Reproduzimos aqui o texto do companheiro Clóvis Oliveira, que esteve no ato.
Os estudantes saíram para as
ruas no 27 de março: Uma luta justa, necessária e valorosa
Este é um relato da manifestação
estudantil contra o aumento das passagens de ônibus, que testemunhei no
27/3/2013. Foi uma presença casual, porque naquele momento estava no Centro de
Porto Alegre, terminando de participar de uma plenária da Conferência Nacional
de Educação realizada na SMED. Juntamente com outros professores, acabei acompanhando
a manifestação. Do que eu vi, da força que senti naquele ato público, da sua
massividade, me vieram vivas lembranças das passeatas de 1968 e 1969 contra a
ditadura militar.
Os estudantes fizeram uma grande manifestação
no dia 27 de março, contra o aumento nas passagens de ônibus, o fim da meia
passagem estudantil e da gratuidade para idosos, que contou seguramente com mais
de mil participantes, e que iniciou às 18h30 no Largo da Prefeitura, transcorrendo
pela Borges de Medeiros, Perimetral e João Pessoa, indo terminar às 22h no
Palácio da Polícia, onde os manifestantes exigiram e lograram a libertação da
dirigente do DCE/UFRGS, que ali estava detida, depois de ter sido presa e
algemada na Prefeitura pela Guarda Municipal.
A passeata estudantil, mas
principalmente as medidas tomadas pela EPTC e Brigada Militar para controlar o
trânsito e os manifestantes, causaram um enorme engarrafamento de automóveis e
ônibus nas ruas de Porto Alegre, que entrou noite a dentro, capaz de deixar
ninguém indiferente.
Uma manifestação desta relevância
resultou de um acúmulo de forças feito pelos estudantes, principalmente no dia
anterior, quando fizeram atos públicos em frente à PUC, UFRGS e Colégio Julio
de Castilhos. A manifestação estudantil
foi tão forte e contundente, que deve estar a refletir um descontentamento profundo
da população contra o aumento das passagens e a má qualidade do transporte
público ora existente na cidade.
As formas de luta empregadas foram
radicais. O prédio da Prefeitura Municipal foi atacado com paus de bandeira,
bolinhas de gude e tinta, que produziram danos de pouca monta (evidentemente
exagerados pelas autoridades), principalmente nas vidraças do térreo. Além
disso, houve uma tentativa de invasão do prédio por alguns estudantes. Um
Vereador de Porto Alegre afirmou que se os estudantes tivessem conseguido entrar
na Prefeitura, teriam assassinado os que lá estavam. Ridículo!
Também foram radicais as pichações feitas
em dezenas de ônibus que ficaram trancados pela manifestação na Borges de
Medeiros, muitos deles dirigidos por motoristas solidários com o movimento, porque
a categoria está em uma intensa campanha salarial.
A expressão "baderna" que
está sendo empregada pelas autoridades municipais, por vereadores de extrema
direita e pela imprensa, e que lembra a forma como a ditadura militar
(1964/1985) chamava as manifestações públicas sindicais e populares, é completamente
improcedente. Tratou-se de um movimento estudantil muito forte, que expressou a
insatisfação popular.
Para entender melhor a radicalização
do movimento é preciso considerar algumas circunstâncias. O Secretário Cesar
Busatto fez uma provocação aos estudantes ao se postar na escada externa da
Prefeitura e acabou recebendo um banho de tinta (contraditando o vereador que disse
que os estudantes matariam gente dentro da Prefeitura, ninguém foi morto nem mesmo
na porta do prédio).
Outra circunstância é o uso que os
integrantes da Guarda Municipal que são postados na porta da Prefeitura estão
fazendo das pistolas de choque e cassetetes. Tem empregado essas armas com
frequência contra os estudantes, assumindo cada vez mais um papel repressivo
aos movimentos sociais. Estão sendo desvirtuados das suas funções pelo Governo Municipal.
A Brigada Militar também não fugiu a
regra da repressão. Atiraram as suas granadas de gás anti-povo, cinicamente
chamadas de efeito moral, exatamente depois do confronto na porta da
Prefeitura, quando os estudantes estavam todos sentados no chão do Paço
Municipal, voltados para o Mercado Público, com os ânimos serenados e sem
nenhuma atitude agressiva. Vários foram os feridos.
A RBS também contribuiu para a
radicalização do movimento quando, nos dias anteriores, juntamente com os
empresários dos transportes urbanos e a Prefeitura |Municipal abriu fogo contra
o interesse popular, através de uma campanha contra as passagens gratuitas dos
idosos e a meia passagem estudantil. Frente única com objetivos mais reacionários
e provocadores é impossível. Os estudantes estão reagindo na hora certa para
defender os seus direitos e conquistas.
As atitudes dos estudantes foram
justificadas, porque exercidas em nome de uma causa popular e progressista, e através
de um movimento muito forte e representativo, bem distinto dos pequenos grupos de
algumas situações anteriores. Existe agora uma força social real respaldando e
legitimando o movimento estudantil, que tem a sua origem na população
insatisfeita com o transporte público. Os estudantes ganharam apoio popular nas ruas e nas janelas dos
prédios das avenidas Borges de Medeiros e João Pessoa, durante todo o trajeto
da passeata.
Na manifestação estavam jovens anarquistas
da Utopia e Luta, do PSOL, do PSTU e do PT. Não sabemos identificar quem
efetivamente foi a direção do movimento, se é que isto existiu, tamanho era o
grau de espontaneidade existente, mas estão erradas aquelas correntes que são contra
a presença de bandeiras dos partidos, tolhendo assim a liberdade de expressão e
a própria transparência política, e quem criticou a forma radicalizada que foi assumida
pela manifestação. Existem situações em que a radicalização é necessária, e
aquela era uma destas horas. Os estudantes fizeram muito bem.
O governo Fortunatti está tentando isolar
o movimento estudantil com a acusação de "baderna", e a tentativa de
criminalizá-los que está em andamento, mas não conseguirá deter a luta estudantil,
porque o movimento não está isolado, pelo contrário, está com a moral alta,
própria de quem conseguiu fazer uma manifestação bem sucedida.
O
movimento estudantil irá novamente para a rua, e em maior número, no dia 1º de
abril, a próxima 2ª feira, às 18h, quando ocorrerá uma nova manifestação no
Paço Municipal de Porto Alegre.
Lá
também deverá ser o nosso lugar, em solidariedade aos estudantes e à luta
contra o aumento da passagem escolar e a tentativa de acabar com a meia
passagem para estudantes e a gratuidade para os idosos.
Em 31/3/2013
Clovis Oliveira (Professor de
História e associado do CPERS)
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