O ato de hoje foi uma grande vitória para os movimentos sociais na cidade. Se a gente conseguir manter a mobilização e arrancar alguma vitória, por pequena que seja (como alguma redução nas passagens), a luta vai
destravar a situação política da cidade. Quando tivermos
uma vitória nas mãos, as pessoas vão se sentir seguras para lutar por muito mais que a passagem - contra as remoções, o "choque de ordem" contra os camelôs, contra a política racista e ligada às milícias da quadrilha que governa a cidade e o Estado.
Desde 2007, não acontecia uma passeata tão grande na cidade. Dentro de um grande movimento nacional, em que os estudantes e jovens de São Paulo estão à frente da luta, cada mobilização tem sido maior, desafiando a repressão pura, desproporcional e generalizada da polícia.
O ato da segunda-feira, também convocado pelo Facebook, foi uma resposta à repressão violenta de quinta-feira passada, que mostramos no nosso blog. Quase mil pessoas foram, na segunda, da Cinelândia até a Uruguaiana, onde a polícia, se aproveitando de alguns manifestantes que caíram em provocações, desceu a porrada e bombas de gás lacrimogêneo por boa parte do centro da cidade, com meia hora de manifestação.
Depois da repressão de segunda, a Plenária no dia seguinte foi uma das mais cheias, com cerca de cem pessoas, que vieram, na grande maioria, pela primeira vez, em solidariedade contra a violência. Por uma pequena margem, foi escolhido o trajeto Candelária-Cinelândia. Nós não achamos essa a melhor opção (a gente votou pelo percurso Candelária-Central, porque ele termina com a manifestação encontrando o povo que está pegando ônibus, trem ou metrô pra voltar pra casa), mas a passeata de hoje, de certa forma, "corrigiu" a rota, indo da Cinelândia para a ALERJ, e depois para a Central.
A Plenária também elegeu um comando para o ato, para tentar evitar as provocações e violência gratuita que foram usadas pela polícia como pretexto para dissolver o ato na segunda-feira. O PSTU participou, depois de uma longa ausência nesse movimento, e o PSOL jogou todas as suas forças na organização do ato, além de vários outros movimentos e organizações, como a FIST, o PCB, a FARJ, CSP-CONLUTAS, entre muitas outras.
A manifestação de hoje tava muito cheia, com muita gente nova, que nunca tinha ido num ato desse porte antes. As palavras de ordem expressavam um grito que estava preso na garganta do povo: "Fora, Cabral", "Ei, Cabral, vai tomar no cu!", "Se a passagem não abaixar, a cidade vai parar", "Aldeia resiste" (sobre a Aldeia Maracanã, removida a força pelo governo racista), "Foda-se a Copa", "Da Copa eu abro mão, eu quero meu dinheiro em saúde e educação", e muitas outras. Nós também levamos a nossa: "Pra passagem não aumentar, a solução é estatizar".
A população apoiou a manifestação, com muito papel picado sendo jogado das janelas na Rio Branco. Outro lindo momento do ato foi a expulsão dos "jornalistas" da Globo, que estavam lá novamente para distorcer o movimento. Como os manifestantes lembraram muito bem, "a verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura"!
Depois que a maioria dos manifestantes se dispersou na ALERJ, cerca de mil pessoas seguiram até a Central. No cruzamento da Primeiro de Março com a Presidente Vargas, começou novamente o festival de violência. Não sabemos se foi algum policial infiltrado ou se foi algum idiota querendo se aproveitar do ato pra brincar de "radical" e aparecer, mas houve um começo de tumulto no final da coluna da passeata, que se transformou em segundos num conflito generalizado até a Central.
Se na segunda-feira já existia uma quantidade monstruosa de policiais, tanto do Choque, como do BOPE, da cavalaria, da divisão de animais (no caso, cachorros, e não os animais de sempre...), além da Guarda Municipal e vários à paisana, hoje foi um talvez o dia em que houve mais polícia na rua, uma quantidade absolutamente desproporcional ao ato, até mesmo revistando as pessoas nos pontos de ônibus.
Isso já é um sinal do regime militar que vai tomar conta da cidade nos megaeventos.
A grande estratégia da imprensa é desqualificar as manifestações, dizendo que são coisa de baderneiro, e violência irracional.
Tanto no caso de um provocador pago pela polícia pra fazer esse tipo de coisa (como apedrejar museus, igrejas, destruir latas de lixo, atacar lojas e pontos de ônibus com pessoas etc) quanto no de alguém com idade mental de 13 anos querendo se sentir um herói, de qualquer forma, cair nas provocações vai facilitar o trabalho da imprensa (que é queimar o ato perante a população) e da polícia (que é destruir o ato na base da porrada), jogando a população contra o movimento. São justamente essas imagens que vão para a Globo, pra atacar os atos.
Em caso de dúvida sobre o papel da polícia na vigilância e repressão, a nossa sugestão é que você leia nossa postagem
Como reconhecer um P2?
Nós não estamos dizendo isso porque somos pacifistas. Pelo contrário, defendemos a violência organizada para resistir e derrotar a violência do Estado e da classe dominante. Por isso, achamos que a violência deve ser
preparada e ter
alvos que a população reconheça como os inimigos imediatos da luta. Por exemplo, o revide contra as agressões policiais, aqui no Rio. Também apoiamos ações de comunicação que a mídia chama de "vandalismo", como pichar a ALERJ com palavras de ordem contra o aumento, ou pulão nos ônibus pra os trabalhadores entrarem de graça.
Além do problema da repressão, precisamos ver quais passos temos que dar na nossa luta.
Ao mesmo tempo que em São Paulo, acontecerá mais uma grande manifestação no Rio, na segunda-feira, às 17 horas, com concentração na Candelária. Participe! Precisamos de popularizar essa luta, até derrotar os governos dos playboys, amigos do Eike Batista e aliados da milícia: Eduardo Paes e Sérgio Cabral.