QUEM SOMOS NÓS

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Somos uma organização marxista revolucionária. Procuramos intervir nas lutas de classes com um programa anticapitalista, com o objetivo de criar o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, a seção brasileira de uma nova Internacional Revolucionária. Só com um partido revolucionário, composto em sua maioria por mulheres e negros, é possível lutar pelo governo direto dos trabalhadores, como forma de abrir caminho até o socialismo.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Carta aberta sobre a greve dos professores, da subsede da APEOESP de Santo André


EDUCAÇÃO PÚBLICA DE QUALIDADE:  Uma Luta de Todos os Trabalhadores!



A Av. Paulista foi tomada por professores que entraram em greve. O governo Alckmin tem que ouvir a sociedade que cobra Educação de qualidade. A população e os professores não aceitam:

Ø    Que o aluno saia do Ensino Médio despreparado, sem condições de arrumar emprego com carteira assinada, sem conseguir entrar em uma boa Universidade.
Ø    Que os governos destruam a Educação para manter os jovens sendo representados por “qualquer” candidato/Partido, que atende os empresários e não a população com Educação, Saúde, moradia, etc..
Ø    Que não invista em Educação de qualidade para os filhos dos trabalhadores, transformando as escolas em “depósito” de pessoas;

Basta! A sociedade merece respeito! Queremos que o dinheiro arrecadado no país seja investido na Educação pública e de qualidade. Não aceitamos desvio de dinheiro para os empresários e para a corrupção!
Seu filho precisa de uma escola que realmente eduque, para que seja consciente, crítico e contribua para transformação do mundo, respeitando o outro, a natureza, semqualquer exploração!

Diga não!  

Ø    À escola “depósito” de crianças e adolescentes; À privatização da escola pública; À aprovação do aluno sem saber ler, escrever e interpretar;
Ø    À precarização do trabalho e do salário do professor que educa seu filho;

Temos vários motivos para greve!

ü    Falta de laboratórios, salas de informática, bibliotecas, salas de vídeo  
ü    Falta de funcionários, Salas lotadas;
ü    Falta de Tempo na jornada para preparar e corrigir atividades
ü    Contrato precário de professores, sem direitos (exploração do trabalho). Péssimas condições de trabalho, prejudicando os alunos;
ü    Assédio moral a professores, alunos e funcionários (autoritarismo);
Todos nós somos responsáveis pela educação dos filhos dos trabalhadores. Só unidos essa situação de destruição da escola pública pode mudar.

Você também está indignado? Vamos lutar juntos!

v    23/04 – terça - Ato na Oliveira Lima às 10:30 h, com a presença do Bloco Fúria e Folia;
v    25/04 – Quinta  - Ato contra a privatização, em defesa e ampliação do IAMSPE (Hospital do Servidor Público);
v    26/04 - Sexta - Assembleia Estadual, com ônibus que sairão do Parque Celso Daniel, perto do Shopping ABC Plaza, às 13:00 horas.

É nosso direito e dever exigir dos governantes respeito, garantia de Educação Pública de Qualidade aos filhos dos trabalhadores!

Não mande seu filho para a escola! Lute conosco!

Tefefone: 4994 3839 – 4990 9699
Facebook: Apeoesp Santo André

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domingo, 21 de abril de 2013

Racismo, violência policial e islamofobia no espetáculo da polícia americana após atentado em Boston


Pedimos desculpas aos leitores do blog por estarmos falando de um tema tão insignificante como o atentado de Boston (em qualquer cidade do mundo, a violência policial, doméstica ou a fome deve ter matado mais gente e debilita muito mais do que o incidente de Boston, mas geralmente não se trata de americanos brancos). Só que é importante falar sobre as reações ao atentado, e do que elas mostram do potencial fascista no mundo de hoje.

Pra começar, nem temos muita certeza se realmente os dois jovens que são apontados como suspeitos foram mesmo os autores do atentado. Mas não pareceu fora do normal pra ninguém na mídia dos EUA e do mundo afora que pessoas que eram suspeitos fossem perseguidas em cenas de filme de ação e depois nem mesmo tivessem os direitos garantidos ( por exemplo, esperar o advogado para falar com a polícia). 

Pior do que isso foi a comemoração do povo americano, aos gritos de "USA, USA". Assim como comemoram a morte de todos os "inimigos dos EUA". Mais uma vez fica claro que os trabalhadores americanos se identificam com o seu governo, e acham que a sua situação social, muito melhor que a dos trabalhadores do Terceiro Mundo, depende da opressão imperialista brutal sobre os países atrasados e sobre as minorias nacionais dentro dos EUA.

Pior ainda é a incompreensão e má intenção da mídia empresarial, que está instigando novamente a islamofobia. Mais uma vez, se coloca todos os trabalhadores de países onde existe uma grande proporção de muçulmanos como muçulmanos, sem se importar com a religião ou falta de religião individual de cada um (ou seja, se "racializa" o islã). E, ao mesmo tempo, se assimilam todos os muçulmanos aos terroristas fanáticos estilo Al Qaeda.

Pra começar, os dois jovens, de origem chechena, parece que cometeram o atentado (que, com certeza, não contou com a participação de uma organização terrorista séria, como dá pra ver facilmente pelos recursos amadores que eles usaram) por uma questão de nacionalismo checheno. 

A Chechênia é uma semicolônia da Rússia, e que tem todo o seu direito à autodeterminação. Sendo que a autodeterminação tem sido negada desde a época do stalinismo, passando por todos os governos russo desde a restauração do capitalismo, da forma mais violenta possível. Foi essa violência e o desepero que ela causou que tem radicalizado o movimento nacionalista checheno, levando ele a adotar métodos terroristas que atacam os trabalhadores e a se aproximar do fundamentalismo islâmico (o Islã é a maior religião da Chechênia).

Na cabeça dos dois jovens, parece que existia a maior confusão entre o nacionalismo checheno (que expressa uma luta progressiva pela autodeterminação) e o fundamentalismo, que é uma corrente reacionária semelhante ao fascismo, independente de ser islâmico, cristão, judaico, hindu ou budista.

-Nós repudiamos o ataque a todas as liberdades democráticas que foi feito para garantir essas prisões. 

-Nós repudiamos que esse atentado tenha sido elevado a um problema mundial, por pura questão de racismo e hegemonia dos EUA. 

-Nós repudiamos a orgia de nacionalismo fascista, infelizmente em que a classe trabalhadora americana participou integralmente.

-Nós repudiamos que a luta pela independência da Chechênia tenha sido manchada novamente pelo terrorismo contra os trabalhadores.

-E, finalmente, nós repudiamos que esse atentado seja usado novamente pra insuflar a perseguição contra os muçulmanos em todo o mundo. 

Seria muito simples, aqui, terminar falando que a solução para a classe trabalhadora americana é o socialismo, que é o sistema que pode acabar com as guerras e o racismo, e que para avançar até o socialismo é preciso criar um partido revolucionário dos trabalhadores. Mas, antes disso é necessário reconstruir o movimento dos trabalhadores dos EUA, em bases internacionalistas e antirracistas, para que seja possível disputar a consciência dos trabalhadores americanos contra a mídia fascista estilo Fox News.



Islamofobia

Desde o atentado de 11 de setembro, a islamofobia é a forma de discriminação religiosa e racial dominante nos países imperialistas, como antes dela foram o antissemitismo e o racismo anti-negro. O Islã é considerado um religião machista e baseada na violência. Isso é usado como pretexto para a perseguição de imigrantes de países islâmicos na Europa e nos EUA, a proibição das suas práticas religiosas (como o uso do niqab, que é um véu que cobre o rosto todo, usado por algumas correntes mais extremas da religião). 

As organizações de extrema-direita mais ativas, como a EDL (Liga de Defesa Inglesa), o Tea Party (EUA), a Frente Nacional (França), o NPD (Partido Nacional da Alemanha) etc. têm usado cada vez mais a demagogia islamofóbica pra jogar nos imigrantes a culpa sobre os problemas sociais piorados pela crise atual. 

O Islã é uma religião como qualquer outra e, por isso mesmo, promete que as injustiças desse mundo serão resolvidas no próximo (quando as pessoas irão para o inferno ou para o paraíso). Como o Islã é considerado pelos seus seguidores uma continuidade do judaísmo e do cristianismo, compartilha dos mesmos mitos fundamentais (a criação em seis dias, o homem feito de barro, a mulher tirada da costela, o dilúvio etc). Uma interpretação literal deles certamente entra em choque com as descobertas da ciência moderna. 

Ao mesmo tempo, temos que reconhecer que, por causa da modernização da sociedade, cada vez mais seguidores da religião interpretam simbolicamente esses mitos (como acontece com os judeus e cristão), inclusive existem correntes de esquerda, semelhante à teologia da libertação no cristianismo. O que não é o caso do fundamentalismo, que quer voltar a roda da história para o século VII, massacrando os direitos das mulheres e criando uma teocracia (governo religioso) tão rigorosa que geralmente os fundamentalistas perseguem até mesmo outras correntes islâmicas mais moderadas, como os sufis.

Além do mais, o fundamentalismo existe em todas as grandes religiões, porque ele é uma expressão reacionária do desejo de setores tradicionais que querem se livrar dos males da modernidade capitalista através da regressão para formas medievais de sociedade. 

No cristianismo, são exemplos de fundamentalismo movimentos como a Ku Klux Klan (com a sua teologia que diz que os negros são amaldiçoados, que o Marcos Feliciano copiou), Opus Dei (do Geraldo Alkmin), TFP (que faz parte do movimento monarquista brasileiro), ou a Teologia do Domínio (uma teologia evangélica que prega que as Leis do Antigo Testamento sejam adotadas pelos governo), que está começando a entrar no Brasil. 

A posição dos comunistas, portanto, diante dessa histeria islamofóbica, deve ser a defesa do direito à total liberdade religiosa, que só pode existir com a separação completa entre Estado e religião.  Ao mesmo tempo, temos que combater ideologicamente todas as formas de fundamentalismo religioso, mostrando que elas desabam como um castelo de cartas diante das descobertas da ciência, e que a solução para os problemas sociais deve ser procurada nesse mundo mesmo, através da luta de classes. 

Dito isso, pra não cair num erro estratégico grave, temos que deixar bem claro que o inimigo principal no Ocidente, onde o fundamentalismo islâmico praticamente não tem influência na sociedade, é a islamofobia, ainda mais quando é instigada pelos fundamentalistas cristãos, de que os EUA (e o Brasil) estão cheios. 

Na luta contra a islamofobia e o fundamentalismo religioso, em muitas situações estaremos fazendo ações conjuntas com setores religiosos que lutam por causas progressistas contra qualquer forma de perseguição às minorias culturais ou religiosas. E esta é uma ocasião muito importante para a luta pela hegemonia da classe trabalhadora contra todas as formas de opressão da sociedade.
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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Reunião em Curitiba em defesa do Estado Laico e contra a PEC 99/11, dia 20/04, sábado


Os companheiros da Juventude Revolução estão organizando a luta contra a PEC 99/11, que dá a organizações religiosas nacionais o poder de contestar a constitucionalidade de leis perante o Supremo Tribunal Federal (através das Ações Diretas de Inconstitucionalidade – ADIn). Essa é uma importante luta contra o avanço do fundamentalismo cristão na nossa sociedade. Reproduzimos a convocatória dos companheiros e chamamos todas as organizações de esquerda e democráticas aqui do Rio de Janeiro para organizar essa luta aqui também! 




A história da laicidade é a história da luta pela democracia, inclusive para assegurar o direito religioso. No Brasil a separação entre o Estado e a religião teve origem na república.
Acaba de ser aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados a admissibilidade do Projeto de Emenda Constitucional (PEC) número 99 de 2011, de autoria do deputado João Campos (PSDB-GO), que dá a organizações religiosas nacionais o poder de contestar a constitucionalidade de leis perante o Supremo Tribunal Federal (através das Ações Diretas de Inconstitucionalidade – ADIn).
Ao dar às organizações religiosas o estatuto de entes políticos institucionais, a PEC iguala organizações religiosas às instituições da república e ameaça trazer conflitos de valores religiosos para dentro do Estado.
O risco da regulação religiosa do Estado é a imposição dos preceitos religiosos sobre valores científicos e jurídicos da sociedade, criando-se situações arbitrárias até mesmo sobre outras religiões diferentes daquela professada como oficial.
Consideramos que a tramitação da PEC 99/2011 coloca em risco a separação entre estado e religião no Brasil, uma conquista republicana que vem sendo ameaçada de forma contundente nos últimos anos.
Por isso, resolvemos convocar os livres pensadores, os defensores da democracia e da república, os jovens e os defensores da liberdade religiosa a estarem conosco para discutir como lutar contra a aprovação da PEC 99/11. A reunião será no dia 20 de abril, um sábado, às 10 horas da manhã, na sala 404 do edifício D. Pedro II da UFPR (Rua Dr. Faivre, 405). Contamos com sua presença.
Assinam:
  • Ana Lucia Canetti – psicóloga
  • Maurício Moura – editor do blog Livre Pensamento
  • Paulo Roberto Cequinel – editor do blog Ornitorrinco
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quarta-feira, 10 de abril de 2013

A Frente Popular sem Chavez: Por que o a CIA, a Veja e a Globo comemoram?




A luta de classes na Venezuela

No mês de Março faleceu Hugo Chávez, carismático líder da Frente Popular na Venezuela e identificado como "símbolo" da luta  contra o imperialismo na América Latina e no mundo. Chávez chegou ao poder em 1998, como um candidatura alternativa da burguesia nacionalista pela Frente Popular Venezuelana,  fruto da pressão dos trabalhadores venezuelanos, que sempre viveram subjugados pela burguesia tradicional liberal completamente pró-imperialista e que sempre esmagou qualquer possibilidade de reformas ou concessões aos trabalhadores em prol dos interesses em comum com a burguesia imperialista dos EUA.

Com o governo de Frente Popular de Chávez/PSUV,  diferenciado de outros governos na América Latina pelo seu bonapartismo centrado em Chávez  (ou seja, ele exerce um poder pessoal que se apresenta “acima” das classes), os trabalhadores venezuelanos conseguiram inúmeras concessões da nova fração da burguesia que ascendeu o poder. Essas concessões se tornaram ainda mais radicais, com expropriações e estatizações de varias empresas após a tentativa de golpe da burguesia tradicional com o apoio do EUA, em 2002, que fracassou devido a grande mobilização dos trabalhadores  e de uma fração das Forças Armadas da Venezuela que eram leais ao presidente.

Porém durante o governo do PSUV, com Chávez na presidência,  houve abertamente repressão aos trabalhadores e aos grupamentos marxistas revolucionários que optaram por não capitular à burguesia chavista, incluindo prisões arbitrárias, repressão policial e militar, perseguições políticas, e ainda a frustrada tentativa da burguesia chavista de tentar "unificar" a força todos os grupamentos da esquerda venezuelana no PSUV. Isso tudo aconteceu porque claramente o "socialismo do século XXI" nada mais do que um governo de Frente Popular encabeçado pela burguesia nacionalista,  e mesmo a pressão popular seja muito maior que em outros países que passam por governos semelhantes,  esta burguesia " progressista" sempre impedirá que o movimento dos trabalhadores possa avançar livremente além do controle desta, e quando perde o controle, qualquer elemento progressivo dessa burguesia não será suficiente para impedir a repressão pelo aparato policial e militar do Estado. Queremos lembrar aos comunistas e socialistas reformistas dos exemplos históricos (China em 1925-7, França na greve de 1936, Alemanha com Republica de Weimar depois da 1a Guerra,  Iran e 1979, e etc...) ,em que a classe trabalhadora teve o processos revolucionários contidos justamente por confiar nas burguesias "progressistas" das Frentes Populares.

Com a morte de Chávez, comemorada pela organismos burgueses tradicionalmente alinhados com imperialismo principalmente o midiático, e a sucessão deste por Nicolás Maduro, que ainda será confirmada pelas próximas eleições em Abril, se abre um novo período na luta de classes na Venezuela e America Latina, principalmente no campo dos países não alinhados politicamente com o imperialismo norteamericano ou europeu, com possibilidade de avanços com um processo revolucionário autêntico ou retrocessos com possibilidades de golpe ou conciliação das frações burguesas. Diante deste cenário, qual a tarefa dos trabalhadores e como devemos agir os marxistas revolucionários?


A burguesia pró-imperialista ganha fôlego e o perigo dentro do PSUV

Antes mesmo da morte de Chávez, a burguesia tradicional alinhada com os interesses imperialistas conseguiu, depois de 15 anos, lançar um candidato unificado para concorrer às eleições contra Chávez, lançando Henrique Capriles, do MUD (Mesa da Unidade Democrática). Mesmo sendo derrotada nas eleições de 2012, Capriles e a coalizão de direita conseguiram o melhor resultado eleitoral desde que Chávez se tornou presidente em 1998, com 45% dos votos, cerca de 5 milhões, enquanto Chávez ficou com 55%, cerca de 7 milhões. Isso claramente mostra que a oposição de direita conseguiu se reunificar contra Chávez, depois de boicotar e ser derrotada em outras eleições.

Porém, mesmo com a morte de Chávez, os trabalhadores se encontram ainda muito comovidos pelo morte do ex-presidente, além do medo de perder as concessões e os direitos conquistados durante o governo de Chávez, e esses fatores serão o grande trunfo do PSUV nas eleições, que provavelmente será ganha por Maduro com uma margem percentual e absoluta de votos maior que nas últimas eleições com Chávez.

Ainda assim, ciente do perigo golpista da oposição de direita unificada, que foi capaz de organizar um golpe civil-militar em 2002 contra Hugo Chávez  que era adversário muito mais forte e popular, Nicolás Maduro garantiu o apoio do Estado Maior das Forças Armadas Bolivariana e ainda expulsou do país agentes infiltrados pelos EUA que estariam mantendo contato com alguns setores das Forças Armadas. Além disso os próprios trabalhadores, cientes deste perigo, estiveram nas ruas da Venezuela em prontidão para o caso de qualquer golpe, inclusive reprimindo qualquer aparição publica da oposição de direita.

Há ainda o perigo de haver um golpe interno dentro do PSUV, e do governo, para controlar Maduro depois das eleições. Isto aconteceria porque, ao contrário dos outros dirigentes burgueses do PSUV, Maduro vem do movimento sindical operário, e não tem uma tradição de carreirismo militar como os outros quadros do partido, principalmente como o atual presidente da Assembleia Nacional e líder do PSUV, Diosdado Cabello, e isto faz com que Maduro tenha muito menos influência que eles. Cabello tem uma tradição militarista, alçada junto com Chavez, sendo o seu braço direito desde a tentativa fracassada dos militares chavistas em tomarem o poder em 1992, e assim ele  foi construindo uma ampla rede  de contatos por dentro das burocracias do PSUV, estatais e empresariais venezuelanas. Assim ele poderia facilmente vir a controlar o governo de Nicolás Maduro, e levar o governo a ter políticas mais a direita, além de apertar o cerco contra o movimento e organizações de trabalhadores independentes do governo.

Mas enquanto os trabalhadores venezuelanos, ainda comovidos e com medo do que será o futuro depois da morte do líder bolivariano, as organizações internacionais da esquerda morenista, como a LIT (o PSTU no Brasil) e a UIT (CST no Brasil, corrente do PSOL), ambos com seções na Venezuela, respectivamente a UST e o PSL, fazem oposição no mesmo nível que a oposição de direita defendendo as mesmas palavras de ordem democrático-burguesas no estilo "liberdade contra a ditadura", sem levar aos trabalhadores nenhuma consigna transitória socialista que lhes evidencie a necessidade de levar a luta independente da burguesia do PSUV e contra a fração burguesa pró-imperialista liderada por Capriles. Essas organizações da esquerda fazem isso porque, além oportunistas, defendem as posições de capitulação à democracia burguesa formuladas por Nahuel Moreno. Moreno separava a luta democrática da luta pelo socialismo, reinventando a teoria da revolução por etapas. Isso levou, nos casos mais bizarros, as organizações morenistas a apoiarem o fim da URSS com o argumento de que o mais importante não era a restauração do capitalismo, e sim as liberdades democráticas.

Os pseudotrotskistas não são os únicos a fazer vergonha na Venezuela. Os “marxistas-leninistas” do partido Bandera Roja, ex-aliados do PCR brasileiro, em nome da mesma teoria de revolução por etapas, com a luta pela democracia na primeira etapa, fazem parte até mesmo da MUD dos golpistas! São dois frutos gêmeos da mesma teoria.

 Por isso, a verdadeira estratégia para a revolução venezuelana passa pela criação de uma alternativa de classe, independente do governo que, em mais de uma década, não expropriou os setores fundamentais da burguesia e não destruiu o aparato burocrático do Estado, que é a tarefa inicial de qualquer revolução verdadeira.

É preciso uma frente única de todas as organizações da esquerda classista venezuelana para combater a direita e ultrapassar os limites do governo nacionalista. Com a unidade, formada nas mobilizações e em torno de palavras de ordem que coloquem em xeque o capitalismo (controle operário nas empresas, expropriação das empresas ligadas aos golpistas, redução da jornada de trabalho sem redução do salário, salário mínimo vital, armamento do movimento indígena e camponês etc), será possível a formação de um partido revolucionário dos trabalhadores, formado pelas correntes que neguem a revolução por etapas e que defendam a destruição do Estado burguês e sua substituição pelo governo direto dos trabalhadores a partir de suas assembleias de luta.  
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segunda-feira, 8 de abril de 2013

Organizar manifestações de solidariedade contra a intervenção imperialista na Coreia do Norte! Nenhum apoio ao regime stalinista!



Nas últimas semanas, cresceram as manobras militares nas fronteiras e, principalmente, os discursos explosivos de Kim Jong-Un, ameaçando inclusive ataques nucleares contra os EUA. Alguns embaixadores até foram alertados a sair do país.
Pra entender o que realmente está acontecendo, temos que ultrapassar as notícias atuais e ver as causas históricas do conflito. OS EUA e os seus empregados, o governo sulcoreano e japão, vão alegar que os exercícios militares de fevereiro simulavam uma invasão do programa nuclear nortecoreano. Porém, esse programa nuclear já é uma resposta às ameaças militares contra à Coreia do Norte... voltando no tempo, a raiz do problema está na divisão do país através da guerra, e que terminou em 1953, mas em que nunca foi assinado nenhum tratado de paz, e sim um armistício, ou seja, um cessar-fogo permanente.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Japão invadiu a Mandchúria (norte da China), sendo que a Coreia já tinha sido anexada em 1910. Após a derrota do nazismo no ocidente, a URSS e o Exército Vermelho chinês ajudaram a libertar toda a região. Ao mesmo tempo, a URSS colocou na direção da frente militar coreana Kim Il-Sung, que era de total confiança deles.
Logo depois da derrota do Japão, em setembro de 1945, os EUA invadiram o sul do país pra não deixar tudo cair nas mãos da URSS. E colocaram o governo marionete de Syngman Rhee no lugar. A primeira medida após a invasão foi destruir o movimento dos trabalhadores e o partido comunista, que era muito forte na região.
Assim, quando o norte foi ocupado militarmente, não aconteceu uma revolução dos trabalhadores, e a burguesia perdeu o poder através das medidas burocráticas do estado, controlado pelos militares. Por isso, não consideramos que a Coreia do Norte tenha sido um Estado Operário, nem mesmo burocratizado, porque nunca houve nenhum tipo de órgão de poder dos trabalhadores, como existiram na URSS e em Cuba, por exemplo.
Mesmo assim, era um estado controlado pela burocracia, com uma economia não-capitalista. Por isso, ganhou imediatamente o ódio de todas as potências imperialistas do mundo, sendo que a guerra da Coreia foi uma tentativa de impedir a expansão do regime para o sul, e ainda depois de terem esmagado o movimento dos trabalhadores no sul, a população passou a preferir o stalinismo do que a repressão brutal da ditadura.
Desde então, os EUA sempre tentam isolar economicamente e militarmente a Coreia do Norte. A burocracia, pela sua própria natureza, isolou cada vez mais o país. Diferente das décadas de 1960 e 1970, em que o movimento contra a ditadura no sul apoiava o regime do norte, que era visto como uma alternativa viável (até mesmo os Panteras Negras enviaram delegações para a Coreia do Norte, pra fazer formação política), hoje, depois de toda a loucura militarista da dinastia Kim, não existe mais nenhuma simpatia pela Coreia do Norte por parte dos trabalhadores.
Isso leva, por exemplo, as pessoas temerem o armamento nuclear da Coreia do Norte. Nós, como somos antiimperialistas, somos a favor do direito de qualquer país atrasado ter armas nucleares, já que as grandes potências têm, nunca perguntaram se podiam ter e, no caso dos EUA, já chegaram a usar contra a população civil.
Por outro lado, verdade seja dita, é muito improvável que a situação atual vire realmente uma guerra. As ameaças nucleares são uma especialidade do estranho stalinismo coreano há muito tempo, e nem os EUA nem a China teriam o que ganhar com a destruição da região através de armas atômicas. Além disso, os "fogos de artifício" da Coreia do Norte talvez não consigam alcançar nem o Japão, muito menos os EUA.
O problema é que toda a presepada de Kim Jong-Un pode dar margem para os EUA usarem a Coreia do Sul pra realizar o seu objetivo de recolonizar o Norte. Isso coloca a necessidade imediata de um movimento mundial em defesa da Coreia do Norte. Já aqui do Rio de Janeiro, convocamos todas as organizações que dizem defender a luta antiimperialista e o socialismo a organizar uma manifestação como a que fizemos contra a intervenção da OTAN na Síria.
Para os companheiros do PSTU e da LER-QI, que parece que não tem muita certeza da existência da Coreia do Norte, já que quase nunca falam dele na sua imprensa, disponibilizamos também aqui um mapa da Coreia do Norte, pra provar que ela fica lá mesmo, em cima da Coreia do Sul!



Além da nossa ação antimilitarista, temos que explicar que o regime odioso da Coreia do Norte não representa o socialismo. Ao contrário, o militarismo extremo do regime stalinista só leva ao isolamento cada vez maior do país, e dá desculpa para os EUA e a Coreia do Sul invadirem o país. A saída para a Coreia do Norte é uma revolução antiburocrática que coloque os trabalhadores no controle do país, através de suas assembleias e na luta e de uma economia planificada democraticamente. Sem uma revolução antiburocrática socialista, os trabalhadores da Coreia do Sul nunca vão ver o Norte (e o socialismo) como uma alternativa viável pela qual vale a pena lutar.
- Fora a intervenção militar contra a Coreia do Norte! Organizar a solidariedade internacional em todas as cidades!
- Pelo direito aos países atrasados a desenvolverem armas militares, enquanto o imperialismo tiver elas!
- Pela reunificação socialista da Coreia, através da revolução antiburocrática-socialista no Norte e socialista no Sul!

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quarta-feira, 3 de abril de 2013

O golpe militar de 1964 e as lições da derrota (Daniel Delfino)


Reproduzimos aqui a contribuição individual do companheiro Daniel, do Espaço Socialista


Passeata dos Cem Mil - 1968, Cinelândia, RJ.
Passeata dos Cem Mil – 1968, Cinelândia, RJ.

Daniel Delfino

 

O contexto do Golpe


Em 31 de março de 2013 se completam 49 anos do golpe militar de 1964. O golpe estabeleceu uma ditadura militar que durou até 1985 e deixou seqüelas que até hoje marcam a vida do país. No contexto da Guerra Fria, a disputa política e militar entre os blocos do imperialismo estadunidense e o dos Estados burocráticos liderados pela URSS, o golpe militar no Brasil foi parte de uma onda de ditaduras que tomaram conta da América Latina, com eventos semelhantes na Argentina (1955 a 1969 e 1976-1986), Chile (1973-1989), Uruguai (1973-1985), Paraguai (1954-1989), entre outros. As ditaduras foram a resposta do imperialismo estadunidense às lutas por independência nacional em continentes antes colonizados como a África, a Ásia e a própria América Latina, que poderiam inclinar essas regiões na direção do bloco soviético. Particularmente na América Latina, o exemplo da revolução cubana de 1959, que estabeleceu um regime independente, que mais tarde se voltaria para o “modelo” da URSS, era um pesadelo para os estrategistas estadunidenses.

No incício da década de 1960 o Brasil vivia um momento de profundas mudanças. Milhões de pessoas se mudavam para as cidades, as fábricas se multiplicavam, milhões de crianças e jovens entravam para a escola, o que não havia acontecido com a geração de seus pais. A auto imagem do país estava em alta e difundia-se o mito do “país do futuro”. Eram os anos da inauguração da nova capital, Brasília (1960), do cinema novo, da bossa nova, do bicampeonato mundial de futebol (1958 e 1962).

Era também um momento de intensificação da luta de classes, com grandes mobilizações operárias, camponesas e estudantis. Uma greve geral em 1962 apresentou diversas reivindicações sociais e políticas e conquistou o 13º salário, que se mantém até hoje. As ligas camponesas no nordeste organizavam os trabalhadores rurais na luta pela reforma agrária e contra os abusos seculares dos latifundiários. Os Centros Populares de Cultura (CPCs) da UNE levavam teatro e cinema engajado à população, na tentativa de influenciar politicamente os trabalhadores por meio da cultura.

As facções da classe dominante


No campo da burguesia, estava em curso uma disputa entre dois setores. De um lado, o setor liderado pelo então presidente João Goulart (cujo apelido era Jango), herdeiro político de Getúlio Vargas, praticava uma política nacional-desenvolvimentista, que procurava levar o Brasil a ser uma potência capitalista, com algum grau de independência em relação ao imperialismo, impulsionando a indústria nacional. O projeto nacional-desenvolvimentista incluía concessões aos trabalhadores, aumentos salariais, direitos sociais, na crença de que isso ajudaria a dinamizar a economia. O slogan do governo e dos movimentos sociais na época eram as “reformas de base”, que incluíam a reforma agrária, a regulamentação das remessas de lucro das transnacionais, reforma urbana, etc.

De outro lado, havia o setor conservador e abertamente pró-imperialista da burguesia, composto por latifundiários e empresários diretamente associados ao capital estrangeiro, hostis a qualquer concessão aos trabalhadores. Sua política era de manter o Brasil como país subdesenvolvido, fornecedor de produtos primários e servil às transnacionais, que seguiriam extraindo lucros exorbitantes do país e enviando tranquilamente suas remessas para as matrizes. O discurso dos conservadores era de contenção da “ameaça comunista”. A luta popular pelas reformas de base era tratada como parte do “perigo vermelho”, como se o governo estivesse tomado por conspiradores e ateus demoníacos.

A maior parte da imprensa, os principais jornais, como o Globo, faziam oposição ao governo e atacavam as lutas populares como sinal de “caos” e “baderna”. O grupo Globo seria recompensado pelos serviços prestados ao golpe com a concessão de uma emissora de TV, que seria fiel aliada da ditadura. A igreja católica também se somou à campanha contra o governo e as lutas populares, organizando as “marchas da família com Deus pela liberdade”, com milhares de donas de casa da classe média e beatos em geral indo às ruas das capitais contra o governo e os comunistas.

O golpe e os primeiros anos da ditadura


O governo Jango foi instável desde o início. Como vice de Jânio Quadros, que havia renunciado ainda no primeiro ano de governo, Jango só conseguiu tomar posse depois de passar por um ano e meio de parlamentarismo, que limitava seus poderes, pois a direita não aceitava a volta do programa getulista. Depois de um plebiscito e da volta do presidencialismo em 1963, o crescimento das mobilizações populares levou o governo João Goulart mais à esquerda. O presidente pronunciou um comício na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964, que foi tomado como um claro sinal de radicalização. Diante disso, aceleraram-se os preparativos para o golpe.

Em 31 de março a cúpula das forças armadas mobilizou as tropas e as ruas das capitais amanheceram tomadas por tanques de guerra. Não houve resistência ao golpe. Jango deixou Brasília e voltou para sua terra natal, o Rio Grande do Sul. O presidente da Câmara pronunciou um discurso declarando vago o cargo de presidente da república, sendo que Jango ainda estava em território nacional. Leonel Brizola, governador do RS e partidáro de Jango, defendia a resistência, mas Jango decidiu não resistir, aceitou a tomada do poder pelos militares e partiu para o exílio. A ditadura cassou mandatos parlamentares, fechou sindicatos, prendeu militantes, aposentou intelectuais, exilou artistas. Apenas a UNE continuou funcionando por algum tempo, até 1968.

Os primeiros anos do governo militar mantiveram uma expectativa de volta da democracia, com novas eleições, em que os expoentes da direita e adversários de Jango esperavam voltar ao poder pela via das eleições. No entanto, os generais se sucederam no cargo de presidente, o que fariam até 1985, quando tomou posse um presidente civil, eleito pela via indireta. O período de maior endurecimento da ditadura aconteceu a partir de 1968, quando foi promulgado o ato institucional nº5, uma emenda constitucional que fechava o Congresso, suspendia as garantias constitucionais, o direito de ir e vir, o habeas corpus, a liberdade de expressão, e dava poder ao aparato repressivo para prender suspeitos sem mandato judicial.

A derrota da luta armada e o “milagre brasileiro”


Com o fim das mobilizações populares, parte das organizações de esquerda optou pela luta armada, a partir de 1968. Sem apoio da população, as guerrilhas rurais e urbanas foram derrotadas, apesar do heroísmo de figuras como Lamarca e Marighella. O ato mais espetacular da luta armada foi o sequestro do embaixador estadunidense, em 1969, trocado pela liberdade de dezenas de presos políticos Na perseguição aos opositores, a ditadura matou, prendeu e torturou milhares de pessoas, estivessem ou não envolvidos na luta armada. Muitos opositores estão até hoje desaparecidos. A repressão foi financiada por empresários, que ajudaram a montar esquadrões da morte para perseguir militantes. Os crimes da repressão estão sem julgamento até hoje. Ao contrário dos demais países da América Latina, que julgaram e condenaram os agentes da ditadura, no Brasil os monstros continuam impunes. A Comissão da Verdade, montada pelo governo Dilma, não terá a função de levar à punição dos agentes da ditadura. A própria Dilma, que participou da luta armada contra os militares, é hoje uma agente da burguesia, como outros integrantes de seu partido, José Dirceu e José Genoíno.

Sob o governo militar, o Brasil viveu um período de grande crescimento econômico, os anos do chamado “milagre brasileiro”, principalmente entre 1968 e 1973, marcado por um aumento da produção de automóveis e eletrodomésticos (aos quais, no entanto, a maioria da população não tinha acesso), bens de consumo duráveis voltados para a burguesia e a classe média. Também foram características da ditadura as chamadas “obras faraônicas”, como a rodovia transamazônica, a hidrelétrica de Itaipu e a usina nuclear de Angra dos Reis, propagandeados como símbolos do “Brasil potência”. No entanto, esse modelo de desenvolvimento, pela estreiteza do mercado consumidor interno e pelo aumento da dívida do Estado (começou aí um surto explosivo de endividamento, que atingiu níveis absurdos), não era sustentável e se esvaziou ao longo da década de 1970, o que levaria ao fim da ditadura na década seguinte.

A maioria da população não viu os frutos desse “milagre”. Nas palavras de um dos generais-presidentes, “a economia vai bem, mas o povo vai mal”. A explicação do “czar” da economia, o ministro Delfim Neto (ainda hoje um “guru” dos governos do PT) era de que “primeiro era preciso esperar o bolo crescer para depois dividir”. Na verdade, o bolo nunca foi dividido. O Brasil continuou e continua sendo um país de maioria pobre, com muita desigualdade e muita riqueza sendo desviada para os mais ricos e para o capital estrangeiro. A ditadura militar foi portanto uma grande derrota das forças populares que lutavam pelas reformas de base e por melhorias em geral.

A importância da estratégia e da independência dos trabalhadores


Parte da responsabilidade dessa derrota cabe à principal organização política dos trabalhadores, o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que tinha grande influência nos sindicatos e dirigia a UNE. A estratégia do PCB era de apoiar a fração nacionalista da burguesia nacional, contra o setor mais reacionário e o imperialismo. O pressuposto dessa estratégia era de que o Brasil ainda precisaria passar por uma revolução burguesa, antes de se pensar em transição ao socialismo. Em função desse apoio, não havia a preocupação com a independência política dos trabalhadores. Não foram desenvolvidos organismos capazes de lutar pelo poder, pois a suposição é de que essa não era uma tarefa dos trabalhadores.

Desde o início do século XX, Trotsky já havia demonstrado, na teoria da Revolução Permanente, que a burguesia dos países periféricos é incapaz de realizar as tarefas da revolução burguesa (como a reforma agrária e outras) e essa tarefa caberia ao proletariado. Na luta para concretizar essas tarefas, o proletariado precisaria impulsionar medidas de ruptura com o capitalismo, como nacionalizações e expropriações, sendo seguido pelas classes populares, avançando para uma revolução socialista. Sendo assim, a tarefa dos socialistas seria desenvolver a consciência dos trabalhadores para a luta pelo poder, com total independência em relação a líderes burgueses e pequenos burgueses. Ao contrário disso, o principal líder do PCB na época do golpe, Luís Carlos Prestes, acreditava que o “dispositivo militar” de Jango, composto por militares supostamente leais à constituição, iria deter o golpe, ao invés de preparar os trabalhadores para a resistência.

As lições da derrota dos trabalhadores no golpe de 1964 são vitais para a construção de uma estratégia revolucionária no século XXI. Não se pode confiar em lideranças burguesas e burocráticas, cujos exemplos nos dias de hoje são figuras como Hugo Chávez, pois essas lideranças, por mais radical que seja o seu discurso, nos momentos decisivos, abandonam a luta e deixam o poder livre para a burguesia e o imperialismo. E as vítimas são os trabalhadores, massacrados pela repressão. Não há outro atalho para a revolução que dispense os socialistas da tarefa indispensável de organizar os trabalhadores de forma independente e desenvolver sua consciência num rumo anticapitalista e socialista.

A repressão e os saudosistas da ditadura


Conforme dissemos, o Brasil é o único país que não julgou e condenou os autores dos crimes da ditadura, as mortes e torturas de opositores. O fim do regime militar se deu por meio de um acordo, que manteve o Estado sob controle dos mesmos setores da burguesia que se beneficiaram da ditadura. Além de não condenar a cúpula do aparato militar, foi mantida uma cultura repressiva e conservadora no judiciário e na polícia. O Brasil é um dos poucos países do mundo que tem uma polícia militar, a PM, uma polícia aquartelada, sob comando dos governos estaduais, criada na própria ditadura, como uma espécie de exército para combater um inimigo interno, o próprio povo.

Os métodos desenvolvidos na época da ditadura para perseguir opositores políticos, os esquadrões da morte e a tortura, são hoje aplicados diariamente pela polícia (militar e civil) para se apropriar de uma parte da renda dos negócios criminosos. Sob o pretexto de reprimir o crime, a polícia que atua nos bairros periféricos mata e tortura impunemente, especialmente quando as vítimas são negros. A atuação dessa polícia violenta e corrupta é legitimada pelo discurso da mídia, que cria um clima de medo e paranóia entre a população, nos programas de TV mundo cão.

Essa polícia que se associa ao crime e age de forma criminosa também tem outra função, reprimir grevistas e manifestantes. Em todos os governos pós-ditadura, e também nos do PT, as lutas sociais são tratadas como caso de polícia. Militantes são mortos, presos, torturados, no campo e na cidade, com a conivência do judiciário, que por sua vez proíbe greves, aplica multas aos sindicatos, inocenta os patrões e condena os trabalhadores. Nos últimos anos, com a crise mundial do capitalismo rondando o Brasil, o governo do PT e os governos locais dos demais partidos estão todos determinados a empurrar os efeitos da crise para debaixo do tapete. Não é permitido discordar do discurso que vem de todos os lados, do governo, da mídia, das burocracias sindicais, etc., de que o país está progredindo. Quem ousa discordar, e fazer alguma coisa a respeito, fazer greves, ocupações, manifestações, críticas, mostrando que apesar de todo o discurso “o povo vai mal”, como no tempo da ditadura, precisa ser tratado como uma ameaça à segurança nacional.

Em outras palavras, os governos do PT aplicam os mesmos métodos repressivos da ditadura, em plena “democracia”. Vivemos uma ditadura do capital, dos bancos, do agronegócio, das grandes indústrias, que contam com o PT para silenciar as lutas. É preciso denunciar essa ditadura disfarçada e também aqueles que, de maneira cada vez menos disfarçada, se atrevem a defender o golpe de 1964 (que foi chamado de “revolução” pelos seus autores), defender os crimes dos militares, defender a volta da ditadura, defender os métodos autoritários da repressão. A volta de idéias fascistas e de ultra-direita é um sintoma da gravdidade da crise e do perigo que se aproxima. Antes que essas idéias se tornem uma força material, antes que a ameaça de um golpe se aproxima, é preciso urgentemente lutar por uma outra idéia: a emancipação dos trabalhadores, por obra dos próprios trabalhadores!
 
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Manifestação em Porto Alegre, 01/04, contra o aumento das passagens (Clóvis Oliveira). A próxima será dia 04/04 (quinta-feira)!


Aqui está o relato do companheiro Clóvis, sobre a manifestação de anteontem. Nós não participamos da manifestação, então não temos como saber se a ação que ele atribui aos anarquistas foi mesmo isolada e deslocada do ato (como algumas vezes acontece realmente). Se alguém que esteve presente não concordar com a avaliação, pode responder nos comentários. Mas concordamos que qualquer ataque ao direito das organizações usarem as suas bandeiras e defenderem as suas posições é um ataque reacionário e antipolítico, que divide o movimento.


Este é um relato da manifestação estudantil ocorrida no dia 1/4/2013, no centro de Porto Alegre.
A manifestação iniciou às 18h, em frente à Prefeitura Municipal, e saiu em passeata pela Júlio de Castilhos, terminais de ônibus, tunel da Conceição, Sarmento Leite, João Pessoa, Salgado Filho, Borges de Medeiros, indo terminar no Largo Zumbi dos Palmares, depois das 21h. Foi uma passeata memorável, que iniciou com mais de 2000 participantes, número que foi aumentando durante o início do trajeto, devendo ter ultrapassado os 4000. Segundo estimativa da Brigada Militar, foram 5000 os manifestantes.
 
A imensa maioria eram estudantes e jovens em geral, mas era possível ver também a participação de algumas centenas de militantes do movimento sindical e popular.
A manifestação foi pacífica. Apenas uma dúzia de ovos atirados, não na imprensa, como disse a Zero Hora, mas nos 4 guardas municipais que estavam postados na porta fechada da Prefeitura, que acabaram apenas respingados, sem nenhum impacto direto. Mas, a manifestação foi tão contundente quanto a do dia 27 de março, inclusive nas pichações dos ônibus.
 
Invadir o recinto interno da Prefeitura, desta vez ninguém tentou, até mesmo porque, se quisesse, não conseguiria entrar lá dentro, por falta de espaço físico, tamanha era a quantidade de guardas municipais que lá estavam na moita.
 
Desta vez, a militância do PSOL e do PSTU estabeleceu um maior controle da manifestação, de forma a evitar as ações individuais inconsequentes, principalmente dos anarquistas do Utopia e Luta, o que não foi fácil levando em conta as centenas de encapuçados de preto armados de paus, que se destacavam na multidão. Mesmo assim, algumas bandeiras da UNE foram destruídas por anarquistas, gerando um conflito sectário na frente da passeata, em plena Julio de Castilhos. No entanto, esperamos que a tentativa de controle da manifestação que está sendo ensaiado, continue tendo por objetivo implementar a mobilização estudantil e popular e não abra caminho para a divisão do movimento.
 
No final, no Largo Zumbi dos Palmares, houve uma tentativa correta do PSOL e do PSTU de organizar uma assembleia dos manifestantes, que foi impedida pelos anarquistas do Utopia e Luta, que partiram para cima das bandeiras destes partidos para destruí-las, gerando um conflito violento. A ação dos anarquistas, além de sectária, é despolitizada, porque estes partidos tem todo o direito de usar livremente suas bandeiras, que é uma forma de expressarem a sua política. Durante toda a manifestação os anarquistas levantaram as suas próprias bandeiras, ou pretas ou pretas e vermelhas, todas suspensas em paus, como costumam ser as bandeiras. Por acaso estas não são bandeiras também?
 
De qualquer forma, com ou sem assembleia, já existe outra manifestação marcada para a próxima 5ª feira, no Paço da Prefeitura Municipal, que deverá ser tão grande ou maior do que a de 1º de abril. Quem vai afrouxar primeiro neste jogo de braço?
 
Como afirmei no texto anterior, Fortunatti não teve força para isolar a manifestação estudantil contra o aumento das passagens. A manifestação de 27 de março contou com 1000 estudantes. Esta, no mínimo, quadruplicou, atestando que o movimento cresceu. O apoio popular e sindical também cresceu, não só dos militantes, mas também da população, que em alguma medida se incorporou à passeata, fato que verifiquei pessoalmente em algumas oportunidades.
 
Fortunatti já está dando sinais de desgaste, e sendo obrigado a fazer o discurso da conciliação, embora feito à sua moda. Armou uma palhaçada recebendo na Prefeitura os pelegos de plantão de todos os governos, a UGES, para negociar, e impedindo o DCE/UFRGS de participar. Mas, também não vai conseguir deter a luta através desta manobra.
 
Para a próxima 5ª feira as direções estudantís deverão pensar as formas de luta a serem empregadas durante a manifestação, para que a passeata não caia na rotina, e não perca a combatividade que já mostrou. Será preciso combinar o bloqueio do tráfego dos ônibus, que é uma tática eficiente para colocar Fortunatti e os empresários em cheque, com um grande ato público, ocupando todo o leito da Borges de Medeiros entre a Prefeitura e a Salgado Filho.
Por mais importantes que sejam para mobilizar, a população precisa ouvir mais do que as palavras de ordem, para que se integre em profundidade na luta. É preciso politizar a luta contra o aumento da passagem de ônibus e em defesa da meia passagem estudantil e da gratuidade para os idosos. A direção, ou as direções do movimento precisam fazer uma carta aberta unitária para ser lida e distribuída amplamente para a população, como instrumento de diálogo e de construção de uma aliança entre estudantes e povo trabalhador.
 
Salta aos olhos que Porto Alegre precisa de uma assembleia popular onde seja discutida a defesa das causas sociais, como o meio ambiente que está sendo devastado pela política viária do Governo Fortunatti e a necessidade de um transporte público barato e de qualidade para a população.
A tendência da mobilização é de se tornar mais massiva, porque a juventude das escolas e da universidade está cada vez mais empolgada com a luta, contagiada e contagiando a insatisfação popular com o Governo Fortunatti.
Da mesma forma que no 1º de abril, precisaremos estar lá na próxima 5ª feira, às 18h.
Avante!
Fraternas saudações
Em 3/4/2013
Clovis Oliveira (Professor de História, militante do CPERS e do CEDS)
 
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terça-feira, 2 de abril de 2013

Balanço do ato contra o aumento das passagens em Porto Alegre, no dia 27/03 (Clóvis Oliveira)


Reproduzimos aqui o texto do companheiro Clóvis Oliveira, que esteve no ato.


Os estudantes saíram para as ruas no 27 de março: Uma luta justa, necessária e valorosa

            Este é um relato da manifestação estudantil contra o aumento das passagens de ônibus, que testemunhei no 27/3/2013. Foi uma presença casual, porque naquele momento estava no Centro de Porto Alegre, terminando de participar de uma plenária da Conferência Nacional de Educação realizada na SMED. Juntamente com outros professores, acabei acompanhando a manifestação. Do que eu vi, da força que senti naquele ato público, da sua massividade, me vieram vivas lembranças das passeatas de 1968 e 1969 contra a ditadura militar.

            Os estudantes fizeram uma grande manifestação no dia 27 de março, contra o aumento nas passagens de ônibus, o fim da meia passagem estudantil e da gratuidade para idosos, que contou seguramente com mais de mil participantes, e que iniciou às 18h30 no Largo da Prefeitura, transcorrendo pela Borges de Medeiros, Perimetral e João Pessoa, indo terminar às 22h no Palácio da Polícia, onde os manifestantes exigiram e lograram a libertação da dirigente do DCE/UFRGS, que ali estava detida, depois de ter sido presa e algemada na Prefeitura pela Guarda Municipal.

            A passeata estudantil, mas principalmente as medidas tomadas pela EPTC e Brigada Militar para controlar o trânsito e os manifestantes, causaram um enorme engarrafamento de automóveis e ônibus nas ruas de Porto Alegre, que entrou noite a dentro, capaz de deixar ninguém indiferente. 

            Uma manifestação desta relevância resultou de um acúmulo de forças feito pelos estudantes, principalmente no dia anterior, quando fizeram atos públicos em frente à PUC, UFRGS e Colégio Julio de Castilhos.   A manifestação estudantil foi tão forte e contundente, que deve estar a refletir um descontentamento profundo da população contra o aumento das passagens e a má qualidade do transporte público ora existente na cidade.

            As formas de luta empregadas foram radicais. O prédio da Prefeitura Municipal foi atacado com paus de bandeira, bolinhas de gude e tinta, que produziram danos de pouca monta (evidentemente exagerados pelas autoridades), principalmente nas vidraças do térreo. Além disso, houve uma tentativa de invasão do prédio por alguns estudantes. Um Vereador de Porto Alegre afirmou que se os estudantes tivessem conseguido entrar na Prefeitura, teriam assassinado os que lá estavam. Ridículo!  

            Também foram radicais as pichações feitas em dezenas de ônibus que ficaram trancados pela manifestação na Borges de Medeiros, muitos deles dirigidos por motoristas solidários com o movimento, porque a categoria está em uma intensa campanha salarial.

            A expressão "baderna" que está sendo empregada pelas autoridades municipais, por vereadores de extrema direita e pela imprensa, e que lembra a forma como a ditadura militar (1964/1985) chamava as manifestações públicas sindicais e populares, é completamente improcedente. Tratou-se de um movimento estudantil muito forte, que expressou a insatisfação popular.

            Para entender melhor a radicalização do movimento é preciso considerar algumas circunstâncias. O Secretário Cesar Busatto fez uma provocação aos estudantes ao se postar na escada externa da Prefeitura e acabou recebendo um banho de tinta (contraditando o vereador que disse que os estudantes matariam gente dentro da Prefeitura, ninguém foi morto nem mesmo na porta do prédio).           

            Outra circunstância é o uso que os integrantes da Guarda Municipal que são postados na porta da Prefeitura estão fazendo das pistolas de choque e cassetetes. Tem empregado essas armas com frequência contra os estudantes, assumindo cada vez mais um papel repressivo aos movimentos sociais. Estão sendo desvirtuados das suas funções pelo Governo Municipal.

            A Brigada Militar também não fugiu a regra da repressão. Atiraram as suas granadas de gás anti-povo, cinicamente chamadas de efeito moral, exatamente depois do confronto na porta da Prefeitura, quando os estudantes estavam todos sentados no chão do Paço Municipal, voltados para o Mercado Público, com os ânimos serenados e sem nenhuma atitude agressiva. Vários foram os feridos.

            A RBS também contribuiu para a radicalização do movimento quando, nos dias anteriores, juntamente com os empresários dos transportes urbanos e a Prefeitura |Municipal abriu fogo contra o interesse popular, através de uma campanha contra as passagens gratuitas dos idosos e a meia passagem estudantil. Frente única com objetivos mais reacionários e provocadores é impossível. Os estudantes estão reagindo na hora certa para defender os seus direitos e conquistas.

            As atitudes dos estudantes foram justificadas, porque exercidas em nome de uma causa popular e progressista, e através de um movimento muito forte e representativo, bem distinto dos pequenos grupos de algumas situações anteriores. Existe agora uma força social real respaldando e legitimando o movimento estudantil, que tem a sua origem na população insatisfeita com o transporte público. Os estudantes ganharam  apoio popular nas ruas e nas janelas dos prédios das avenidas Borges de Medeiros e João Pessoa, durante todo o trajeto da passeata.

            Na manifestação estavam jovens anarquistas da Utopia e Luta, do PSOL, do PSTU e do PT. Não sabemos identificar quem efetivamente foi a direção do movimento, se é que isto existiu, tamanho era o grau de espontaneidade existente, mas  estão erradas aquelas correntes que são contra a presença de bandeiras dos partidos, tolhendo assim a liberdade de expressão e a própria transparência política, e quem criticou a forma radicalizada que foi assumida pela manifestação. Existem situações em que a radicalização é necessária, e aquela era uma destas horas. Os estudantes fizeram muito bem.

            O governo Fortunatti está tentando isolar o movimento estudantil com a acusação de "baderna", e a tentativa de criminalizá-los que está em andamento, mas não conseguirá deter a luta estudantil, porque o movimento não está isolado, pelo contrário, está com a moral alta, própria de quem conseguiu fazer uma manifestação bem sucedida.

            O movimento estudantil irá novamente para a rua, e em maior número, no dia 1º de abril, a próxima 2ª feira, às 18h, quando ocorrerá uma nova manifestação no Paço Municipal de Porto Alegre.

            Lá também deverá ser o nosso lugar, em solidariedade aos estudantes e à luta contra o aumento da passagem escolar e a tentativa de acabar com a meia passagem para estudantes e a gratuidade para os idosos.

            Em 31/3/2013

            Clovis Oliveira (Professor de História e associado do CPERS)
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