Aqui está o relato do companheiro Clóvis, sobre a manifestação de anteontem. Nós não participamos da manifestação, então não temos como saber se a ação que ele atribui aos anarquistas foi mesmo isolada e deslocada do ato (como algumas vezes acontece realmente). Se alguém que esteve presente não concordar com a avaliação, pode responder nos comentários. Mas concordamos que qualquer ataque ao direito das organizações usarem as suas bandeiras e defenderem as suas posições é um ataque reacionário e antipolítico, que divide o movimento.
Este é um relato da manifestação estudantil ocorrida no dia 1/4/2013, no centro de Porto Alegre.
A manifestação iniciou às 18h, em frente à Prefeitura Municipal, e saiu em passeata pela Júlio de Castilhos, terminais de ônibus, tunel da Conceição, Sarmento Leite, João Pessoa, Salgado Filho, Borges de Medeiros, indo terminar no Largo Zumbi dos Palmares, depois das 21h. Foi uma passeata memorável, que iniciou com mais de 2000 participantes, número que foi aumentando durante o início do trajeto, devendo ter ultrapassado os 4000. Segundo estimativa da Brigada Militar, foram 5000 os manifestantes.
A imensa maioria eram estudantes e jovens em geral, mas era possível ver também a participação de algumas centenas de militantes do movimento sindical e popular.
A manifestação foi pacífica. Apenas uma dúzia de ovos atirados, não na imprensa, como disse a Zero Hora, mas nos 4 guardas municipais que estavam postados na porta fechada da Prefeitura, que acabaram apenas respingados, sem nenhum impacto direto. Mas, a manifestação foi tão contundente quanto a do dia 27 de março, inclusive nas pichações dos ônibus.
Invadir o recinto interno da Prefeitura, desta vez ninguém tentou, até mesmo porque, se quisesse, não conseguiria entrar lá dentro, por falta de espaço físico, tamanha era a quantidade de guardas municipais que lá estavam na moita.
Desta vez, a militância do PSOL e do PSTU estabeleceu um maior controle da manifestação, de forma a evitar as ações individuais inconsequentes, principalmente dos anarquistas do Utopia e Luta, o que não foi fácil levando em conta as centenas de encapuçados de preto armados de paus, que se destacavam na multidão. Mesmo assim, algumas bandeiras da UNE foram destruídas por anarquistas, gerando um conflito sectário na frente da passeata, em plena Julio de Castilhos. No entanto, esperamos que a tentativa de controle da manifestação que está sendo ensaiado, continue tendo por objetivo implementar a mobilização estudantil e popular e não abra caminho para a divisão do movimento.
No final, no Largo Zumbi dos Palmares, houve uma tentativa correta do PSOL e do PSTU de organizar uma assembleia dos manifestantes, que foi impedida pelos anarquistas do Utopia e Luta, que partiram para cima das bandeiras destes partidos para destruí-las, gerando um conflito violento. A ação dos anarquistas, além de sectária, é despolitizada, porque estes partidos tem todo o direito de usar livremente suas bandeiras, que é uma forma de expressarem a sua política. Durante toda a manifestação os anarquistas levantaram as suas próprias bandeiras, ou pretas ou pretas e vermelhas, todas suspensas em paus, como costumam ser as bandeiras. Por acaso estas não são bandeiras também?
De qualquer forma, com ou sem assembleia, já existe outra manifestação marcada para a próxima 5ª feira, no Paço da Prefeitura Municipal, que deverá ser tão grande ou maior do que a de 1º de abril. Quem vai afrouxar primeiro neste jogo de braço?
Como afirmei no texto anterior, Fortunatti não teve força para isolar a manifestação estudantil contra o aumento das passagens. A manifestação de 27 de março contou com 1000 estudantes. Esta, no mínimo, quadruplicou, atestando que o movimento cresceu. O apoio popular e sindical também cresceu, não só dos militantes, mas também da população, que em alguma medida se incorporou à passeata, fato que verifiquei pessoalmente em algumas oportunidades.
Fortunatti já está dando sinais de desgaste, e sendo obrigado a fazer o discurso da conciliação, embora feito à sua moda. Armou uma palhaçada recebendo na Prefeitura os pelegos de plantão de todos os governos, a UGES, para negociar, e impedindo o DCE/UFRGS de participar. Mas, também não vai conseguir deter a luta através desta manobra.
Para a próxima 5ª feira as direções estudantís deverão pensar as formas de luta a serem empregadas durante a manifestação, para que a passeata não caia na rotina, e não perca a combatividade que já mostrou. Será preciso combinar o bloqueio do tráfego dos ônibus, que é uma tática eficiente para colocar Fortunatti e os empresários em cheque, com um grande ato público, ocupando todo o leito da Borges de Medeiros entre a Prefeitura e a Salgado Filho.
Por mais importantes que sejam para mobilizar, a população precisa ouvir mais do que as palavras de ordem, para que se integre em profundidade na luta. É preciso politizar a luta contra o aumento da passagem de ônibus e em defesa da meia passagem estudantil e da gratuidade para os idosos. A direção, ou as direções do movimento precisam fazer uma carta aberta unitária para ser lida e distribuída amplamente para a população, como instrumento de diálogo e de construção de uma aliança entre estudantes e povo trabalhador.
Salta aos olhos que Porto Alegre precisa de uma assembleia popular onde seja discutida a defesa das causas sociais, como o meio ambiente que está sendo devastado pela política viária do Governo Fortunatti e a necessidade de um transporte público barato e de qualidade para a população.
A tendência da mobilização é de se tornar mais massiva, porque a juventude das escolas e da universidade está cada vez mais empolgada com a luta, contagiada e contagiando a insatisfação popular com o Governo Fortunatti.
Da mesma forma que no 1º de abril, precisaremos estar lá na próxima 5ª feira, às 18h.
Avante!
Fraternas saudações
Em 3/4/2013
Clovis Oliveira (Professor de História, militante do CPERS e do CEDS)
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