Sem nenhum tiro.
blindado das Forças Armadas
Foi assim que a polícia definiu a "ocupação" da Rocinha, a maior favela da América Latina, para construir a mais nova UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).
Sem nenhum tiro, é claro, porque a ação já tinha sido amplamente anunciada. Ninguém é tão inocente que não perceba que isso é uma manobra para preservar o tráfico. No caso, deixar uma boca de fumo na Rocinha, "por baixo dos panos", "dischavada", e permitir que a maioria dos traficantes vá para outras comunidades, para a Baixada e para Niterói e São Gonçalo.
blindado subindo a Rocinha
Muitos jornalistas já provaram que o tráfico continua nas áreas onde existem UPPs:
http://noticias.centralblogs.com.br/post.php?href=mesmo+com+upp+trafico+continua+discretamente+em+morro+do+catumbi&KEYWORD=10743&POST=4135835&
Ou ainda essa reportagem, da BBC, favorável às UPPs:
http://noticias.uol.com.br/bbc/2011/11/14/direto-da-rocinha-policia-e-moradores-sao-como-amigos-que-ficaram-de-mal-na-infancia.jhtm
Aí já fica claro que as UPP não são contra o tráfico. A partir daí, nem vamos mais falar sobre isso nesse artigo. É importante pontuar isso, porque existe um discurso hipócrita de que a violência das UPPs é necessária contra a violência maior do tráfico.
Agora, inclusive existe um discurso pior ainda, de que é melhor o tráfico "disciplinado" pela UPP do que o que existia antes, controlado pelas facções. É uma tese parecida com a do "rouba, mas faz" a favor do Paulo Maluf. Ou seja, um abandono aberto de qualquer noção liberal de que o Estado tem que garantir direitos iguais e defender a lei. Um discurso conservador, antipovo.
Com a da Rocinha, já são 19 UPPs no Rio de Janeiro. Como explicamos em "O Estado burguês reorganiza o tráfico no Rio de Janeiro"--(http://coletivolenin.blogspot.com/2011/02/texto-da-nossa-revista-revolucao.html)--, toda a onda sobre as UPPs serve para passar uma imagem de que o Rio de Janeiro é um cidade segura para os turistas, aumentando os lucros das grandes empresas durante a Copa do Mundo e as Olimpíadas, além de contribuir para o aumento da bolha imobiliária que existe em função dos megaeventos, om uma valorização absurda dos preços dos imóveis e alugueis sem relação com a realidade.
Como lutar contra a aliança entre políticos burgueses, polícia e tráfico
A violência policial continua, sob novas formas, nas áreas controladas pelo "Comando Azul" da PM ou o "Comando Verde" das Forças Armadas:
moradores do Alemão denunciam e lutam contra a opressão militar
http://www.direitoshumanos.etc.br/index.php?option=com_content&view=article&id=9743:unidade-de-policia-pacificadora-upp-segregacao-urbana-criminalizacao-da-resistencia-popular-e-violencia-policial&catid=58:seguranca-publica&Itemid=245
http://www.youtube.com/watch?v=0N-If2rqMzg
http://www.youtube.com/watch?v=o4BsQ_7qJbQ&feature=player_embedded
http://www.youtube.com/watch?v=wBqeO7hmE1I&feature=related
morador do Alemão leva tiro de borracha a queima-roupa do Exército em manifestação
Se realmente o Estado quisesse acabar com o tráfico, ele teria que tomar medidas necessariamente anticapitalistas, já que o tráfico é um setor altamente lucrativo da economia. Seria preciso fazer coisas que o Estado, como instrumento das classes dominantes, nunca poderia fazer:
- Quebra de sigilo bancário e telefônico das autoridades (inclusive nas Forças Armadas do Brasil) e empresas envolvidas com o tráfico;
- Expropriação dos bens ganhos com o tráfico;
- Dissolução da polícia, completamente corrrupta e vinculada ao crime organizado;
Entre outras medidas.
estudantes da USP em luta contra a opressão e violência da PM aos estudantes e trabalhadores na USP e em todo o Brasil
A geografia das UPPs
As UPPs não se dividem igualmente por toda a cidade, nem usam o mesmo nível de violência.
A expressão "para inglês ver" surgiu na época da proibição do tráfico de escravos pela Inglaterra, quando o governo brasileiro aprovou uma lei ratificando a proibição, mas que só ficou no papel. Essa expressão define completamente o que acontece na implantação das UPPs.
Na Zona Norte, longe dos olhares dos turistas, a bala come generalizadamente, como foi no Complexo do Alemão. Já na Rocinha, na Zona Sul, e na Mangueira, perto do Maracanã, a ocupação foi "pacífica".
Mas o mais importante é que na Zona Oeste só existem duas UPPs, Batan e Cidade de Deus. Por que será? É fácil, é porque a Zona Oeste é controlada quase totalmente pelas milícias, e o governo do Estado tem muito mais confiança nelas, que são formadas por policiais, bombeiros e ex-policiais, do que no tráfico. Não por acaso, nas comunidades da Zona Oeste controladas pelo tráfico, a polícia tem feito uma série de operações, que servem para enfraquecer os traficantes e preparar a situação para a milícia invadir.
Aliás, se alguém ainda duvida de que Sérgio Cabral e Eduardo Paes (PMDB) apoiam as milícias:
Sérgio Cabral em festa com seus aliados criminosos da milícia para-militar do Rio, durante a campanha eleitoral
http://www.youtube.com/watch?v=8YfnQdCZ8jc
http://www.youtube.com/watch?v=nRBInXHeo8Y&feature=related
A própria expressão "polícia pacificadora" nos faz lembrar de Duque de Caxias, patrono do exército brasileiro, chamado de "Pacificador", porque massacrou todas as revoltas populares do temp do Império. É mais um "recado" das forças armadas, mostrando que ainda tratam a maioria trabalhadora e negra da população como inimigos mortais.
Qual deve ser a resposta da esquerda revolucionária?
Manifestação dos estudantes da USP contra a repressão policial no dia 23/11/2011
Como já sabemos, o PSOL, sendo um partido socialdemocrata que confia na "democratização" do Estado, apoia as UPPs. Estranha democratização essa, feita a bala contra a população trabalhadora e negra!
http://www.marcelofreixo.com.br/site/noticias_do.php?codigo=104
O PCB e o PSTU são formalmente contra as UPPs, embora não sejam claramente contra a polícia. Devemos exigir que essas organizações façam uma campanha real contra a violência policial e as UPPs, através da CONLUTAS e da Intersindical.
Nas pequenas organizações revolucionárias, existe um consenso de que devemos lutar contra as UPPs tendo como objetivo estratégico a dissolução das polícias, que só pode ser conseguida numa situação revolucionária. A polícia é um aparato repressor a serviço das classes dominantes. Ela é recrutada entre pessoas que conscientemente escolhem fazer repressão diária contra o trabalhadores, especialmente os negros.
No próprio brasão da PM carioca aparecem um ramo de fumo e frutos de café, representando a produção dos senhores de engenho da época em que ela foi formada, como instrumento para prender novamente os escravos que fugiam. A sua estrutura impede qualquer oposição e ela está ligada ao crime organizado através da corrupção de tal forma que é impossível reformar ela.
Por isso, os comunistas sempre defenderam a sua substituição por autodefesas dos trabalhadores, não-profissionais e que se rodiziem, para impedir que o poder se acumule nas mesmas mãos.
Mas também temos que ter palavras de ordem imediatas para lidar com essa situação. Defender abstratamente, como fazem alguns companheiros (como a LC e a LER) que a polícia seja substituída por autodefesas dos trabalhadores, é uma posição equivocada. Ela não leva em conta a verdadeira correlação de forças nas comunidades que, na grande maioria, não têm nem mesmo as mínimas formas de organização.
Isso não quer dizer que não se possa usar a palavra de ordem da autodefesa, mas sim que ela deve servir de resposta a casos específicos, onde existam condições concretas para elas serem formadas (algumas lutas contra remoções, ascensos nas comunidades etc), o que não é o caso quando as autodefesas são levantadas como forma de organização permanente dos trabalhadores após expulsar as UPPs. Isso infelizmente está ainda fora da realidade.
Como Trotsky ensinou, devemos combinar as palavras de ordem democráticas (contra a violência policial, direitos humanos etc) com outras, as reivindicações transitórias, que possam ser usadas para mobilizar os trabalhadores contra o capitalismo, respeitando a nível de consciência deles, mas apontando para outro estado e outra sociedade. A palavra de ordem de autodefesas, levantada como linha geral imediata contra a polícia, na conjuntura atual, não seria transitória, porque não poderia ser usada para mobilizar as massas. Seria uma palavra de ordem do programa máximo.
Ao participar das lutas nas comunidades, os revolucionários devemos primeiramente defender a formação de oposições classistas nas associações de moradores. A maioria das associações são controladas pelo estado e apoiam as UPPs.
No caso da associação da Rocinha, que não é nem ligada ao tráfico nem ao estado, mesmo assim ela acabou apoiando a UPP, e criticando os "abusos". Isso é a mesma coisa que tomar banho e reclamar de sair molhado!
http://www.voluvia.com/noticias/?p=21965
Ao mesmo tempo, temos que criar comitês comunitários contra a violência policial e do tráfico, que organizem diretamente a população para as lutas, e defender a unidade com o movimento sindical em defesa das reivindicações do interesse de todos os trabalhadores (redução da jornada de trabalho sem redução de salários, plano de obras públicas com todos os direitos trabalhistas para os operários etc).
Essa situação das UPPs mostra mais uma vez a necessidade da criação de um partido revolucionário dos trabalhadores junto a fundação de uma nova internacional revolucionária, com maioria de mulheres e negros, para lutar contra o racismo e o capitalismo. Os esforços do Coletivo Lênin para combater e denunciar toda a opressão e o militarismo sanguinário da burguesia e do Estado brasileiro são apenas uma pequena contribuição para tornar realidade essa nova ferramenta de luta da classe trabalhadora.
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