Introdução
Este é o novo programa do Coletivo Lênin, que  estamos lançando depois de um ano da nossa ruptura com a TBI, e após um  longo processo de autocrítica de algumas das nossas posições anteriores.  Ele contém as nossas posições básicas na luta pela construção do  partido revolucionário. 
Existem algumas mudanças em relação ao  programa anterior. Principalmente retiramos do programa algumas "cascas  de banana" sectárias da TBI. Elas se tratam  de:
- posições táticas (como em que situação votar em partidos  operários, qual deve ser a palavra de ordem sobre imigração etc). Essas  posições não são fundamentais, e torná-las "questão de princípio", ao  colocá-las no programa, é uma maneira de impedir a fusão com outros  grupos revolucionários.
- análises de situações específicas (por  exemplo, Guerra das Malvinas, Guerra dos Seis Dias etc). Como disse  Marx, "o concreto é a soma de múltiplas determinações" (Introdução à  crítica da economia política). Por isso, grupos com o mesmo programa  pode avaliar diferente quais são as determinantes numa situação  específica e, por isso, tirar políticas diferentes. Mais uma vez, o  recurso de colocar essas caracterizações no programa é uma forma de  reafirmar que a organização que faz isso "sempre esteve certa", e que as  outras devem adotar todas as posições que ela já teve para fundir com  a mesma.
Nós  colocamos no programa novo um ponto específico sobre a intervenção no  movimento de massas. Acreditamos que isso não existia no programa  anterior por influência do abstencionismo da TBI. 
Também tiramos  todas as formulações diretamente teóricas do programa, por achar que  elas não conseguiram ser explicadas adequadamente no documento. Por isso,  quando um militante está entrando no CL, usamos como base para a  discussão teórica os nossos livretos. Assim, o programa fica mais curto e  focado somente nas questões políticas. Existem antecedentes históricos  para essa forma de escrever o programa, por exemplo os programas do  Partido Operário Francês, escrito por Marx, o programa da LCI brasileira  e os "onze pontos" para a fundação da Quarta Internacional.
Finalmente,  convidamos todas as organizações revolucionárias a estudarem o nosso  programa, criticá-lo e discutir com a gente. Esse debate é uma das  necessidades para a  construção do partido revolucionário. 
Revolução permanente x Etapismo
Nos  últimos séculos, o capitalismo se consolidou como sistema econômico  mundial, principalmente através da divisão internacional do trabalho.  Vivemos na época do imperialismo – época do declínio capitalista. A  experiência deste século demonstrou que as burguesias nacionais do mundo  neocolonial são incapazes de completar as tarefas históricas da  revolução democráticoburguesa, como a reforma agrária e a soberania nacional. Não há, em geral, nenhum caminho aberto para o desenvolvimento  capitalista independente nestes países. 
Nos países neocoloniais, as  realizações das revoluções burguesas clássicas só podem ser  conquistadas através do esmagamento das relações capitalistas de  propriedade, separando-os do mercado mundial imperialista, e  estabelecendo a propriedade da classe trabalhadora (ou seja,  coletivizada). 
Países  como o Brasil, a Índia, e a África do Sul são dependentes do  imperialismo, mas têm uma autonomia relativa. O nível da sua acumulação  interna de capital, e a fusão deste capital nacional com o capital  imperialista define o seu caráter como subimperialista. Geralmente, eles  estão envolvidos, de forma dependente e associada, com o imperialismo,  na exportação de capital em suas regiões (no caso do Brasil, a América  do Sul e a África lusófona). Nestes casos de opressão subimperialista, somos contra as tropas do Brasil, como no Haiti, e a expropriação  de seus investimentos, como no setor petroleiro boliviano. Nos casos de  conflito com o imperialismo (muito improváveis, devido à cooperação  antagônica com as metrópoles), defendemos os países subimperialistas,  porque são nações dependentes.
Defendemos todos os partidos e regimes dos países semicoloniais e subimperialistas contra o imperialismo, sem dar nenhum apoio  político a essas direções.     
Defendemos a autodeterminação de  todos os povos, ou seja, o seu direito de se organizarem politicamente  da forma que quiserem, inclusive o direito à separação. 
Defendemos o  direito de emigração para todas as pessoas do mundo, e que os  imigrantes tenham plenos direitos de cidadania nos países onde vivem.  
Intervenção no movimento
Defendemos  a intervenção no movimento sindical, popular e estudantil com um  programa que combine reivindicações democráticas e socialistas, com a  intenção de colocar em evidência a falha do sistema capitalista de dar  as garantias as necessidades mais básicas da classe trabalhadora.
Procuramos  participar de todas as entidades de base e de todas as centrais em que  elas participem, formando chapas com o programa acima.
Fazemos  frentes únicas, ou seja, unidade na ação com outras correntes, com todos  os setores do movimento,  na luta por reivindicações imediatas que beneficiem a classe  trabalhadora. Sem perder de vista a necessidade de sempre se dar um  passo a frente, com o objetivo central de se diferenciar das demais  organizações reformistas e centristas, mostrando às suas bases as  contradições que suas direções carregam entre seu programa político e  sua atuação prática.
Nós fazemos blocos com programa (como chapas  sindicais, movimentos, blocos dentro de movimentos específicos, como o  movimento contra a guerra imperialista etc) somente com outras correntes  revolucionárias, porque formar blocos com centristas ou reformistas  significaria rebaixar o programa para o setor.
Não formamos nem  participamos de blocos com partidos burgueses, ou seja, frentes  populares, nem nas eleições nem no movimento, porque isso significa  abrir mão da independência de classe e adotar o programa da burguesia. 
Em todas essas situações, somos a favor da plena  democracia operária, com total liberdade de expressão para as correntes e indivíduos. 
Procuramos  enraizar o programa comunista na classe trabalhadora através da  construção de colaterais programáticas nos movimentos. Tais formações  devem participar ativamente de todas as lutas por reformas parciais e  melhoras na situação dos trabalhadores e sempre colocar em pauta  reivindicações socialistas.
Utilizamos do voto crítico em eleições  onde não seja possível ou produtivo participar com uma chapa própria.  Essa tática tem como mesmo objetivo a de frente única: de mostrar às  bases de organizações de esquerda não revolucionárias a insuficiência do  programa defendido por suas direções diante das contradições do sistema  capitalista. Somente uma organização que lute pela revolução e  tomada do poder pelos trabalhadores é capaz de guiar a classe  trabalhadora para a vitória.
Somos contra qualquer tipo de  intervenção  do Estado no movimento, de qualquer forma, e contra o uso da justiça  burguesa contra outras correntes do movimento dos trabalhadores. 
Opressões específicas
No  Brasil, a luta pelo poder dos trabalhadores está completamente ligada à  luta pela libertação negra. Os negros brasileiros são uma casta de cor,  segregada nos setores mais inferiores da sociedade e se concentram,  sobretudo, na classe operária, particularmente nos setores estratégicos  do proletariado industrial e no exército industrial de reserva (a massa  de desempregados). O racismo, historicamente, foi o maior obstáculo para  a ação política dos setores mais oprimidos da classe, em todos os  movimentos. Considerados responsáveis pelo atraso do país, pela  ideologia do branqueamento, as lutas do proletariado negro têm um  potencial revolucionário decisivo. 
Na luta dos negros, existem três estratégias distintas (que também estão presentes, de forma um pouco diferente, no movimento de mulheres). Uma é o integracionismo reformista, que tem o objetivo de dar aos negros direitos e oportunidades iguais dentro do capitalismo. A segunda é o separatismo ou nacionalismo negro, que defende que os negros são uma nação que deve se separar na sociedade branca. A terceira estratégia, que nós revindicamos, é o integracionismo revolucionário, que considera que o integracionismo reformista só atende a uma minoria, sendo incapaz de dar igualdade à grande maioria dos negros e que o separatismo é uma utopia reacionária. Para os integracionistas revolucionários, a igualdade racial só pode ser alcançada com a destruição do capitalismo, que alimenta o racismo, através da luta revolucionária integrada dos trabalhadores de todas as raças.  
Um aspecto da questão negra muito  em evidência recentemente é a opressão religiosa sofrida pelos  seguidores de cultos africanos e afrobrasileiros. Como marxistas,  defendemos a liberdade de crença e a completa separação entre Estado e religião e mantemos a  posição comunista de defesa do materialismo e da ciência, assim como do  combate ao uso da religião para aumentar o conformismo entre os  oprimidos. Porém, defendemos, inclusive militarmente, os locais de culto  e os seguidores das religiões oprimidas.
A opressão das mulheres é  enraizada materialmente na existência da família nuclear, a unidade  básica e indispensável da organização social burguesa, e também na  repressão sexual, que só serve como um dos aspectos que mantém a classe  trabalhadora sob controle na sociedade capitalista e que afeta  principalmente o sexo feminino. A luta pela igualdade social completa  para as mulheres é de importância estratégica em todos os países do  globo. Ela inclui a luta pela socialização do trabalho doméstico, que só  pode ser realizada numa economia  planificada, pelos direitos democráticos da mulher, incluindo a  legalização do aborto e libertação sexual, e pela integração das  mulheres no movimento operário.
Uma forma de opressão especial  relacionada ao machismo é a que é experimentada pelos homossexuais, que  são perseguidos por não conseguirem se adaptar aos papéis sexuais  ditados pelo ''estado normal'' da família nuclear e se diferenciarem do  padrão moralista de relações sexuais. A vanguarda comunista deve defender os  direitos democráticos dos(as) homossexuais e opor-se a todas e  quaisquer medidas discriminatórias contra eles(as).
Partido Revolucionário e Nova Internacional
Defendemos  a construção no Brasil de um partido revolucionário dos trabalhadores.   Seu regime organizativo interno deve ser o centralismo democrático, ou  seja, a organização deverá ser constituída por  núcleos com direito de tendências, com total liberdade de discussão e  unidade de ação tática e estratégica. Para se enraizar no setores mais explorados da classe trabalhadora, esse partido precisa ter maioria de mulheres e negros na sua composição.
Esse partido só poderá ser  construído se for em conjunto com uma luta pela construção de uma  internacional comunista revolucionária, que leve em consideração a  existência de uma pluralidade de novas correntes revolucionárias. Esta  internacional deverá ser o partido mundial da revolução onde as diversas  organizações nacionais se integram numa política revolucionária  conjunta.
O objetivo do partido revolucionário deve ser a luta pela  revolução socialista, uma insurreição armada dirigida pela classe  trabalhadora, para destruir o estado burguês e estabelecer o governo  direto dos trabalhadores, através de suas assembleias de base, como  forma de abrir o caminho para o socialismo. 
Defensismo Revolucionário
A  restauração do capitalismo na URSS, no Leste Europeu, China e Vietnam  foi uma derrota  histórica para os trabalhadores a nível mundial. As mobilizações que  ocorreram contra a burocracia nos anos 80 e 90, pela ausência de uma  direção revolucionária, foram canalizadas pelo imperialismo.
Consideramos  que foi progressiva a expropriação econômica e política da burguesia,  por isso defendemos incondicionalmente os Estados Cubanos e Norte  Coreano contra a restauração do poder e propriedade da burguesia.
Os  comunistas têm que ser contra todos os movimentos controlados por  setores prócapitalistas, em geral aliados do imperialismo. Para isso  defendemos a unidade com setores stalinistas ainda contrários à  restauração.
Porém, na defesa desses estados, deve ficar claro que  nossa tarefa principal é a luta por uma nova revolução que tome o poder  das mãos da burocracia estatal para finalmente criar um governo direto  dos trabalhadores com planificação econômicas sob controle operário. Por  isso somos a favor de todas as  mobilizações contra a burocracia quando não tem um conteúdo  prócapitalista e são sim progressivos, como nos 50, 60 e 70 na Hungria,  Tchecoslováquia e Polônia. Nessas mobilizações devemos construir  partidos revolucionários.
QUEM SOMOS NÓS
- Coletivo Lênin
- Somos uma organização marxista revolucionária. Procuramos intervir nas lutas de classes com um programa anticapitalista, com o objetivo de criar o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, a seção brasileira de uma nova Internacional Revolucionária. Só com um partido revolucionário, composto em sua maioria por mulheres e negros, é possível lutar pelo governo direto dos trabalhadores, como forma de abrir caminho até o socialismo.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Novo programa do Coletivo Lênin
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Parabéns, camaradas! Ficou excelente o prgrama!
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