A luta de classes na Venezuela
No mês de
Março faleceu Hugo Chávez, carismático líder da Frente Popular na Venezuela e identificado
como "símbolo" da luta contra
o imperialismo na América Latina e no mundo. Chávez chegou ao poder em 1998,
como um candidatura alternativa da burguesia nacionalista pela Frente Popular
Venezuelana, fruto da pressão dos
trabalhadores venezuelanos, que sempre viveram subjugados pela burguesia
tradicional liberal completamente pró-imperialista e que sempre esmagou
qualquer possibilidade de reformas ou concessões aos trabalhadores em prol dos
interesses em comum com a burguesia imperialista dos EUA.
Com o
governo de Frente Popular de Chávez/PSUV,
diferenciado de outros governos na América Latina pelo seu bonapartismo
centrado em Chávez (ou seja, ele exerce
um poder pessoal que se apresenta “acima” das classes), os trabalhadores
venezuelanos conseguiram inúmeras concessões da nova fração da burguesia que
ascendeu o poder. Essas concessões se tornaram ainda mais radicais, com expropriações
e estatizações de varias empresas após a tentativa de golpe da burguesia
tradicional com o apoio do EUA, em 2002, que fracassou devido a grande
mobilização dos trabalhadores e de uma
fração das Forças Armadas da Venezuela que eram leais ao presidente.
Porém
durante o governo do PSUV, com Chávez na presidência, houve abertamente repressão aos trabalhadores
e aos grupamentos marxistas revolucionários que optaram por não capitular à
burguesia chavista, incluindo prisões arbitrárias, repressão policial e
militar, perseguições políticas, e ainda a frustrada tentativa da burguesia
chavista de tentar "unificar" a força todos os grupamentos da
esquerda venezuelana no PSUV. Isso tudo aconteceu porque claramente o
"socialismo do século XXI" nada mais do que um governo de Frente
Popular encabeçado pela burguesia nacionalista,
e mesmo a pressão popular seja muito maior que em outros países que
passam por governos semelhantes, esta
burguesia " progressista" sempre impedirá que o movimento dos
trabalhadores possa avançar livremente além do controle desta, e quando perde o
controle, qualquer elemento progressivo dessa burguesia não será suficiente
para impedir a repressão pelo aparato policial e militar do Estado. Queremos
lembrar aos comunistas e socialistas reformistas dos exemplos históricos (China
em 1925-7, França na greve de 1936, Alemanha com Republica de Weimar depois da
1a Guerra, Iran e 1979, e etc...) ,em
que a classe trabalhadora teve o processos revolucionários contidos justamente
por confiar nas burguesias "progressistas" das Frentes Populares.
Com a morte
de Chávez, comemorada pela organismos burgueses tradicionalmente alinhados com
imperialismo principalmente o midiático, e a sucessão deste por Nicolás Maduro,
que ainda será confirmada pelas próximas eleições em Abril, se abre um novo
período na luta de classes na Venezuela e America Latina, principalmente no
campo dos países não alinhados politicamente com o imperialismo norteamericano
ou europeu, com possibilidade de avanços com um processo revolucionário autêntico
ou retrocessos com possibilidades de golpe ou conciliação das frações
burguesas. Diante deste cenário, qual a tarefa dos trabalhadores e como devemos
agir os marxistas revolucionários?
A burguesia pró-imperialista ganha fôlego e o perigo
dentro do PSUV
Antes mesmo
da morte de Chávez, a burguesia tradicional alinhada com os interesses
imperialistas conseguiu, depois de 15 anos, lançar um candidato unificado para
concorrer às eleições contra Chávez, lançando Henrique Capriles, do MUD (Mesa da
Unidade Democrática). Mesmo sendo derrotada nas eleições de 2012, Capriles e a
coalizão de direita conseguiram o melhor resultado eleitoral desde que Chávez
se tornou presidente em 1998, com 45% dos votos, cerca de 5 milhões, enquanto Chávez
ficou com 55%, cerca de 7 milhões. Isso claramente mostra que a oposição de
direita conseguiu se reunificar contra Chávez, depois de boicotar e ser
derrotada em outras eleições.
Porém,
mesmo com a morte de Chávez, os trabalhadores se encontram ainda muito
comovidos pelo morte do ex-presidente, além do medo de perder as concessões e
os direitos conquistados durante o governo de Chávez, e esses fatores serão o
grande trunfo do PSUV nas eleições, que provavelmente será ganha por Maduro com
uma margem percentual e absoluta de votos maior que nas últimas eleições com Chávez.
Ainda
assim, ciente do perigo golpista da oposição de direita unificada, que foi
capaz de organizar um golpe civil-militar em 2002 contra Hugo Chávez que era adversário muito mais forte e
popular, Nicolás Maduro garantiu o apoio do Estado Maior das Forças Armadas
Bolivariana e ainda expulsou do país agentes infiltrados pelos EUA que estariam
mantendo contato com alguns setores das Forças Armadas. Além disso os próprios
trabalhadores, cientes deste perigo, estiveram nas ruas da Venezuela em
prontidão para o caso de qualquer golpe, inclusive reprimindo qualquer aparição
publica da oposição de direita.
Há ainda o perigo de haver um golpe interno dentro do PSUV, e do governo, para controlar Maduro depois das eleições. Isto aconteceria porque, ao contrário dos outros dirigentes burgueses do PSUV, Maduro vem do movimento sindical operário, e não tem uma tradição de carreirismo militar como os outros quadros do partido, principalmente como o atual presidente da Assembleia Nacional e líder do PSUV, Diosdado Cabello, e isto faz com que Maduro tenha muito menos influência que eles. Cabello tem uma tradição militarista, alçada junto com Chavez, sendo o seu braço direito desde a tentativa fracassada dos militares chavistas em tomarem o poder em 1992, e assim ele foi construindo uma ampla rede de contatos por dentro das burocracias do PSUV, estatais e empresariais venezuelanas. Assim ele poderia facilmente vir a controlar o governo de Nicolás Maduro, e levar o governo a ter políticas mais a direita, além de apertar o cerco contra o movimento e organizações de trabalhadores independentes do governo.
Mas
enquanto os trabalhadores venezuelanos, ainda comovidos e com medo do que será
o futuro depois da morte do líder bolivariano, as organizações internacionais
da esquerda morenista, como a LIT (o PSTU no Brasil) e a UIT (CST no Brasil,
corrente do PSOL), ambos com seções na Venezuela, respectivamente a UST e o
PSL, fazem oposição no mesmo nível que a oposição de direita defendendo as
mesmas palavras de ordem democrático-burguesas no estilo "liberdade contra
a ditadura", sem levar aos trabalhadores nenhuma consigna transitória
socialista que lhes evidencie a necessidade de levar a luta independente da
burguesia do PSUV e contra a fração burguesa pró-imperialista liderada por
Capriles. Essas organizações da esquerda fazem isso porque, além oportunistas,
defendem as posições de capitulação à democracia burguesa formuladas por Nahuel
Moreno. Moreno separava a luta democrática da luta pelo socialismo,
reinventando a teoria da revolução por etapas. Isso levou, nos casos mais
bizarros, as organizações morenistas a apoiarem o fim da URSS com o argumento
de que o mais importante não era a restauração do capitalismo, e sim as
liberdades democráticas.
Os
pseudotrotskistas não são os únicos a fazer vergonha na Venezuela. Os “marxistas-leninistas”
do partido Bandera Roja, ex-aliados do PCR brasileiro, em nome da mesma teoria
de revolução por etapas, com a luta pela democracia na primeira etapa, fazem
parte até mesmo da MUD dos golpistas! São dois frutos gêmeos da mesma teoria.
Por isso, a verdadeira estratégia para a
revolução venezuelana passa pela criação de uma alternativa de classe,
independente do governo que, em mais de uma década, não expropriou os setores
fundamentais da burguesia e não destruiu o aparato burocrático do Estado, que é
a tarefa inicial de qualquer revolução verdadeira.
É preciso
uma frente única de todas as organizações da esquerda classista venezuelana
para combater a direita e ultrapassar os limites do governo nacionalista. Com a
unidade, formada nas mobilizações e em torno de palavras de ordem que coloquem
em xeque o capitalismo (controle operário nas empresas, expropriação das
empresas ligadas aos golpistas, redução da jornada de trabalho sem redução do
salário, salário mínimo vital, armamento do movimento indígena e camponês etc),
será possível a formação de um partido revolucionário dos trabalhadores,
formado pelas correntes que neguem a revolução por etapas e que defendam
a destruição do Estado burguês e sua substituição pelo governo direto dos
trabalhadores a partir de suas assembleias de luta.
"morenistas a apoiarem o fim da URSS com o argumento de que o mais importante não era a restauração do capitalismo, e sim as liberdades democráticas."
ResponderExcluirisso não condiz com a verdade, amigo.
Como não condiz? Se a LIT considera que a etapa aberta em 1989 é revolucionária justamente porque a destruição do aparato stalinista foi mais importante que a restauração do capitalismo (que, depois, o Martin Hernandez falou que já tinha acontecido em 1986 na URSS).
ResponderExcluirVeja esse debate que fizemos com um companheiro do PSTU: http://coletivolenin.blogspot.com.br/2012/07/debate-sobre-o-fim-da-urss-com.html