Sobre o 13 de Maio de ontem e de hoje
Publicado em 13 de Maio de 2015
Certa vez, pesquisando para montar uma
aula encontrei uma matéria na internet sobre a compra realizada pelo Museu
Imperial de Petrópolis da pena de ouro que princesa Isabel utilizou para
assinar a Lei Áurea em 13 de Maio de 1888.
Na matéria se discutia o valor monetário
e simbólico da pena composta por “(…) ouro de 18 quilates e cravejada com 27
diamantes”.
O valor monetário estimado girava em
torno de 500 mil reais. Já acerca do valor simbólico um entrevistado dizia:
“(…) do ponto de
vista simbólico, é o objeto mais importante da história do Brasil. Nem a
caravela de Pedro Álvares Cabral, caso tivesse sido conservada, teria tamanha
importância. A pena representa o início de um sonho de cidadania e de
igualdade. Ela fala de um Brasil que passou a incorporar as massas excluídas: a
Lei Áurea, se pudéssemos comparar, seria equivalente a uma revolução marxista.”
Provavelmente, como consta na fala do
entrevistado, a pena de ouro deve ser um dos objetos mais importantes da
história do Brasil mesmo.
Quanto ao início de um sonho de
cidadania e igualdade e incorporação de massas excluídas, isso já é muito
questionável. Pois, se esse sonho foi iniciado, ele realmente continua à nível
de sonho, infelizmente.
Em uma ida ao Museu Imperial de
Petrópolis, vi a tal pena! Com os meus próprios olhos! Visitando a exposição
permanente do museu com estudantes do Ensino Médio, se iniciou uma discussão a
respeito da originalidade daquela peça, visto que parece existir uma outra pena
também referida à Abolição da Escravatura em outro museu do estado. Então, a
guia respondeu:
“Não, essa aqui é
a original! Pois só aqui que se fala da escravidão!”
O Museu Imperial de Petrópolis foi casa
de D. Pedro II e sua esposa. Pensando enquanto casa, era necessário muitos
funcionários para manter uma residência daquele tamanho e, provavelmente, a
maioria se não todos os funcionários eram escravizados que circulavam por quase
todos os cômodos daquele lugar.
Caso não houvesse escravos dentro da
casa, era só você sair e virar a primeira esquina da cidade imperial que você
veria alguém trabalhando no regime da escravidão ainda no século XIX. Porém,
quando se tocou no assunto da escravidão durante toda aquela visita foi apenas
naquela pequena sala onde estava a pena de ouro.
Montando minha aula, uma pergunta surgiu
inevitavelmente: Eu realmente posso resumir o fim da escravidão no Brasil a uma
pena?
Se sim, penso que resumirei a abolição
da escravidão à assinatura de uma princesa branca em 13 de Maio de 1888 e,
assim, até posso ficar satisfeito.
E respondendo que não, e não ficando
satisfeito com a primeira opção, tratarei da luta de brancos e, sobretudo, de
negros e negras contra a escravidão que envolveu desde meios legais em pedidos
de alforria até rebeliões que envolveram assassinatos de senhores e sinhás.
A escravidão no Brasil não terminou com
uma assinatura, mas sim com luta que envolveu sangue, choro e muito suor.
E sobre o 13 de Maio de hoje… a luta
continua. Um exemplo bem próximo é a luta dos trabalhadores e trabalhadoras
terceirizados da minha universidade e de tantas outras, em sua maioria negros,
que trabalham muitas vezes em regimes similares à escravidão. Esse exemplo é
apenas um indício que o sonho iniciado
pela pena ainda não se concretizou por completo. Ainda temos muito o que
caminhar.
Questões do passado ainda estão vivas
pulsando a cada esquina dessa cidade e do país. Questões que ainda serão
resolvidas por completo.
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Este texto é uma contribuição escrita no dia 13 de Maio por um
companheiro historiador negro, que como muitos de nós se indigna com as tentativas de
construir uma história que varre pra debaixo do tapete a resistência e luta do
povo oprimido. Essas lutas são o componente mais importante da história da
humanidade e o exemplo tratado no texto é uma questão que se estende até os
dias de hoje: a luta contra a escravidão e o racismo. O texto mostra que o fim da escravidão exigiu
muito esforço e foi fruto de "sangue, choro e muito suor". Ele não
pode e não deve ser resumida a uma assinatura de uma princesa. Essa luta,
apesar do que se houve, está muito longe de acabar. E quanto mais ela é
relegada para segundo plano, maior a urgência dela ser resolvida.
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