Ainda não acabaram os combates em Trípoli, mas já é possível ter uma ideia clara do que está acontecendo no país: é uma recolonização imperialista, feita pelas mãos dos seus agente internos, o Conselho Nacional de Transição.
Durante quase seis meses, os bombardeios da OTAN destruíram toda a estrutura de defesa líbia, permitindo que o CNT avançasse até tomar o poder. O próprio CNT se desmascarou como uma força pró-imperialista, ao pedir a "zona de exclusão aérea", que era uma licença para que a OTAN atacasse o país.
Muito diferente da imagem que tentam passar na mídia, tanto a OTAN como a ONU não existem para manter a paz nem fazer "Intervenções humanitárias" durante crises. São organismos controlados pelas grandes potências. E funcionam como os seus braços armados para conquistar os países que entram em conflito, mesmo que parcial e temporário, com a ordem mundial.
Isso é muito claro, por exemplo, quando a ONU cria uma "zona de exclusão aérea", para supostamente proteger a população líbia, mas nunca nem mesmo pensou em criar o mesmo tipo de coisa no Afeganistão, bombardeado pelo exército do EUA, o que tem causado milhares de mortos. O mesmo pode ser dito sobre o Iraque, a Palestina etc.
A partir da intervenção da OTAN, os movimentos pela democracia, contra os 40 anos de ditadura de Kadafi, tiveram que escolher o caminho a seguir: ou defender os trabalhadores contra o imperialismo, como precondição para a luta pela democracia, ou virarem marionetes nas mãos do CNT, que assumiu a direção da luta, para melhor negociar com o imperialismo a sua chegada ao poder.
O controle do CNT sobre o movimento
O movimento contra Kadafi, no começo, foi uma expressão real das revoltas populares que estão abalando o mundo árabe. As primeiras manifestações, de estudantes, foram reprimidas violentamente, deixando centenas de mortos. Já no final de fevereiro, mês em que começaram as manifestações, surgiu o CNT, como instrumento da burguesia de oposição a Kadafi, incluindo monarquistas e líderes tribais, pra canalizar a revolta em seu proveito. Com a militarização do movimento, e com a dependência de armas estrangeiras que essa militarização gerou, e ajudado pelas ilusões do povo na democracia burguesa. o CNT começou a controlar as coisas.
A maioria das milícias armadas não foi criada diretamente pelo CNT, era formada por trabalhadores e pelos setores de classe média proletarizada em geral, que inicialmente não se relacionavam com o CNT. E muitas vezes esses setores proletarizados foram atacadas pela OTAN, porque esta não tinha total confiança nelas. Justamente porque a sua composição de classe é diferente do CNT, podemos lutar para que as milícias rompam com ele.
http://mobile.dw-world.de/brazil/ua.2/mobile.A-15338959-9139.html
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI224260-15227,00-OTAN+BOMBARDEIA+MAIS+UMA+VEZ+TROPAS+REBELDES+NA+LIBIA+POR+ENGANO.html
Agora, todas as ilusões que poderiam haver em relação ao CNT vão desaparecer, porque o CNT vai começar o desarmamento das milícias para estabilizar a sua dominação no país. Por isso deixamos claro:
- Abaixo o governo do CNT! Por uma Assembleia Constituinte Revolucionária, com plenos direitos democráticos, controlada pelas milícias!
- Contra o desarmamento das milícias! Apontar as armas contra o CNT e a OTAN! Para isso, é perfeitamente válido um bloco com os setores do governo Kadafi que ainda estiverem resistindo! Obviamente, isso não significa nenhum apoio político a Kadafi nem à uma restauração de seu regime.
As respostas da esquerda
Quando começou a intervenção da OTAN, os companheiros da Liga Comunista nos criticaram por não "localizar no mundo real quem seriam os setores que realizariam a palavra de ordem" que nós levantamos: frente única contra a OTAN. Na verdade, a nossa posição foi essa justamente porque a gente sabia que alguns setores contrários a Kadafi poderiam se negar a tomar o papel de "terceirizados" do imperialismo. Isso praticamente não aocnteceu durante a operação da OTAN mas, agora, quando as coisas ficarem mais claras, está na ordem do dia.
Para nós a posição de alguns grupos nacionais e internacionais que, como a LC e a LBI aqui no Brasil, foram contrários também ás manifestações contra Kadafi no início de Fevereiro, reflete o derrotismo do movimento comunista fruto do profundo retrocesso deste período pós-soviético. Por isso, sempre que acontece um conflito entre um governo não-alinhado com os EUA e as massas, eles imediatamente se posicionam no campo do governo anti-imperialista, mesmo que de inicio as manifestações sejam unicamente de carater democrático sem necessariamente, na falta de uma direção revolucionária, haver já estabelecido uma direção pro-imperialista no movimento. Esse método, que aparentemente é concreto, mas abandona a dialética, por não acreditar que os processos podem sofrer transformações qualitativas, é idêntico ao usado pelas correntes stalinistas, como o PCR, e ex-stalinistas, como o PCdoB. Não por acaso, tiveram a mesma posição que a LC e a LBI, denunciando histericamente todos esses movimentos como uma armação da CIA desde o princípio das manifestações na Líbia.
Como já dissemos anteriormente, na Líbia as manifestações em Fevereiro contra o governo tinham caráter progressivo frente aos 40 anos de opressão nacionalista-burguesa de Kadafi, foi apenas com a formação do CNT em Bengazi, apoiado pelo imperialismo, que a os setores proletarizados da Líbia passaram a ser dirigidos pelo campo pró-imperialistas, através do crescimento das ilusões democráticas oferecidas pelo CNT com o apoio da ONU e da OTAN.
Mas é muito pior a posição de partidos correntes como o PSTU, e o Enlace, MES e a CST, do PSOL, e de suas respectivas internacionais (LIT, SU e UIT), que apoiaram a queda de Kadafi, e apresentam essa derrota como o começo da revolução na Líbia! Esses traidores do trotskismo se colocam do lado da democracia burguesa e do imperialismo em todo conflito que acontece. Foi, talvez, uma das maiores traições da úlima década, a que essas correntes que se apresentam como trotskistas fizeram.
Isso é mais escanacarado no caso do PSTU, que apoiou desde os talibãs no Afeganistão, contra a invasão soviética, o golpe de Ieltsin, na URSS em 1991, os "dissidentes" cubanos de direita, até os golpistas contra Hugo Chávez.
Essas organizações oportunistas perderam todo o critério de classe, e sempre apoiam o mais popular na mídia empresarial. Aliás, já na nossa declaração de abril, falamos que, se o CNT chegasse ao poder, o PSTU ia dizer que era uma vitória.
Chamamos aos companheiros antiimperialistas que militam no PSTU, no MES e na CST, a que rompam com essas organizações vendidas e venham lutar pelo partido revolucionário conosco!
A chave é a questão do partido
Nós, desde a nossa declaração, levantamos que todo o nosso programa se torna um pedaço de papel se não for sustentado por uma organização que possa aplicá-lo na realidade.
Os trabalhadores líbios ficaram sem nenhuma forma de organização sindical e política de classe desde o começo da ditadura falsamente socialista, em 1969. Por isso, a tarefa principal hoje é reconstituir um instrumento para organizar a luta de classes. Sem isso, podemos escrever livros e livros de palavras de ordem, que não vai adiantar nada. Foi a ausência d partido que permitiu que o movimento caísse nas mãos do CNT, e que a base das milícias fosse iludida pelo discurso da burguesia.
Hoje, o atraso do movimento operário líbio em relação ao tamanho das suas tarefas coloca a necessidade da luta pela formação de um partido operário independente da burguesia, e da reconstrução do movimento sindical, popular e estudantil. Já começam a surgir associações sociais, aproveitando a demagogia do CNT sobre a democracia.
http://www.internationalviewpoint.org/spip.php?article2227
Mesmo que o CNT tenha canalizado a revolta dos trabalhadores líbios para uma séria derrota, a mobilização foi um exemplo do potencial da nossa classe. Seria impossível Khadafi cair sem as milícias armadas, porque o CNT não teria força social suficiente para isso, nem mesmo com a ajuda da OTAN. Acompanhando os trabalhadores dos outros países do Oriente Médio (que também foram derrotados - até o momento), os da líbia deram grandes mostras de heroísmo e disposição de luta. Mais importante que a derrota representada pelo CNT chegar ao poder, é esse potencial dos trabalhadores, que começou a se mostrar novamente no país, e será a chave para as vitórias futuras!
Se os trabalhadores líbios querem um país realmente independente, precisam criar o seu partido e reconstruir o seu movimento, para lutar contra a recolonização. Essa luta só poderá ser vitoriosa se romper com o capitalismo, levando ao governo direto dos trabalhadores.