Pedimos desculpas aos leitores do blog
por estarmos falando de um tema tão insignificante como o atentado de Boston
(em qualquer cidade do mundo, a violência policial, doméstica ou a fome deve
ter matado mais gente e debilita muito mais do que o incidente de Boston, mas
geralmente não se trata de americanos brancos). Só que é importante falar sobre
as reações ao atentado, e do que elas mostram do potencial fascista no mundo de
hoje.
Pra começar, nem temos muita certeza se
realmente os dois jovens que são apontados como suspeitos foram mesmo os
autores do atentado. Mas não pareceu fora do normal pra ninguém na mídia dos
EUA e do mundo afora que pessoas que eram suspeitos fossem perseguidas em cenas
de filme de ação e depois nem mesmo tivessem os direitos garantidos ( por
exemplo, esperar o advogado para falar com a polícia).
Pior do que isso foi a comemoração do
povo americano, aos gritos de "USA, USA". Assim como comemoram a
morte de todos os "inimigos dos EUA". Mais uma vez fica claro que os
trabalhadores americanos se identificam com o seu governo, e acham que a sua
situação social, muito melhor que a dos trabalhadores do Terceiro Mundo,
depende da opressão imperialista brutal sobre os países atrasados e sobre as
minorias nacionais dentro dos EUA.
Pior ainda é a incompreensão e má
intenção da mídia empresarial, que está instigando novamente a islamofobia.
Mais uma vez, se coloca todos os trabalhadores de países onde existe uma grande
proporção de muçulmanos como muçulmanos, sem se importar com a religião ou
falta de religião individual de cada um (ou seja, se "racializa" o
islã). E, ao mesmo tempo, se assimilam todos os muçulmanos aos terroristas
fanáticos estilo Al Qaeda.
Pra começar, os dois jovens, de origem
chechena, parece que cometeram o atentado (que, com certeza, não contou com a
participação de uma organização terrorista séria, como dá pra ver facilmente
pelos recursos amadores que eles usaram) por uma questão de nacionalismo
checheno.
A Chechênia é uma semicolônia da Rússia,
e que tem todo o seu direito à autodeterminação. Sendo que a autodeterminação
tem sido negada desde a época do stalinismo, passando por todos os governos
russo desde a restauração do capitalismo, da forma mais violenta possível. Foi
essa violência e o desepero que ela causou que tem radicalizado o movimento
nacionalista checheno, levando ele a adotar métodos terroristas que atacam os
trabalhadores e a se aproximar do fundamentalismo islâmico (o Islã é a maior
religião da Chechênia).
Na cabeça dos dois jovens, parece que
existia a maior confusão entre o nacionalismo checheno (que expressa uma luta
progressiva pela autodeterminação) e o fundamentalismo, que é uma corrente
reacionária semelhante ao fascismo, independente de ser islâmico, cristão,
judaico, hindu ou budista.
-Nós repudiamos o ataque a todas as
liberdades democráticas que foi feito para garantir essas prisões.
-Nós repudiamos que esse atentado tenha
sido elevado a um problema mundial, por pura questão de racismo e hegemonia dos
EUA.
-Nós repudiamos a orgia de nacionalismo
fascista, infelizmente em que a classe trabalhadora americana participou
integralmente.
-Nós repudiamos que a luta pela
independência da Chechênia tenha sido manchada novamente pelo terrorismo contra
os trabalhadores.
-E, finalmente, nós repudiamos que esse
atentado seja usado novamente pra insuflar a perseguição contra os muçulmanos
em todo o mundo.
Seria muito simples, aqui, terminar
falando que a solução para a classe trabalhadora americana é o socialismo, que
é o sistema que pode acabar com as guerras e o racismo, e que para avançar até
o socialismo é preciso criar um partido revolucionário dos trabalhadores. Mas,
antes disso é necessário reconstruir o movimento dos trabalhadores dos EUA, em
bases internacionalistas e antirracistas, para que seja possível disputar a
consciência dos trabalhadores americanos contra a mídia fascista estilo Fox
News.
Islamofobia
Desde o atentado de 11 de setembro, a
islamofobia é a forma de discriminação religiosa e racial dominante nos países
imperialistas, como antes dela foram o antissemitismo e o racismo anti-negro. O
Islã é considerado um religião machista e baseada na violência. Isso é usado
como pretexto para a perseguição de imigrantes de países islâmicos na Europa e
nos EUA, a proibição das suas práticas religiosas (como o uso do niqab, que é
um véu que cobre o rosto todo, usado por algumas correntes mais extremas da
religião).
As organizações de extrema-direita mais
ativas, como a EDL (Liga de Defesa Inglesa), o Tea Party (EUA), a Frente
Nacional (França), o NPD (Partido Nacional da Alemanha) etc. têm usado cada vez
mais a demagogia islamofóbica pra jogar nos imigrantes a culpa sobre os
problemas sociais piorados pela crise atual.
O Islã é uma religião como qualquer
outra e, por isso mesmo, promete que as injustiças desse mundo serão resolvidas
no próximo (quando as pessoas irão para o inferno ou para o paraíso). Como o
Islã é considerado pelos seus seguidores uma continuidade do judaísmo e do
cristianismo, compartilha dos mesmos mitos fundamentais (a criação em seis
dias, o homem feito de barro, a mulher tirada da costela, o dilúvio etc). Uma
interpretação literal deles certamente entra em choque com as descobertas da
ciência moderna.
Ao mesmo tempo, temos que reconhecer
que, por causa da modernização da sociedade, cada vez mais seguidores da
religião interpretam simbolicamente esses mitos (como acontece com os judeus e
cristão), inclusive existem correntes de esquerda, semelhante à teologia da
libertação no cristianismo. O que não é o caso do fundamentalismo, que quer
voltar a roda da história para o século VII, massacrando os direitos das
mulheres e criando uma teocracia (governo religioso) tão rigorosa que
geralmente os fundamentalistas perseguem até mesmo outras correntes islâmicas
mais moderadas, como os sufis.
Além do mais, o fundamentalismo existe
em todas as grandes religiões, porque ele é uma expressão reacionária do desejo
de setores tradicionais que querem se livrar dos males da modernidade
capitalista através da regressão para formas medievais de sociedade.
No cristianismo, são exemplos de
fundamentalismo movimentos como a Ku Klux Klan (com a sua teologia que diz que
os negros são amaldiçoados, que o Marcos Feliciano copiou), Opus Dei (do
Geraldo Alkmin), TFP (que faz parte do movimento monarquista brasileiro), ou a
Teologia do Domínio (uma teologia evangélica que prega que as Leis do Antigo
Testamento sejam adotadas pelos governo), que está começando a entrar no
Brasil.
A posição dos comunistas, portanto,
diante dessa histeria islamofóbica, deve ser a defesa do direito à total
liberdade religiosa, que só pode existir com a separação completa entre Estado
e religião. Ao mesmo tempo, temos que combater ideologicamente todas as
formas de fundamentalismo religioso, mostrando que elas desabam como um castelo
de cartas diante das descobertas da ciência, e que a solução para os problemas
sociais deve ser procurada nesse mundo mesmo, através da luta de classes.
Dito isso, pra não cair num erro
estratégico grave, temos que deixar bem claro que o inimigo principal no
Ocidente, onde o fundamentalismo islâmico praticamente não tem influência na
sociedade, é a islamofobia, ainda mais quando é instigada pelos
fundamentalistas cristãos, de que os EUA (e o Brasil) estão cheios.
Na luta contra a islamofobia e o fundamentalismo
religioso, em muitas situações estaremos fazendo ações conjuntas com setores
religiosos que lutam por causas progressistas contra qualquer forma de perseguição às minorias culturais ou religiosas. E esta é uma ocasião muito
importante para a luta pela hegemonia da classe trabalhadora contra todas as
formas de opressão da sociedade.
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