Como não conseguimos escrever uma declaração conjunta com os companheiros do Espaço Socialista, por problemas organizativos, reproduzimos a declaração dos companheiros, com a qual temos acordo:
ABAIXO O GOLPE NO PARAGUAI!
POR UM GOVERNO DOS TRABALHADORES
SURGIDO E APOIADO EM SUAS ORGANIZAÇÕES DE LUTA!
Na última
sexta-feira, 22 de junho, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, foi
deposto por um golpe parlamentar. Foi montado um processo de impeachment
“relâmpago”, com a acusação de que Lugo não reprimiu os movimentos de
trabalhadores como deveria. Em menos de 48 horas instaurou-se o processo
e emitiu-se a sentença. O senado paraguaio é controlado pelo partido
colorado, que governou o país de 1946 a 2008, inclusive durante a
ditadura de Stroessner (1954 – 1989). Foi empossado o vice-presidente,
Federico Franco, do partido liberal, que havia rompido com a coalizão
governista pouco antes.
Fernando
Lugo é um bispo católico (licenciado pela igreja) que foi eleito em 2008
com o apoio dos movimentos de trabalhadores, camponeses, sem-terra,
povos originários, movimentos sociais em geral, em uma frente ampla que
incluía partidos burgueses dissidentes da hegemonia colorada. Lugo foi
uma espécie de representante tardio da onda do nacionalismo burguês
reciclado que tomou conta da América Latina no início da década passada,
tendo em Chávez e Evo Morales os seus principais integrantes.
Esses
governos surgem com a promessa de mudar as políticas neoliberais que
entregavam as riquezas naturais ao imperialismo e levavam a um grande
empobrecimento da população. Na verdade, esses governos acabaram
desviando para as instituições da democracia burguesa as massivas lutas
populares que agitavam o continente contra aquelas políticas, impedindo
que se chocassem com os interesses capitalistas, a propriedade privada,
as burguesias locais e a dominação imperialista. Com variações de país
para país, tais governos sustentam-se eleitoralmente por meio de
políticas assistenciais e retórica nacionalista e popular, ao mesmo
tempo em que desmobilizam e reprimem as lutas mais avançadas.
No Paraguai o
governo Lugo não fez nada para mudar a dramática situação social do
país, um dos mais pobres do continente, que tem 80% das terras férteis
concentradas nas mãos de 2% da população, que tem 39% dessa população
vivendo abaixo da linha de pobreza e 19% em pobreza extrema (dados do
site Opera Mundi, 22/06/2012). Uma das principais bandeiras da campanha
que elegeu Lugo, a renegociação do tratado de Itaipu com o Brasil
(assinado quando os dois países eram governados por ditaduras, portanto
ilegítimo), não avançou, e o país guarani continua sendo lesado ao
receber uma fatia desproporcionalmente pequena da renda gerada pela
energia da usina. A reforma agrária não avançou, nem sequer com
indenização, pois no atual contexto de crise os governos andam com
verbas curtas.
O governo
Lugo não satisfez as reivindicações populares, e ao mesmo tempo não
agradou a burguesia por não reprimir as lutas. Os trabalhadores
paraguaios não esperaram pelo governo que ajudaram a eleger e foram à
luta. O estopim para o processo de impeachment foi o conflito ocorrido
uma semana antes, em 15 de junho, nas terras griladas pelo ex-senador
colorado Blas Riquelme (recompensa pelos serviços prestados à ditadura
de Stroessner), um dos burgueses mais ricos do país, em Curuguaty,
departamento de Canindeyú, próximo a fronteira com o Brasil. Camponeses
sem terra ocuparam a fazenda e opuseram resistência armada à operação de
desocupação, que resultou em 11 camponeses mortos (segundo os números
oficiais), além de dezenas de desaparecidos, hospitalizados e presos.
Mas o que
houve de inaceitável para a burguesia foi a morte de 7 agentes da
repressão no conflito. Soou o alarme de perigo para os latifundiários
paraguaios, pois a auto-defesa popular é inaceitável para a classe
dominante. O incidente provocou a queda do ministro do interior e do
chefe da polícia, que foram incapazes de prever a resistência armada. A
partir desse conflito, montou-se um operativo golpista no parlamento,
que inclusive lançou mão de boatos de um movimento guerrilheiro entre os
camponeses. O caráter sumário do processo e a condenação antecipada do
réu estão escancarados no texto assinado pelo presidente do senado,
divulgado em vários sites: "Caso se reúna o número de votos requeridos
pela Constituição Nacional para tal efeito, o acusado será declarado
culpado e afastado de seu cargo. Em caso de ele ter cometido delitos, as
acusações serão repassadas à Justiça comum. Caso contrário, o caso será
arquivado"(http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/documento-antecipa-a-condenacao-de-lugo-diz-defesa).
Apesar do
caráter ilegal do impeachment, o presidente já anunciou que vai
respeitar a decisão do senado, por mais que tenha violentado as mais
elementares regras do processo judicial, o direito de defesa, etc.,
demonstrando o quanto a confiança na democracia burguesa leva a um beco
sem saída. A “resistência” de Lugo será feita pelas vias institucionais,
onde a classe dominante têm o controle, ou seja, será apenas
protocolar. Formou-se uma Frente de Defesa da Democracia (FDD) composta
por seus apoiadores, que denuncia o golpe e chama o povo a resistir, mas
dentro dos marcos das instituições.
O caso
paraguaio tem grandes semelhanças com o golpe que derrubou Manuel Zelaya
em Honduras, em 2009. Naquela ocasião o presidente deposto também
apresentou uma resistência protocolar, que não impediu que o governo
golpista encenasse eleições ilegais, cujo resultado foi reconhecido por
Zelaya. A resistência popular foi gradualmente desmobilizada pela
negativa de seus dirigentes em ir além das instituições da democracia
burguesa. O povo paraguaio precisa lutar para evitar o mesmo desfecho. O
objetivo do golpe é evidente, lançar uma escalada de repressão contra
os camponeses e trabalhadores. A vítima do golpe não é Lugo, mas os
trabalhadores e o povo paraguaio.
No plano
internacional, a Unasul e os governos sul-americanos não são capazes de
emitir uma decisão unificada de condenação ao golpe, apesar das bravatas
de Chávez. Isso porque há um importante setor de latifundiários
brasileiros no Paraguai (os chamados “brasiguaios”), uma fração
internacionalizada do todo-poderoso agronegócio brasileiro, que apóiam o
golpe e já pressionam a presidente Dilma a reconhecer o governo
golpista de Federico Franco.
Não temos
dúvida de que esse golpe é um ataque contra a organização dos
trabalhadores e camponeses paraguaios. O golpe só pode ser derrotado
pela mobilização e organização independente dos trabalhadores. A luta
não pode ser para reempossar Lugo, um governo fraco e conivente com a
repressão e as manobras da direita, mas para ir além e avançar nas
reivindicações dos trabalhadores. Só a mobilização popular pode derrotar
o golpe!
- Por uma grande Jornada de Lutas para derrotar o Golpe!
- Dissolução do Senado corrupto e reacionário!
- Por uma Câmara única dos trabalhadores!
- Reforma Agrária e expropriação do agronegócio, sob controle dos trabalhadores!
- Direito à auto-defesa dos trabalhadores em relação a ações armadas da repressão!
- Não pagamento da Dívida Externa!
- Pagamento justo ao Paraguai da energia de Itaipu que o Brasil utiliza!
- Por um governo dos trabalhadores surgido e apoiado nos movimentos e organizações de luta!
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