamental das divergências. Qualquer dúvida, é só me falar!”

Apesar desse texto acima ter sido escrito num momento diferente deste documento, decidimos fazer uso dele por tratar de um dos pontos que consideramos importantes de serem discutidos, cujos posicionamentos que tem ido a público em nome da FCT consideramos estarem errados. Como exemplo, temos o texto “A agressão dos EUA contra a Ucrânia e a Frente Única Anti-imperialista” do segundo jornal da FCT, cujo trecho é citado abaixo:
 “Estamos contra os EUA, que é o principal inimigo da classe trabalhadora mundial, os oligarcas e Putin são inimigos que ocupam um posto secundário. Há muitas pessoas de esquerda do movimento operário, que veem os EUA e a Rússia como inimigos iguais da classe trabalhadora, mesclando tudo e se recusam a adotar uma política que defende a derrota do imperialismo americano. Elas tornaram-se liberais burgueses e são anticomunistas”.
Pode-se notar que a posição colocada se parece muito com da caricatura de um militante adolescente que tem seu primeiro contato com as injustiças do capitalismo e decide como ato político parar de tomar Coca-Cola ou não depositar dinheiro no banco mais rico; ou seja, se personifica as contradições do capitalismo nos EUA e na UE, e se coloca um sinal de igual entre luta anti-imperialista e luta antiamericana ou anti-europeia.
Cabe aqui um esclarecimento sobre a posição de dupla derrota. É preciso entender que essa posição é produto de nossa análise centrada na luta de classes da sociedade e não no conflito de duas ou mais frações da burguesia num determinado momento. Entendemos que a classe trabalhadora (Ucraniana e mundial) não deve depositar esperanças num lado ou em outro de uma guerra burguesa com componentes fascistas em ambos os lados. Defendemos uma dupla derrota das direções de ambos os lados (pró-EU e pró-Rússia) por entender que nenhum dos dois lados representa o interesse da classe trabalhadora, como tem feito algumas organizações anarquistas e o próprio SU. Entendemos que caso fosse possível estar intervindo na Ucrânia, tanto no oeste (principalmente antes do golpe que depôs o presidente Yanoukovitch), quanto no leste, nossa postura deveria ser a de uma terceira alternativa, atuando com a propaganda classista nos espaços de base e de luta contra a burguesia e o imperialismo (euro-americano ou russo).
Voltando à posição da FCT, esse parece ser mais um dos pontos onde o impressionismo toma o lugar do materialismo. Qualquer acontecimento no cenário mundial (e às vezes até nacional ou regional), por menor que seja, parece ser a última gota d'água, a fagulha de uma revolução mundial ou de uma nova guerra mundial. A falta de compreensão de como o capitalismo se reorganizou faz com que algo que pode parecer estranho à primeira vista (apesar de ser só mais uma manifestação contraditória, própria do capitalismo) terá grandes repercussões. Quando na verdade, o que a burguesia imperialista menos quer hoje é uma guerra mundial. Fica um jogo de poder, troca de insultos sutis entre chefes de Estados, demonstrações de força e até intervenções em pontos específicos (como o caso da Ucrânia); mas não há indício material de que passará disso.
Essa avaliação nos coloca sempre com a arma na cabeça e nos força a escolher entre lados, que são ambos nossos inimigos; além de relegar para segundo plano a luta de classes, que é raiz teórica do método do materialismo dialético e raiz prática do desenvolvimento histórico e social. Isso nos engana a pensar que a coalização russo-chinesa seja muito mais importante do que a revolução curda, por exemplo. Ficamos pensando que a dinâmica social é ditada diretamente por meia dúzia de chefes de estado e não enxergamos ou não ligamos as verdadeiras demonstrações de força da nossa classe pelo mundo a fora.


Pra onde vai a FCT?

Está havendo a organização do congresso da FCT, onde acreditamos que alguns companheiros colocarão a necessidade da criação de uma organização centralizada a partir do processo de fusão. Não cabe a nós tentar coagir os companheiros a não proceder com esse processo, nem usar de manobras políticas para impedir que isso ocorra.  No entanto, esperamos ter deixado claro que isso é um erro. Esse documento foi uma tentativa inicial de deixar claro nossas divergências com a linha política que até o momento tem predominado nos jornais da FCT. Nossa intenção foi de expor de maneira rápida e concisa essas divergências e não realizar um trabalho de convencimento de nossas posições, que levaria a muito mais páginas de texto. Com isso, pedimos que esse documento não seja encarado como um devaneio de alguns poucos militantes, mas que seja instrumento para uma reflexão sobre os pontos que levantamos. Estaremos abertos a críticas e disponíveis para esclarecimentos daqui em diante.
Nossa intenção principal ao levantar essas discussões foi a de mostrar que a FCT não está pronta para passar por um processo de fusão. As discordâncias para um programa em comum seriam muito grandes, onde a disputa interna em torno de tal programa seria muito desgastante e ofuscaria a militância no movimento, que acreditamos ser uma das prioridades nesse momento.
Propomos, portanto que a FCT continue como uma frente, baseada nos princípios que colocamos no início do texto e que se amadureça a discussão sobre os pontos centrais de divergências, até que o compromisso com a criação de uma nova organização seja acolhido por todas as organizações.
Em relação ao jornal, entendemos que o jornal da FCT é um ótimo instrumento de intervenção no movimento e, portanto gostaríamos de continuar a trabalhar com ele. No entanto, entendemos que as posições políticas que saíram na última edição nos colocaram numa situação política embaraçosa, onde tivemos que vender um material com o qual temos desacordos significativos. Ainda assim, decidimos nos comprometer com a sua divulgação. Queremos dizer que não iremos nos comprometer caso a mesma coisa aconteça novamente na próxima edição. Poderíamos requerer um espaço no jornal para colocar nossas divergências e pressionar para que textos com nossa posição fossem incluídos; mas nós apreciamos o jornal porque achamos que foi um ótimo passo na confecção de um material para as massas, onde divulgou-se lutas da classe trabalhadora regionais, nacionais e internacionais e uma política classista com palavras de ordem de transição. Nossa última intenção é que o jornal se torne um fórum de bate boca entre frações de uma frente muito pequena, cujas tarefas são muito maiores do que a necessidade de tentar convencer a parcela minoritária classe trabalhadora que conseguimos dialogar com o jornal sobre qual posição é a correta em episódios ou espaços que não temos a menor possibilidade de intervir.
Queremos deixar claro que gostaríamos que o único foco principal do jornal continuasse sendo a divulgação das lutas da classe trabalhadora, agitação de palavras de ordem de transição, defesa das conquistas trabalhistas, etc.. Não nos negamos a ajudar a construir uma posição conjunta sobre novos temas que possam surgir com a realidade nem queremos restringir ao extremo o perfil do jornal; por exemplo, os artigos sobre teoria “Comprovado: o universo sempre existiu, mas o Big Bang não” do primeiro jornal e “Do domínio do homem sobre a natureza a luta pelo socialismo” são dois textos que não se incluem no foco principal que propomos, mas que temos total acordo sobre a sua presença, desde que de forma minoritária, como aconteceu nas duas últimas edições.
Queremos, portanto exigir uma maior transparência na confecção do jornal, onde todos os textos que forem propostos para o jornal sejam disponibilizados no principal espaço de discussão da FCT  e claramente indicados que estão sendo propostos para o jornal; e que a partir disso seja feita uma lista com todos os títulos dos textos que foram aprovados e irão de fato compor o jornal com um mínimo de 1 semana de antecedência a confecção do jornal na gráfica, para que todos os interessados possa ler e se posicionar e propor possíveis alterações.
Por fim, agradecemos a todos pela paciência que dedicaram em ler este texto, apesar de sabermos que muitos companheiros irão discordar de nossas posições. Mais uma vez, nos colocamos disponíveis para críticas e conversas visando esclarecer quaisquer de nossas posições aqui expressas ou sobre outros assuntos.

Abraços.


Um dos companheiros que assina este documento destaca duas divergências. Acha que a possibilidade de golpe parlamentar foi maior do que o texto deixa a entender principalmente durante os atos da direita no meio do primeiro semestre deste ano. E acha também que o documento deveria deixar claro o indicativo de se manter a FCT, mesmo que o congresso decida por fundar uma nova organização, entre esta nova organização e o CL.


Nenhum comentário:

Postar um comentário