Já podemos fazer um balanço inicial das eleições passadas.
Em
primeiro lugar, aconteceu um
fortalecimento ainda maior tanto do PT como dos partidos governistas,
especialmente o PSB. A direita tradicional (PSDB e DEM) perde cada vez
mais espaço político, sendo completamente rejeitada pelo povo, que apoia
o governo.
Se
o Serra perder em São Paulo (o que é o mais provável), além da carreira
política dele ser enterrada de vez (o que é ótimo!), será um golpe
violento, de que talvez o PSDB nunca possa se recuperar.
Assim,
a estratégia mais provável que os setores mais tradicionais das classes
dominantes brasileiras vão tentar é criar novos partidos de direita,
como o PSD, e tentar construir novas figuras públicas para disputar com o
PT a médio e longo prazo.
Ao
mesmo tempo, na oposição de esquerda ao governo federal, o PSOL teve um
grande crescimento, com grandes votações no Rio de Janeiro (28%
com o Freixo), Fortaleza, Floripa etc. O partido conseguiu eleger a
sua primeira prefeitura, em Itaocara/RJ. Teve um aumento expressivo
no número de vereadores. Em duas cidades, foi para o segundo
turno (Belém e Macapá).
O
PSTU, depois de muitos anos, elegeu dois vereadores, Amanda Gurgel, em
Natal, que se tornou um símbolo das lutas dos professores, e Cléber
Rabelo, em Belém, por conta da aliança com o PSOL e o PCdoB, que já
criticamos no nosso blog.
Repetindo o PT em Macapá e Belém
Mas alguns fatos preocupantes para a base socialista do PSOL têm
acontecido nas campanhas: a APS, que é a maior corrente do partido, em
todas as cidades em que tem a maioria da direção, está fazendo
alianças que repetem a velha prática petista de "vale tudo". Tudo isso é
fruto das resoluções do congresso passado do PSOL, que deixaram a APS
com as mãos livres, como criticamos aqui.
É
o caso de Belém, numa aliança com o PCdoB, onde o candidato do PSOL,
Edmilson Rodrigues, longe de ser uma referência de luta, já governou a
cidade em dois mandatos, sempre junto com os empresários, e reprimiu
greves dos servidores municipais. A frente eleitoral de Belém ainda foi
financiada por uma empreiteira, a COGEP, comprometendo sua
independência econômica.
Mas
o pior é em Macapá, onde a aliança da candidatura a prefeito de Clécio Vieira inclui partidos da elite tradicional do estado, como o PPS e o PRTB, e chegou até a receber apoio do DEM!
Diante
disso, 34 dirigentes do PSOL, incluindo o prefeito eleito de Itaocara, Gelsimar Gonzaga, e
quase todas as correntes do
partido (LSR, CST, CSOL, Enlace etc), fizeram uma nota sobre as alianças no segundo turno,
exigindo uma reunião da Executiva do partido (em que eles são maioria)
para rejeitar as alianças e sancionar ou até expulsar os responsáveis
por elas.
Temos que falar a verdade: a reação por parte das correntes da esquerda do PSOL foi tardia, porque essas alianças já existiam desde o primeiro turno. Mesmo assim, o presidente nacional do PSOL, Ivan Valente, também da APS,
até o momento está usando o seu cargo para impedir burocraticamente que
essa reunião aconteça.
O caso do PCB
O
PCB se aliou com o PSOL na chapa para vereador em Macapá, mas não
integrou a frente para prefeito. Isso gerou mais uma crise para o
partido. O Comitê Central escreveu uma nota se distanciando da
candidatura a prefeito,
mas a realidade é que não faz sentido você apoiar um partido no mesmo
lugar pra o legislativo, mas não para o executivo!
Isso
pode até ser possível no papel mas, no mundo real, o que aconteceu é
que o PCB fez um bloco com os vereadores do PSOL que sustentaram essa
aliança com partidos burgueses! Mais uma vez, vemos que a direção do PCB
não consegue superar a longa época reformista do partido, o que é uma
tarefa necessária e desejada pelos militantes revolucionários que estão
lá.
Qual deve ser a nossa atitude?
Diante de mais essa crise que
o PSOL está vivendo, a atitude de algumas organizações é meter o dedo
na cara dos militantes (até mesmo os da base, não só os burocratas responsáveis pela política oportunista, como Randolfe Rodrigues e Ivan Valente) e dizer: "viu só, essa
merda é a mesma coisa que o PT!".
Trotsky falou o seguinte sobre os sectários: "Os
acontecimentos
políticos são para eles ocasião de tecer comentários, mas não
de agir". É essa a atitude desse tipo de organização, como se o partido
revolucionário fosse ser formado a partir do crescimento dos grupos deles, de
poucas dezenas de militantes!
Na
verdade, ainda não existe partido revolucionário no Brasil, e os
revolucionários estão dispersos em pequenos grupos e dentro das
organizações maiores - entre elas, o PSOL. Onde houver luta pela
independência de classe, temos que ajudar a desenvolver as lutas de quem está na linha de frente. Só
fazendo isso, podemos esperar mais à frente a unificação dos
revolucionários em um mesmo partido.
Por
isso, nós do Coletivo Lênin apoiamos a luta dos companheiros dentro do
PSOL contra a aliança em Macapá. Mas achamos que essa luta deve ir até a
raiz do problema: a estratégia democrática e popular, de colaboração
com setores da burguesia (para entender melhor a questão da estratégia
democrática e popular, leia nosso artigo).
Na prática, isso quer dizer que os militantes socialistas da base do PSOL, se quiserem manter a independência do partido contra os empresários, precisam também:
- Rejeitar a aliança e o financiamento da candidatura de Edmilson Rodrigues em Belém. Caso contrário, voto nulo! Para o PSTU, que não precisa esperar pela deliberação dentro do PSOL, seria muito mais fácil: os militantes que são coerentes com o discurso do partido precisam lutar para que ele rompa com a aliança e chame voto nulo!
-
Exigir que o governo de Itaocara seja baseado em Conselhos Populares,
por local de moradia, e não na câmara de vereadores, controlada pela
direita (o PSOL só conseguiu eleger um vereador dos 11 da cidade).
- Exigir a formulação de um programa de combate para
as prefeituras, assumindo as bandeiras dos movimentos sociais.
Conclusão
Então,
como poderemos responder à pergunta do título? Simples: não, o PSOL
AINDA não é um novo PT. Mas esse "ainda" é fundamental, porque a
tendência, se mantendo a atual direção, é essa mesmo! Por isso, é
necessária a luta por parte dos militantes revolucionários que estão no
PSOL.
O mais importante de tudo é que os militantes do PSOL que querem lutar pela revolução socialista não devem ter medo de "afastar" setores ou "dividir" o partido. Independente da possibilidade ou não de ganhar a maioria do PSOL, a luta constante vai criar melhores condições de organização e clareza política para a unificação dos revolucionários.
Saudações, companheiros,
ResponderExcluirComo foi citado o resultado em Fortaleza, faremos um breve esclarecimento:
A votação de Renato Roseno cresceu em relação ao último pleito, mas manteve-se atrás de três quatro candidatos burgueses, de matizes variando da ultra-direita à pseudo oposição. O importante desse fenômeno é o fato de organizar em torno do debate político os setores alfabetizados - demonstrando a ânsia por achar um programa contrário ao projeto implementado por governo e oposição burguesa.
No entanto, o mais importante, em nossa opinião, nesse processo é o avanço do número de abstenções no processo eleitoral. O regime, ainda que sustentado por amplas camadas que vivem na miséria, não goza de credibilidade na perspectiva dos setores afastados do lumpesinato. Significa terreno fértil para o florescimento de organizações revolucionárias.
Caros, a construção de um partido revolucionário precisa ser objeto de uma discussão específica, ampla e aberta - para que possamos atualizar aquilo que seja necessário das lições que o bolchevismo nos deixou. Provavelmente seja esse o próximo tema a abordarmos em nosso blog.
Firmes na luta!
É infelizmente a CST e o PSTU romperam sem romper com o edmilson pois continuando indicando o voto "crítico" no cara.
ResponderExcluir
ResponderExcluirné?