Parabéns! Você está vendo a MAIOR crise da história do capitalismo!
No dia 18 de setembro, foi anunciado um plano de ajuda financeira aos bancos, pelo Fed (Federal Reserve, o Banco Central estadunidense), de cerca de 720 BILHÕES de dólares. Somado com mais cerca de 375 bilhões de ajuda dado desde o começo do mês, o total tem aproximadamente o mesmo valor do PIB do Brasil! O objetivo é impedir a falência de instituições importantes na economia mundial, como o banco de investimentos Lehman Brothers, o Citygroup (dono do Citybank) e da seguradora AIG (sócia do Unibanco, no Brasil). Mesmo assim, na segunda e na terça-feiras, dias 22 e 23, as bolsas continuaram caindo, porque os investidores não acreditam que essas medidas sejam suficientes para resolver o problema.
Todos os indícios mostram que esta crise está tendo proporções maiores que as da de 1929, e que os efeitos só não são iguais porque as medidas tomadas para tentar revertê-la também têm sido maiores ainda. Não se viu uma estatização tão grande de bancos em 1929 como hoje (por exemplo, 80% da AIG ou o finaciamento para o Bank of America comprar o Merril Lynch, um dos maiores bancos dos EUA, recém-falido), as políticas de crédito têm sido absolutamente loucas (taxa de juros negativa!) e, hoje, o capitalismo realmente é um sistema enraizado em todos os países do mundo, da África até a Índia e o Oriente Médio, o que aumenta muito mais o alcance do que está acontecendo.
O que é uma crise capitalista de superprodução?
Vários economistas colocam a culpa da crise nos créditos imobiliários de alto risco (subprimes) concedidos por uma série de bancos dos EUA. Logicamente, estes créditos revelaram ser uma “bolha financeira” (ou seja, uma operação com uma rentabilidade alta, mas sem lastro nenhum na economia real). Mas explicar a crise assim é o mesmo que dizer que alguém está com febre porque a sua temperatura subiu.
O marxismo, ao contrário das várias correntes da economia burguesa (neoliberalismo, keynesianismo, institucionalismo etc), demonstrou cientificamente que a causa das crises é o próprio processo de acumulação do capital. Assim, elas se repetem periodicamente. Ao contrário, as correntes da teoria econômica burguesa são forçadas sempre a encontrar uma “nova explicação” para todas as crises cíclicas, como se uma não tivesse nada a ver com a outra.
O objetivo da produção capitalista é o lucro. Para isso, o sistema depende da ampliação cada vez maior do mercado, já que o salário dos trabalhadores não é suficiente para pagar pela produção toda (já que uma parte da produção é a mais-valia, ou seja, o trabalho não pago). Além disso, se os próprios empresários consumirem as mercadorias, eles vão ter prejuízo, e não lucro! Por isso é tão necessária a busca por novos mercados.
Já que o capitalismo não tem nenhuma forma de planificação real, é impossível saber até onde vai a expansão do mercado. Por isso, em todas as fases de prosperidade, acaba acontecendo uma produção bem maior do que a necessária para vender as mercadorias com a mesma taxa de lucro. Então, ela cai, desestimulando os investimentos, o que gera o desemprego. Depois disso, muitas empresas quebram, e a produção pode se expandir de novo, ocupando o espaço deixado por elas, e aproveitando a queda dos salários provocada pelo desemprego.
No caso dos Estados Unidos...
A economia dos EUA vem sofrendo uma redução do seu espaço no mercado mundial desde os anos 1970, por causa da concorrência da União Européia e do Japão. A partir do fim da União Soviética e das contra-revoluções em 1989, os EUA conseguiram se recuperar parcialmente, valorizando o dólar e cortando custos drasticamente (leia-se, falindo empresas não tão lucrativas e demitindo, além de empregar imigrantes super-explorados).
Como estamos vivendo num momento de decomposição do capitalismo, com desindustrialização, financeirização da economia, crise na relação de trabalho assalariado e desemprego em massa, o crescimento da economia dos EUA passou a depender da “bolha financeira” nas bolsas, principalmente a Nasdaq.
A maioria dos analistas, na época, falou que a Internet ia criar uma “Nova Economia”, com uma alta taxa de crescimento, e “virtual”. Mas a realidade bateu na porta. Logo se viu que estas empresas (América Online, Internet Group etc) precisavam do mesmo mercado no “mundo real” que todas as outras. Quando elas começaram a dar prejuízo, a “Bolha” “estourou”. Isso foi em 2000-2001.
Daí veio o 11 de setembro, a “Guerra contra o terrorismo” e todos os grandes negócios que ela abriu. O Fed reduziu bastante as taxas de juros, para aumentar os investimentos. O discurso fascista e racista de Bush contra a guerra e os imigrantes ajudou a criar um clima na sociedade em que houve pouco aumento do salário real. Fazer greve, naquele momento, era quase uma “traição da Pátria”.
Por isso, a maior parte do aumento do consumo nos EUA (que representam 30% do consumo mundial) foi baseada em empréstimos baseados nas hipotecas das casas, que aumentaram por causa da queda dos juros, devido ao novo impulso na economia. Ou seja, foi um crescimento baseado na onda de empréstimos “podres” (que as pessoas não iam conseguir pagar, tão logo os juros subissem de novo). Como no capitalismo de hoje, produção e especulação não se separam, isso levou a um crescimento das construções de imóveis. Assim, a crise financeira vai virar industrial.
Moral da história: hoje já são milhões de americanos que podem ficar sem casa. Outros milhões já estão fudidos (o índice de desemprego é o maior desde 2001), sem dinheiro para pagar as contas, que dirá pra saldar estes empréstimos. E os países que exportam para os EUA vão ter o seu mercado reduzido.
Já era o neoliberalismo! Mas a exploração continua...
Ao contrário do discurso cretino dos neoliberais, o Estado precisa intervir na economia, principalmente em momentos de crise. Mas, como o Estado é burguês, é sempre pra fuder os trabalhadores. A maioria da esquerda institucional, como não acredita mais em lutar pelo socialismo, defende a intervenção estatal, como forma de “amenizar o capitalismo”.
Podemos ver claramente o que são as medidas do banco Central dos EUA: primeiro, dar dinheiro público para banqueiro falido. Depois, reduzir as taxas de juros mais ainda, pras pessoas fazerem mais empréstimos e reaquecer o consumo (a taxa de juros real nos EUA – descontando a inflação – já está NEGATIVA desde abril. Ou seja, eles estão “pagando” para as pessoas pegarem dinheiro!). Argumentam que, se não for assim, a economia vai quebrar, e vai ser ainda pior.
E isso é verdade! Isso só mostra como é a condição da classe trabalhadora no capitalismo: tem que garantir a prosperidade através de aumentos de salário menores que o aumento da produtividade, e “dar” o seu dinheiro extorquido pelos impostos aos milionários, quando chega uma crise! Logicamente, as maiores vítimas de crise serão as mulheres (sempre as primeiras a serem demitidas, para virarem donas de casa de novo) e os negros e imigrantes em todo o mundo.
Esta crise é uma aula para todos os que acreditaram no discurso estatista da esquerda “antineoliberal”, baseado na apologia de Keynes dos gastos estatais. Em todos os países em que o neoliberalismo foi derrotado (nos EUA, na Venezuela, na Bolívia, no Brasil etc), a condição de vida da nossa classe pouco mudou. O liberalismo e o intervencionismo são apenas duas políticas que se revezam na administração do capitalismo contra os trabalhadores.
E o Brasil?
A tendência é que o Brasil não tenha a sua economia tão afetada pela crise. O Brasil não é, como diz a maioria da esquerda, um país semicolonial (ou seja, com a produção voltada principalmente para o mercado externo). A economia do Brasil é fortemente baseada no mercado interno (as exportações representam mais ou menos 15% do PIB), e nos investimentos, associados com o capital imperialista, em países semicoloniais da América Latina (Paraguai, Bolívia, México etc) e África (Angola, República Democrática do Congo etc).
Por isso, caracterizamos o Brasil como um país sub-imperialista (ou seja, capitalista, com capital financeiro próprio, dependente e associado com o capital imperialista). A tese de que o Brasil é uma semicolônia só serve para justificar uma política nacionalista, baseada no não pagamento da dívida externa e na ruptura com o FMI, sem colocar a questão do poder dos trabalhadores. E, pior ainda, defendendo todo tipo de alianças “táticas” com a burguesia “nacionalista” (como o PDT ou o PSB)
Uma boa comparação é a crise de 2000-2001. Enquanto a Argentina e o Equador quebraram, o Brasil aumentou a sua economia, através de suas multinacionais, como a Petrobrás a Vale do Rio Doce. A economia brasileira, associada com os EUA e a União Européia, também rapina os países semicoloniais da América Latina. Pelo seu apoio no mercado interno, sua dependência não tão alta das exportações para os EUA (apenas 14% do total), e pela possibilidade de compensar as perdas tirando o couro dos outros países do subcontinente, os efeitos da crise geral no Brasil tendem a ser suaves. Mesmo assim, alguns efeitos vão acontecer, como a diminuição dos investimentos externos, o que vai aumentar os índices de desemprego.
Essa análise não deve nos deixar tranqüilos com a situação. Serve apenas para evitarmos o alarmismo de correntes ultra-esquerdistas que vêm uma crise revolucionária em cada esquina. Na verdade, mostra que devemos organizar os setores mais explorados da classe trabalhadora brasileira, principalmente as mulheres, os negros e os nordestinos. E não nos apoiar nas suas camadas com melhor nível de vida, (garantida pela super-exploração de outros países e a associação com o capital imperialista) como foi a tradição do PT, do PSTU e do PSOL.
A resposta necessária dos comunistas
A grande diferença entre esta crise e da de 1929 é que, antes, havia a Oposição de Esquerda Internacional, que podia lutar para construir partidos revolucionários (como conseguiu nos EUA, com o SWP, e no Vietnam, com a LCI) e regenerar a URSS, que estava sob o regime totalitário stalinista. Hoje, a Quarta Internacional não existe mais. Nós, junto com a Tendência Bolchevique Internacional, devemos aproveitar as lutas operárias mundiais durante esta crise, para criar embriões de partidos revolucionários, e avançar para o renascimento da Quarta Internacional.
Para isso, precisamos de um programa realmente comunista. Não podemos exigir medidas como “congelamentos de preços” (quem não se lembra do Governo Sarney?) ou “plano de obras públicas” (um outro PAC!), ou “investimentos na agricultura familiar” (sendo que a fonte da crise está na grande indústria), como fazem o PT, a direção da CUT, o PC do B, o PSOL e o PSTU, todos seguindo o “Programa Democrático e Popular” que se propõe no Brasil desde os anos 1930.
Devemos, isso sim, criar palavras de ordem transitórias, que abram a perspectiva da ruptura com o sistema capitalista, e tentar introduzi-las em todas as lutas, mesmo as mais imediatas:
* Ocupação das empresas falidas sob controle dos trabalhadores!
* Redução da jornada de trabalho para quatro horas, para acabar com o desemprego! Reajustes mensais dos salários, baseados em índices de inflação calculados nas assembléias!
* Comitês de Donas de Casa para controlar o aumento dos preços!
* Revolução Agrária! Terra para quem nela trabalha!
* Para garantir isso, precisamos de um Partido Revolucionário dos Trabalhadores, com maioria de mulheres e negros. Este é o único instrumento com que a classe pode realmente lutar pela Revolução Socialista, e pelo governo direto dos trabalhadores, baseado em suas assembléias de luta.
É com esta perspectiva que o Coletivo Comunista intervém nas lutas da nossa classe.
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